Costumo me identificar com as crônicas do Artur Xexéo.
E também com a maioria dos escritos do botafoguense Arthur Dapieve.
Mesmo nome, um 'h' de diferença. E estilos completamente diferentes.
Mesmo assim me identifico com os dois. Menos quando o Arthur fala do Botafogo, tricolor que sou.
Dele gosto mais das crônicas musicais.
São dois itens que salvam no "Globo". E um ou outro das revistas e encartes das sextas, sábados e domingos.
O estilo bate-papo do Xexéo faz com que o artigo soe leve e me ligo sempre um pouco mais quando ele aborda o tema das mudanças e do sumiço de certas coisas com o passar do tempo.
Deve ser a idade. Comecei a perceber isso depois que passei dos cinquenta (mas aviso, não faz muito tempo, ok?!).
Acho que ele tem um pouco mais idade que eu (confesso, fiz 54) mas não deve ser muito pois me lembro da maioria do que ele cita.
Com a diferença que ele foi criado em Copacabana e eu não passei do distante subúrbio de Campo Grande. E isso não é pouca coisa.
Também não é pouca coisa não termos dinheiro para ir a restaurantes e eu odiar frutos do mar, ainda mais camarão e casquinha de siri!
E a sessão de domingo de manhã do Tom & Jerry era no Goytacaz (ou Trianon?), isso depois que mudei para Campos,RJ, aos 12 anos. Não sei se nos Cine Palácio ou Cine Campo Grande tinham essas sessões matinais.
Reproduzo abaixo um desses textos, sobretudo para 'cinquetenários'. Mas os jovens devem ler também. Poderão rir ou apenas comparar com este outro mundo de agora.
"No meu tempo, as agências bancárias funcionavam até 18h. Cinema era sempre às duas, às quatro, às seis, às oito e às dez. Teatro era de terça a domingo.
No meu tempo, a gente tinha que ir até São Conrado para comer casquinha de siri e beber água de coco. Almoço de domingo era na Confeitaria Colombo com piano ao vivo. No meu tempo, tinha um tobogã na Lagoa.
No meu tempo todo telefone era preto. A gente tinha sempre uma ficha no bolso para falar no telefone público. No meu tempo tinha telefone público.
No meu tempo, a gente tinha medo de telefone vermelho, de bomba atômica e de areia movediça.
No meu tempo, baleira de cinema vendia Mentex, bala Toffee e drops Dulcora. Ainda existe drops?
No meu tempo, para estar na moda, tinha que se usar calça boca-de-sino, camiseta manchada e sandália com sola de pneu.
No meu tempo, eu fazia compras no Hippie Center, no Disco do Dia e numa loja de jeans usados que ficava no Shopping dos Antiquários. No meu tempo, o Shopping dos Antiquários era conhecido como shopping da Siqueira Campos.
No meu tempo, os prédios da Delfim Moreira tinham, no máximo três andares, a Vinicius de Moraes chamava-se Montenegro e eu só gostava de ir a Ipanema para assistir a um filme no Pax e, depois, comer um cheesebacon no Chaplin.
No meu tempo, quem ia à Bahia voltava sempre com um berimbau. Quem ia a Buenos Aires trazia um frasco de colônia Lancaster. Quem ia a Nova York tinha que ver “Cats”. No meu tempo, quem ia Machu Pichu às vezes não voltava da viagem.
No meu tempo, só existiam três canais de televisão: a TV Rio, a TV Tupi e a TV Continental. Depois, bem depois, apareceu a TV Excelsior. No meu tempo, tinha mais coisas para se ver em três canais do que nos cento e tantos canais de hoje na TV a cabo.
No meu tempo, tinha filme que era proibido para menores de 21 anos. Geralmente, eram com a Libertad Lamarque. Todo domingo, às 10 da manhã, tinha Sessão Tom & Jerry no Metro. No meu tempo, tinha Festival Greta Garbo uma vez por ano.
No meu tempo, os elevadores tinham porta pantográfica. No meu tempo, não existia porteiro eletrônico (todo mundo jogava a chave da janela). No meu tempo, ouvia-se jogo de futebol em radinho de pilha.
No meu tempo, usava-se óleo de bronzear. Todo mundo comprava uma cadeira de praia nova no começo do verão. No meu tempo, só criança andava de bicicleta.
No meu tempo, a gente trocava tampinhas de Coca-Cola por miniaturas de personagens da Disney. No meu tempo, tampinhas de Coca-Cola eram chamadas de chapinhas. No meu tempo, a gente juntava palitos de picolé para concorrer a prêmios na Grande Ginkana Kibon. No meu tempo, a gente colecionava álbum de figurinhas com fotos da recém-inaugurada Disneylândia.
No meu tempo, dançava-se cha cha cha no Le Bateau, twist no Black Horse e hully gully no Jirau.
No meu tempo, não tinha restaurante japonês, nem comida indiana, nem pizza fininha. Quando a gente saía de casa, era para comer camarão á milanesa com arroz à grega. E dava para lamber os beiços."
Fonte: Blog do Xexéo
Um comentário:
Ah! Os meus tempos.
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