2 de maio de 2012

Um retrato da angústia que vale US$ 120 milhões

Se o impressionismo sensibiliza pelas paisagens, uso de luz e cores, o movimento expressionista atinge seus objetivos ao utilizar de forma diversa a figura humana desnudada de suas máscaras sociais.
Uma tentativa de demonstrar pictoricamente as emoções mais profundas do personagem e da sociedade.
De tantas obras a que mais consegue expressar uma sensação viva, facilmente captável é "O Grito" do norueguês Edvard Munch.
Quem viu o noticiário da noite já está sabendo que a melhor versão da obra (Munch pintou quatro em 1893) foi vendida por 120 milhões de dólares, tornando-se a obra mais cara já negociada.
Mas porque tanta fama e um preço tão alto?
Munch conseguiu retratar não só a angústia humana, as questões existenciais, a sua própria angústia. Retratou antecipadamente o "mal estar da modernidade" que só seria percebida mais claramente cem anos depois.
Vale essa grana. Eu até tentei comprar, mas a Sotheby's (que fez o leilão) não aceitou as minhas condições de pagar em 120 mil anos.
Tudo bem. O comprador fica com o quadro. Eu fico com a angústia, embora não seja muito de gritar.
Edvard Munch sobre sua inspiração: "Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza."


Uma interpretação mediana (da Wikipedia; poderia ser melhor, mas vale): "Vemos ao fundo um céu de (cores quentes), em oposição ao rio em azul (cor fria) que sobe acima do horizonte, característica do expressionismo (onde o que interessa para o artista é a expressão de suas ideias e não um retrato da realidade). Vemos que a figura humana também está em cores frias, azul, como a cor da angústia e da dor, sem cabelo para demonstrar um estado de saúde precário. Os elementos descritos estão tortos, como se reproduzindo o grito dado pela figura, como se entortando com o berro, algo que reproduza as ondas sonoras. Quase tudo está torto, menos a ponte e as duas figuras que estão no canto esquerdo. Tudo que se abalou com o grito e com a cena presenciada está torto, quem não se abalou (supostamente seus amigos, como descrito acima) e a ponte, que é de concreto e não é "natural" como os outros elementos, continua reto.
A dor do grito está presente não só na personagem, mas também no fundo, o que destaca que a vida para quem sofre não é como as outras pessoas a enxergam, é dolorosa também, a paisagem fica dolorosa e talvez por essa característica do quadro é que nos identificamos tanto com ele e podemos sentir a dor e o grito dado pelo personagem. Nos introjetamos no quadro e passamos a ver o mundo torto, disforme e isso nos afeta diretamente e participamos quase interativamente da obra."

Um comentário:

ImnSônia disse...

Esse é de verdade um retrato real do nosso tempo.