14 de agosto de 2015

O Domingo e o Impeachment

Charge do Laerte
Aproxima-se o domingo "fatídico", que foi sendo alimentado ao longo do último mês no sentido de se dar força para um impeachment da Presidente, na verdade um golpe disfarçado. Um agosto desgosto.
Acontece que, de uma semana para cá, as coisas andaram esfriando para os paneleiros de plantão da Zona Sul e Higienópolis.
Sinais da FIESP, FIRJAN, Globo, Movimentos Sociais, Senado, STF, etc. começaram a colocar água na fervura.
O que aconteceu? Porque a mídia mudou o tom?
Dezenas de teses vem surgindo:
- A queda de Dilma já são favas contadas e a mídia já fez a sua parte, então se descola do movimento para não ser acusada mais uma vez de golpista.
- O encontro de Dilma com Obama foi a pá de cal. Obama avisou que um golpe agora iria atrasar o progresso do Brasil e da região por no mínimo 30 anos, devido à convulsões sociais. Obama não quer isso aqui na América do Sul.
- Os empresários mandaram baixar a bola porque vai sobrar pra todo mundo se Dilma cair, inclusive para eles.
- Senadores do PT avisaram para Globo mudar o tom, já que não iam controlar o que pode acontecer com a derrocada de Dilma e Lula.
- Globo preocupada com avanço das outras mídias propõe trégua, antes que a coisa complique mais.
- PSDB dividido entre alimentar o golpe ou apenas tentar fritar Dilma até 2018. Brigas pesadas entre Serra, Alckmin, FHC e Aécio.
- O impedimento de Dilma está por demais ligado ao Cunha e ninguém está querendo ficar do lado dele nesta altura do campeonato.
E por aí vai. Tem muito mais. Aguardemos domingo. Mas com certeza muitos irados estão ficando mais calmos, depois da "Nova Ordem Global", se é que me entendem. Interessante isso, né?!
Selecionei três artigos sobre o "instigante" tema, que reproduzo a seguir.

