16 de março de 2015

Frase da Semana: De Joseph Pulitzer

 
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma" (Joseph Pulitzer, editor e jornalista, inspirador do principal prêmio de imprensa e literatura dos EUA).

12 de março de 2015

Quem banca a turma do Golpe?

Os meninos do golpe no dia 15: quem banca essa turma?
Março 12, 2015
“Estudantes pela Liberdade” (EPL) são financiados por corporação petroleira norte-americana que ataca direitos indígenas, depreda ambiente e tem interesse óbvio em atingir a Petrobras
Por Antonio Carlos, no Outras Palavras, via Escrevinhador
"David Koch se divertia dizendo que fazia parte “da maior companhia da qual você nunca ouviu falar”. Um dos poderosos irmãos Koch, donos da segunda maior empresa privada dos Estados Unidos com um ingresso anual de 115 bilhões de dólares, eles só se tornaram conhecidos por suas maldosas operações no cenário político do país.
Se esses poderosos personagens são desconhecidos nos Estados Unidos, o que se dirá no Brasil? No entanto eles estão diretamente envolvidos nas convocações para o protesto do dia 15 de março pela deposição da presidenta Dilma.
Segundo a Folha de São Paulo o “Movimento Brasil Livre”, uma organização virtual, é o principal grupo convocador do protesto. A página do movimento dá os nomes de seus colunistas e coordenadores nos Estados. Segundo o The Economist, o grupo foi “fundado no último ano para promover as respostas do livre mercado para os problemas do país”.
Entre os “colunistas” do MBL estão Luan Sperandio Teixeira, que é acadêmico do curso de Direito Universidade Federal do Espírito Santo e colaborador da rede Estudantes Pela Liberdade (EPL) do Espírito Santo; Fabio Ostermann, que é coordenador do mesmo movimento no Rio Grande do Sul, fiscal do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e diretor executivo do Instituto Ordem Livre, co-fundador da rede Estudantes Pela Liberdade (EPL), tendo sido o primeiro presidente de seu Conselho Consultivo, e atualmente, Diretor de Relações Institucionais do Instituto Liberal (IL).
Outros participantes são Rafael Bolsoni do Partido Novo e do EPL; Juliano Torres que se define como empreendedor intelectual, do Partido Novo, do Partido Libertários, e do EPL.
Segundo o perfil de Torres no Linkedin, sua formação acadêmica foi no Atlas Leadership Academy. Outro integrante com essa formação é Fábio Osterman, que participou também do Koch Summer Fellow no Institute for Humane Studies.
A Oscip Estudantes pela Liberdade é a filial brasileira do Students for Liberty, uma organização financiada pelos irmãos Koch para convencer o mundo estudantil da justeza de suas gananciosas propostas. O presidente do Conselho Executivo é Rafael Rota Dal Molin, que além de ser da Universidade de Santa Maria, é oficial de material bélico (2º tenente QMB) na guarnição local.
Outras das frentes dos irmãos Koch são a Atlas Economic Research Foundation, que patrocina a Leadership Academy, e o Institute for Humane Studies, às quais os integrantes do MBL estão ligados.
Entre as atividades danosas dos irmão encontra-se o roubo de 5 milhões de barris de petróleo em uma reserva indígena (que acarretou uma multa de 25 milhões de dólares do governo americano) e outra multa de 1,5 milhões de dólares pela interferência em eleições na Califórnia. O Greenpeace considera os irmãos opositores destacados da luta contra as mudanças climáticas. Os Koch foram multados em 30 milhões de dólares em 300 vazamentos de óleo.

