21 de junho de 2011

O Coração e a Pluma

No Jornal Metamúsica, que publiquei (de forma amadora) entre 1995 e 2000, fiz um artigo em que desvendava o nome de alguns grupos de Rock Progressivo.
Pesquisei em diversos livros (a Internet ainda não era a realidade que é hoje) criando diversos verbetes que explicavam o sentido de cada banda.

A maioria buscava inspiração em diversas religiões e mitologia para escolher seus títulos.

Me lembrei disso porque recebi o artigo abaixo que cita Osíris, um dos verbetes do referido artigo.

Quem me mandou foi o Prof. Alfredo Manhães que escreveu o mesmo para o jornal O Rebate em 2009.
Alfredo é um amigo que já trabalhou comigo e colaborava traduzindo algumas coisas para o extinto Metamúsica.
Aliás tenho a honra de ter amigos inteligentíssimos (como é o caso dele) que ainda tem formações acadêmicas de alta relevância.
Eu não tenho formação acadêmica - muito menos pós-graduação, mestrado ou doutorado - mas como não sou bobo me cerquei de muitos "feras". :)

Uma pena que nos últimos tempos venho tendo poucos contatos com eles.

Bem, segue o artigo que é muito legal.
Aliás nem falei com ele que ia publicar aqui no blog.

Espero que não cobre royalties. :)


O Coração e a Pluma
A história do Egito e de seu povo é fascinante e apaixonante sob vários aspectos. Desde que o pesquisador francês François Champollion decifrou a escrita hieroglífica na famosa Pedra da Roseta (século XIX), inúmeras riquezas afloram do grande manancial de sabedoria desse povo, influenciando na ciência, cultura, religiosidade e outras áreas. É bom lembrar que a Egiptologia foi criada na França pelo próprio Champollion no Collège de France.

Embora não seja historiador, gosto muito do tema e em algumas pesquisas sobre a mitologia egípcia e sua relação com a religiosidade dessa civilização da antiguidade, encontrei algo curioso sobre um de seus deuses, Osíris.

O nome Osíris é um termo grego, que teria vindo de nomes como Asar, Use, Usir, Usire, Unnefer ("o que é bom"), mas não se sabe ao certo o seu real significado. Osíris é reconhecido como o deus da terra, da agricultura e da ressurreição. Sua representação mais comum apresenta a pele verde, associada a vegetação, e a túnica branca.

Segundo o Livro dos Mortos, o indivíduo recém chegado ao mundo espiritual passava pelo Aukert (mundo subterrâneo) e depois seguia em direção ao Amenti, morada de Osíris, onde seria julgado.

O julgamento de Osíris consistia em comparar o peso do coração do morto com uma pluma de avestruz, utilizando uma balança de pratos, cerimônia da qual participavam Anúbis (representado com a cabeça de chacal), o deus da morte, Hórus (representado com a cabeça de falcão), deus dos céus e da realeza, e mais alguns deuses. Assim como os pesos em cada prato da balança podem se equilibrar ou fazer com que ela penda para um dos lados, se o coração se equilibra com o peso da pluma, significa que o indivíduo foi uma pessoa de coração puro e bondoso, e não cometeu erros que o afastariam da caminhada para a vida eterna no Campo da Paz, e a felicidade.

Por outro lado, se o coração for mais pesado que a pluma, significa que essa pessoa não foi respeitosa, honesta e confiável, e assim não poderia seguir o caminho da eternidade. Para Osíris, cujo julgamento era infalível, quanto mais puro o coração, mais justo havia sido o indivíduo. Quanto mais impuro, mais distante da verdadeira essência dos propósitos da vida.

Embora essa passagem faça parte da mitologia egípcia, é possível aplicá-la em nossas vidas. Quantos de nós carregamos o fardo pesado de um coração endurecido e intransigente, que não perdoa, não se amolece diante das necessidades de outros, distante dos caminhos que levariam ao ideal do "homem integral", aquele que está em ressonância com a energia criadora do cosmo. Quantos julgam seus semelhantes, sem que tenham a mínima condição ética e moral para exercer tal tarefa.

Hoje meu coração estava "um chumbo" de tão pesado, e pensando nessas coisas procurei fazer a lição de casa. Escrevi para alguém que não vejo há dois anos, e é uma pessoa da qual me afastei por ter deixado meu orgulho ser muito mais forte que a razão. Bem, fiz a minha parte pedindo desculpas...quem sabe até eu seja perdoado?

Que tal ir para a cama com o coração leve? Amando mais, perdoando mais, compreendendo mais, ouvindo mais, falando menos, enfim, repensando atitudes e modificando o padrão mental. Não é fácil mas é possível, e vale a pena tentar. Essa é a dica milenar, porém muito atual, da mitologia egípcia e do sábio deus Osíris.

Até a próxima!

Alfredo Manhães

Fonte: O Rebate

4 comentários:

Jefferson disse...

Muito bons!
Tanto o artigo como sua introdução.
Excelente história e ótima lição de vida.
Valeu!

Alfredo Manhães disse...

Olá Marcos!
Meu amigo, fico muito feliz e honrado em ver meu singelo texto postado aqui, dentre tantos outros de profundidade e relevância.
Os egípcios trouxeram muitas contribuições à humanidade e a passagem do coração e a pluma atribuída ao deus Osíris nos leva a uma boa reflexão. Nos tempos modernos percorrem-se distâncias astronômicas e gastam-se bilhões de dólares buscando o segredo da vida quando ele está, paradoxalmente, dentro de cada um de nós.
Talvez esse seja o grande desafio da raça humana: o autoconhecimento e em consequência dele, a reforma íntima!
Um grande abraço,
Alfredo.

Junior disse...

Muito bom seu artigo e seu cometário, Alfredo.
Deu mais força ainda a esse blog que já mora na estratosfera!
Abraço.

Marcos Oliveira disse...

Bom dia Jefferson, Alfredo e Junior. Obrigado pelos comentários.

Alfredo nós é que ficamos felizes com seu texto histórico-mitológico, sua participação que - como falou o Junior - contribuiu com o nosso blog. Mais ainda: nos deu "dicas" de vida neste momento de tanta complexidade no planeta e nas relações.
Será sempre um prazer publicar aqui seus escritos.
Forte abraço.