Dez razões que sepultam o golpe
Por Gisele Cittadino e Rogerio Dultra dos Santos, no blog Democracia e Conjuntura.
"A situação política no país assemelha-se a um intrincado jogo, cujas peças movem-se em várias direções sem que tenhamos, a priori, a capacidade de bem calcular os efeitos de cada um desses movimentos. Entretanto, existem em alguns deles fortes sinais do início do fim do frenesi golpista.
Há, hoje, a possibilidade de que a ameaça de impeachment tenha sido antes uma estratégia para o enfraquecimento do governo do que uma intenção concreta de ruptura institucional. Noves fora as tresloucadas pretensões presidenciais de Aécio Neves e sua trupe senatorial.
Vejamos as jogadas lançadas no tabuleiro nos últimos dias.
Elas indicam no geral que a instabilidade econômica causada pelo golpismo encontrou resistências acentuadas.
São pelo menos 10 as razões pelas quais se pode antever que o país não tem mais o clima para o malfadado e radical impeachment de agosto:
1) O crime de Cunha.
Eduardo Cunha conseguiu aprovar açodadamente as contas dos governos de Itamar Franco, FHC e Lula no plenário da Câmara dos Deputados.
Aparentemente limpou a pauta para votar – e talvez rejeitar – as contas do primeiro mandato de Dilma Rousseff, não sem antes criar novas despesas públicas.
Romero Jucá informa que o Senado Federal não será pautado pelos “delírios” que chegam da Câmara.
A verdade por trás desta notícia é que Eduardo Cunha levou diretamente à Câmara contas que, segundo o art. 166, §1 da Constituição, deveriam passar pela Comissão Mista antes de seguir em frente. Ou seja: ele cometeu uma grave violação do ordenamento constitucional e pode ser diretamente responsabilizado por isto;
2) O inimigo de Cunha.
Na noite da quinta-feira, dia 06, Dilma decidiu reconduzir o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para um novo mandato de dois anos. Janot é o personagem contra quem Cunha declarou guerra. Janot recebeu uma votação expressiva no Ministério Público Federal e terá condição de colocar freio na caça às bruxas dos procuradores mais afoitos.
Mais. Janot tem o poder de denunciar o Presidente da Câmara dos Deputados ao STF – inclusive pela quebra de procedimento na votação das contas públicas (vide razão (1)).
A recondução de Janot, em tempo recorde, indica uma composição política central na contenção do golpe.
Como Dilma precisa da aprovação política do Presidente do Senado para o novo mandato de Janot acontecer politicamente sem atritos, isto significa de fato que Renan o aprovou. Numa reunião com Dilma nesta semana, Renan afirmou ter intenção de não atrasar a sabatina no Senado;
3) O parceiro de Dilma.
Renan Calheiros participa de um jantar “secreto” na casa de Tasso Jereissati, cujo objetivo é o de discutir a possibilidade do impeachment de Dilma, mas registra no Senado o compromisso, permitindo que o jantar se tornasse conhecido por todos.
Ao vazar publicamente a reunião dos golpistas para a qual foi convidado, Renan acenou para o governo que não é golpista. Tese confirmada pela movimentação descrita na razão (2).
Renan irá lutar pela aprovação das contas de Dilma Rousseff. Um movimento nesta direção foi a Senadora Rose Freitas (PMDB-ES) solicitar ao STF a anulação do ato de Eduardo Cunha de colocar as contas dos Ex-Presidentes na Câmara.
Base de Renan no Senado, Rose argumenta que a competência para a avaliação contábil é do Congresso Nacional e suspende a discussão das contas de Dilma por tempo indeterminado. O golpe por aí também não prospera;
4) O tarefeiro de Dilma.
A fala do Temer, chamando a oposição para a conciliação, parece ter sido mesmo articulada com o planalto, vide a fala do Mercadante (esta irritou a militância pelo tom entreguista, mas foi fundamental para indicar a parceria com o Temer). Jaques Wagner também defendeu o Vice-Presidente.
Temer chamou o apoio da FIESP, que chamou a FIRJAN. Ambas representam os interesses da indústria no país.
Divulgam uma nota pública que é, ao mesmo tempo, um resposta positiva ao pedido de Temer e uma crítica à irresponsabilidade de Eduardo Cunha que, para livrar-se da prisão, trabalha no sentido de inviabilizar a economia do país;
5) O “Ex”-Golpismo da mídia.
A Globo entendeu o recado da Indústria brasileira e o recado do Renan e no editorial desta sexta 07 fritou Eduardo Cunha em definitivo.
Este, junto com Collor (que chamou Janot de FDP), deverá ser processado pela PGR em 3, 2, 1…
A degola de EC foi, portanto, sacramentada oficialmente e passada em cartório.
Eduardo Cunha – uma ponta solta golpista – deverá ser “fuzilado” pela PGR (Janot), a despeito dos seus encontros com Merval Pereira na sede do Jornal O Globo.
Isto não significa que a Globo está de bem com o PT ou que desistiu de derrubar a Dilma. Apenas que foi freada por forças maiores. Pelo menos, no momento;
6) O malogro das panelas.
O “panelaço” foi um ridículo fiasco, com cara de iogurte estragado. Com o Alkmin fora do golpe, somente a banda podre do PSDB concorrerá ao dia 16 (leia-se Aécio, Aloysio Nunes e Serra – a segunda ponta solta do golpismo).
Esta parcela do PSDB desespera-se e assume uma postura histriônica, pedindo, também em nota pública, a convocação de novas eleições.
A Globo provavelmente fará uma cobertura mais discreta das eventuais manifestações (se fizer estardalhaço, o objetivo geral não será golpe, mas sangramento do governo);
7) O novo Ministério e a Oposição Judicial.
O novo ministério de Dilma terá, provavelmente, nomes de peso.
Um deles seria o Senador Roberto Requião (PMDB-PR), homem forte no Paraná da “Operação Lava-Jato”.
Outro ministro pode ser Ciro Gomes (PROS-CE), que recentemente se lançou candidato a presidente.
Talvez até o próprio Lula fosse ministeriável. Lula ganharia holofotes gratuitos, iniciaria sua campanha numa posição qualificada (especialmente na Defesa ou nas Relações Exteriores) e, com foro privilegiado, escaparia da sanha fascista da República do Paraná, ficando submetido exclusivamente ao STF.
A antecipação da campanha de 2018, entretanto, é um peso para se levar em consideração. Estar no governo Dilma, já combalido, pode prejudicar mais que ajudar o pré-candidato com maior envergadura.
De qualquer sorte, este movimento de grandes forças políticas em direção a ministérios estratégicos, como a Casa Civil, inclusive, pode colocar a “Operação Lava-Jato” em marcha lenta, já que seu teto terá sido José Dirceu. Mais uma vez;
8) O controle da malta.
O PMDB, com a provável dança de cadeiras nos ministérios, acalmará a sanha do baixo clero na Câmara.
As prebendas serão redistribuídas e os deputados órfãos de Eduardo Cunha voltarão a votar no cabresto, controlados em sua maioria pelos líderes governistas, como sempre fizeram;
9) A divulgação do recado.
A Rede Globo de televisão dá um destaque absolutamente inédito a Dilma Rousseff e de forma positiva, permitindo que um vídeo com a fala da Presidente seja transmitido por longos segundos no JN e no Jornal da Globo.
As organizações Globo indicam que entenderam o recado do mercado e retiram a agenda golpista da programação;
10) Ao fim e ao cabo, é a economia.
A economia dá sinais de recuperação. O natal de 2015 será gordo. E a Petrobras passará de 1.000.000 de barris por dia apesar do mimimi da oposição.
A Dilma poderá até fritar, mas o golpe, por enquanto, não prospera."
 
