8 de abril de 2014

Neusinha Brizola Sem Mintchura

Sempre me interessei pela história política do Leonel Brizola.
É o tipo de pessoa que pode-se dizer sem medo de errar que a vida daria um ótimo filme e muitos livros interessantes.
Mas desta vez fui pego pela curiosidade de saber um pouco mais de uma outra pessoa que fez parte intensa da vida de Brizola: sua filha Neusinha, que faleceu em 27 de abril de 2011 aos 56 anos.
Acompanhei sua curta carreira musical na primeira metade dos anos 1980 e sabia de suas idas e vindas ao território da "normalidade".
Agora todo o segredo é desvendado pela biografia ‘Neusinha Brizola Sem Mintchura’ (ed. Interface Olympus, 434 págs., R$ 65) dos jornalistas Fábio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre, lançado no final do mês passado.
Mais um na minha lista de aquisições indispensáveis. Só preciso arranjar tempo para ler.
Em tempo: o título refere-se a uma música que foi o maior sucesso de sua carreira.
A seguir vejam comentário sobre o livro e sobre a Neusinha feito pela colunista Hildegard Angel em sua página na Internet.
Filhos de Neusinha Brizola no dia do lançamento da biografia da mãe

NEUSINHA BRIZOLA SEM MINTCHURA, POLÊMICA ATÉ DEPOIS DA MORTE

"Foi um evento único. Reuniu os netos de Leonel Brizola e dona Neusa, Layla e Paulo Brizola, enquanto os escritores Fábio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre, também jornalista, autografavam a biografia de Neusinha Brizola, 'Neusinha Brizola sem mintchura', de sua autoria.

Foi na FNAC Barra, que borbulhava com os amigos fiéis da família Brizola e da frágil e pessoinha adorável que foi Neusinha, das figuras mais polêmicas daquele momento político nacional pós abertura – de fato mais uma vítima da ditadura.

Ela narrou sua vida em detalhes, morrendo antes do término do livro, porém a tempo de pedir aos autores que lançassem a obra na íntegra, desejo agora cumprido por eles.

Neusinha passou a infância num palácio, do qual foi arrancada com a família pelo golpe militar, partindo para o exílio, o sofrimento extremo e o medo. Os horrores daquele período de violência lhe deixaram sérias sequelas que a levaram a se viciar na adolescência, num processo de fuga, bebendo em todas as manhãs e recorrendo às drogas.

Entre outras peripécias que contribuíram para fazer brancos os cabelos do “Caudilho”, Neusinha posou nua para a Playboy, levando seu pai Leonel Brizola, então governador do Rio de Janeiro, a vetar a circulação da revista.

Reação dela: “Então, vou morrer contrariando a vida. Mesmo depois de partir, vou continuar dando trabalho e causar meu último escândalo, deixando um livro que vai falar e ficar por mim, sem mintchura!”, desafiou Neusinha.

Deu o que falar em vida e, pelo visto, continuará a dar depois da morte.

Ponto pacífico: verdade é que quem conheceu Neusinha Brizola de perto simplesmente a adorava e dela guarda doces lembranças."
Leonel Brizola e Neusinha na missa de 1 mês de falecimento de Dona Neusa Brizola
Um pouco mais sobre histórias contadas no livro que retirei de matéria publicada em O Dia:

Garota Problema
"O Brasil conheceu Neusinha Brizola (1954-­2011) em 1983, quando saiu o single com o sucesso ‘Mintchura’. Mas ela já tinha histórias e mais histórias para contar desde muito antes disso. O exílio do pai, o ex-governador do Rio Leonel Brizola (1922-­2004), a levou a morar em vários países, como Uruguai, Inglaterra e Chile, e a passar mais de 20 anos fora do Brasil. Antes da fama, havia flertado com o perigo ao traficar drogas — chegou a conhecer bem de perto o tráfico internacional da América Latina já nos anos 60/70. Frequentou a badalada boate nova-iorquina Studio 54. Anarquizava festas repletas de militares em plena ditadura. Uma trajetória politicamente incorreta e repleta de casos bizarros, que está condensada agora na biografia ‘Neusinha Brizola Sem Mintchura’ (ed. Interface Olympus, 434 págs., R$ 65), de Lucas Nobre e Fábio Fabrício Fabretti.
Fábio, que iniciou o projeto, chegou a fazer várias entrevistas com Neusinha. Conversar com ela, àquela altura da vida, não era tarefa das mais fáceis. “Ela era muito lúcida e cheia de personalidade, mas tinha aquele ar de desconfiança de quem levou porradas da vida e enfrentava um momento difícil com a saúde. Tinha aprendido a se resguardar com o tempo. E também demonstrava certas sequelas físicas, na fala e em alguns movimentos”, lembra.

Além de sofrer com a hepatite causada pelo excesso de drogas, Neusinha já tinha falhas na memória, a ponto de mudar bruscamente de assunto ou ter dificuldade para concluir histórias. “Tirando as décadas, a história não necessariamente obedece a uma coerência cronológica, e até se contradiz em alguns momentos. Mas ela era assim. E criamos um livro que fosse o seu perfil.”

O sucesso de Neusinha como cantora aconteceu durante o primeiro e controverso mandato de seu pai como governador do estado do Rio, em 1982. Seus discos saíram justamente pela Som Livre, gravadora das Organizações Globo, atacada eternamente por Brizola. A relação não era das mais fáceis — e Neusinha deu, digamos, algumas dores de cabeça públicas a seu pai, que foram amplamente exploradas pelos jornais.

Em agosto de 1983, ela resolveu se casar com o empresário Franco Bruni, numa festa de arromba no Terminal Menezes Côrtes, sem pedir autorização a Brizola. Em 1987, posou nua para a revista ‘Playboy’, mas a edição foi impedida de chegar às bancas por ordens do governador.

Além das prisões por drogas, Neusinha foi namorada e amante de traficantes (um deles, José Carlos dos Reis Encina, o popular Escadinha) e passou um bom tempo vivendo em Amsterdã, na Holanda, mergulhada na heroína.

“Evitamos o tempo todo que a biografia se tornasse um documento sobre a vida do Brizola, o que, de certa forma, era inevitável”, diz Fábio Lucas, nascido em São Borja (RS). Ele revela que, na sua terra, as pessoas até evitavam falar sobre as desventuras de Neusinha com as drogas. “Lá, fronteira do Brasil com a Argentina, o Brizola é amado, e as pessoas diziam apenas: ‘Ouvi dizer que ela teve problemas com tóxico, mas não sei de nada’”, conta. “Ele dizia que era maravilhoso e ao mesmo tempo um inferno ter Neusinha como filha. Na relação familiar, acredito que ele se divertia, sobretudo porque os dois se amavam. Muito.”

Com tantas histórias bizarras, Fábio diz que o que mais lhe marcou foi o amor doce que Neusinha tinha por sua mãe, dona Neusa Brizola. “Mas seu envolvimento com a heroína foi lamentável e degradante. Entendi por que ela me disse que a história dela deixaria ‘Meu Nome Não É Johnny’ (de Guilherme Fiuza, sobre a vida do ex­traficante João Guilherme Estrella) no chinelo.”

Filha mais velha de Neusinha, Layla Brizola lembra que teve que ser um pouco mãe da mãe. “Aconselhei muito no trato com meu avô. Ela o enfrentava e eu ajudei no entendimento dos dois”, recorda. “Tivemos muitas conversas que varavam a madrugada, muitas risadas. Minha mãe era uma mulher incrível, inteligente e com o melhor senso de humor. E momentos tensos, nas crises causadas pela hepatite. Eu e meu irmão salvamos sua vida várias vezes.”"

Um comentário:

ALICE IN WONDERLAND disse...

Iiiiiiiiiiiiiii, vou ter que comprar mais um livro também Marcos.
Este deve ser imperdível!!!