Parte o ano de 2015 e com ele a notícia da partida também de Lemmy Kilmister líder e mentor do Motörhead, uma das bandas mais icônicas do Heavy Metal.
Não iniciados nos meandros do chamado "Rock Pesado" devem estranhar o destaque dado à morte dele, mas faz sentido por seu legado na história do Rock como um todo, uma vez que a fundação da banda em 1975 promoveu uma virada estilísticas no Hard Rock (em tempos de Punk) que acabou gerando os diversos subgêneros Heavy que temos hoje.
No entanto é importante frisar que o cantor, compositor e baixista sempre rotulou a música do Motörhead apenas como sendo Rock and Roll. Isso ao longo de 22 discos de estúdio e 10 álbuns ao vivo!
Além disso, Lemmy era figura ímpar, no palco e fora dele.
Viveu aquilo que cantava em suas músicas: jogava jogos de azar, fumava muito, bebia muito, nunca casou, tinha sempre muitas namoradas, odiava políticos, religiões dogmáticas e ironizava guerras. Isso até os 70 anos, em 45 anos de carreira (começou atuando no também lendário (e estranho) grupo de Rock Progressivo/Psicodélico/Space Rock, Hawkwind).
O fato pitoresco é que essa primeira banda, a ótima Hawkwind (que existe até hoje), de Lemmy, era considerado um grupo de "alucinados hippies ingleses" e eles demitiram Lemmy por o considerarem "alucinado" demais para os padrões deles.
Seu empresário disse que era impossível acompanhá-lo, mesmo já na terceira idade.
Whiplash: Sobre o estilo de vida de Lemmy, Singerman diz que ele fazia Keith Richards parecer uma menininha: "Envolvia meio galão de Jack Daniel por dia, dois ou três maços de cigarro e outras coisinhas que ele adorava. E era todo dia. Recentemente ele tinha trocado o whiskey por vodka com suco de laranja e é difícil de imaginar mas ele considerava que era uma escolha mais saudável.”
Para homenageá-lo escolhi uma música foras dos padrões normais do Motörhead: um Blues acústico que Lemmy canta quase que somente acompanhado de violão.
Mas o vídeo está bem de acordo com sua rotina ao longo da vida: noites viradas, bares nem sempre recomendáveis, mulheres, jogos, bebida. Bem Blues.
Sustentabilidade Planetária, Politica, Educação, Musica, Cultura, Arte e Etica.
30 de dezembro de 2015
23 de dezembro de 2015
Nostalgia Musical Natalina: A Harpa e a Cristandade
Ao contrário de países como os EUA, onde quase todo artista de renome já lançou seu "disco de músicas de Natal", aqui no Brasil não temos muita essa tradição. Por isso aquele da Simone ficou tão manjado...
Me lembro que, ainda criança, lá pela primeira metade da década de 70, existia um LP obrigatório para quem tinha a felicidade de ter uma rádio-vitrola, o toca-discos da época, atual CD Player.
Chamava-se "A Harpa e a Cristandade", com aquelas clássicas tipo "Jingle Bells", tocadas por... harpa (é claro!).
Nem sei se lançaram em CD mas é a única recordação que tenho de um álbum natalino brasileiro da época dos vinis.
Há muito tempo não encontro um LP desses.
Pois olha o disco aí. E viva o You Tube!
Realmente procurando em lojas de discos não achei ele em CD. Aliás acho que nunca foi mesmo editado em formato digital.
Na verdade foi lançado em 1970 no Brasil (mas o original é de 1960!) pelo antigo selo Chantecler e fez parte da infância de muita gente durante toda aquela década. Depois sumiu.
O músico chamava-se Luis Bordon. Era paraguaio, especializado em Harpa Paraguaia e faleceu em 2006 aos 80 anos, tendo gravado mais de 30 discos.
A lista das músicas do LP (que aparece completo no vídeo abaixo) é a seguinte:
01 - Jingle Bells
02 - Noite Silenciosa
03 - Natal em Paz
04 - O Velhinho
05 - Natal das Crianças
06 - Árvore de Natal
07 - Boas Festas
08 - Pinheirinho Agreste
09 - Oração de Natal
10 - Feliz Navidad
11 - Natal Festivo
12 - Fim de Ano
Presente de fim de ano do blog. Para deixar rolar amanhã e no dia 25.
No mais, Feliz Natal e um ótimo 2016 para todos!
Me lembro que, ainda criança, lá pela primeira metade da década de 70, existia um LP obrigatório para quem tinha a felicidade de ter uma rádio-vitrola, o toca-discos da época, atual CD Player.
Chamava-se "A Harpa e a Cristandade", com aquelas clássicas tipo "Jingle Bells", tocadas por... harpa (é claro!).
Nem sei se lançaram em CD mas é a única recordação que tenho de um álbum natalino brasileiro da época dos vinis.
Há muito tempo não encontro um LP desses.
Pois olha o disco aí. E viva o You Tube!
Realmente procurando em lojas de discos não achei ele em CD. Aliás acho que nunca foi mesmo editado em formato digital.
Na verdade foi lançado em 1970 no Brasil (mas o original é de 1960!) pelo antigo selo Chantecler e fez parte da infância de muita gente durante toda aquela década. Depois sumiu.
O músico chamava-se Luis Bordon. Era paraguaio, especializado em Harpa Paraguaia e faleceu em 2006 aos 80 anos, tendo gravado mais de 30 discos.
A lista das músicas do LP (que aparece completo no vídeo abaixo) é a seguinte:
01 - Jingle Bells
02 - Noite Silenciosa
03 - Natal em Paz
04 - O Velhinho
05 - Natal das Crianças
06 - Árvore de Natal
07 - Boas Festas
08 - Pinheirinho Agreste
09 - Oração de Natal
10 - Feliz Navidad
11 - Natal Festivo
12 - Fim de Ano
Presente de fim de ano do blog. Para deixar rolar amanhã e no dia 25.
No mais, Feliz Natal e um ótimo 2016 para todos!
