30 de novembro de 2015

Chega de notícias ruins

"(...) Na semana passada a Globo anunciou a demissão do jornalista Sidney Rezende, que trabalhava desde 1997 na GloboNews. A emissora jura que o facão foi por motivos operacionais, no bojo de uma "reestruturação da empresa" - que perde audiência e tende a perder anunciantes. Mas, curiosamente, o jornalista demitido havia postado na mesma semana em seu perfil no Facebook uma dura crítica ao papel da imprensa no Brasil. "Reengenharia" ou censura? Só o futuro dirá, mas vale conferir o artigo lúcido de Sidney Rezende." (por Altamiro Borges, no Blog do Miro)
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Chega de notícias ruins
"Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: "Por que vocês da imprensa só dão 'notícia ruim'?"

O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que "é o que temos para hoje". Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também. Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.

Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!

Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo.

O "ministro" Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos "líquidos" que acabaremos "morrendo afogados". Ele está certo.

Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: "o que houve?". Ele respondeu: "está cada vez mais difícil defender o governo".

Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.

O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.

Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e "soluções" que quando adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.

Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a "má vontade" e o "ódio" como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na "igrejinha", ganha carteirinha da banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.

Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: "será que não tem uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?". Se depender da imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.

É hora de mudar. O povo já percebeu que esta "nossa vibe" é só nossa e das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.

Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.

Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?"
Por Sidney Rezende

10 de novembro de 2015

Bob Fernandes: "Crônicas da ascensão fascista" (ou: O Moralismo Caolho e Hipócrita)


O pior: já sabemos como isso costuma acabar. A história está cheia de exemplos.



Publicado em 9 de nov de 2015
" Protesto paralisa rodovias em 12 estados. Ação de caminhoneiros que se anunciam "independentes" de sindicatos, contrários a aumentos nos impostos e preços de combustíveis e...pela saída de Dilma. Via WhatsApp, mensagens outras buscam espalhar pânico. Dizem que petroleiros querem provocar desabastecimento de gasolina e gás. No domingo, 8, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, foi hostilizado em um restaurante em Belo Horizonte. Ministro responsável pela implantação do Bolsa Família nos governos Lula, de 2004 a 2010, Patrus não tem acusações de corrupção contra si. "Petista, ladrão, safado, bolivariano", gritaram cidadão, que diz ser empresário, e um amigo. O ministro e um amigo não deixaram pra lá, reagiram. Patrus cobrou: -Escreva, põe isso no papel para que eu possa processá-lo... Confrontado, o empresário recuou e confessou: "Sou ladrão, sou corrupto igual ao PT... e sonego para não dar dinheiro para partido ladrão". Filmada e exposta nas redes sociais, a cena entra para a História como clássico do moralismo caolho e hipócrita. De gente que sonega impostos, rouba, enquanto aponta para corrupção alheia. Na segunda vez em que foi chamado de "ladrão" o ex-ministro da Fazenda, Mantega não deixou pra lá. Processou, e dois tipos pediram desculpas publicamente. Na Califórnia, outro tratou a presidente Dilma como "assassina" e "ladra". Repetiu-se o habitual "Deixa pra lá, é só um oportunista..." Na mesma Belo Horizonte, no velório do ex-senador José Eduardo Dutra, há um mês, vaias, e panfletos pregando: -Petista bom é petista morto... Outra vez, "deixa prá lá, são só oportunistas..." Há semanas, em São Paulo, Eduardo Suplicy e o prefeito ouviram berros: -...comunista, bolivariano, Haddad vagabundo... Também o vídeo dessa cena viralizou nas redes sociais. Nos dias seguintes, os registros impressos do fato. Assépticos, acríticos, já que tratavam de "bolivarianos" que devem "ir pra Cuba"... etc. Isso numa livraria chamada "Cultura". Aquela metáfora se completou com o berreiro se dando próximo a pilhas do livro "Como conversar com um fascista", de Marcia Tiburi. Então, mais uma vez, o habitual: "Deixa pra lá, são só oportunistas". Sim, são oportunistas, mas é preciso lembrar: a escalada começa sempre da mesma forma. E já sabemos como termina."

6 de novembro de 2015

A Crise Política e Econômica (e os possíveis canditados para 2018)

