Segunda-feira de carnaval e eu ainda nem tomei gosto pela causa. Os acontecimentos atropelam os planos e as revisões forçadas de rota avaliam o tempo inteiro as nossas habilidades de adaptação...coisas de nosso tempo, de nossas idades amadurecidas e contextos em complexas mutações...
Justo eu um amante das ruas em blocos e dos rituais envolventes desta odiada e amada festa cristã, pagã, o carnaval!
Como bem dito pelo Marquinhos Cardozo em poster's anteriores, os carnavais de agora perderam muito daquele encanto de outrora, não sabemos bem porque, mas as ruas não estão nem repletas de foliões e nem inundadas pela alegria leve, criativa e descontraída daqueles tempos de matinês para as crianças e bailes noturnos nos club's para os adultos, após várias rodadas de bois pintadinhos, negras filó, bois tatá, etc...envolvendo vizinhos, amigos e parentes em encontros anuais...sinais dos tempos...
Assim, a vida segue nos corredores da clínica em companhia de enfermo idoso...tudo indica que a alta médica somente na quarta de cinzas...muito dura a lógica destes espaços do domínio médico...
Mas eu abri este post foi para falar e registrar um pouco desta "festa de loucos" - festum fatuorum - provocado que fui por um e-mail do amigo Delman, colega de MBA e também amante do espaço virtual, onde cultiva flores e idéias no site
MORRODOBACOBACO
Uma festa amada por multidões no Brasil, de norte a sul a maior nação cristã do hemisfério sul literalmente se rende aos encantos do luxo e beleza das festas carnavalescas, onde corpos nús, folias e músicas aos sons de baterias transformam estes 4 dias em uma espécie de grito de libertação total!
No breve texto proposto pelo Delman podemos ver bem quais eram os grandes sentidos envolvidos na "festa dos loucos", nos primórdios medievais, onde a igreja já anuciava participar:
"Durante quatro dias do ano, o mundo ficava de cabeça para baixo: membros do clero faziam competições de bebedeira na nave.
Jogavam dados em cima do altar, zurravam como burros ao invés de dizer “Amém”, faziam sermões de galhofa, baseados em paródias do Evangelho (o Evangelho segundo o Traseiro da Galinha, o Evangelho segundo o Dedo do Pé de Lucas).
Embalados pela bebedeira, seguravam os livros sagrados de ponta-cabeça, faziam orações para vegetais e urinavam de cima das torres dos sinos. “Casavam” burros, amarravam pênis gigantes de lã em suas batinas e tentavam fazer sexo com homens e mulheres dispostos a tanto.
Mas, nada disso era considerado apenas piada. Era sagrado, uma parodia sacra.
O cristianismo medieval, durante a maior parte do ano, pregava solenidade, ordem, moderação, camaradagem, sinceridade, amor a Deus e decoro sexual.
Entretanto, pragmaticamente, previa quatro dias de liberô geral no calendário cristão, para garantir que durante o resto do ano as coisas permaneceriam em ordem.
Em 1445, a Faculdade de Teologia de Paris explicou aos bispos da França que a Festum fatuorum, Festa dos Loucos, era um evento necessário no calendário cristão,
“para que a insensatez que é nossa segunda natureza, e inerente ao homem, possa se dissipar livremente pelo menos uma vez ao ano. Barris de vinho de tempos em tempos estouram se não os abrimos para entrar um pouco de ar. Todos nós, homens, somos barris reunidos inadequadamente, e é por isso que permitimos a tolice em certos dias: para que, no fim, possamos regressar com maior fervor ao serviço de Deus”.
(extraído do livro “Religião para ateus”, de Alain de botton, pag. 53,55)"
Abaixo uma outra colocação sobre o mesmo tema:
"Apesar do controle da Igreja, muitas festas e hábitos de origem pagã foram praticados durante toda a Idade Média e chegaram até os nossos dias, com modificações e adaptações. Uma dessas festas era o carnaval. Veja o que Peter Burke escreveu sobre o assunto.
A estação do carnaval começava em janeiro, ou mesmo em finais de dezembro, sendo que a animação crescia à medida que se aproximava a Quaresma. O local era ao ar livre no centro da cidade. O carnaval pode ser visto como uma peça imensa, em que as principais ruas e praças se convertiam em palcos.
O carnaval servia como forma de contestação do controle social e moral realizado pela Igreja e pelos governantes, mas também servia como uma vávula de escape das tensões sociais.
(Adaptado de Burke, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p.206-26)"
Bem, quanto a mim o que resta é cantar a conhecida marchinha de carnaval - "Até Quarta-feira", claro, pensando no carna do próximo ano rsrsrsrsrsrsrsr:
"Este não ano vai ser
Igual aquele que passou:
Eu não brinquei,
Você também não brinco.
Aquela fantasia que eu comprei
Ficou guardada e a sua também
Ficou pendurada,
Mas este ano está combinado:
Nós vamos brincar separados!
(bis)
Se acaso meu bloco
Encontrar o seu,
Não tem problema,
Ninguém morreu.
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,
Até quarta feira.
Lá, lá, lá, lá, la, lá,
Lá, lá, lá, lá, la, lá,
Lá, lá, lá, lá, la, lá, lá, la, lá."