Foi publicado no blog especializado em petróleo do jornal francês Le Monde em 25/04/2011 e traduzido por Argemiro Pertence.
Muito interessante.
Arabie Saoudite : deux surprises préoccupantes
Le Monde, 25 de abril de 2011
Arábia Saudita: duas surpresas preocupantes
A Arábia Saudita reduziu fortemente, e contra todas as expectativas, sua produção de petróleo em março e que quer aumentar em quase 30% o número de novos poços perfurados: duas surpresas que levantam suspeitas sobre a real capacidade de produção do "banco central do petróleo".
Riad pegou de surpresa o mundo do petróleo, ao anunciar, em 17 de abril, que sua produção em março foi inferior, em pelo menos 700 mil barris por dia a todas as estimativas, incluindo a da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
O Wall Street Journal ficou indignado: "esta revelação destaca um problema em que os mercados estão envolvidos nesses dias: a escassez de informações confiáveis sobre o verdadeiro estado da produção e da oferta."
O anúncio feito pelo ministro do petróleo saudita, Ali al-Naimi, "causou surpresa em Washington, para dizer o mínimo", diz Javier Blas, no Financial Times.
O que aconteceu exatamente? A Arábia Saudita tinha inicialmente anunciado um aumento de sua produção em 500 mil barris por dia, destinada a acalmar os preços do petróleo bruto e para compensar em parte a paralisação quase total das exportações líbias, o que reduziu em mais um milhão de barris por dia a oferta mundial. Daí a surpresa ao saber que a Arábia Saudita reduziu sua produção em março de 9,11 milhões de barris por dia para 8,29 milhões de barris por dia, enquanto na Líbia os confrontos prosseguiam.
O mercado petrolífero está "superabastecido", justificou Ali al-Naimi. Uma afirmação igualmente desconcertante. Certamente, o terremoto no Japão pode temporariamente reduzir a demanda global. No entanto, a Agência Internacional de Energia reviu novamente em abril sua estimativa de aumento da demanda para 2011. Além disso, os preços do petróleo nunca estiveram tão elevados desde o pico alcançado em 2008. Mas, segundo o ministro do petróleo saudita, a alta dos preços é provocada pela especulação: para al-Naimi, o mercado está "inundado" de petróleo.
Uma declaração do secretário-geral da Opep, relatada pela agência Platts, segundo a qual os refinadores não aceitam os 2 milhões de barris por dia de uma "mistura especial", proposta pelos sauditas para compensar a perda de óleo de alta qualidade da Líbia, vem apenas aumentar a confusão.
A Arábia Saudita dispõe oficialmente de uma capacidade de produção total de 12,5 milhões de barris por dia, "o que permite uma folga de cerca de 3,5 milhões de barris por dia acima do nível atual de produção, que é ajustado em função das condições do mercado", reiterou o ministro do petróleo saudita. Nos próximos anos, Riad deverá manter a produção abaixo dos 9 milhões de barris por dia e planeja expandir sua capacidade de produção para atender a crescente demanda global, de acordo com a Petroleum Intelligence Weekly.
Somente após muitos anos, o nível real de capacidade de produção da Arábia Saudita poderá ser regularmente questionado. Suspeitas de que prosperam em segredo absoluto envolvem estes dados fundamentais para o futuro da economia global.
Os céticos foram acalmados por um despacho da agência Reuters, que revela que a Arábia Saudita decidiu aumentar, em quase 30%, os números da perfuração de poços em andamento. A informação vem da Simmons & Co, um banco de investimento de renome de Houston, EUA, especializado em energia, cujo fundador, Matthew Simmons, que morreu em agosto último, acusava a Arábia Saudita de superestimar suas reservas oficiais e sua capacidade de produção.
Segundo o banco Simmons & Co., os dirigentes da Aramco (empresa petrolífera nacional da Arábia Saudita) se reuniram com representantes da Halliburton e de outras gigantes dos serviços de petróleo, no último fim de semana de março, para apresentar-lhes um plano que visa aumentar o número de equipamentos de perfuração de cerca de 92 atualmente para 118 no próximo ano.
Dois representantes oficiais da Aramco, confirmaram à Reuters que os cerca de 26 poços suplementares serão usados apenas para manter a capacidade de produção no seu nível atual e não para aumentá-la. Fica claro que a Arábia Saudita deve perfurar poços a mais apenas para compensar o declínio da produção de seus poços mais antigos.
Mais do que nunca, a Arábia Saudita continua sendo "o banco central do petróleo". Os 3,5 milhões de barris por dia de capacidade de produção não utilizada de que ela dispõe, fazem dela oficialmente o único produtor capaz de compensar quedas significativas na produção mundial (como se acredita ser hoje caso da Líbia) para atingir um máximo teórico de até 12,5 milhões de barris por dia.
Comunicações diplomáticas americanas reveladas pelo Wikileaks tem, no entanto, confirmado que seria difícil para a Arábia Saudita manter uma produção efetiva por longo tempo de 12 milhões de barris por dia.
A Agência Internacional de Energia considera, no entanto, em seu último relatório anual sobre uma futura produção de petróleo saudita de 14,6 milhões de barris por dia, um nível considerado necessário para compensar o declínio real ou esperado de muitos outros grandes produtores históricos.
O livro acusatorio, editado por Matthew Simmons contra a Aramco, em 2005, é fonte decisiva para dois recentes relatórios do Pentágono, considerando a "grave" escassez de petróleo a partir de 2012 até 2015, pelo menos, é onde se pode aprender com o Departamento da Defesa americano.
O rei Abdullah, da Arábia Saudita, anunciou, em julho passado, que tinha ordenado "fosse interrompida toda exploração de petróleo, para que uma parte dessa riqueza seja preservada para nossos filhos e nossos sucessores, se Deus quiser."
Tradução: Argemiro Pertence
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