Mesmo tentando incessantemente fugir do debate político, depois de tantos anos no front (confesso: estou cansado), resolvi redigir rápida (tentativa de) análise da questão política/econômica atual.
Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil sairá fortalecido de toda esta crise. Grande parte dela "vendida" como sendo devido aos "desmandos" do atual governo federal.
Lembrando que existem governos estaduais e municipais. E que temos, além do Poder Executivo, os Poderes Legislativo e Judiciário. E o "quarto poder": a grande imprensa que segue - aqui pra nós - "levemente" tendenciosa, sem assumir claramente o seu posicionamento, óbvio. Todos com sua parcela de culpa ou (Ok...) tentativas de resolver os problemas.
A crise atual teve o seu primeiro capítulo - e causador de tudo - no estouro da bolha imobiliária dos EUA em 2008. A explosão foi tão grande que continuou reverberando como um eco ao longo dos anos e em longas distâncias.
Com a globalização não dá para ninguém escapar quando existe um rombo nas economias mais importantes do mundo.
Depois dos efeitos nocivos nos EUA - onde o governo teve até mesmo que estatizar a Chrysler – por exemplo - para ela não quebrar (quem diria... ações ‘comunistas’ nos EUA) - a onda chegou entre 2010 e 2012 na Europa, atingindo mais fortemente Grécia, Portugal, Espanha e Itália (além de países menores, pouco citados).
No Brasil - e BRICs de forma geral - a onda demorou mais a chegar por conta de intervenções dos governos que tentaram a qualquer custo evitar danos à economia e, sobretudo, ao cidadão comum. Mas a crise internacional se prolongou além do previsto e da capacidade dos governos de segurarem a onda. Isso aconteceu em 2014. Desta vez não ficaram de fora o Brasil, a Rússia, África do Sul e até mesmo a toda poderosa China sentiu impacto no seu monumental PIB.
Além disso, existia a imensa dívida social que o país precisava resgatar, sob o risco de termos enormes convulsões sociais. Embora continuemos com uma distribuição de renda sofrível, o fato é que os programas sociais conseguiram pela primeira vez na história tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU (países onde se morre, literalmente, de fome). Um feito digno de Prêmio Nobel da Paz. Mas isso custa caro e é uma despesa que todos temos que pagar. Não é um problema do atual governo. Era um vergonhoso problema da história do Brasil.
Assim, dizer que o Brasil foi incompetente e que esta é uma crise exclusivamente brasileira é má fé mesmo.
Quanto ao fato de venderem a ideia de que o atual partido no poder "inventou a corrupção" soa como piada para desavisados. A corrupção é endêmica desde o Brasil Colônia, sabemos. E em quase todos os outros países também (desconfio que não dá nem para salvar os nórdicos, embora em menor escala, obviamente). Atualmente grande parte dela é devido ao financiamento privado de campanhas que o STF derrubou este ano, embora parte do Congresso ainda insista em manter o status histórico.
Pela primeira vez não há intervenção do Poder Executivo nas investigações e pela primeira vez existem investigações e punições embora pareçam ser parciais, escolhendo que caminho seguir e a quem punir, quando na verdade deveriam ser amplas, gerais e irrestritas, avançando inclusive em épocas anteriores que nunca foram investigadas embora existissem denúncias, todas devidamente engavetadas.
A 'seletivade' das investigações e indignações mostra um país artificialmente dividido, onde nem partidos de situação nem partidos de oposição se entendem. Muito menos o povão.
Embora não seja mostrado, o principal partido de oposição está em frangalhos e não herdará o espólio do partido atualmente no poder. Caciques brigam entre si e é possível que brevemente existam migrações para outros partidos, tentando sobreviver à crise que eles mesmo agigantaram. A teoria do ódio não deu certo e o golpe não prosperou. Fica cada vez mais claro para a população que tem gente querendo não resolver o problema e sim piorá-lo. Agora é a história da "farinha pouca meu pirão primeiro". E salve-se quem puder, afinal de contas novas eleições brevemente baterão à porta.
Mas... "apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia".
Não é um otimismo só meu nessa época sombria para (quase) todos, vejam dados atualizados apresentados pelo jornalista Miguel do Rosário: "Para 2016, o boletim Focus, que apura a opinião dos agentes privados, estima que a balança comercial será de US$ 26 bilhões, quase duas vezes maior que a prevista para este ano, de US$ 14 bilhões.
Os investimentos estrangeiros diretos, aqueles voltados para a produção, continuam altos: estima-se que atingirão US$ 65 bilhões este ano. O mundo continua apostando no Brasil.
Para 2016, a previsão é que os investimentos estrangeiros diretos continuem acima de US$ 60 bilhões.
É a prova mais contundente de que prognósticos sombrios não colam no Brasil por muito tempo.
À diferença de colegas latinos, temos uma economia diversificada, em vários sentidos. Exportamos de tudo e faturamos tanto com exportação quanto com consumo interno. Se o dólar sobe, exportamos mais. Se o dólar cai, compramos mais.
Também não temos os problemas recorrentes de alguns países desenvolvidos, como dívida pública excessiva e população velha.
Nossa dívida pública é relativamente baixa e nossa população ainda será bastante jovem por algumas décadas."
E assim, sigamos em frente, não percamos a fé, pois nosso país e os que o defendem somos maiores que tudo isso. Em que pese o momento de baixa no emprego e alta de inflação, em que pese muitos jogando para que isso piore, superaremos esses desafios. É aguardar para confirmar. Chega de pessimismo e de gente torcendo para o mar pegar fogo pra comer peixe frito. Sigamos em frente, unidos pelo bem de todos, sobretudo dos que mais precisam.
P.S.:
E 2018? Quais seriam os candidatos? Imaginei um cenário para as eleições presidenciais. Apenas uma das inúmeras possibilidades que vejo, observando o momento atual. Mês que vem pode ser outra. Algumas indicações são meras hipóteses a princípio não realizáveis e talvez até absurdas mas...
Vamos lá:
- PT: Lula
- PSDB: Aécio
- PMDB: José Serra (abandonaria o PSDB por causa de Aécio e do Alckmin)
- PSB: Geraldo Alckmin (abandonaria o PSDB por causa do Aécio e do Serra)
- PDT - Ciro Gomes (Cristovam Buarque corre por fora)
- REDE: Marina Silva
- PSOL: Jean Wyllys (Luciana Genro tentaria outra vez?)
- PV: Eduardo Jorge (leve suspeita de que Alvaro Dias poderia deixar o PSDB - por causa do Aécio, Alckmin e Serra - e vir candidato pelo PV)
- PRTP ou PSC - Jair Bolsonaro (neste caso Levy Fidelix ou Pastor Everaldo, um dos dois, ficaria de fora da disputa)
:)