Taí a "Operação 7 de setembro"... Dá para acreditar?
Quem são os organizadores de um protesto contra Dilma Rousseff no Dia da Independência
por André Barrocal — publicado 20/08/2013
"As manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e de qualidade por militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais da internet, milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário.
O alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma Rousseff. O caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de protestos.
A ONG em questão é a Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a Ordem dos Advogados do Brasil na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de Setembro” e a campanha Eu não voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.
Um dos principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda na Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que encampou a ideia de extinguir o exame.
Filho do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da qual eles sentem saudade. “Naquele tempo havia segurança, havia saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.
A ONG adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é chamado de... “paraibano”.
A agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma denúncia à Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano passado. Pai e filho foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio Tenenblat. Em 2009 e 2010, ambos entraram na Justiça com duas ações populares contra o exame da OAB e o então presidente da entidade no Rio, Wadih Damous. A segunda ação parou nas mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de 2011. Na sentença, o juiz acusa os autores de “litigância de má-fé”, pelo fato de manterem outra ação semelhante. “O dolo, a deslealdade processual e a tentativa de ludibriar o Poder Judiciário são evidentes”, anotou.
Na apelação levada ao juiz para tentar reabrir o caso, os Fonseca e seu advogado, José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de favorecer a OAB “por tráfico de influência ou por desconhecimento”, o que “demonstra claramente sua parcialidade e má-fé como magistrado”. Em maio de 2012, os três foram denunciados pela procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues por crime contra a honra. Em novembro, um acordo suspendeu o processo por dois anos. Os acusados foram obrigados a se retratar publicamente, a se apresentar à Justiça de tempos em tempos e a pedir autorização sempre que pretenderem deixar o Rio por mais de 30 dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo, o processo será retomado.
Ari Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da “Operação Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público. Morador de Curitiba, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni.
Nogueira é um ativo militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara. Por meio do Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a notícia de que Dilma teria recebido na eleição de 2010 uma doação de 510 reais de uma ex-beneficiária do Bolsa Família, chamado por ele de “bolsa preguiça”. Dias depois, a doação, registrada na prestação de contas de Dilma entregue à Justiça eleitoral, virou notícia nos meios de comunicação. O Ministério do Desenvolvimento Social acionou a doadora, Sebastiana da Mata, para saber se a contribuição era dela mesmo. Ela negou.
Por Twitter e Facebook Nogueira é um dos difusores da convocação para o “maior protesto da história do Brasil”, em 7 de setembro. Sua página no Twitter é ilustrada com o dizer “Partido Anti Petralha”, forma depreciativa de se referir aos militantes petistas bastante difundida na rede de computadores. No Orkut, define-se como “conservador de direita” e manifesta preferência pelo PSDB. Até junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como contratado na Assembleia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em 2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa.
Em 2010, uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito para apurar uma lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na Assembleia. Nogueira a integrava. Desde então, alguns suspeitos foram denunciados e julgados. O caso de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda uma autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado. Espera ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria trabalhado, enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.
Rossoni, antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2.
Reeleito à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de receber benefícios de empresas donas de contratos de rodovias privatizadas no Paraná. Durante mais de dois anos, o parlamentar conseguiu barrar a criação de uma CPI do Pedágio no estado. Perdeu, porém, a guerra. A comissão parlamentar de inquérito foi instalada no mês passado."
Fonte: Carta Capital
3 comentários:
As chicanas da Globo
Miguel do Rosário
http://www.ocafezinho.com/2013/08/20/as-chicanas-da-globo-para-roubar-o-brasil/
Em sua coluna de terça-feira, Miriam Leitão põe de lado suas góticas análises econômicas e publica uma furiosa defesa de Joaquim Barbosa. A urubóloga diverge radicalmente da crítica feita na véspera por Ricardo Noblat, em sua coluna. Leitão diz que Barbosa é um homem muito educado, e que Lewandowski demora-se em falas “excessivamente longas que nada acrescentam de novo”.
Leitão chancela a agressão de Barbosa, a qual descreve gentilmente como um “conflito entre ele e o ministro Ricardo Lewandowski”.
Não vou me estender sobre a inacreditável arrogância de Leitão, expressa já no título,”Questão de ordem”, como se ela tivesse poder oficial de ingerência sobre o julgamento. A jornalista, subitamente arvorada em suprema jurista, diz que “agora, o alongamento não faz sentido.”
Claro, a grande mídia quer um desfecho urgente da Ação Penal 470, porque já identificou que as críticas aos erros do processo se avolumam de maneira assustadora nas redes. Se jamais houve debate nos jornalões bancados pela Secom, agora não se dá mais um pio. A mídia bloqueia qualquer mínima discussão em suas páginas e programas. E exige que o STF faça o mesmo.