Onde foram parar os valentes jornalistas da Globo que defendiam o impeachment? 
Por Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo em 12/08/2015

"Uma coisa eu preciso reconhecer na família Marinho: ela sabe dar ordens.

Nisso, é bem diferente da família Civita, que não consegue pedir um café para o mordomo.

Nem bem João Roberto Marinho disse aos senadores do PT que transmitiria a seus editores o que ouvira deles, o noticiário da Globo mudou consideravelmente.

Em todas as mídias.

O que João ouviu é o que todos já sabiam: que a cobertura da Globo vinha sendo escandalosamente enviesada contra o governo.

João prometeu aos senadores que iria avisá-los do diagnóstico prontamente.

Presumo, pelo que conheço da Globo, que ele mandou um email sintético, que é seu estilo, aos integrantes do Conedit, o Conselho Editorial.

Acabou.

No Jornal Nacional da sexta-feira passada, um milagre: a dupla aparição de Dilma e Lula em reportagens diferentes.

Há quanto tempo o JN não abria espaço duplo para coisas do PT? Uma eternidade.

Os jornalistas da Globo sabem que o preço da visibilidade é a submissão.

Ou o papismo.

Na biografia de Bial sobre Roberto Marinho, um episódio revelador é narrado.

O jornalista Evandro de Andrade estava conversando com Roberto Marinho sobre a possibilidade de chefiar o Globo.

Evandro, numa carta, garantiu a RM que era “papista”. O papa falou, acabou: passemos para o próximo assunto.

Imagine, apenas a título de especulação, que Ali Kamel se insurgisse e continuasse a acelerar enquanto os patrões pedem que se freie.

Quantas horas até ele ser removido? E alguém trataria de espalhar, nos corredores do poder na Globo, que Kamel foi vitimado pelo Ibope. Pegou, afinal, o Jornal Nacional com mais que o dobro da audiência atual.

Mas isso não vai acontecer, porque Kamel é papista. Você não faz carreira na Globo se não for.

A Globo freando, as demais empresas jornalísticas fizeram o mesmo, excetuada a Abril com a Veja.

Para a Veja, não há mais recuo possível. O estrago por anos de jornalismo criminoso é de tal monta que simplesmente não existe um caminho de volta.

Os atuais leitores – analfabetos políticos de classe média – debandariam. E os antigos jamais retornariam.

A Folha e o UOL, da família Frias, parecem ter também desistido de atear fogo. Todos os dias, na home do UOL, o blogueiro Josias de Souza decretava o fim do governo.

Procurei Josias hoje, na home, e não encontrei. Fui a seu blog, e encontrei um tom que nada tem a ver com a gritaria dos últimos meses.

A coragem dos colunistas e comentaristas da grande mídia vai até o exíguo limite de uma ordem patronal.

No Facebook, Eric Bretas, diretor de mídias digitais da Globo, disse que o editorial da Globo provava que jornalistas e donos não têm a mesma opinião.

Respondi que respeitaria os aloprados da Globo se eles, diante das novas instruções de JRM, continuassem a fazer o que vinham fazendo.

Claro que isso não aconteceu.

Certamente os papistas da Globo encontraram, como sempre, vários motivos para pensar exatamente igual aos donos."

