Acho que qualquer pessoa que tem perfil em alguma rede social e aplicativos semelhantes (como Facebook, Twitter, WhatsApp, etc.) já percebeu que muitas amizades se perderam.
Parece que buma parte se transforma em fundamentalista. Ou já era e se solta das amarras.
O texto abaixo, postado no jornal O Tempo, trata disso.
Depois das eleições muitos ressentimentos permanecerão ou haverá uma amnésia em massa, tipo quase ninguém comentar mais Alemanha 7 x Brasil 1?
Amigos, amigos; eleição à parte
Período eleitoral tem motivado ataques pesados entre amigos, principalmente nas redes sociais
Por LARISSA VELOSO
"A revelação, na última semana, de que a saída do fotógrafo uruguaio César Charlone da produtora do cineasta Fernando Meirelles se deu por motivos políticos colocou mais lenha na fogueira das discussões eleitorais. Parceiros há dez anos nos sets de filmagens, Charlone apoia Dilma Rousseff (PT), enquanto Meirelles atuou como consultor de Marina Silva (PSB) no primeiro turno. Nesta segunda parte do pleito, o cineasta não apoia ninguém.
A discordância entre os dois aconteceu em março, mas retrata algo comum no fogo cruzado das eleições: os desentendimentos por causa de política, que tomaram conta, principalmente, das redes sociais. “O clima está muito acirrado, como nunca esteve. São coisas absurdas. Há discussões em que tem argumento de lá, argumento de cá e, de repente, alguém manda o outro ir tomar naquele lugar”, comenta a coordenadora do Centro de Convergência de Novas Mídias da UFMG, Regina Helena. O resultado, muitas vezes, são amizades rompidas.
O grupo das amigas Ana Paula e Kenia, por exemplo, criado na rede de mensagens WhatsApp para reunir os velhos colegas de faculdade, ia muito bem até o primeiro turno das eleições se aproximar. “Começou um monte de bobagem. As pessoas começaram a postar montagens e charges sobre candidatos. As coisas foram colocadas de tal forma que não era um debate. Era como se fossem duas torcidas de futebol”, conta a bancária Ana Paula Canela, 30.
“E o pior é que ambos os lados falavam mal do candidato oposto, para evitar que você votasse em tal pessoa”, relembra a relações-públicas Kenia Mara de Miranda, 35. O que antes era um lugar para conversas de amenidades entre amigos virou palco de um verdadeiro “Atlético x Cruzeiro”. O resultado foi que Ana Paula e Kenia deixaram o grupo, seguidas por vários outros.
O empresário do ramo de informática e militante de longa data José Célio Gabriel Martins, 61, também já viu alguns amigos virarem as costas nas redes sociais. “Sou excluído na tréplica”, afirma, sobre os debates com amigos que apoiam o partido oposto ao dele no Facebook. Ele, no entanto, diz não se importar com a perda de audiência. “Nas redes sociais, o debate é intenso. Se eu tiver tempo de ficar 24 horas por dia no Facebook, eu fico. E 99% dos meus posts são políticos”, atesta José Célio.
De acordo com a coordenadora do curso de Gestão de Campanhas Políticas na Internet da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Luciana Salgado, o ambiente virtual acaba liberando algumas amarras. “Como na web a pessoa se sente mais livre, ela acaba perdendo os filtros. Se estivesse dentro de um bar, pessoalmente, seriam obrigadas a manter a polidez”, afirma.
Da paz. Mas, em meio às discussões, há também quem consiga manter as amizades, como é o caso do historiador Mauro Teixeira, 40. Ele conta que já teve discussões pesadas sobre política com os amigos, mas que, no geral, a conversa termina bem. E já até aconteceu de a relação terminar melhor do que antes. “Outro dia, no Twitter, comecei uma conversa meio áspera com um cara que não conheço, e, no fim, estávamos conversando feito gente. Ele não mudou o voto dele, nem eu mudei o meu, mas a conversa ficou em bons termos”, relembra."
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