11 de julho de 2014

Argentina x Alemanha: Para quem torcer? Ou: Uma surpresa! O que realmente pensam os argentinos de nós

Afinal, o que os argentinos pensam de nós?
POR MÁRCIA CARMO
"Aqui em Buenos Aires, antes da Copa do Mundo começar, cada vez que os argentinos percebiam que estavam conversando com uma brasileira, diziam: “Como você conseguiu deixar aquele país? Amo o Brasil”.

Para muitos deles, agora está sendo uma surpresa saber que a rivalidade dos torcedores brasileiros com os argentinos parece extrapolar os estádios.

“Acho que vocês não gostam da gente”, disse um bancário e jogador de rúgbi, de 35 anos, que trabalha no bairro de Palermo.

Uma comerciante, de 30 anos, dona de uma lan house, aqui ao lado de casa, no mesmo bairro, disse frase parecida no dia seguinte à vitória da Argentina sobre a Bélgica, no estádio Mané Garrincha, em Brasília: “Foi uma surpresa ver os brasileiros com camiseta da Suíça em São Paulo e de novo torcendo contra a gente em Brasília. Não sabia que os brasileiros não gostavam da gente”.

O sorriso que surgia só por estar diante de um brasileiro agora parece ter sido substituído por um certo incômodo, com as histórias de brasileiros torcendo contra a Argentina, ainda mais agora depois de o Brasil ter sido eliminado da Copa.

Na realidade, a rivalidade não parece ser mútua – além dos estádios. Sim, é verdade que especialmente após a vitória sobre a Holanda eles recordam o 7 a 1 sofrido pelo Brasil contra a Alemanha.

Foi assim na festa que realizaram na concentração no Obelisco, no centro da cidade, até a madrugada desta quinta-feira, depois da vitória na Arena Corinthians.

Um dos torcedores argentinos de batina, como a do Papa Francisco, escreveu nas costas da roupa bege: 7 x 1. E mostrou, rindo, sete dedos quando percebeu que falava com uma brasileira. A gozação aumentou nas últimas horas. Mas, pelo menos aqui, sempre dentro do espírito do futebol.

Há muitos mal entendidos entre um e outro, brasileiros e argentinos, decorrente, talvez, da barreira dos idiomas, que acaba passando uma impressão falsa de provocação.

Professores de português e de espanhol costumam dizer que o português tem mais fonemas que o espanhol, e que, por isso, não é fácil de ser compreendido pelos argentinos. Ou seja, é mais fácil um brasileiro entender o que eles falam do que o contrário. De certa forma, eles mal ficam a par de nossas piadas.

Ao mesmo tempo, historiadores afirmam que, para os argentinos, o rival – em qualquer âmbito – é a Inglaterra. Não o Brasil. O motivo? A guerra em 1982 pelas Ilhas Malvinas, Falklands para os ingleses.

Já sobre o nosso país, no imaginário coletivo argentino, o Brasil é sinônimo de paraíso. O lugar dominado não só pelas belezas naturais, mas por pessoas de bem com a vida. Tudo o que muitos confessam desejar na vida. E que não têm como ter aqui. Seja pelo frio, pela maior dramaticidade com que encaram o cotidiano ou pela história de sobe e desce na política e na economia da Argentina.

‘Quero nascer pernambucana’

“Na minha próxima vida quero nascer pernambucana”, disse uma médica da clínica Swiss Medical, no bairro nobre de Palermo Chico. Por quê? “Quero ser como vocês. Não ter vergonha de usar biquíni mesmo quando estiver com barriguinha. Quero que meu marido e meus filhos não se sintam mal usando sunga”.

Para eles, a sunga é sinônimo da “liberdade” do homem brasileiro. Mas por que pernambucana? “Para ter verão o ano todo e para sorrir tanto quanto os pernambucanos”.

O meu professor de ioga não viajou para a Copa. Achou muito caro para o bolso dele. Mas antes e depois de o Mundial começar, disse e continua dizendo. “Eu acho que não sou daqui de Buenos Aires. É no Rio que me sinto em casa. Sou contagiado por aquele astral”.

É fato que turistas brasileiros chegam aqui e parecem encantados. “Eles nos tratam muito bem”, costumam dizer.

Mas também já vi aqui alguns brasileiros dizendo “grosso” após serem atendidos por algum comerciante local. Para os argentinos, “groso” é, porém, sinônimo de poderoso. Por questões culturais, os argentinos – especialmente os que têm mais de 60 anos – parecem mesmo ter alma de tango. Poucos sorrisos, poucas palavras e certo tom dramático ou seco – demais, para nós brasileiros.

Tal atitude, somada de fato a um certo ar de superioridade – quando a Argentina estava entre os mais ricos do mundo – os fez atuar como se estivessem no lugar errado e não sendo parte da América Latina.

Mas esse comportamento “arrogante” mudou depois da crise de 2001. E os que têm hoje em torno dos 30 anos, como o bancário, a comerciante e o professor de ioga, não entendem por que os chamam de arrogantes. “Sério? Arrogantes? Como assim?”, perguntou a arquiteta Maria Eugenia, de 37 anos, que costuma viajar nas férias para o sul do Brasil.

‘Somos bonitos e importantes’

Com o típico humor portenho, o ator Ricardo Darín, 57 anos, astro do cinema argentino, respondeu quando lhe perguntei sobre essa arrogância: “É que somos muito importantes”. Pensei, hum, arrogante mesmo. Metido. Mas aí ele completou:

“Importantes, inteligentes e bonitos. No te parece? (Você não acha?”). E sorriu. Era uma “broma” (“brincadeira”).

