Alckmin é o novo alvo das ruas
"Os tucanos engoliram o seu próprio veneno. Após certa perplexidade, o PSDB decidiu apostar nos protestos de rua como forma de sangrar a presidenta Dilma Rousseff. Na semana passada, porém, as manifestações se voltaram contra o governador paulista Geraldo Alckmin. Duas marchas tomaram o centro da capital paulista exigindo apuração do escândalo do propinoduto tucano – que garfou mais de 450 milhões dos cofres públicos. Outro protesto, agora marcado pelo Movimento Passe Livre (MPL), está agendado para 14 de agosto e já está agitando as redes sociais. Temendo o “clamor das ruas”, o governo tucano e sua mídia já mudaram de postura.
O primeiro protesto ocorreu na quinta-feira e reuniu cerca de 300 pessoas. Houve choque com a polícia e cinco ativistas foram presos. Já a segunda manifestação, batizada de “Ocupe Alckmin”, ocorreu na sexta-feira e mobilizou mais de 500 jovens. Após ocuparem a Avenida Paulista, os manifestantes se dirigiram para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde exigiram a instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias do propinoduto tucano. Eles ainda prestaram solidariedade ao povo carioca e pediram a renúncia do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ). A repressão policial também foi violenta, resultando em 18 prisões.
Segundo relatos da imprensa, o clima na Alesp ficou bastante tenso. A Força Tática da Polícia Militar usou escudos, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. O local foi cercado por grades na entrada e madeiras nas vidraças, tudo para cercear o protesto dos jovens que exigia transparência nas contas do transporte público e cobrava explicações sobre a denúncia de formação de cartel nos contratos do metrô. “Cabral e Alckmin, desculpas não limpam as fichas”, dizia uma das faixas. Um jovem ficou ferido após ser atingido com cassetete na cabeça. Outro teve ferimento no supercílio e foi levado em carro da PM ao hospital e, na sequencia, para a delegacia.
A própria Folha tucana reconheceu que a “PM endurece tática contra manifestantes”. Diferente do ocorrido nas marchas com pautas mais difusas, “presos em protesto contra Alckmin são acusados de formação de quadrilha, medida que retarda a libertação dos suspeitos”. O governador Geraldo Alckmin também voltou a endurecer o seu discurso. “Não é possível tolerar vandalismo”, esbravejou. Ele ainda justificou a truculência da polícia, “que agiu na medida correta”. Sobre as denúncias de desvios de milhões de reais dos cofres públicos nas obras do Metrô, um estafeta do governo tucano preferiu criticar o “uso político” das denúncias.
A mudança de postura também já se expressa na mídia tucana. Os manifestantes voltam a ser chamados de “vândalos” e “baderneiros” e a ação repressiva da polícia é sempre justificada. Nas fotos dos jornais e imagens da tevê nada de pessoas alegres, pintadas de verde e amarelo, mas somente cenas de depredação. “A PM vai analisar imagens de câmeras de segurança para identificar os vândalos”, alerta a Folha tucana. Pelo jeito, o ato marcado pelo MPL para 14 de agosto já preocupa as forças conservadoras de São Paulo. De pedra, os tucanos e a mídia que blinda as suas maracutaias podem virar vidraça!"
Fonte: Blog do Miro
CASO SIEMENS
Uma manchete diversionista
Por Luciano Martins Costa em 03/08/2013 na edição 757
no Observatório da Imprensa, sugerido pelo Francisco Niteroi, via blog do Miro
"Às vezes, para não dizer o essencial, a imprensa precisa dizer alguma coisa. Parece ser esse o sentido da manchete da Folha de S. Paulo na edição de sexta-feira (2/8): “Governo paulista deu aval a cartel do metrô, diz Siemens” – é o que anuncia o título principal do jornal, no alto da primeira página.
A reportagem é a primeira manifestação relevante de um dos três diários de circulação nacional sobre a confirmação do esquema de propinas que, durante pelo menos quinze anos, condicionou as contratações de obras e compras de equipamentos para o sistema do metrô e dos trens metropolitanos na capital paulista.
A escolha editorial pode induzir o leitor desatento a concluir que o jornal decidiu finalmente encarar a fartura de evidências sobre um estado permanente de corrupção no governo de São Paulo, cujas consequências podem ser claramente percebidas na insuficiência das linhas de transporte sobre trilhos, no atraso de obras e no custo excessivo do sistema, que acaba repercutindo no preço das tarifas por décadas à frente.
Pelo que se lê na Folha, tudo não passou de um ajuste feito por assessores de um governador que já faleceu, Mário Covas, num contexto em que o acordo entre concorrentes seria a maneira mais prática de resolver rapidamente a disputa entre as empresas candidatas ao contrato.
Em geral, o leitor se distrai com a narrativa e deixa escapar o discurso subliminar presente no texto jornalístico. Então, vejamos: no caso da manchete da Folha, a narrativa nos diz que os documentos apresentados a autoridades brasileiras pela empresa alemã Siemens afirmam que o governo de São Paulo, no tempo de Mário Covas, autorizou a formação de um cartel de multinacionais e empresas brasileiras para cumprir a licitação referente a obras do metrô.
