15 de fevereiro de 2013

Facebook: Superestimando a 'felicidade' dos outros e subestimando a nossa própria vida

Birth of a Divinity - Salvador Dali
Há algum tempo li uma crônica onde a autora (desconfio que seja a Martha Medeiros, mas minha memória pré-Alzheimer não está nada confiável) discorria sobre o quesito "vida boa das celebridades".
O fato é que ao lermos notícias e vermos fotos destas "celebridades" - do tipo "Caras" - só tem coisa positiva: festas, alegria, fotos incríveis, lugares maravilhosos, grana, iates... Enfim, felicidade constante, ininterrupta. Nada de problemas, tensões, ansiedades, etc.
O que isso provoca em quem está vendo e lendo? Provavelmente algo bem próxima daquele sentimento chamado inveja.
De qualquer forma eles são "celebridades" (sempre entre aspas, ok?!), então são aquela meia dúzia de - teoricamente - priveligiados. Não nos ocorre que aquilo tudo pode não ser bem a realidade 24 horas por dia, 365 dias por ano (com trocadilho ou cacófato).
Mas e se essa coisa toda estiver bem mais próxima de você? Não nas revistas e TV, mas na tela do celular, tablet e notebook, entre seus amigos de Facebook e adicionados do Instagram? Fica mais difícil aceitar a felicidade maior de seus conhecidos enquanto você tem uma vida "normal", não é mesmo? Creia, isso é um problema. Talvez nem tanto para pessoas já mais rodadas como este escriba, mas os mais jovens...
Achei interessante artigo sobre este tema na página da Revista TPM, de autoria das jornalistas Bruna Bopp e Letícia González.
Reproduzo a seguir parte dele. O restante vocês podem conferir aqui. Os destaques em vermelho foram feitos aqui por nosso blog.

Vida perfeita só existe no Facebook
Como as redes sociais mudaram a relação que você tem com a sua própria imagem – e com o resto do mundo