Mas demorei a entender. O humor deles ─ que para nós acaba passando a falsa imagem de arrogância ─ não é como o nosso, mais explícito. É mais irônico, mais “inglês” – o que, por si só, também é um ironia, dada a real rivalidade com os ingleses.

O próprio papa Francisco é conhecido, dos tempos em que ele era cardeal, pelas frases desconcertantes, ditas sem qualquer sinal de sorriso.

Já quando o assunto é futebol, os argentinos são bem menos refinados.

Eles torcem com paixão e dedicação, são organizados e “explícitos”. Para demonstrar paixão por Maradona, um grupo de torcedores criou, nos anos 1990, a Igreja Maradoniana, com altar e tudo – afinal ele fez aquele gol da “mão de Deus” contra a Inglaterra na Copa do México.

Para provocar os torcedores brasileiros, nesta Copa, um grupo de oito amigos criou o hit Brasil decime qué si siente, com o refrão: Maradona é melhor que Pelé.

Diga-se que o hit pegou muito antes de os brasileiros usarem camisetas de outras seleções que jogaram contra a Argentina na Copa.

Mas agora os criadores da canção, mesmo sem serem perguntados, explicam que foi uma “broma” típica de futebol. “Não imaginávamos que alguns brasileiros levassem a mal, que pensassem que era provocação além do estádio, além do futebol”, disse um deles.

Fora dos gramados, os argentinos continuam fazendo festa em cada partida da Argentina. Eles parecem retratar o personagem do cartunista Rep, do jornalPágina 12, que vive deprimido em Buenos Aires, mas cai na folia quando chega ao Brasil.

Seja como for, um comentarista de uma TV argentina resumiu assim a intensidade da rivalidade na reta final desta Copa:

“A coisa está ficando brava. Por via das dúvidas, é melhor reforçarem a segurança na final no Maracanã”. E uma apresentadora disse, nesta quinta: “é difícil entender como brasileiros torcerão pela Alemanha. Mas não foi da Alemanha que levaram sete gols?”."

Fonte: BBC Brasil

P.S. deste blog:
A foto abaixo não faz parte da matéria original da BBC (aliás, nem as outras) mas, procurando no google imagens algumas fotos sobre a Argentina, achei esta e não resisti em colocá-la aqui. Já que estamos falando de Los Hermanos, citemos de passagem Las Hermanas...

3 comentários:

Anônimo disse...

Adilson Filho: Torcer contra a Argentina como quer Globo-CBF, tô fora!

por Adilson Filho, especial para o Viomundo

São dois mundos completamente diferentes, a cobertura feita pela ESPN e a feita pelas canais da Globo.

A tônica do primeiro é se concentrar seriamente nas mazelas do futebol brasileiro, reproduzindo a excelente entrevista com Breitner (ex-lateral alemão) , que há dois anos disse, pra quem quisesse ouvir, que o futebol praticado aqui estava ultrapassado e deveríamos nos espelhar no que estava acontecendo na Alemanha. Apesar do ‘toque’, que poderia nos ser valiosíssimo, foi acusado de arrogante pela mentalidade tacanha nacional.

A tônica do segundo é jogar pra debaixo do tapete (bem sutilmente e, aos poucos, pra não dar bandeira) a vergonha protagonizada pelo time do qual se apoderou, usando aquela rivalidade galvanizada (com todos os sentidos que essa palavra possa assumir) contra a Argentina como ‘cortina de fumaça’ , para defender a inacreditável e patética dupla Parreira-Felipão.

A entrevista que esses dois senhores deram, foi, na minha opinião, um papelão quase à altura da merda histórica que nos proporcionaram com seu trabalho inqualificavelmente medíocre.

Na hora da derrota, da seca, se conhece a grandeza do homem. Esses dois, especialmente Parreira – pois não desce do salto nem por um segundo e ainda tentou manipular as pessoas com a cartinha de uma senhora dona de casa – demonstraram toda sua pequenez de espírito ao não terem a dignidade mínima de assumir o que está na cara do planeta inteiro.

Pois agora se intensificará a campanha por parte da Globo-CBF contra a Argentina.

Acho a rivalidade no futebol saudável, sei que essa é uma delas, tá tudo certo, mas vou avisando que eu tô fora. Primeiro por ser um admirador da escola argentina de futebol, na qual vi jogar grandes craques, inclusive o maior de todos, Leonel Messi. Depois, porque, mesmo que eu tivesse algo contra eles, nesse momento eu seguraria minha onda. Na minha humilde opinião, depois de meu time tomar uma lavada daquela monta tão vergonhosa, o melhor a fazer é botar a viola no saco no lugar de assinar, publicamente, um atestado de recalque pro mundo inteiro ver.

A elegância alemã, a extrema gentileza e educação com que nos trataram em campo durante os 90 minutos, chegando ao nível de clemência, certamente contribuiu para nos deixar ainda ‘menorzinhos’ ali no gramado. A entrevista dessas duas figuras, ontem, conseguiu nos reduzir ainda mais um bocadinho. A saída às ruas, bares, churrasquinhos, sambinhas, festinhas coxinhas etc, para torcer contra o time de um país vizinho, que conquistou na raça sua classificação, na minha avaliação, nos reduzirá ao nada absoluto.

SOLANDO disse...

VOU TORCER PRA ARGENTINA POR CAUSA DA FOTO DA POTRANCA!

Anônimo disse...

É iguala Campos x Macaé, todo dia os Macaense nao "reclamam" que Campos só tem ....