Segundo a reportagem, o conluio teria começado em 2000 e prosseguido nas gestões de Geraldo Alckmin, que era vice de Covas, e de seu sucessor, José Serra. O cartel passou a dominar todos os projetos de metrô e trens metropolitanos, gerando custos sempre maiores.
Em apenas uma licitação, para manutenção de equipamentos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, foi possível aumentar os preços em 30%, segundo depoimento de um executivo da empresa alemã. Mas, para o governo de São Paulo, a licitação viciada era a melhor solução, por “dar tranquilidade na concorrência”.
Santa inocência!
Uma das táticas mais corriqueiras na prática jornalística, quando não se quer alimentar polêmicas em torno de determinado assunto, é antecipar uma versão moderada do tema, delimitando a priori certas condições para sua interpretação. Essa adesão condicional quase sempre anula a atenção crítica dos leitores, dando a entender que o veículo não está se omitindo ou tentando encobrir alguns eventos, que preferia não ver transformados em escândalo.
Esse parece ser o caso da abordagem que faz a Folha ao esquema de pagamento de propinas que está ligado ao caso do cartel.
O cartel, que agora é admitido oficialmente, funciona há mais de treze anos, tempo citado pelo jornal – porque, na verdade, o acerto entre o governo paulista e seus fornecedores começou pelo menos em 1998, conforme se pode apreender em reportagens anteriores, publicadas quando outra empresa do cartel, a francesa Alstom, foi acusada de pagar propinas a políticos do PSDB.
Não há como relativizar as responsabilidades de todos os governadores do período – a tese do domínio de fato, afirmada pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado, há de se aplicar democraticamente, ou não?
A Folha diz que procurou ouvir o ex-governador José Serra, mas ele “não foi localizado”. O atual governador, Geraldo Alckmin, responde que tudo não passou de um acerto entre as empresas concorrentes, sem participação de funcionários do governo – e de repente o senso crítico do jornal fica obnubilado pelas palavras mágicas do chefe do governo paulista.
Então, estamos combinados: o governo de São Paulo faz uma sucessão de licitações para comprar trens e sistemas de controle de tráfego, tratar da manutenção dos equipamentos, durante quinze anos, e nunca desconfia que os preços são acertados previamente entre os fornecedores?
O jornal que se considera o mais aguerrido do Brasil, cujos repórteres, em outras ocasiões, se dispõem a vasculhar o lixo de agentes públicos, aceita candidamente essa ingenuidade toda.
Não passa pela cabeça dos editores mandar investigar se a mesma bondade com o dinheiro público não se estendeu também para as obras de túneis, instalação de trilhos, construção de estações, como tem sido diligente e devidamente feito no caso dos estádios que estão sendo construídos para a Copa de 2014.
Como diria o parceiro do Batman: “Santa inocência!”"
2 comentários:
MP negocia delação premiada para comprovar propina no cartel dos trens
Acordo com executivos da Siemens permitiria identificar pagamentos a agentes públicos no processo de compra e manutenção de trens para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e para os metrôs de São Paulo e do Distrito Federal
Bruno Ribeiro e Marcelo Godoy
O Ministério Público Estadual (MPE) está negociando um acordo de delação premiada com os executivos da Siemens para obter provas de supostos pagamentos de propinas a agentes públicos no processo de compra e manutenção de trens para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e para os metrôs de São Paulo e do Distrito Federal. As suspeitas recaem sobre contratos assinados entre 1998 e 2007.
A proposta foi feita para um grupo de advogados que defende os seis executivos da Siemens durante uma reunião que contou com a participação de quatro promotores que apuram o caso. Eles devem começar a ouvir o depoimento dos quatro brasileiros e dois alemães que relataram ao Conselho Administrativa de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, as tratativas para a formação do cartel dos trens que atuou em pelo menos cinco licitações. A Siemens e seus executivos estão colaborando.
A negociação para que a Siemens concordasse em denunciar o cartel começou em 6 de março de 2012 e estendeu-se até o fechamento do chamado acordo de leniência, em 22 de maio passado, em São Paulo. A investigação do Cade ainda resultou na abertura de dois inquéritos pela Polícia Federal.
Por meio do acordo, a empresa e os executivos se livram de sanções por causa da formação do cartel - em troca da plena colaboração com a Justiça. As empresas acusadas no caso podem ser obrigadas a ressarcir os prejuízos causados aos cofres públicos. Além disso, podem receber multa de até 20% do faturamento da companhia.
Prejuízo. O Estado mostrou que o prejuízo aos cofres públicos causado pela atentado à livre concorrência pode ter chegado a R$ 557 milhões ou 30% do valor dos contratos assinados - R$ 1,925 bilhão em valores atualizados. Em nota, a Siemens informou que "desde 2007, tem feito grandes esforços para aprimorar seus programas de compliance em todo o mundo, tendo implementado um novo e eficaz mecanismo de controle e investigação". A nota prossegue afirmando que "como resultado de seus esforços, a Siemens alcançou pontuação de 99% no Índice de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI)".
Por fim, ela diz que "no Brasil, após extensa avaliação, a Siemens foi uma das quatro primeiras empresas a receber o Selo Ético (Cadastro Empresa Pró-Ética) em 2010, concedido pela Controladoria-Geral da União".
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