17 de dezembro de 2015
As Veias Abertas da Democracia Brasileira (e o 'Poder da Percepção' derrotando a Realidade através da grande mídia)
Chega o fim de ano, o verão, férias e o blog assume um compasso de espera até depois do carnaval.
A frase acima até teria sentido se estivéssemos, eu e o Felipe, postando com a intensidade dos primeiros tempos (e lá se vão muitos anos).
No momento já estamos há algum tempo em slow motion, por conta de exigências do trabalho nosso de cada dia e por conta de demandas particulares.
Ou seja, estamos sem tempo mesmo.
E eu ainda tento manter alguma periodicidade lá no outro blog, o Impressões, mas ultimamente tem sido difícil.
Tomara que em 2016 possamos voltar a ter ao menos parte daquele furor inicial, falando sobre tudo que nos chama atenção e - pelo menos deveria ser - de todos: meio-ambiente, política, economia e artes de forma geral.
Uma pena que esteja sendo assim. Neste momento o país vive um momento surrealista digno de Luis Buñel, que mereceria até uma interessante análise histórica, não fosse trágica.
Assim, pensei em encerrar os trabalhos deste ano aqui no blog com um texto que jogasse luz neste momento de cegueira de parte da coletividade.
No entanto, dois textos que me repassaram suprem de forma melhor o que eu poderia fazer. Seguem os mesmos, com os links.
No mais, que Deus tenha pena de nós.
E, se possível, que tenhamos um 2016 de volta à realidade, à normalidade e ao respeito à Democracia.
"Num texto que se tornou clássico, escrito em 1962, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos indagava: "Quem dará o Golpe no Brasil? "
As perguntas, neste final de 2015, são de outra ordem: "quando irá se consolidar o Golpe que teve início em outubro de 2014?
Quando os poetas libertários deverão cantar o réquiem para a Democracia Brasileira, inspirados nos belos versos de Auden?
E o Brasil, quando voltará à normalidade, rasgando a camisa de força do imobilismo e da paralisia econômica, impostas pelos partidos da elite, inconformados com uma derrota eleitoral imprevista, completamente fora de seus planos sinistros, inconfessáveis?
E, se consolidado o Golpe, quem irá organizar a Resistência Democrática, sucedendo (pois eles são insubstituíveis): Millôr Fernandes, Jaguar, Boal, Tônia Carrero, Vandré, Ziraldo, Leila Diniz, Chico Buarque, Edu Lobo, Fernando Gasparian, Teotônio Villela, Raimundo Pereira, D. Hélder Câmara, Ivan Lessa, Terezinha Zerbini, D. Paulo Evaristo Arns, Mino Carta e tantos e tantos outros que lutaram pela volta do país ao regime democrático, combatendo, pacientemente, com as armas da resistência (e da inteligência) política?
Exagero? Talvez. Mas seria ingenuidade imaginar que os golpistas – indisfarçados agentes políticos da ideologia neoliberal - caso tenham êxito em suas manobras antidemocráticas, iriam ficar satisfeitos com a retomada do poder executivo para implantar o seu projeto, cujo conteúdo jamais será explicitado e trazido ao debate aberto. Eles continuariam a aplicar o seu programa autoritário (pois é disso que se trata), calando a Cidadania, suspendendo direitos democráticos e amordaçando qualquer manifestação que considerarem nociva, capaz de por em risco os seus desígnios ditatoriais e antidemocráticos.
A censura mais draconiana seria aplicada, incluindo agora a comunicação eletrônica, com o cerco brutal e impiedoso ao blogueiros, que se mantêm serenos e corajosos no desempenho da sua brava missão de baluartes da resistência ao golpe e da reposição da verdade factual, comprometida pelas manipulações grosseiras da chamada grande imprensa. Aliada fiel e incondicional dos partidos neoliberais.
Uma pequena amostra desse tipo de censura pode ser detectada pelas inúmeras ações judiciais movidas pelos donos de jornal e seus obedientes funcionários contra os chamados "blogueiros sujos", na tentativa de, ao fazer pressão econômica pela via judicial, obter o seu silêncio.
Quais as causas para o desespero e o inconformismo dos partidos neoliberais frente à incontestável vitória eleitoral de 2014 da coalizão progressista que governa o país desde 2003? A ponto de assumir um posicionamento claramente golpista, quebrando a ordem constitucional vigente, colocando o Brasil numa situação ainda de maior risco, diante da prolongada crise do sistema capitalista mundial?
Começa a assumir contornos mais nítidos o que está em jogo nesta insana luta pelo poder assumida pelos agentes políticos neoliberais, aparentemente ignorando as graves consequências da divisão e da paralisação do Brasil neste difícil momento. Trata-se do confronto entre dois projetos inconciliáveis. Os quais foram submetidos, na prática, ao escrutínio dos brasileiros: o projeto neoliberal por oito anos ( 1994 a 2002) e o progressista e de inclusão social por doze (2003 /2014).
Um deles, o de origem neoliberal, propondo o Estado Mínimo, a extinção pura e simples das políticas sociais, a submissão do país no campo político internacional, a "neutralização" dos Movimentos Sociais, o arrocho salarial, o controle a todo custo da inflação e dos gastos do governo, a venda do patrimônio do país a preço vis, incluindo a Petrobrás, o aumento de juros e o pagamento – sagrado – da "dívida pública", jamais cometendo a heresia de questioná-la. Como se pode perceber, é um projeto a ser posto em prática de forma sub-reptícia, sem discussão e sem o necessário debate político.
O projeto alternativo é o que vem sendo aplicado nos últimos 12anos de governos progressistas e que a nação brasileira vivenciou até outubro de 2014, com grande aprovação popular, o que explicaria a reeleição da presidente Dilma Roussef: inclusão social, mais acesso ás escolas e às universidades, direito à casa própria, melhores salários e empregos e renda, independência no campo político internacional, incremento das condições de vida dos brasileiros situados abaixo da linha de pobreza, entre outras ações de Governos as quais se mostraram capazes de promover mais Igualdade e Justiça Social. Que soam como graves heresias para o neoliberalismo; e que podem ser considerados como os "erros" inaceitáveis dos governos progressistas.
