Frei Betto: A face nazista da ditadura
Rio - A notícia é estarrecedora: militantes políticos envolvidos no combate à ditadura tiveram seus corpos incinerados no forno de usina de cana-de-açúcar em Campos, entre 1970 e 1980. A revelação é do ex-delegado do Dops do Espírito Santo Cláudio Guerra, hoje com 71 anos. O regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985, merece, agora, ser comparado ao nazismo.
Segundo seu depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro ‘Memórias de uma guerra suja’, no forno da usina Cambahyba — de propriedade de Heli Ribeiro Gomes, ex-vice-governador do Rio e já falecido —, foram incinerados Davi Capistrano, Ana Rosa Kucinski Silva e Wilson Silva, João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, João Massena Melo, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Eduardo Collier Filho e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira.
Guerra assume ter assassinado o militante Nestor Veras em 1975. E aponta os agentes que teriam executado três dirigentes do PCdoB, em 1979.
Guerra fala a verdade ou mente? Tudo indica que o ex-delegado não se limitou à repressão política. Em 1982, foi condenado a 42 anos de prisão pela morte de um bicheiro, dos quais cumpriu 10 anos. Foi condenado também a 18 anos por assassinar sua mulher, com 19 tiros, e a cunhada. Ele alega inocência nos três casos.
O Brasil é o único país da América Latina que se recusa a punir aqueles que cometeram crimes em nome do Estado, entre 1964 e 1985. O pretexto é a Lei da Anistia.
Ora, como anistiar quem nunca foi julgado e punido? Nós, as vítimas, sofremos prisões, torturas, exílios, assassinatos. E os que provocaram tudo isso merecem o prêmio de uma lei injusta e permanecer imunes e impunes como se nada houvessem feito?
Frei Betto é escritor, autor de ‘Diário de Fernando: nos cárceres da ditadura militar brasileira’
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