É surreal. Joaquim Barbosa (com aval dos colunistas) quer que os ministros do STF chancelem tudo que ele diz. Seus pares devem ser submissos, obedientes, acríticos. E rápidos! Ninguém pode protestar. A ordem já foi dada. Quem divergir, será humilhado em público com as piores ofensas. No dia seguinte, a mídia irá fazer críticas delicadas à compostura do ministro, mas sempre concluindo que ele está com a razão.
O esforço de Lewandowski para debater os embargos é o último lampejo de independência e lucidez de um STF vergado, chantageado e humilhado pelo poder da mídia. O ex-presidente do STF nem terminou sua gestão e assinava prefácio do panfleto golpista de Merval Pereira, principal âncora político da Globo. O atual presidente, Joaquim Barbosa, acaba de empregar seu filho na Globo. Tá tudo dominado.
Eu gostaria apenas de pontuar uma coisa. Os barbosianos chamam de chicana a tentativa de Lewandowski para levar adiante um julgamento mais ponderado. Um julgamento em que os réus não sejam considerados inimigos, mas seres humanos com direito a magistrados imparciais, fiéis aos valores democráticos e humanistas da nossa Constituição.
Como os barbosianos qualificariam as desculpas grotescas da Globo para não pagar seus impostos?
O que pensa Miriam Leitão, Merval Pereira e outros globais, das chicanas de baixíssimo nível, quase caricaturais, usadas pela Globo para fugir ao pagamento dos tributos que sustentam a educação e saúde pública dos brasileiros?
Nem me refiro ao “crime contra ordem tributária”, conforme definiu Alberto Sodré Zile, quando dá a palavra final sobre a sonegação da Globo.
Estou me referindo à chicana da Globo, quando a Receita pede que a empresa se explique. Uma chicana ridícula. Ao invés de se retratar humildemente e pagar seu débito, a empresa tenta uma manobra decididamente hilária: diz que a dívida era da TV Globo, e não da Globo Comunicações. Sim, é isso mesmo.
É que a TV Globo e a Globopar se fundiram em 2005, no bojo dos esforços do grupo para acertar suas contas na praça, depois que levara uma dura de um juiz de Nova York ao final do ano anterior. E daí nasceu a Globo Comunicação e Participações.
Trata-se da chicana mais cara de pau que jamais uma empresa cometeu na história mundial das sonegações. Autuada pela Receita porque não pagou os impostos da compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002, a Globo disse que a dívida era da TV Globo, não dela. É como se eu mudasse meu nome para Joaquim Barbosa e dissesse a meus credores que não lhes devo mais nada, porque a dívida deles era com Miguel do Rosário. É como se o Fora do Eixo mudasse seu nome para Dentro do Eixo, e nunca mais pagasse aquele restaurante de Cuiabá que apareceu na Folha.
Pausa para rir durante três meses.
Essa é genuinamente boa. Devo, não nego, mas não pago porque eu não sou mais eu.
A Globo inaugurou a chicana esquizofrênica!
E Miriam Leitão e cia ainda querem dar lição de moral à Lewandowski! E por que? Porque ele está tentando evitar que os réus sejam massacrados num tribunal de exceção, esse teatro ridículo dirigido pela Globo, no qual os ministros agem qual marionetes sem personalidade.
Olha que eu citei apenas uma de várias chicanas que a Globo tentou usar para ludibriar a Receita. Todas são ridículas e todas foram rejeitadas magistralmente pelos auditores da Receita Federal.
Continuação.
Além da chicana, eu e o Fernando Brito, do Tijolaço, inspirados na dupla que investigou o Watergate, estamos investigando uma outra ação “protelatória”. O roubo do processo. Segundo o Ministério Público, o roubo teve como objetivo “obstar o desdobramento da ação fiscal que nele se desenvolvia, cujo montante ultrapassava 600 milhões de reais”.
É uma chicana atrás da outra.
Os réus da Ação Penal 470 estão lutando, com ajuda dos autos, para mostrar aos ministros do STF que houve erros grosseiros no julgamento, porque ele foi feito às pressas, sob grande pressão da mídia. Documentos foram ocultados deliberadamente (como o Laudo 2828, e o contrato da Visanet), pelo procurador e pelo então relator do processo, Joaquim Barbosa. Não houve um debate satisfatório. Os embargos, por isso mesmo, são necessários, e os debates precisam se dar com serenidade, como deveria ser qualquer debate em que a vida e a honra de cidadãos estão em jogo.
As chicanas da Globo, por sua vez, são ações desprezíveis de uma concessão pública, que recebe bilhões de reais da Secom e de todos os governos, para não pagar o seu maldito imposto de renda!
É inacreditável que um empresa chicaneira, sonegadora e golpista pretenda dar lição de moral à mais alta corte do país. E mais incrível ainda que os ministros se curvem às suas ameaças e chantagens!
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