Como, entretanto, o triunfo dos neoliberais não foi completo – pois faltou a presidência da República – seus estrategistas decidiram que o programa progressista deveria ser interrompido, a qualquer preço. Preparando a volta do retrocesso feroz.
(Vai que o povão ("ralé?) vai se acostumando e assume como um direito natural viagens aéreas, melhores emprego e renda, casa própria, escolas e até universidades...).
A contenção dos avanços sociais e a promoção da desigualdade seriam, então, a síntese do programa neoliberal, que por razões óbvias, deverá permanecer oculto.
Se pegarmos o exemplo da chamada dívida pública, para muitos observadores a estratégia econômica fundamental do projeto conservador, iremos notar que a sua discussão e o debate político qualificado é cada vez mais restrito. Esquecido, até.
Para alguns especialistas no tema, a dívida pública constitui simplesmente uma fraude, algo ilegítimo, imposto a vários países, a qual compromete gravemente o seu progresso e o seu desenvolvimento. E drena recursos, (que seriam aplicados em obras essenciais), para os bancos privados. Em alguns países esses recursos, generosamente transferidos, somam quase a metade de todo o orçamento
De acordo com a economista Maria Lúcia Fatorelli, presidente da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, em entrevista recente a "Caros Amigos" (acessível em www.caros amigos.com.br/ nº 224/2015 - "Opressão Financeira"), trata-se de um endividamento público ilegítimo, e que vem obrigando os brasileiros a desistir do seu crescimento econômico e da manutenção de políticas públicas , como Saúde e Educação, por exemplo. Para entender melhor os incríveis mecanismos que mantêm ativas essas "tenebrosas (e infinitas) transações" é recomendável a leitura da íntegra da entrevista. Após sua leitura, nenhum brasileiro consciente continuará pensar de forma ingênua sobre a economia do seu país. E sobre a propalada "crise econômica", repetida de forma incansável pela mídia.
Um outro ponto fulcral do programa é a destruição lenta e inexorável do Estado de Bem Estar Social, um item prioritário do Neoliberalismo. Associado ao aumento brutal da Desigualdade.
A historiadora portuguesa Raquel Varela , em entrevista, expõe com bastante clareza estes dois aspectos da pauta Neoliberal, mostrando, em números: "em 1945, a diferença entre um rico e um pobre( ou trabalhador qualificado) na Europa , era de 1 para 12; em 1980 subiu de 1 para 82; e hoje é de 1 para 530".
É possível que esses fatos ajudem a explicar o atual contexto político. A vitória da Oposição na eleição presidencial de 2014 era um imperativo estratégico para a implantação do seu projeto conservador, no qual o Retrocesso seria o objetivo norteador das ações do novo Governo.
Portanto, o discurso (de mão única) moralista e a preocupação com a corrupção compõem apenas uma fachada para encobrir metas estratégicas inconfessáveis da pauta neoliberal.
Se para atingir tais objetivos, tornou-se necessária a interrupção do processo democrático, como preço a pagar, que se cumpra o ritual autoritário de destruição da Democracia. Recurso sempre disponível aos neofascistas latino-americanos.
Diante de tão sérias ameaças, qual tarefa caberia às forças progressistas, nesta difícil conjuntura?
Antes de tudo, fazer a interpretação correta da grave situação política – repetimos: situação política - vivenciada pelo país, agregando todas as variáveis disponíveis, evitando preconceitos ou vieses ideológicos. Em outras palavras, entender perfeitamente qual é o jogo e quem são os adversários;
Deixar de lado, em definitivo, concepções ingênuas, adquirindo a clara percepção de que inconfessáveis interesses do Capitalismo Internacional movem as peças do jogo político interno, manipulando eleições e altas decisões estratégicas no campo político e econômico;
Assumir, como fato concreto, que os segmentos bem articulados politicamente conseguem o domínio do complexo jogo do Poder. Vide o exemplo da atual espúria articulação entre setores da mídia, do judiciário e do congresso nacional, na defesa dos interesses - explícitos e ocultos - do Capitalismo Internacional;
Trabalhar pelo desenvolvimento permanente de ações políticas, organizadas a partir de fundamentações teóricas e avaliações táticas e estratégicas, implantadas a partir da articulação entre partidos políticos, organizações sociais, sindicais e da sociedade civil, na defesa de conquistas sociais, das liberdades públicas e do processo democrático. Colocando-se, de forma intransigente, contra todas as tentativas de Retrocesso;
Enfim, organizar a luta política, unindo, inteligentemente, os mais diversos segmentos representativos da Nação Brasileira, de forma a garantir a mobilização permanente das suas forças democráticas e progressistas. Evocando, novamente, o historiador britânico Arnold Toynbee que afirmava: "Civilização é um movimento não uma condição; uma viagem, não um porto". Podemos inferir que este raciocínio do historiador, pode ser aplicado 'a Democracia.
Algo que se conquista a cada dia. Uma luta infinda contra os que, de forma melíflua e traiçoeira, pretendem vê-la extinta, para melhor defender seus interesses escusos, contra os mais legítimos interesses do país. Este é o cenário da luta atual do povo brasileiro."
Autor: Geniberto Paiva Campos (Médico) no site Brasil 247 em 15/12/2015.
A lógica da opção da mídia pela Percepção e não pela Realidade
"Uma campanha de marketing histórica da revista americana Rolling Stone confrontava percepção e realidade.
A campanha virou um caso de estudo.
Era assim. A percepção das pessoas era que a RS era lida por hippies, ou neo-hippies, pessoas avessas a qualquer tipo de consumo.
A realidade era que os leitores da RS consumiam como todos os leitores de revista.
Indigente em publicidade, a revista se tornou um sucesso publicitário.
Essa campanha me ocorreu ao ler o levantamento da Folha deste domingo sobre os 13 anos de PT no poder.
