Ontem a Apple lançou o iPhone 5, logo depois do lançamento do novo iPad e dos novos iPod nano e iPod touch. E não esqueçamos do recente MacBook Pro...
Seria injusto não reconhecer a genialidade (ou quase) do falecido Steve Jobs.
Seria injusto imputar à Apple o conceito de “obsolescência programada” (criado por volta de 1920).
Seria injusto colocar a Apple como símbolo máximo da “necessidade de status” (já abordamos aqui no blog o livro do filósofo Alain de Botton).
Mas convenhamos que talvez seja essa empresa a que mais representa mesmo algumas das questões levantadas no ótimo artigo do Professor José Pio Martins, publicado originalmente em janeiro deste ano.
Mas se outras tiverem a chance farão o mesmo. Sempre fazem.
Estamos então aproveitando a oportunidade do lançamento da nova versão do famoso Smartphone (que eu não tenho) para lançar o assunto para reflexão. Os destaques em negrito são meus. Mas não estou fora dessa. Me considero - infelizmente - inserido no contexto do consumo. Quase todos estão, de uma forma ou de outra. Exageradamente ou não.
E se não tenho o iPhone tenho um Galaxy Ace da Samsung que imita o dito cujo (com sistema Android da Google) e é mais barato...
Tal tema me faz lembrar de um amigo gaiato (ainda bem que tenho amigos engraçados) que juntou os termos iPhone e iPod e criou o iPhode! : )
Seria injusto não reconhecer a genialidade (ou quase) do falecido Steve Jobs.
Seria injusto imputar à Apple o conceito de “obsolescência programada” (criado por volta de 1920).
Seria injusto colocar a Apple como símbolo máximo da “necessidade de status” (já abordamos aqui no blog o livro do filósofo Alain de Botton).
Mas convenhamos que talvez seja essa empresa a que mais representa mesmo algumas das questões levantadas no ótimo artigo do Professor José Pio Martins, publicado originalmente em janeiro deste ano.
Mas se outras tiverem a chance farão o mesmo. Sempre fazem.
Estamos então aproveitando a oportunidade do lançamento da nova versão do famoso Smartphone (que eu não tenho) para lançar o assunto para reflexão. Os destaques em negrito são meus. Mas não estou fora dessa. Me considero - infelizmente - inserido no contexto do consumo. Quase todos estão, de uma forma ou de outra. Exageradamente ou não.
E se não tenho o iPhone tenho um Galaxy Ace da Samsung que imita o dito cujo (com sistema Android da Google) e é mais barato...
Tal tema me faz lembrar de um amigo gaiato (ainda bem que tenho amigos engraçados) que juntou os termos iPhone e iPod e criou o iPhode! : )
O Padrão Steve Jobs é Predador
"Vou nadar contra a correnteza. Afirmo que o modelo de consumo imposto por Steve Jobs é predador e prejudicial ao futuro da humanidade. A morte de Steve elevou-o à condição de mito e chegaram a compará-lo a Leonardo da Vinci. Ele era um gênio da engenharia, disso não discordo. Mas penso que sua obsessão quase louca por lançar um produto e, alguns meses depois, relançá-lo com melhorias marginais, e seu êxito em conseguir convencer multidões a substituí-lo compulsivamente em período curto contribuíram para a exploração irracional e destrutiva dos recursos ambientais.
Debati esse assunto em uma mesa-redonda na qual o palestrante louvava Steve Jobs como um ser quase extraterrestre, um deus que estaria propiciando aos humanos um patamar superior de vida na Terra. Jobs ofereceu coisas novas e boas, sem dúvida; mas também contribuiu para o consumismo predador.
"Por que milhões de pessoas estão descartando aparelhos novos, diminuindo o tempo de vida dos produtos e adquirindo modelos novos com pequenas melhorias?"
Antes, é preciso esclarecer um ponto: há inovações que são caracterizadas como “saltos tecnológicos”, enquanto outras, não. A evolução da abreugrafia (o raio X) para a ressonância magnética; da máquina de escrever para o computador; do telefone fixo para o celular; da carta para o e-mail, a invenção da internet… todos esses são exemplos de saltos tecnológicos geniais e extremamente úteis à humanidade. Mas sair de um iPad 1 para um iPad 2 não é salto tecnológico algum, são apenas melhorias marginais na mesma tecnologia e no mesmo produto.
Fiz, ao palestrante, a seguinte pergunta: “Diga-me em que a humanidade se torna superior por adquirir um iPhone e, antes de dominar e usar 20% de seus recursos técnicos, substituir pelo modelo 2, comprar o modelo 3 em mais seis meses… o modelo 4… o modelo 5…?”. Na realidade, afirmei, nada há de superior nisso, e o descarte de produtos praticamente novos está causando destruição de recursos naturais, aumentando o lixo mundial e colocando a humanidade em um beco capaz de comprometer a vida de nossos filhos e das gerações seguintes.
Há pessoas que compraram o iPad 1, exploraram uns 5% de sua capacidade, jamais leram um único livro em seu leitor eletrônico e, eufóricos, compraram o iPad 2 apenas meio ano depois. E irão comprar o iPad 3, o iPad 4 e quanto mais houver. E precisam disso? Não. Não precisam e não usam 80% do equipamento. Por que milhões de pessoas estão descartando aparelhos praticamente novos, diminuindo o tempo médio de vida dos produtos, e adquirindo modelos novos do mesmo, praticamente iguais, com pequenas melhorias marginais? É apenas fruto de desejo, ansiedade, consumismo e exibicionismo, vícios que são antigos. Na obra Satiricon, escrita por Petrônio na época do Império Romano, o milionário diz: “Só me interessam os bens que despertam no povo a inveja de mim por possuí-los”. Karl Marx voltaria ao assunto, para dizer que “o fetiche da mercadoria vai transformar todas as relações sociais em mercadoria”.
A indústria programa desgastes artificiais dos produtos e provoca sua obsolescência em períodos curtos, como forma de obrigar os mesmos consumidores a uma reposição mais rápida. Ao constatar que a troca de uma peça simples de seu aspirador de pó custava quase o mesmo preço de um aspirador novo, a professora italiana Giovanna Micconi, doutorando em Harvard, afirmou que “algo de muito errado está acontecendo com nossa sociedade”.
O caso do aspirador de pó é uma situação que deixa o consumidor meio sem alternativa. Porém, as versões novas de telefones, televisores, carros, computadores, tablets e até de roupas nos levam a entrar na onda de trocar o tempo todo apenas pela angústia de comprar. E há um sério agravante: grande parte dos consumidores está comprando tudo isso não com renda, mas com dívidas.
O economista Eduardo Gianetti deu entrevista indignado com a incapacidade da economia de mercado (da qual ele e eu somos fãs) em levar em conta o custo ambiental de nossas escolhas de produção e consumo. Ele fala da “corrida armamentista do consumo”, que, com mais bilhões de chineses e indianos ingressando no mercado consumidor, vai explodir os recursos do planeta. A Terra não vai aguentar.
O abacaxi está posto para a humanidade e esse padrão de consumo, do qual Steve Jobs é um símbolo, não é sustentável. A genialidade e as inovações são úteis; o consumismo que elas estão moldando é trágico."
Fonte: Professor José Pio Martins
Um comentário:
Muito bom. Concordo com tudo.
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