Olhando os últimos que colocamos percebemos que em sua maioria são de questões políticas.
É que é difícil, com a nossa história, não tomar partido sobre alguns temas que nos saltam aos olhos, mas que são mostrados pela mídia de uma forma enviesada no sentido de defender seus próprios interesses.
Interesses que estão sempre ligados à retomada do poder pela direita, pelos reacionários de plantão. Não, não dá para chamar esse pessoal de "conservadores".
De nossa parte existe uma preocupação muito grande é com o retrocesso social. Agora que conseguimos tirar o Brasil do vergonhoso "mapa da fome" da ONU, que começamos a resgatar a imensa dívida social, estamos arriscados a ver tudo se perder. Daí a dificuldade em ficar calado.
Mas... 'para não dizer que não falamos de flores' e assuntos afins, retomamos a veia multidisciplinar do blog através de uma interessante crônica do escritor cubano Fabio Hernandez.
Ele publica seus escritos no ótimo Diário do Centro do Mundo e foi de lá que tiramos essa análise sobre as paixões masculinas.
Seu estilo é coloquial, agradável e ele costuma acertar nos pontos nevrálgicos que escolhe para tentar desvendar.
Lendo-o, me deu vontade de definitivamente abandonar os temas políticos e mergulhar nessa temática que me agrada muito mais. Acontece que tem aquela história de nossa preocupação com aqueles que são menos agraciados com uma vida digna. Por isso o obrigatório caminho à esquerda.
Mas sigamos em frente com o texto apaixonado do Fabio.
Vale a leitura para começar bem o fim de semana.
Ou não. Se você estiver vivenciando o que ele tenta traduzir...
Uma paixão está rondando você? Chute!
"Poucas coisas são mais cultuadas que a paixão romântica. É bonito, dizem, estar apaixonado. Você volta a ser um adolescente sonhador, iconoclasta, mesmo que já tenha passado dos 30 ou mesmo dos 40. Você retoma a criatividade embolorada. É capaz até de mandar flores e, mais ainda, de escrever versos lindamente medíocres. Você se olha com renovado interesse no espelho. Capricha no penteado depois de anos de desleixo. Refaz o guarda-roupa. Considera até a possibilidade de se depilar para ficar na moda ou parecer mais atraente para ela.
Viagra, talvez, para não correr riscos de mau desempenho.
Alguns pensam até na hipótese de aprender a tocar violão para impressioná-la com um dedilhado que será inevitavelmente tosco. E todos com certeza cantam alto em seu carro as músicas adocicadas prediletas que colocam para ouvir e se inspirar neste momento mágico de deslumbramento.
A paixão é linda, é o que dizem. E é também horrível. Uma das aberturas de romance mais aclamadas da história da literatura diz o seguinte: “Era o melhor dos tempos, e também o pior”. O autor é Dickens.
O mesmo se aplica para a paixão. Ela nos eleva e nos rebaixa ao mesmo tempo. Vou ser direto: a paixão nos faz burros, ridículos, irresponsáveis. O mais complicado é que ela faz tudo isso e além do mais nos engana: temos a convicção de que ela nos torna o oposto. Charmosos, quase irresistíveis.
O apaixonado é um sofredor. Ele não dorme. Ele come mal. Se ela telefona, ele tem uma crise de euforia. Se o telefone emudece obstinadamente, é motivo de aguda depressão. Se ela corresponde, ele é o rei do mundo. Se não, ele pensa alternadamente em matar ou morrer. Às vezes, nas duas alternativas. Ou numa terceira, se ela estiver interessada em outro cara.
Nenhum apaixonado de verdade escapa da gastrite. A gastrite é a prova definitiva do amor verdadeiro. E não qualquer gastrite, mas aquela que leite nenhum ameniza ou cura. Porque o problema está na mente insana, e não no estômago castigado.
Os filósofos discordam uns dos outros em quase tudo. Montaigne disse que não há nada que alguém diga, nem o seu contrário, que não tenha sido defendido por algum pensador. Um dos raros pontos em que os sábios concordam é exatamente na paixão: se você conseguir se livrar dela, se você for forte e perseverante o suficiente para dominá-la, você vai ser um cara feliz.
Não será escravo de antidepressivos e de calmantes. Não vai acordar seus amigos e amigas durante a madrugada para desabafos intermináveis. Nem se deixará entrar no egocentrismo insuportável do apaixonado, para quem a vida se resume a ela e ela. O resto, dane-se.
A paixão fecha nossos ouvidos. Só falamos. Não conseguimos escutar nada e ninguém fora dos limites do nosso amor. Tente conversar com um apaixonado. Ele não vai registrar nada do que ouvir. Ele não vai derramar uma mísera lágrima pela história mais triste que você lhe contar.
Uma paixão está rondando você? Chute.
E trocará uma eternidade de angústia por um minuto de desalento. Mas — como Montaigne escreveu – eu poderia estar aqui defendendo o contrário, com a mesma convicção."
Por Fabio Hernandez
Me veio à mente então essa belíssima música instrumental do nosso querido Carlos Santana.
É do álbum duplo "Moonflower", que contém parte de material inédito registrado em estúdio e parte gravado ao vivo.
Foi lançado em 1977 e a escolhida é a faixa-título, cujo nome original é "Flor d'Luna".
Uma faixa emocionante que cai bem qualquer que seja o seu estado de espírito. O Santana tem essa capacidade de percepção nas coisas que cria. É uma alma elevada.
Alegre e triste. Extrovertida e intimista. Dançante e contemplativa. Apaixonante. Tudo ao mesmo tempo.
Além do belíssimo visual do vídeo: lua, flores e mulheres, com singeleza.
2 comentários:
Você é único em seus posts. Tinha que fazer pelo menos um por dia! Bjssss.
Excelente! Muito bom! obrigada@
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