Escrevi já um artigo, mas não citei a RS e sua clássica diferenciação entre percepção e realidade.
Involuntariamente, a Folha mostrou a percepção e a realidade. A percepção é que o país não melhorou. Foi o que disseram, segundo a Folha, 68% dos ouvidos.
A realidade, no entanto, é que todos ganharam nestes 13 anos. Os 10% mais ricos tiveram 30% de aumento na renda em termos reais, descontada a inflação.
Para os 10% mais pobres, o aumento foi de 129%, o que significou uma redução no real câncer nacional: a desigualdade social.
A Folha usa uma expressão parecida com uma que marcou os anos Lula. Esse tipo de coisa nunca acontecera antes na história medida pelo IBGE.
Pois bem.
Você tem aí percepção versus realidade. A percepção: não melhoramos. A realidade: melhoramos sim.
E qual a opção que a Folha escolhe para dar na manchete? A percepção. Desnecessário dizer, o resto da mídia acompanhou-a nesse passo maldado.
A Folha teve uma grande chance de mostrar a realidade. Mas escolheu a percepção, pela qual, aliás, ela é um dos responsáveis.
Você pode ver o poder da percepção nos depoimentos dos manifestantes deste domingo na Paulista.
Todos descreviam o apocalipse, desgarrados dos fatos em si. O país acabou. Estamos destruídos. Não há mais esperança fora de um golpe.
Você tem, nisso, uma prova do serviço horroroso que a mídia presta para a sociedade. Jornais e revistas desinformam, manipulam, escamoteiam.
Eles criam uma realidade paralela, uma distopia absoluta que mostra um país em processo de desintegração.
O motivo é sabotar um governo popular. É uma rotina. Aconteceu o mesmo em 1954 com Vargas e em 1964 com Jango.
Se Dilma for derrubada, a imprensa engavetará imediatamente a distopia. Um clima de otimismo estridente se espalhará pelo país por jornais, revistas, rádios, telejornais e sites das grandes empresas jornalísticas.
A corrupção deixará as manchetes, não por ter sido debelada, mas por não ser mais útil para desestabilizar os inimigos.
Aécio poderá continuar, tranquilamente, fazendo coisas como um aeroporto particular com dinheiro do povo. Eduardos Cunhas continuarão a tramar no Congresso para aprovar medidas favoráveis à plutocracia.
Seremos felizes. Mas de mentirinha. Como nos tempos da ditadura, durante os quais Medici, numa frase célebre, disse que era ótimo ver o Jornal Nacional. Num mundo convulso, o Brasil era um oásis de próspera tranquilidade segundo o JN.
Os únicos que terão reais motivos para gargalhar são os plutocratas. A desigualdade avançará e, em consequência, os ricos ficarão ainda mais ricos.
A utopia será uma percepção. A realidade será cruel."
Autor: Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo em 14/12/2015.
A frase acima até teria sentido se estivéssemos, eu e o Felipe, postando com a intensidade dos primeiros tempos (e lá se vão muitos anos).
No momento já estamos há algum tempo em slow motion, por conta de exigências do trabalho nosso de cada dia e por conta de demandas particulares.
Ou seja, estamos sem tempo mesmo.
E eu ainda tento manter alguma periodicidade lá no outro blog, o Impressões, mas ultimamente tem sido difícil.
Tomara que em 2016 possamos voltar a ter ao menos parte daquele furor inicial, falando sobre tudo que nos chama atenção e - pelo menos deveria ser - de todos: meio-ambiente, política, economia e artes de forma geral.
Uma pena que esteja sendo assim. Neste momento o país vive um momento surrealista digno de Luis Buñel, que mereceria até uma interessante análise histórica, não fosse trágica.
Assim, pensei em encerrar os trabalhos deste ano aqui no blog com um texto que jogasse luz neste momento de cegueira de parte da coletividade.
No entanto, dois textos que me repassaram suprem de forma melhor o que eu poderia fazer. Seguem os mesmos, com os links.
No mais, que Deus tenha pena de nós.
E, se possível, que tenhamos um 2016 de volta à realidade, à normalidade e ao respeito à Democracia.
As Veias Abertas da Democracia Brasileira
"Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me. / Emalem a lua e desmantelem o sol/ Despejem o oceano e varram o bosque; / pois agora tudo é inútil." (W. H. Auden, 1938)"Num texto que se tornou clássico, escrito em 1962, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos indagava: "Quem dará o Golpe no Brasil? "
As perguntas, neste final de 2015, são de outra ordem: "quando irá se consolidar o Golpe que teve início em outubro de 2014?
Quando os poetas libertários deverão cantar o réquiem para a Democracia Brasileira, inspirados nos belos versos de Auden?
E o Brasil, quando voltará à normalidade, rasgando a camisa de força do imobilismo e da paralisia econômica, impostas pelos partidos da elite, inconformados com uma derrota eleitoral imprevista, completamente fora de seus planos sinistros, inconfessáveis?
E, se consolidado o Golpe, quem irá organizar a Resistência Democrática, sucedendo (pois eles são insubstituíveis): Millôr Fernandes, Jaguar, Boal, Tônia Carrero, Vandré, Ziraldo, Leila Diniz, Chico Buarque, Edu Lobo, Fernando Gasparian, Teotônio Villela, Raimundo Pereira, D. Hélder Câmara, Ivan Lessa, Terezinha Zerbini, D. Paulo Evaristo Arns, Mino Carta e tantos e tantos outros que lutaram pela volta do país ao regime democrático, combatendo, pacientemente, com as armas da resistência (e da inteligência) política?
Exagero? Talvez. Mas seria ingenuidade imaginar que os golpistas – indisfarçados agentes políticos da ideologia neoliberal - caso tenham êxito em suas manobras antidemocráticas, iriam ficar satisfeitos com a retomada do poder executivo para implantar o seu projeto, cujo conteúdo jamais será explicitado e trazido ao debate aberto. Eles continuariam a aplicar o seu programa autoritário (pois é disso que se trata), calando a Cidadania, suspendendo direitos democráticos e amordaçando qualquer manifestação que considerarem nociva, capaz de por em risco os seus desígnios ditatoriais e antidemocráticos.
