É difícil não gostar dos textos do escritor, jornalista, dramaturgo, cronista, etc., Mário Prata.
Inteligente, utiliza de ironia, irreverência e humor para tratar de qualquer assunto.
Como é o caso dessa (tentativa de) análise das passeatas do movimento passe livre (é esse mesmo o nome do movimento?).A Passeata
"Tinha punk de moicano e playboy de mocassim. Patricinha de olho azul e rasta de olho vermelho. Tinha uns barbudos do PCO exigindo que se reestatize o que foi privatizado e engomados a la Tea Party sonhando com a privatização de todo o resto. Tinha quem realmente se estrepa com esses 20 centavos e neguinho que não rela a barriga numa catraca de ônibus desde os tempos da CMTC. (Neguinho, no caso, era eu). Tinha a esperança de que este seja um momento importante na história do país e a suspeita de que talvez o gás da indignação, nas próximas semanas, vá para o vinagre.
Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância.
Anteontem, depois da passeata, assisti ao "Roda Viva" com Nina Capello e Lucas Monteiro de Oliveira, integrantes do Movimento Passe Livre. Ficou claro que, embora inteligentes e bem articulados, eles tampouco compreendem onde é que foram amarrar seus burros. "Vocês começaram com uma canoa e tão aí com uma arca de Noé", observou o coronel José Vicente. Os dois insistiram que não, o que há é um canoão, e as mais de 200 mil pessoas que saíram às ruas no Brasil, segunda-feira, lutavam por transporte público mais barato e eficiente. A posição dos ativistas de não se colocarem como os catalisadores de todas as angústias nacionais e seguirem batendo na tecla do transporte só os enobrece --mas estarão certos na percepção?
Duzentas mil pessoas de esquerda, de direita, de Nike e de coturno por causa da tarifa?
"Por que você tá aqui no protesto?", perguntou a repórter do "TV Folha" a uma garota na manifestação do dia 11: "Olha, eu não consigo imaginar uma razão para não estar aqui, na verdade", foi sua resposta. Corrupção, impunidade, a PEC 37, o aumento dos homicídios, os gastos com os estádios para a Copa, nosso IDH, a qualidade das escolas e hospitais públicos são todos excelentes motivos para que se saia às ruas e se tente melhorar o país --mas já o eram duas semanas atrás: por que não havia passeatas? Será porque a chegada do PT ao poder anestesiou os movimentos sociais, dificultando a percepção de que o Brasil vem melhorando, melhorando, melhorando e... continua péssimo? Ou será porque agora o Facebook e o Twitter facilitam a comunicação?
Se as dúvidas sobre as motivações --que brotam do solo minimamente sondável do presente-- já são grandes, o que dizer sobre o futuro do movimento? Marchará ou murchará? Caso cresça: conseguirá abaixar a tarifa? E, no longo prazo, terá alguma relevância? Mais ainda: adianta ir às ruas, fazer barulho? Ou a própria passeata extingue o impulso de revolta que a criou e voltamos todos para o mundinho idêntico de todos os dias, com a sensação apaziguadora de que "fiz a minha parte"?
Não tenho a menor ideia, estou mais confuso que o Datena diante da enquete, mas num país injusto como o nosso, em que a única certeza parecia ser a de que, aconteça o que acontecer, o Sarney estará sempre no poder, as dúvidas dos últimos dias são muitíssimo bem-vindas."
Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" (editora 34). Escreve às quartas na versão impressa de "Cotidiano".
Tá tendo protestos nas cidades do Brasil todo dia, de manhã, de tarde, de noite e de madrugada. Esse pessoal não estuda ou trabalha não? Se fosse na Espanha ou Grécia com desemprego batendo os 30% tudo bem. Mas aqui, com pleno emprego? Tem gente trabalhando muito e outros trabalhando de menos. Vou protestar por não ter tempo de protestar. Trabalho todo dia o dia todo e estudo à noite. E tem mais, dia de jogo da Copa é sagrado. Atrapalhar famílias que querem chegar no estádio é sacanagem. Bala de borracha!
ResponderExcluirPerguntei para um manifestante: Passeata contra o que e contra quem? Como resposta obtive : contra tudo isto que está aí - corrupção, roubalheira, transporte, saúde e educação ruins etc.
ResponderExcluirMas logo agora. O governo petista, mesmo com fortes e significativos erros de gestão, retirou dezenas de milhões da miséria, criando um mercado consumidor ( embora já meio saturado) e, apesar da mídia bater nisto, tem apresentado PIB crescente trimestre após trimestre.
Em Macaé e Rio das Ostras faltam caldeireiro, soldador, alpinista, motorista profissional, pilotos, caixa de supermercado, estoquista e até mão de obra especializada para fazer depilação!
Por que as passeatas não ocorreram quando Collor e Zélia confiscaram a grana de todos?
Ou por que não ocorreram quando FHC doou as estatais e ainda emprestou dinheiro do BNDES, dilapidando o legado da ditadura?
E quando vai acabar? E por que vai acabar? Qual é a principal reinvidicação? Se reduzir o preço da passagem acaba?
Outra coisa que me irrita é que a polícia não pode fazer nada. Não pode usar bala de borracha, spray de pimenta, porrada . Nada. Então quebrem tudo, pratiquem saques, pichem e depredem Patrimônios Históricos.
Acho até que vou convocar uma manifestação para o presidente do Botafogo pagar os salários atrasados dos jogadores. Vamos bloquear a Linha Amarela em frente ao Engenhão. Só não vamos quebrar nada.