"Marquinho,
Acredito que você já tenha visto estes dois filmes que estão em cartaz.
Se não viu , aconselho a não perdê-los de vista.
Assisti o 'Gonzaga' no início da semana .
É um filme muito bem produzido e me pareceu bem imparcial e sutil na questão do relacionamento entre o Gonzagão e Gonzaguinha, na questão da paternidade e no conflito de amor e ódio entre eles.
E ontem fui assistir o 'Tropicália'.
Que é de fato um documentário muito bem costurado com os comentários do Gil, Caetano, Tom Zé e Arnaldo Batista (dos Mutantes).
Deu uma saudade danada da minha juventude, dos movimentos estudantis daqui do Rio e São Paulo transmitidos pela televisão, da descoberta de uma nova vida musical que estava nascendo.
Quem viu e viveu essa época é sem dúvida um privilegiado pela vida, de ter sentido essas emoções dos anos 60, agora reeditadas por este filme .
O fime começa bem agitado e vai mudando a sua dinâmica, acompanhando a efervecência do movimento até a sua extinção.
Confesso que chorei de saudade e me lembrei do meu pai que dizia que aquilo não era música, não tinha sentido, não tinha a poesia do Francisco Alves, do Carlos Galhardo da Maisa e Dolores Duran. Hoje sou eu quem ouço a nova música brasileira (hip hop, funk, bonde do tigrão, etc e tal ) e pergunto como é que isso foi acontecer? E fico pensando será que estou usando a mesma lente que meu pai usava para criticar o novo?
Abs.
'Zeca'."
Caro amigo Zeca,
Ainda não tive a oportunidade de assistir aos dois filmes.
O primeiro vou tentar ver esta semana mas o documentário "Tropicália" está em poucas salas. Ou tento via Internet ou espero o lançamento em locadoras ou, quem sabe, no Canal Brasil.
Só vou estar no Rio agora em janeiro e não sei se estará em cartaz até lá. Continuamos com sérios problemas de distribuição de filmes que não sejam (ou tenham pretensão de ser) blockbusters. Neste caso estão os documentários.
Do filme dos Gonzagas (pai e filho) só tenho ouvido elogios, feitos os seus. Que bom para um filme nacional que aborda boa música e relacionamentos humanos.
Já minha curiosidade sobre "Tropicália" é exatamente pelos motivos de sua abordagem: música brasileira revolucionária nos dois sentidos, estético e político, em plena ditadura. Uma inovação que mudou o conceito da MPB. Experimentações que misturavam música regional, samba, rock psicodélico, rock progressivo, Beatles e Lamartine Babo.
E tinha os movimentos estudantis, os movimentos guerrilheiros, o exílio.
Tudo que se refere à essa época me interessa embora naqueles tempos, com menos de 10 anos de idade, paupérrimo e morando em um distante subúrbio do Rio, eu não acompanhei de perto nada daquilo. Só depois, tardiamente, é que vim a entender tudo.
No seu caso o mergulho foi maior, daí sua forte emoção ao viajar no tempo (época desse seu apelido, não mais utilizado há tempos...) através dos fatos narrados e das músicas do filme. Não tenha dúvidas que isso é vida. É viver. É ter vivido.
Sobre o final de sua mensagem e de suas perguntas... não sei não, caro amigo. O mundo gira, tudo muda. Quando vou ouvir alguma coisa nova só procuro coisas que tenham melodia e harmonia bem definidas. E letras que não sejam ignorantes.
Mas a minha lente é a mesma da sua (que equivaleria a do seu pai?). Com certeza, para parte do público de hoje, essas "músicas" tem uma razão de ser. Aos cinquenta e pouco anos eu já desisti de criticar, entender ou me irritar com muitas coisas.
Sem viver no passado mas sem renegar um pouco de uma gostosa nostalgia, sigamos em frente tendo orgulho de ter vivido aquela época e continuar amando a música dos Mutantes, Tom Zé, Gil, Caetano, Chico, Milton, Beatles e Rolling Stones.
Nosso tempo não passou. É hoje. E, se algumas coisas neste mundo de Deus mudaram (a nosso ver) para pior, então... pior para o mundo!
As nossas coisas boas nos acompanharão. Para sempre.
Abraços musicais e tropicalista (só com um pouquinho de saudosismo, afinal o sol está brilhando lá fora; o astro-rei continua reluzente nos trópicos, como era nos tropicais anos 60).
Marcos.
4 comentários:
Complemento: em 1982 assisti a um show de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, juntos. Foi em Aracaju, Sergipe, há exatos 30 anos. Inesquecível.
Seria legal se tivesse visto também aquele pessoal da Tropicália, juntos.
Taí uma dica: um super show para ser filmado reunindo hoje Gil, Caetano, Tom Zé, Mutantes, Gal, etc. "revisitando" o Tropicalismo.
Belo texto Marcos! realmente você tem um talento ímpar para a escrita.
Emocionante. Quanta saudade.
Bjs.
Complemento(2): Entre os citados no post (inclusive com inserção de uma de suas músicas) está o lendário Gilberto Gil. Pois não é que, por coincidência, ontem assisti bem de perto a um bate-papo com ele (ao vivo) sobre literatura em um "Café Literário" de Bienal do Livro?!
Aos 70 anos continua com a verve tropicalista de sempre.
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