A censura mais draconiana seria aplicada, incluindo agora a comunicação eletrônica, com o cerco brutal e impiedoso ao blogueiros, que se mantêm serenos e corajosos no desempenho da sua brava missão de baluartes da resistência ao golpe e da reposição da verdade factual, comprometida pelas manipulações grosseiras da chamada grande imprensa. Aliada fiel e incondicional dos partidos neoliberais.
Uma pequena amostra desse tipo de censura pode ser detectada pelas inúmeras ações judiciais movidas pelos donos de jornal e seus obedientes funcionários contra os chamados "blogueiros sujos", na tentativa de, ao fazer pressão econômica pela via judicial, obter o seu silêncio.
Quais as causas para o desespero e o inconformismo dos partidos neoliberais frente à incontestável vitória eleitoral de 2014 da coalizão progressista que governa o país desde 2003? A ponto de assumir um posicionamento claramente golpista, quebrando a ordem constitucional vigente, colocando o Brasil numa situação ainda de maior risco, diante da prolongada crise do sistema capitalista mundial?
Começa a assumir contornos mais nítidos o que está em jogo nesta insana luta pelo poder assumida pelos agentes políticos neoliberais, aparentemente ignorando as graves consequências da divisão e da paralisação do Brasil neste difícil momento. Trata-se do confronto entre dois projetos inconciliáveis. Os quais foram submetidos, na prática, ao escrutínio dos brasileiros: o projeto neoliberal por oito anos ( 1994 a 2002) e o progressista e de inclusão social por doze (2003 /2014).
Um deles, o de origem neoliberal, propondo o Estado Mínimo, a extinção pura e simples das políticas sociais, a submissão do país no campo político internacional, a "neutralização" dos Movimentos Sociais, o arrocho salarial, o controle a todo custo da inflação e dos gastos do governo, a venda do patrimônio do país a preço vis, incluindo a Petrobrás, o aumento de juros e o pagamento – sagrado – da "dívida pública", jamais cometendo a heresia de questioná-la. Como se pode perceber, é um projeto a ser posto em prática de forma sub-reptícia, sem discussão e sem o necessário debate político.
O projeto alternativo é o que vem sendo aplicado nos últimos 12anos de governos progressistas e que a nação brasileira vivenciou até outubro de 2014, com grande aprovação popular, o que explicaria a reeleição da presidente Dilma Roussef: inclusão social, mais acesso ás escolas e às universidades, direito à casa própria, melhores salários e empregos e renda, independência no campo político internacional, incremento das condições de vida dos brasileiros situados abaixo da linha de pobreza, entre outras ações de Governos as quais se mostraram capazes de promover mais Igualdade e Justiça Social. Que soam como graves heresias para o neoliberalismo; e que podem ser considerados como os "erros" inaceitáveis dos governos progressistas.
Como, entretanto, o triunfo dos neoliberais não foi completo – pois faltou a presidência da República – seus estrategistas decidiram que o programa progressista deveria ser interrompido, a qualquer preço. Preparando a volta do retrocesso feroz.
(Vai que o povão ("ralé?) vai se acostumando e assume como um direito natural viagens aéreas, melhores emprego e renda, casa própria, escolas e até universidades...).
A contenção dos avanços sociais e a promoção da desigualdade seriam, então, a síntese do programa neoliberal, que por razões óbvias, deverá permanecer oculto.
Se pegarmos o exemplo da chamada dívida pública, para muitos observadores a estratégia econômica fundamental do projeto conservador, iremos notar que a sua discussão e o debate político qualificado é cada vez mais restrito. Esquecido, até.
Para alguns especialistas no tema, a dívida pública constitui simplesmente uma fraude, algo ilegítimo, imposto a vários países, a qual compromete gravemente o seu progresso e o seu desenvolvimento. E drena recursos, (que seriam aplicados em obras essenciais), para os bancos privados. Em alguns países esses recursos, generosamente transferidos, somam quase a metade de todo o orçamento
De acordo com a economista Maria Lúcia Fatorelli, presidente da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, em entrevista recente a "Caros Amigos" (acessível em www.caros amigos.com.br/ nº 224/2015 - "Opressão Financeira"), trata-se de um endividamento público ilegítimo, e que vem obrigando os brasileiros a desistir do seu crescimento econômico e da manutenção de políticas públicas , como Saúde e Educação, por exemplo. Para entender melhor os incríveis mecanismos que mantêm ativas essas "tenebrosas (e infinitas) transações" é recomendável a leitura da íntegra da entrevista. Após sua leitura, nenhum brasileiro consciente continuará pensar de forma ingênua sobre a economia do seu país. E sobre a propalada "crise econômica", repetida de forma incansável pela mídia.
Um outro ponto fulcral do programa é a destruição lenta e inexorável do Estado de Bem Estar Social, um item prioritário do Neoliberalismo. Associado ao aumento brutal da Desigualdade.
A historiadora portuguesa Raquel Varela , em entrevista, expõe com bastante clareza estes dois aspectos da pauta Neoliberal, mostrando, em números: "em 1945, a diferença entre um rico e um pobre( ou trabalhador qualificado) na Europa , era de 1 para 12; em 1980 subiu de 1 para 82; e hoje é de 1 para 530".
É possível que esses fatos ajudem a explicar o atual contexto político. A vitória da Oposição na eleição presidencial de 2014 era um imperativo estratégico para a implantação do seu projeto conservador, no qual o Retrocesso seria o objetivo norteador das ações do novo Governo.
Portanto, o discurso (de mão única) moralista e a preocupação com a corrupção compõem apenas uma fachada para encobrir metas estratégicas inconfessáveis da pauta neoliberal.
Se para atingir tais objetivos, tornou-se necessária a interrupção do processo democrático, como preço a pagar, que se cumpra o ritual autoritário de destruição da Democracia. Recurso sempre disponível aos neofascistas latino-americanos.