O protesto de domingo morreu antes de nascer
Por Paulo Nogueira
"O protesto de domingo morreu, tecnicamente, antes de nascer.
A causa mortis foi a NOG, a Nova Ordem da Globo, aquela que tira formalmente o apoio ao golpe.
A Globo nunca entra num jogo se pode perder. Ela apoiou os golpistas de 64 porque a vitória era certa, garantida pelos militares e pelos americanos.
Agora, não. Ficou claro, depois de oito meses de desestabilização, que um golpe conflagraria o país, e os resultados para ela, Globo, poderiam ser catastróficos.
Tudo isso posto, significa que os idiotas úteis que vestiam camisas da CBF e iam para as ruas pedir a cabeça de Dilma se transformaram em idiotas inúteis.
Como foram artificialmente erguidos e promovidos, agora serão devolvidos a seu devido lugar.
Como esquecer o protesto de fevereiro, quando a Globo News anunciava a todo instante o número brutalmente mentiroso de participantes passado pela polícia de Alckmin?
Aquela era, aspas, e pausa para gargalhadas, a “festa da família brasileira”.
Um diretor da Globo chegou a convocar publicamente, no Facebook, as pessoas a irem para a rua para derrubar Dilma e seus 54 milhões de votos. (Um dos argumentos desse diretor era uma denúncia que ele lera, logo onde, na Veja, a maior fábrica de infâmias e mentiras da história da imprensa brasileira.)
Novas circunstâncias, nova cobertura.
Os protestos tenderão a ser coisa de lunáticos, gente como Lobão, Kim Kataguiri, Reinaldo Azevedo, Batman do Leblon, Bolsonaro e, à distância, Olavo de Carvalho.
Será o retorno à razão.
Você quer trocar o governo? A cada quatro anos há eleições exatamente para isso.
Democracia é assim.
Tirar um presidente eleito antes disso com base em uma centena de pretextos que se superam em cinismo e desonestidade é coisa de República das Bananas.
A revista America’s Quartely, que reflete o pensamento da elite de Washington, colocou isso exemplarmente num artigo poucos dias atrás.
Um golpe devolveria o Brasil a um triste passado em que a vontade do povo era atropelada.
E acabaria com a ideia, abraçada pelo mundo civilizado, de que emergiu no país, depois dos militares, um “novo respeito” pelas urnas.
A AQ falou também o óbvio. Caso vingue um impeachment absurdo e forçado como este, todo presidente brasileiro, daqui por diante, governará sob a sombra sinistra de ser removido a qualquer momento a despeito de vencer as eleições.
Quem quer isso?
Nem a Globo, depois de enxergar a realidade.
Só os analfabetos políticos que irão às ruas neste domingo, vestidos em seu uniforme da corrompidíssima CBF.
Para eles, o holofote se foi, e sem isso não são rigorosamente nada senão, repito, idiotas inúteis."

5 comentários:

JJJ disse...

Boa seleção Marquinho. E boa análise.
Estranho domingo que não fui cumprir o que os golpistas queriam!
E viva a democracia e a voz das urnas.
2018 tem mais.

Anônimo disse...

Panela não é urna.
E xingamento e ódio não é democracia.
Vamos pacificar o país!

Anônimo disse...

Não subestime o adversário e não chute cachorro morto. A Globo está esperando a manifestação do dia 16/agosto.

Marcos Oliveira disse...

Pode ser caro anônimo. Neste caso veremos na segunda. Se cumpriria o primeiro item que citei: " A queda de Dilma já são favas contadas e a mídia já fez a sua parte, então se descola do movimento para não ser acusada mais uma vez de golpista."
Ainda acho que a tendência maior é fritar Dilma e Lula para garantir, sem golpismo, a vitória da direita em 2018.

Boechat disse...

Boechat manda a letra. O discurso pelo impeachment é um erro, uma truculência, que só atrasa o país.

Quer tirar Dilma e o PT do poder?

Ganhem as eleições!

Ano que vem tem eleição. Em 2018, temos novamente eleições presidenciais.

"Cunha abre a boca e tem 50 mil jornalistas ouvindo o que ele tem a dizer"?

"Não vejo razões constitucionais ou legais para o impeachment de Dilma".

"A bandidagem está no Congresso Nacional. Tínhamos que pedir renúncia é do Cunha".