"No último fim de semana, é provável que você tenha visto postadas aos montes no Instagram fotos de festas incríveis, piqueniques no parque, drinks na praia, pés na areia, crianças fofas e cachorros mais fofos ainda. E pode ter caído na armadilha de acreditar que seus amigos – e os amigos dos amigos – estavam se divertindo muito mais do que você.
Não é de hoje que se espelhar nos outros para avaliar a sua própria vida é um comportamento comum. Mas é fato que as redes sociais conseguem deixar a felicidade alheia mais sedutora, transformando pessoas e situações em ideais. Imagens de “vida perfeita” sempre estiveram por aí, carregando a mensagem inquietadora: “Você poderia ser melhor”.
Ao ver amigos questionarem a própria vida depois de navegar pelo Facebook, o psicólogo Alexander Jordan, da Universidade de Stanford, na Califórnia, foi pesquisar o assunto a fundo. Em 2011, publicou uma série de estudos sobre como universitários avaliavam as emoções dos seus amigos. Concluiu que a maioria superestima a felicidade dos outros e subestima sentimentos negativos. Ao mesmo tempo, quanto menos os estudantes enxergavam experiências negativas na vida dos outros, mais reportavam solidão e tristeza na sua. Na apresentação do estudo, citou o filósofo iluminista Montesquieu: “Se quiséssemos apenas ser felizes, seria fácil. Mas queremos ser mais felizes que os outros, o que quase sempre é difícil, já que pensamos que eles são mais felizes do que realmente são”.
Um dos erros mais comuns nessa busca é ignorar que, por trás de cada imagem de perfeição, existe a vida real. A headhunter Josiane Menna, 30 anos, cai nesse engano quando acompanha as fotos de viagens alheias. “Instagram de quem viaja muito é o que mais mexe comigo. Eu queria estar ali”, confessa. Embora duas vezes por ano faça viagens para fora do Brasil, não consegue evitar a inveja quando as paisagens estrangeiras invadem o seu celular.
E Josi sabe que, claro, os viajantes mostram só os melhores ângulos. Ela faz o mesmo. “Fui para Nice [na região de Côte d’Azur, na França] e postei uma foto do mar azul, calmo, lindo. Só eu sabia que a minha perna estava toda marcada porque a praia é cheia de pedregulhos, e que paguei seis euros numa garrafinha de água”, ri. Mas esse é o jogo do aplicativo de fotos, acredita. “É a rede social dos momentos felizes.”
Para o teórico britânico Tom Chatfield, autor de Como viver na era digital, lançado pela editora Objetiva com o selo da The School of Life (do escritor e filósofo suíço Alain de Botton), “tentar mostrar ao mundo a melhor imagem de si mesmo é um pouco como se dedicar a um trabalho: você desenvolve habilidades, escolhe melhor as palavras e aparências que vai usar e obtém satisfação quando vê que seu produto teve sucesso”. O produto, no caso, é você mesma. “Vender-se como um objeto é uma espécie de busca pela perfeição. Mas ela pode te levar para longe do que você é, e para longe da felicidade e das relações honestas”, afirma Chatfield à Tpm. Faz-se muito isso na internet, diz ele, ainda que a rede não seja a responsável pela busca da perfeição – apenas oferece novas ferramentas para isso."
(...)
"Essa discrição, no entanto, não é o comportamento mais comum nas redes. Ser visto, reconhecido e curtido a todo custo é uma necessidade real para muitas pessoas. E não estamos falando daquelas com perfis antissociais, mas de gente comum, sem dificuldade para fazer amigos ou paquerar. “Por mais soltas que sejam socialmente, muitas pessoas não têm uma sedimentação daquilo que são. Falta maturidade, confiança, autoestima. Pacientes dizem que, se ninguém curte algo que postaram, deletam o post. É como se eles se nutrissem da valorização que vem de fora. E isso é fugaz”, explica Nabuco.
Além do risco de se viciar nas redes, outro efeito da busca desenfreada por um curtir é a desconexão da realidade. Para Luli Radfahrer, um dos principais estudiosos de mídia eletrônica no Brasil, a perda de espontaneidade faz crescer uma bola de neve. “O Instagram foi feito para mostrar as coisas legais que você achou. O erro é ficar carente do “curti”. Se dependo do aplauso dos outros, começo a fazer qualquer coisa para garantir isso.” Como consequência, Radfahrer vê as pessoas tratando a própria vida como uma mídia. “A vida não é cinza nem colorida. Mas, quando vira entretenimento, o indivíduo se sente obrigado a fazer uma programação florida todos os dias. É um Show de Truman voluntário”, diz.

Keep calm
Curiosamente, a visão do especialista em novas mídias se aproxima do olhar milenar do budismo. “O trânsito não é bom nem ruim, tudo depende de como encaramos. A gente projeta a felicidade nos prazeres sensoriais, nos bens materiais e na nossa imagem”, afirma o monge Daniel, do centro Dharma da Paz, em São Paulo. Para o budismo, os fatos concretos importam menos que a maneira como os encaramos. “É na sua relação com as coisas que você define sua vida. E ela pode ser muito mais harmoniosa”, garante.
Segundo Daniel, falta educação espiritual para encarar o dia a dia. “Principalmente no mundo ocidental, vivemos à mercê das emoções. E elas nos levam para uma montanha-russa: gira, vira de ponta-cabeça, endireita de novo. Isso cansa, porque exige muita energia.” Um desgaste que chega não só aos templos, mas também aos consultórios. “As pessoas vêm perdidas, sem saber mais do que gostam”, diz a psicanalista Maria Lucia. Para ela, as cenas de perfeição compartilhadas à exaustão têm a ver com isso.
É o caso de se afastar das redes sociais? Não necessariamente. Mas vale colar um post it no computador para lembrar que, ali, se trata mais da vida como a gente gostaria que fosse do que da vida como ela é de fato."

Um comentário:

Anônimo disse...

Este um dos problemas que também percebo com o Facebook. Com cada um tudo bem. Só tem notas ruins quando é para falar de assunto genérico. Cada um quer se mostrar mais feliz e com mais atividades prazerosas. Só que a realidade não é essa. Um quer enganar o outro e engana a si mesmo. Parabéns pela matéria.