Diante de tão sérias ameaças, qual tarefa caberia às forças progressistas, nesta difícil conjuntura?
Antes de tudo, fazer a interpretação correta da grave situação política – repetimos: situação política - vivenciada pelo país, agregando todas as variáveis disponíveis, evitando preconceitos ou vieses ideológicos. Em outras palavras, entender perfeitamente qual é o jogo e quem são os adversários;
Deixar de lado, em definitivo, concepções ingênuas, adquirindo a clara percepção de que inconfessáveis interesses do Capitalismo Internacional movem as peças do jogo político interno, manipulando eleições e altas decisões estratégicas no campo político e econômico;
Assumir, como fato concreto, que os segmentos bem articulados politicamente conseguem o domínio do complexo jogo do Poder. Vide o exemplo da atual espúria articulação entre setores da mídia, do judiciário e do congresso nacional, na defesa dos interesses - explícitos e ocultos - do Capitalismo Internacional;
Trabalhar pelo desenvolvimento permanente de ações políticas, organizadas a partir de fundamentações teóricas e avaliações táticas e estratégicas, implantadas a partir da articulação entre partidos políticos, organizações sociais, sindicais e da sociedade civil, na defesa de conquistas sociais, das liberdades públicas e do processo democrático. Colocando-se, de forma intransigente, contra todas as tentativas de Retrocesso;
Enfim, organizar a luta política, unindo, inteligentemente, os mais diversos segmentos representativos da Nação Brasileira, de forma a garantir a mobilização permanente das suas forças democráticas e progressistas. Evocando, novamente, o historiador britânico Arnold Toynbee que afirmava: "Civilização é um movimento não uma condição; uma viagem, não um porto". Podemos inferir que este raciocínio do historiador, pode ser aplicado 'a Democracia.
Algo que se conquista a cada dia. Uma luta infinda contra os que, de forma melíflua e traiçoeira, pretendem vê-la extinta, para melhor defender seus interesses escusos, contra os mais legítimos interesses do país. Este é o cenário da luta atual do povo brasileiro."
Autor: Geniberto Paiva Campos (Médico) no site Brasil 247 em 15/12/2015.
A lógica da opção da mídia pela Percepção e não pela Realidade
"Uma campanha de marketing histórica da revista americana Rolling Stone confrontava percepção e realidade.
A campanha virou um caso de estudo.
Era assim. A percepção das pessoas era que a RS era lida por hippies, ou neo-hippies, pessoas avessas a qualquer tipo de consumo.
A realidade era que os leitores da RS consumiam como todos os leitores de revista.
Indigente em publicidade, a revista se tornou um sucesso publicitário.
Essa campanha me ocorreu ao ler o levantamento da Folha deste domingo sobre os 13 anos de PT no poder.
Escrevi já um artigo, mas não citei a RS e sua clássica diferenciação entre percepção e realidade.
Involuntariamente, a Folha mostrou a percepção e a realidade. A percepção é que o país não melhorou. Foi o que disseram, segundo a Folha, 68% dos ouvidos.
A realidade, no entanto, é que todos ganharam nestes 13 anos. Os 10% mais ricos tiveram 30% de aumento na renda em termos reais, descontada a inflação.
Para os 10% mais pobres, o aumento foi de 129%, o que significou uma redução no real câncer nacional: a desigualdade social.
A Folha usa uma expressão parecida com uma que marcou os anos Lula. Esse tipo de coisa nunca acontecera antes na história medida pelo IBGE.
Pois bem.
Você tem aí percepção versus realidade. A percepção: não melhoramos. A realidade: melhoramos sim.
E qual a opção que a Folha escolhe para dar na manchete? A percepção. Desnecessário dizer, o resto da mídia acompanhou-a nesse passo maldado.
A Folha teve uma grande chance de mostrar a realidade. Mas escolheu a percepção, pela qual, aliás, ela é um dos responsáveis.
Você pode ver o poder da percepção nos depoimentos dos manifestantes deste domingo na Paulista.
Todos descreviam o apocalipse, desgarrados dos fatos em si. O país acabou. Estamos destruídos. Não há mais esperança fora de um golpe.
Você tem, nisso, uma prova do serviço horroroso que a mídia presta para a sociedade. Jornais e revistas desinformam, manipulam, escamoteiam.
Eles criam uma realidade paralela, uma distopia absoluta que mostra um país em processo de desintegração.
O motivo é sabotar um governo popular. É uma rotina. Aconteceu o mesmo em 1954 com Vargas e em 1964 com Jango.
Se Dilma for derrubada, a imprensa engavetará imediatamente a distopia. Um clima de otimismo estridente se espalhará pelo país por jornais, revistas, rádios, telejornais e sites das grandes empresas jornalísticas.
A corrupção deixará as manchetes, não por ter sido debelada, mas por não ser mais útil para desestabilizar os inimigos.
Aécio poderá continuar, tranquilamente, fazendo coisas como um aeroporto particular com dinheiro do povo. Eduardos Cunhas continuarão a tramar no Congresso para aprovar medidas favoráveis à plutocracia.
Seremos felizes. Mas de mentirinha. Como nos tempos da ditadura, durante os quais Medici, numa frase célebre, disse que era ótimo ver o Jornal Nacional. Num mundo convulso, o Brasil era um oásis de próspera tranquilidade segundo o JN.
Os únicos que terão reais motivos para gargalhar são os plutocratas. A desigualdade avançará e, em consequência, os ricos ficarão ainda mais ricos.
A utopia será uma percepção. A realidade será cruel."
Autor: Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo em 14/12/2015.
3 de dezembro de 2015
Impeachment
"A aceitação do pedido de impeachment pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ocorre em um momento em que poucas vezes a classe política brasileira esteve tão desacreditada, e tão, também – intencionalmente - vilipendiada junto à opinião pública.
No início do ano, logo depois das eleições, pesquisa do Datafolha indicava que 71% dos entrevistados não tinham preferência por nenhum partido político.