As Koch Industries têm suas principais atividades ligadas à exploração de óleo e gás, oleodutos, refinação e produção de produtos químicos derivados e fertilizantes. Com esse leque de atividades não é difícil imaginar o seu interesse no Brasil — a Petrobras é claro.
Seus apaniguados não escondem esse fato.
O MBL, que surgiu em apoio à campanha de Aécio Neves, não esconde o que pretende com a manifestação: “O principal objetivo do movimento, no momento, é derrubar o PT, a maior nêmesis da liberdade e da democracia que assombra o nosso país” disseram Kim Kataguiri e Renan Santos em um gongórico e pretensioso artigo na Folha de S.Paulo.
Eles não querem ser confundidos com PSDB, que identificam com o outro movimento: “os caras do Vem Pra Rua são mais velhos, mais ricos e têm o PSDB por trás” diz Renan Santos. “Eles vão pro protesto sem pedir impeachment. É como fumar maconha sem tragar”.
Kataguiri não se incomoda que seja o PMDB a ascender ao poder: “O PMDB é corrupto, mas o PT é totalitário”. Mas Pedro Mercante Souto, outro dos porta-vozes do MBL, foi candidato a deputado federal no Rio de Janeiro pelo PSDB (com apenas 0,10% dos votos não se elegeu).
Apesar do distanciamento do PSDB a manifestação do dia 15 parece ser apenas uma nova tentativa de 3º turno, mas como vimos ela esconde uma grande negociata. “Business as usual”.
PS do Viomundo: Os Koch Brothers são os maiores financiadores da extrema-direita nos Estados Unidos, Tea Party et al. Plantaram, dentre outros think-tanks, o Cato Institute. Controlam a maior petrolífera privada do planeta, com faturamento de U$ 100 bilhões. Para saber mais sobre eles (em inglês) clique aqui, aqui, aqui, aqui aqui, aqui aqui e aqui. O pai do clã foi um dos impulsionadores da John Birch Society, uma sociedade anticomunista que se opôs às campanhas pelos direitos civis nos anos 60. É famosa nos EUA a oposição deles aos sindicatos e ao salário mínimo; isso, enquanto faturam U$ 13 milhões por dia! Para vídeos do Democracy Now sobre or irmãos Koch, clique aqui, aqui e aqui.
Resumão: “Os irmãos Koch são o que os Estados Unidos tem de mais próximo dos oligarcas russos. Eles juntam controle sobre a economia e sobre o Estado, usando este último para enriquecer gerando ganhos privados com perdas públicas. A idéia que eles tem de ‘economia de mercado’ é comprar autoridades de governo e os bens públicos que eles privatizam a preço de banana”. Já imaginaram estes caras botando a mão no pré-sal?"
Fonte: Viomundo

15 de Março: porque eu não vou

Reproduzimos artigo de Kika Castro (jornalista, ex-Folha de São Paulo), publicado em seu blog na última terça-feira.


"Vi o banner acima ontem, pela primeira vez, no Facebook. Não sei quem o criou. Eu gostei, compartilhei pelo Twitter, e, duas horas depois, mais de 150 pessoas tinham compartilhado meu compartilhamento. (E assim continuou nas horas seguintes, mas parei de contar.)

Então, fiquei com a impressão de que nem todo mundo bateu panela e gritou “Fora Dilma” na janela de casa no último domingo…

Escrevi o seguinte, antes de compartilhar: “Democracia é aceitar o que uma maioria quis e trabalhar/cobrar para que dê certo para todos. Quatro anos depois, escolher livremente o candidato favorito, mais uma vez. E assim por diante ;)”

Claro que, dentro do “cobrar”, do parágrafo acima, cabe também protestar. É legítimo protestar. É legítimo fazer buzinaço, panelaço, vaiar e xingar (embora, que pena, muitos tenham optado por xingar baixarias contra a presidente da República, em pleno Dia Internacional da Mulher). Tudo isso, felizmente, é permitido e só pode acontecer porque ainda vivemos numa democracia.

Quando há reclamação e crítica, o governante da vez se preocupa e busca uma reação para agradar àquela parcela, para a qual ele também governa, e que está demonstrando insatisfação.

O que me preocupa é quando tentam fortalecer o discurso do impeachment, sem nenhum respaldo para isso. Não consigo deixar de pensar no Fluminense: é tentar mudar um resultado por meio do tapetão, ou seja, sem respeitar as regras vigentes e, neste caso, sem respeitar a maioria.

Dilma saindo, por um impeachment nonsense, quem assumiria em seu lugar? Michel Temer, o vice-presidente, que é do PMDB. Mesmo partido de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que dispensam apresentações.

