Vem daí a introdução: "Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera".
O título da crônica é "Olha o velhinho!" e é uma resposta (ainda que parcial) de uma pergunta que vem me incomodando e me afastando cada vez mais das redes sociais: porque tanto ódio?
Não se trata de crítica política, questões econômicas ou purismo moralista acima do bem e do mal. Trata-se de ódio que corrói tudo.
Me incluí fora dessa.
Ponto.
No mais, só me resta continuar lendo "O Capital no Século XXI", de Thomas Piketty.
So goodbye yellow brick road...
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Luís Fernando Veríssimo |
Economistas liberais recomeçaram a pregar abertura comercial absoluta e a dizer que os empresários brasileiros são incompetentes e superprotegidos, quando a verdade é que têm uma desvantagem competitiva enorme.
O país precisa de um novo pacto, reunindo empresários, trabalhadores e setores da baixa classe média, contra os rentistas, o setor financeiro e interesses estrangeiros. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio.
Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos.
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
Dilma chamou o Joaquim Levy por uma questão de sobrevivência. Ela tinha perdido o apoio na sociedade, formada por quem tem o poder. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta.
Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo."
Nada do que está escrito no(s) parágrafo(s) anterior(es) foi dito por um petista renitente ou por um radical de esquerda. São trechos de uma entrevista dada à “Folha de São Paulo” pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que, a não ser que tenha levado uma vida secreta todos estes anos, não é exatamente um carbonário.
Para quem não se lembra, Bresser Pereira foi ministro do Sarney e do Fernando Henrique. A entrevista à “Folha” foi dada por ocasião do lançamento do seu novo livro “A construção politica do Brasil” e suas opiniões, mesmo partindo de um tucano, não chegam a surpreender: ele foi sempre um desenvolvimentista nacionalista neokeynesiano.
Mas confesso que até eu, que, como o Antônio Prata, sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um misto de choque (“Olha o velhinho!”) e de terna admiração.
Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera.
Outro trecho da entrevista: “Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma visão de desenvolvimento crítica do imperialismo, crítica do processo de entrega de boa parte do nosso excedente a estrangeiros. Tudo vai para o consumo. É o paraíso da não nação.”
Luís Fernando Veríssimo
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Luiz Carlos Bresser Pereira |
3 comentários:
Marcos, é muito bom te ver de volta ao blog. Seria bom se não ficasse tanto tempo sem postar. Nos acostumamos aos seus posts diários. Agora, nem no outro, o Impressões, você tem estado presente. Que pena!
A sua citação da música do Elton John ao final, uma simples frase, talvez tenha sido o item mais importante da post.
Só que muita gente não vai entender. Então colhi essa explicação no blog O Mágico de Oz. É apenas uma parte mas explica um pouco o recado que você quis passar, acredito eu.
Bjs.
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A Estrada de Tijolos Amarelos
O caminho dourado para a realização dos nossos sonhos
Você já parou para pensar em qual seria o significado da Estrada de Tijolos Amarelos (Yellow Brick Road) de 'O Mágico de Oz'?
A inspiração para a Estrada de Tijolos Amarelos é controversa. Segundo uma lenda, ela foi derivada de uma estrada pavimentada com tijolos amarelos perto de Holland, Michigan, onde o autor do livro, L. Frank Baum, possuía uma casa de veraneio.
O historiador John Curran acredita que a inspiração do autor tenha sido uma estrada semelhante em Peekskill, Nova York, pois Baum integrou a Academia Militar de Peekskill quando criança.
Há também uma corrente de interpretações políticas de 'O Mágico de Oz' que dita que o romance seja na verdade uma alegoria ou metáfora para os acontecimentos políticos, econômicos e sociais da América na década de 1890.
Dentro dessa teoria, segundo o historiador Henry Littlefield, a 'Estrada de Tijolos Amarelos', seria uma alegoria monetária que representaria o ouro.
Outras teorias acreditam que a Estrada de Tijolos Amarelos representa na verdade a esperança de um futuro melhor e a coragem para fazer seus sonhos se tornarem realidade.
Também há os que creem que ela simboliza a liberdade, pois quando Dorothy encontra seus amigos em Oz eles estão presos (o Leão está escondido na floresta, o Espantalho pregado no milharal e o Homem de Lata está enferrujado em uma clareira). Os três deixam suas 'prisões' (e limites) sob a iniciativa de Dorothy e seguem a Estrada de Tijolos Amarelos, que conduz todos à auto-realização.
Obrigado Alice!
É isso mesmo.
Lembrando que na música do Elton John, o início da frase é "So Goodbye", antes da "estrada de tijolos amarelos".
É desencanto mesmo...
Mas... "Segundo o escritor brasileiro Erinilton Gomes, "a estrada de tijolos amarelos é a vida e deve ser trilhada para que possamos crescer como pessoas. Não há magia que nos faça superar nossos limites, somente trabalho, amizade e reflexão. Como fizeram Dorothy e seus companheiros"."
Achei muito interessante este post, mas acredito que deveríamos analisar melhor as palavras de Bresser Pereira, pois o governo petista está longe de ser realmente de esquerda.
Mas o principal ponto que gostaria de ressaltar é que esse ódio (que concordo que realmente existe) não é unicamente da classe alta, mas sim de uma massa da classe media que, ideologicamente, está mais próxima da alta burguesia, mas economicamente distante da mesma; e essa classe media que acredita ser conhecedora de política acaba sendo facilmente manipulada, tornando-se verdadeiras massas de manobra.
Ps.: não sou partidário, pelo contrario, sou mais próximo de um anarquista.
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