31 de julho de 2015

Entre a briga política, monges e os primeiros e eternos amores


Ultimamente tenho conseguido colocar nos dois blogs (neste e no Impressões) uma média de um artigo semanal em cada um. Normalmente às sextas-feiras.
Já houve épocas melhores. Era só este blog, mas nós colocávamos - eu e o Felipe - até três temas por dia.
Aí houve uma paralisação devido à falta de tempo e aos poucos estamos retomando o ritmo. O que não quer dizer muita coisa.
Poderemos voltar a produzir profusamente ou dar outra parada, talvez até mais longa ou definitiva. Coisas dos nossos tempos.
Nossos 17 leitores já sabem disso e tem muitas outras leituras interessantes na grande rede. Se estamos aqui é porque gostamos e agradecemos a atenção. Embora nem sempre merecedores dela.
Hoje baixou aquele animal político e vim disposto a recordar os bons e difíceis tempos em que o blog assumiu a posição de defender a eleição de Lula e depois de Dilma. Retomar a temática de forma atual, das operações policialescas, de advogadas que abandonam casos, de estranhos presidentes das câmaras, da "alta" mídia mais suja que pau de galinheiro manipulando notícias, etc.
Mas mudei radicalmente de ideia quando comecei a escrever e um mal estar estomacal começou a remoer as entranhas.
Bem, resolvi então baixar o biorritmo. 
Talvez esteja precisando de um banco em frente a um lago com muito verde ao redor.
Falar do que então? Algo que me dê uma calma necessária neste momento.
Ultimamente ando com o objetivo de reler dois livros de origem oriental que li há muuuuitos anos. São eles "Autobiografia de um Iogue" e "O Livro Tibetano do Viver e Morrer". Resolvi então escrever sobre eles. Aí o problema: na verdade preciso retomá-los antes para relembrar tudo e só depois fazer uma resenha que mereça ser lida.
E aí... Não é que o acaso mais uma vez ajudou?! Não é que tenha descoberto um belo texto sobre os citados livros, isso ainda vai ficar para depois, mas dando uma passada nos escritos do escritor cubano Fabio Hernandez (já citado no blog) achei um artigo onde ele usa livros de monges para falar de outro tema para mim também muito interessante: o primeiro amor (e por conseguinte a paixão de forma geral).
E ele vai (da mesma forma) pelo caminho de dois livros "espirituais", embora não sejam esses que eu comentei.
Reproduzo parcialmente a sua deliciosa crônica, que pode ser conferida na integra aqui.
E fico devendo duas coisas: a retomada da briga política (se minha gastrite deixar) e o sentido da vida, via Oriente.
 
O Primeiro Amor
(...) "Agora confesso que esqueci por que falei em Sêneca e no esforço inútil despendido em leituras inúteis. Ah, lembrei. É que no esforço de seguir o romano genial eu passei a me concentrar em alguns autores, não numa infinidade. E tirei de minha vista a montanha de livros que me trazia tanta ansiedade. Entre as minhas poucas e constantes leituras estão dois escritores “espirituais”. Um deles é o monge católico Thomas Merton, já morto. O outro é o monge zen Thich Nhat Hanh, um vietnamita que ergueu uma comunidade budista num lugar retirado na França.

Citei ambos porque, em livros que escreveram, eles trataram de um assunto que é único, vital, indelevelmente marcante na vida de um homem: o primeiro amor. É quando descobrimos que não somos mais crianças. É quando descobrimos que existem outros prazeres além da bola de futebol e do videogame.

E é quando descobrimos também o quanto a alegria está conectada à tristeza. O quanto a euforia está próxima da angústia. Um telefone que toca com a voz de quem você deseja ouvir. E então é o êxtase. Um telefone que teima em ficar silencioso, cruelmente silencioso. E então é a agonia. Você é um antes do primeiro amor. E outro depois. Os beijos. O adeus.

(E então me ocorre aquela linda canção chamada Crying Game, que deu nome ao polêmico filme. “First there are kisses/Then there are sighs/And then before you know where you are/You’re saying goodbye”. O sentido é a fugacidade da paixão. A impermanência, como dizem os budistas. Quem sabe um dia o Mantraman me diga palavras de conforto em relação à revolta ingênua que sinto contra a impermanência).

Merton, em sua autobiografia, nota algo que eu nunca tinha pensado. Somos tão jovens, tão frágeis quando aparece pela primeira vez em nossa vida aquela onda avassaladora que é o primeiro amor. Tanto impacto e somos tão indefesos. Merton se apaixonou antes de virar monge.

Thich Nhat Hanh, num pequeno e belo livro chamado Cultivando a Mente de Amor, confessa a paixão que o tomou quando, jovem monge, conheceu uma monja. Ele diz que decidiu falar desse amor para ajudar outros monges que por acaso enfrentem a mesma situação.

Pelo lirismo inspirado, transcrevo um trecho em que Thich Nhat Hanh fala do objeto de seu amor: “O comportamento dela como monja era perfeito – a forma de se mover, de olhar, de falar. Ela era tranquila. Jamais dizia alguma coisa, a melhor que lhe perguntassem”. Mais adiante, ele compara seu amor a uma tempestade pela qual ela e ele tinham sido apanhados sem saber como. E também sem saber como escapar.

Num capítulo intitulado “A beleza da primavera”, Thich Nhat Hanh faz um convite ao leitor. “Por gentileza, pense no seu próprio primeiro amor”. Faça-o devagar, visualizando como aconteceu, em que lugar foi, o que lhe trouxe naquele momento. Relembre essa experiência e observe-a calma e profundamente, com compaixão e entendimento. Você descobrirá muitas coisas que não notou naquela ocasião”.

E então aceito o convite do monge zen. E penso nela. Nos olhos verdes. Na pele suave como um pêssego. No sorriso meigo e constante. No telefone que tocou e trazia a voz dela para dentro de minha casa e de meu coração. No vestido azul e amarelo que usou quando saímos pela primeira vez.

No primeiro beijo.

E então penso na tempestade (para usar a expressão de Thich Nhat Hanh) que se seguiu. Deus, que tempestade. Mas quanta poesia, quanto calor, quanto ensinamento se escondia naquela torrente de água ao mesmo tempo tão sofrida e tão gloriosa."
Por Fabio Hernandez

3 comentários:

Junior disse...

As histórias do Fabio são sempre legais, mas as voltas que você dá em torno de diversos temas é que eu acho mais legal. Cuida da gastrite e volta a comprar aquelas brigas políticas meu caro homem de esquerda.
um grande abraço para você e para o Felipe Muniz que anda muito sumido!

Luiz Felipe Muniz disse...

Valeu Jr, vc não imagina a saudade q tenho deste espaço. .. e o quanto tenho me contorcido para dar conta das atuais opções. Não perdi as esperanças de retomar por aqui... em breve!

Marcos Oliveira disse...

Valeu Júnior!

Estamos aguardando Felipe, mas sabemos das imensas demandas do momento.
Mas o espaço sempre será seu.

Grande abraço!