O pior é que não é nem isso que quer um grupelho que estava quieto há 30 anos e, com esta gritaria, voltou a ressurgir das trevas. Esse grupo, que já tem milhares de seguidores só em uma comunidade do Facebook, defende nada mais nada menos que a intervenção militar. [Não vou colocar o link para a comunidade, por motivos óbvios]. E aí, bye-bye panelaço, buzinaço e o escambau. Que seria do futuro? Imprevisível. E não algo que possa ser planejado ou reformulado num novo pleito, em quatro anos, como acontece hoje. O horizonte passa a ser obscuro quando deixamos de viver numa democracia. Assim como essa instabilidade do período pré-tapetão também dificulta qualquer possibilidade de tomar rumos que melhorem o Brasil. Vira só uma grande histeria, cada dia mais radical e intolerante, e menos aberta a divergências.

É isso que você quer? Eu não. Por isso, me abstenho de participar dessa marcha do dia 15. Não pela marcha em si: é muito válido criticar a presidente, que está deixando muita gente insatisfeita, inclusive vários que são até filiados ao seu partido, o PT. Mas pelos que estão se aproveitando da marcha para gerar histeria e, com a histeria, criar o ambiente certo para um golpe, como aconteceu há 50 anos no Brasil (e, também daquela vez, começou com “marchas”). Sou otimista demais pra embarcar nesta canoa furada."


Leiam também:
E a tal marcha vem aí

9 de março de 2015

Luis Fernando Veríssimo e Luiz Carlos Bresser Pereira: a preferência pelos trabalhadores e pelos pobres gerando ódio

Nesta crônica publicada ontem, dia 08/03, Luis Fernando Veríssimo - com seu brilho e estilo únicos - faz comentário sobre o texto (na verdade uma entrevista), também recente, de um baluarte da Centro-Direita no Brasil e um dos fundadores do PSDB: Luis Carlos Bresser Pereira.
Vem daí a introdução: "Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera".
O título da crônica é "Olha o velhinho!" e é uma resposta (ainda que parcial) de uma pergunta que vem me incomodando e me afastando cada vez mais das redes sociais: porque tanto ódio?
Não se trata de crítica política, questões econômicas ou purismo moralista acima do bem e do mal. Trata-se de ódio que corrói tudo.
Me incluí fora dessa. 
Ponto. 
No mais, só me resta continuar lendo "O Capital no Século XXI", de Thomas Piketty.
So goodbye yellow brick road...
Luís Fernando Veríssimo
"Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.

Economistas liberais recomeçaram a pregar abertura comercial absoluta e a dizer que os empresários brasileiros são incompetentes e superprotegidos, quando a verdade é que têm uma desvantagem competitiva enorme.

O país precisa de um novo pacto, reunindo empresários, trabalhadores e setores da baixa classe média, contra os rentistas, o setor financeiro e interesses estrangeiros. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio.

Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos.

O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

Dilma chamou o Joaquim Levy por uma questão de sobrevivência. Ela tinha perdido o apoio na sociedade, formada por quem tem o poder. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta.

Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo."

Nada do que está escrito no(s) parágrafo(s) anterior(es) foi dito por um petista renitente ou por um radical de esquerda. São trechos de uma entrevista dada à “Folha de São Paulo” pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que, a não ser que tenha levado uma vida secreta todos estes anos, não é exatamente um carbonário.

Para quem não se lembra, Bresser Pereira foi ministro do Sarney e do Fernando Henrique. A entrevista à “Folha” foi dada por ocasião do lançamento do seu novo livro “A construção politica do Brasil” e suas opiniões, mesmo partindo de um tucano, não chegam a surpreender: ele foi sempre um desenvolvimentista nacionalista neokeynesiano.

Mas confesso que até eu, que, como o Antônio Prata, sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um misto de choque (“Olha o velhinho!”) e de terna admiração.

Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera.

Outro trecho da entrevista: “Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma visão de desenvolvimento crítica do imperialismo, crítica do processo de entrega de boa parte do nosso excedente a estrangeiros. Tudo vai para o consumo. É o paraíso da não nação.”
Luís Fernando Veríssimo
Luiz Carlos Bresser Pereira