Em julho, pesquisa do IBOPE mostrava que o Congresso Nacional ocupava a penúltima posição entre 18 instituições pesquisadas, incluídas a Igreja e o Exército, com a confiança de apenas 17% da população, enquanto, diuturnamente, os mesmos internautas que atacam o PT o faziam – e continuam fazendo - com a classe política, contrapondo a deputados, senadores, vereadores, prefeitos, ministros, considerados, pela bandeira da antipolítica, corruptos, bandidos e desonestos, um altíssimo índice de confiança – empurrado pela própria atitude da mídia – em policiais, procuradores e juízes, como se entre os magistrados, no Ministério Público e nas forças de segurança, só houvesse profissionais impolutos e ilibados, e para o exercício da atividade política fosse característica primordial e imprescindível a condição de mentiroso, ladrão, pilantra e mau-caráter.
É perigoso e ingênuo acreditar que esse seja apenas um retrato do momento, que possa ser corrigido somente com a troca da correlação de forças, e que não haja nada mais no horizonte, além do embate entre diferentes partidos e grupos políticos e os aviões de carreira.
Iludem-se os políticos de centro e de oposição, os oportunistas e os indiferentes, se acreditam que, entregando a cabeça de Dilma Roussef, terão as suas poupadas, e elas continuarão sobre os ombros, para se abaixar à passagem da faixa presidencial.
Pelo contrário, Dilma pode, paradoxalmente, ser o dique – ou o alvo – que ainda atrai para si as balas e contêm o tsunami.
A criminalização da atividade política, insuflada contra o PT pela oposição, secundada por uma mídia seletiva e comprometida, quebrou, quase que definitivamente, o equilíbrio de poderes em que se baseia o sistema republicano tradicional, substituindo a negociação, anteriormente exercida como base do Presidencialismo de Coalizão, pela atuação de forças externas, de caráter não nominalmente, mas profundamente político, criando uma espécie de Frankenstein descontrolado, que coloca, de fato, parcela da burocracia do Estado, acima e além daqueles que detêm o voto da população.
O “acoelhamento” do Senado, recusando a prerrogativa de julgar um de seus pares, mesmo que para sua posterior entrega à prisão – abrindo mão de tentar, ao menos, mostrar firmeza, autonomia e determinação ética para a opinião pública - é o retrato da rendição do Poder Legislativo à máquina repressora de parte da justiça, e abriu a possibilidade para que qualquer homem público seja acusado, em seqüência, de qualquer coisa, a qualquer momento, bastando cair em uma esparrela, por um bilhetinho qualquer – subitamente elevado pela imprensa à condição de “documento” - a acusação de um desafeto ou de um delator “premiado” disposto a qualquer atitude para salvar a própria pele, ou uma frase passível de interpretação dúbia ou subjetiva pinçada em seu e-mail ou em uma conversação telefônica.
Que os incautos não se iludam.
Não haverá tergiversação ou acordo com aqueles que estiverem, na base do governo, ou na oposição, alimentando a ilusão de pensar que irão substituir a Presidente da República em caso de impeachment, ou mesmo de sucedê-la, eventualmente, tranqüilo e normalmente, por meio do voto.
Qualquer liderança que representar ameaça para o projeto de poder em curso – que, mais uma vez, não se iludam os incautos, parece não se tratar de outra coisa – poderá vir a ser eventualmente envolvida na maré de acusações e afastada da vida pública, com as suas cabeças rolando, uma por uma.
A única esperança de retorno a uma situação de normalidade mínima está, no curto prazo, na interrupção negociada, inteligente e equilibrada, do processo de strip-tease, de MMA mútuo, público e suicida dos diferentes partidos e lideranças aos olhos da opinião pública.
E no fim da busca de soluções extemporâneas para a disputa do poder – qualquer singularidade só pode beneficiar forças externas ao ambiente político – com um retorno ao calendário e aos ritos de praxe, o que implica na defesa institucional e organizada, por parte da classe política, de sua imagem frente à opinião pública, seguida de uma disputa programática e civilizada nas próximas eleições, que serão realizadas em menos de um ano.
Isso não bastará, naturalmente, para terminar com o processo de desgaste intencional da atividade pública que está se aprofundando, com enorme e deletério sucesso, e que pretende, entre outras coisas, substituir os “políticos” clássicos, hoje abertamente reputados como “sujos”, por impolutos e heroicos justiceiros messiânicos, que gozam de poder para, se quiserem, tentar governar indiretamente o país por meio de pressões e prisões, ou para fazer uma súbita e “surpreendente” irrupção no universo político.
Mas, pelo menos, poderá levar a atual geração de homens públicos – em última instância herdeira da representação popular por meio do voto – a fazer frente, unida, cerrando fileiras, independente de sua orientação política, a pressões externas, senão em defesa de si mesma, ao menos do Parlamento, como um poder independente, e da própria Democracia, no lugar de se arriscar a sair da vida pública e a entrar na história, um por um, submissos e humilhados, com as mãos nas costas, e a sua biografia arrastada na lama.
Essa reação não impedirá que, embalados pela mídia e as campanhas iniciadas pela própria oposição, personagens oriundos das operações em curso venham a se sentir tentados a participar, também, diretamente, do processo político, transformando-se eventualmente em candidatos, nos próximos pleitos.
Como o Aedes Aegypti, a mosca azul pode picar qualquer um, e o seu vírus é mais poderoso que o da dengue ou que o da chikungunya.
Como um procurador fez questão de lembrar, há poucos dias, há operações que estão em curso – que eram vistas inicialmente como uma forma de tirar o PT do poder - que deverão durar pelo menos pelos próximos 10 anos.
Isso as transforma, como um touro trancado em uma loja de louças - em um elemento novo, incontrolável e permanente – que deverá ter seus efeitos analisados, avaliados e eventualmente corrigidos e limitados, por quem de direito na Praça dos Três Poderes – no contexto do processo econômico, social e político brasileiro."
No início do ano, logo depois das eleições, pesquisa do Datafolha indicava que 71% dos entrevistados não tinham preferência por nenhum partido político.
Em julho, pesquisa do IBOPE mostrava que o Congresso Nacional ocupava a penúltima posição entre 18 instituições pesquisadas, incluídas a Igreja e o Exército, com a confiança de apenas 17% da população, enquanto, diuturnamente, os mesmos internautas que atacam o PT o faziam – e continuam fazendo - com a classe política, contrapondo a deputados, senadores, vereadores, prefeitos, ministros, considerados, pela bandeira da antipolítica, corruptos, bandidos e desonestos, um altíssimo índice de confiança – empurrado pela própria atitude da mídia – em policiais, procuradores e juízes, como se entre os magistrados, no Ministério Público e nas forças de segurança, só houvesse profissionais impolutos e ilibados, e para o exercício da atividade política fosse característica primordial e imprescindível a condição de mentiroso, ladrão, pilantra e mau-caráter.
É perigoso e ingênuo acreditar que esse seja apenas um retrato do momento, que possa ser corrigido somente com a troca da correlação de forças, e que não haja nada mais no horizonte, além do embate entre diferentes partidos e grupos políticos e os aviões de carreira.
Iludem-se os políticos de centro e de oposição, os oportunistas e os indiferentes, se acreditam que, entregando a cabeça de Dilma Roussef, terão as suas poupadas, e elas continuarão sobre os ombros, para se abaixar à passagem da faixa presidencial.
Pelo contrário, Dilma pode, paradoxalmente, ser o dique – ou o alvo – que ainda atrai para si as balas e contêm o tsunami.
A criminalização da atividade política, insuflada contra o PT pela oposição, secundada por uma mídia seletiva e comprometida, quebrou, quase que definitivamente, o equilíbrio de poderes em que se baseia o sistema republicano tradicional, substituindo a negociação, anteriormente exercida como base do Presidencialismo de Coalizão, pela atuação de forças externas, de caráter não nominalmente, mas profundamente político, criando uma espécie de Frankenstein descontrolado, que coloca, de fato, parcela da burocracia do Estado, acima e além daqueles que detêm o voto da população.
O “acoelhamento” do Senado, recusando a prerrogativa de julgar um de seus pares, mesmo que para sua posterior entrega à prisão – abrindo mão de tentar, ao menos, mostrar firmeza, autonomia e determinação ética para a opinião pública - é o retrato da rendição do Poder Legislativo à máquina repressora de parte da justiça, e abriu a possibilidade para que qualquer homem público seja acusado, em seqüência, de qualquer coisa, a qualquer momento, bastando cair em uma esparrela, por um bilhetinho qualquer – subitamente elevado pela imprensa à condição de “documento” - a acusação de um desafeto ou de um delator “premiado” disposto a qualquer atitude para salvar a própria pele, ou uma frase passível de interpretação dúbia ou subjetiva pinçada em seu e-mail ou em uma conversação telefônica.
Que os incautos não se iludam.
Não haverá tergiversação ou acordo com aqueles que estiverem, na base do governo, ou na oposição, alimentando a ilusão de pensar que irão substituir a Presidente da República em caso de impeachment, ou mesmo de sucedê-la, eventualmente, tranqüilo e normalmente, por meio do voto.
Qualquer liderança que representar ameaça para o projeto de poder em curso – que, mais uma vez, não se iludam os incautos, parece não se tratar de outra coisa – poderá vir a ser eventualmente envolvida na maré de acusações e afastada da vida pública, com as suas cabeças rolando, uma por uma.
A única esperança de retorno a uma situação de normalidade mínima está, no curto prazo, na interrupção negociada, inteligente e equilibrada, do processo de strip-tease, de MMA mútuo, público e suicida dos diferentes partidos e lideranças aos olhos da opinião pública.
E no fim da busca de soluções extemporâneas para a disputa do poder – qualquer singularidade só pode beneficiar forças externas ao ambiente político – com um retorno ao calendário e aos ritos de praxe, o que implica na defesa institucional e organizada, por parte da classe política, de sua imagem frente à opinião pública, seguida de uma disputa programática e civilizada nas próximas eleições, que serão realizadas em menos de um ano.
Isso não bastará, naturalmente, para terminar com o processo de desgaste intencional da atividade pública que está se aprofundando, com enorme e deletério sucesso, e que pretende, entre outras coisas, substituir os “políticos” clássicos, hoje abertamente reputados como “sujos”, por impolutos e heroicos justiceiros messiânicos, que gozam de poder para, se quiserem, tentar governar indiretamente o país por meio de pressões e prisões, ou para fazer uma súbita e “surpreendente” irrupção no universo político.
Mas, pelo menos, poderá levar a atual geração de homens públicos – em última instância herdeira da representação popular por meio do voto – a fazer frente, unida, cerrando fileiras, independente de sua orientação política, a pressões externas, senão em defesa de si mesma, ao menos do Parlamento, como um poder independente, e da própria Democracia, no lugar de se arriscar a sair da vida pública e a entrar na história, um por um, submissos e humilhados, com as mãos nas costas, e a sua biografia arrastada na lama.
Essa reação não impedirá que, embalados pela mídia e as campanhas iniciadas pela própria oposição, personagens oriundos das operações em curso venham a se sentir tentados a participar, também, diretamente, do processo político, transformando-se eventualmente em candidatos, nos próximos pleitos.
Como o Aedes Aegypti, a mosca azul pode picar qualquer um, e o seu vírus é mais poderoso que o da dengue ou que o da chikungunya.
Como um procurador fez questão de lembrar, há poucos dias, há operações que estão em curso – que eram vistas inicialmente como uma forma de tirar o PT do poder - que deverão durar pelo menos pelos próximos 10 anos.
Isso as transforma, como um touro trancado em uma loja de louças - em um elemento novo, incontrolável e permanente – que deverá ter seus efeitos analisados, avaliados e eventualmente corrigidos e limitados, por quem de direito na Praça dos Três Poderes – no contexto do processo econômico, social e político brasileiro."
Mauro Santayana
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