Raras vezes, na história da humanidade, um país se deixou cegar tanto pelo ódio político, pela intolerância e pela mentira, sendo tão vilipendiado por sua própria elite. Agora, que as eleições acabaram, relembre: o Brasil é exemplo global no combate à fome, tem a menor taxa de desemprego de sua história, uma nova classe média pujante, que adensa um dos maiores mercados de consumo de massa do mundo, e uma presidente revigorada pela vitória nas urnas; além disso, está prestes a se tornar um dos grandes produtores globais de petróleo, não há descontrole inflacionário e os ajustes necessários na economia são bem menos severos do que se apregoa; por último, mas não menos importante, o Brasil NÃO é bolivariano!; um bom Dilma a todos.
Artigo de Leonardo Attuch
"O Brasil amanhece, nesta segunda-feira, não muito diferente do que foi nos últimos dias, semanas e anos de governo Dilma – uma aposta renovada pelo eleitor brasileiro para os próximos quatro anos. O desemprego continua a ser um dos mais baixos da história, a inflação não está fora de controle e transformações estruturais, como o avanço na exploração do pré-sal, continuam em curso.
No entanto, raras vezes, na história da humanidade, um país foi tão vilipendiado e rebaixado por sua própria elite. Como jamais se viu, uma sociedade se permitiu cegar pelo ódio político, pela intolerância e pela mentira. Para citar apenas um caso, o dirigente de uma consultoria financeira lançou um livro intitulado "O Fim do Brasil", profecia que se realizaria em caso de reeleição da presidente Dilma. A julgar por seu catastrofismo, que foi levado a sério por alguns agentes do mercado financeiro, esta segunda-feira seria o "dia em que a terra parou", como diria Raul Seixas.
No entanto, basta abrir os olhos – sim, abrir os olhos, após a cegueira e a histeria das últimas semanas – para enxergar uma realidade bem diferente. O Brasil fechará o ano com a inflação dentro dos limites da meta pelo décimo ano consecutivo, com uma dívida interna estável, embora a situação fiscal seja menos confortável do que no passado, e com uma população que volta a confiar no futuro – este, um dos dados mais importantes das últimas pesquisas. Quando as pessoas acreditam que irão manter seus empregos e seu poder de compra, o motor do consumo e do crédito se mantém ligado e a pleno vapor.
Se há a necessidade de ajustes na economia, eles já são reconhecidos pelas autoridades, em Brasília. Especialmente em alguns setores, como o do etanol, que foi prejudicado pela contenção dos preços dos combustíveis e será beneficiado com a volta da Cide – um importo que tornará o álcool mais competitivo na bomba. A boa notícia é que os ajustes necessários são bem menos severos do que se apregoa – 2015, ao contrário do que muitos imaginam, não será o ano da catástrofe anunciada.
Passadas as eleições, é também a hora de superar antagonismos, divisões e retomar o diálogo. Em vez de enxergar o copo meio vazio, é hora de encarar a metade cheia, repleta de avanços. O Brasil é hoje reconhecido pelas Nações Unidas como exemplo global no combate à fome e às desigualdades sociais. É também um país montado num caminhão de reservas internacionais, capazes de amortecer qualquer crise internacional. E que, com sua nova classe média, possui um dos maiores mercados de consumo do mundo, que irá continuar recebendo investimentos por muitos e muitos anos.
Se isso não bastasse, o pré-sal, de onde se extraem mais de 500 mil barris de petróleo/dia, já não é mais uma promessa. É realidade concreta e palpável. Aliás, se o Brasil foi rebaixado e vilipendiado por sua elite, que daqui extrai suas fortunas, o que dizer, então, da Petrobras? Relatórios das agências internacionais de energia, feitos por quem realmente entende do setor, a apontam como uma das empresas de maior crescimento projetado para os próximos anos. Depois dos investimentos, virá a colheita. E o Brasil, que viveu agudas crises no balanço de pagamentos no passado, em razão de sua dependência energética, tem tudo para se transformar num dos grandes exportadores globais de petróleo – como já é no setor de alimentos.
Dilma venceu as eleições porque, em algum momento, os eleitores – e não apenas os supostamente mal-informados, como diria FHC – se deram conta de que a propaganda negativa não correspondia à realidade. Será mesmo que o Brasil dos novos aeroportos, das usinas do Rio Madeira e da hidrelétrica de Belo Monte é mesmo "um cemitério de obras inacabadas"? Aliás, o que aconteceu com o apagão elétrico previsto no início de 2014? E a Copa do Mundo? Por onde andam os arautos do #naovaitercopa? Se tiverem bom senso, depois de o Brasil ter realizado a melhor de todas as Copas – fato que, infelizmente, ficou ausente da campanha eleitoral – não farão o mesmo discurso terrorista em 2016, ano dos Jogos Olímpicos.
O Brasil que emerge dessas eleições também tem uma possibilidade única de enfrentar a corrupção. Depois de tantos escândalos, todos eles associados ao financiamento privado de campanhas políticas, o País se vê diante da oportunidade histórica de aprovar a reforma política, tornando as disputas eleitorais menos dependentes do poder econômico. E a presidente Dilma, sem uma reeleição pela frente, e reconhecida como honesta por seus próprios adversários, é a pessoa ideal para levar esse desafio adiante. "Estou pronta a responder a essa convocação. Sei do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares. E eu o farei", disse ela ontem, em seu discurso da vitória. Um discurso preciso – e de arrepiar.
Por último, mas não menos importante, há que se dizer com todas as letras. Apesar de toda a histeria e toda a estridência dos nossos neoconservadores, o Brasil não é bolivariano. Aliás, o próprio PT é um partido que, há muitos anos, fez um escolha. Optou pelo caminho democrático – e não revolucionário. O Brasil é um país capitalista, que respeita a propriedade e os contratos, e que, neste caminho, promove a inclusão social. Aliás, a aposta na radicalização interessa apenas a pequenos grupelhos, que se alimentam do discurso do ódio. A estes, basta dizer que Miami é logo ali. À verdadeira elite brasileira, comprometida com o País, o que importa é seguir adiante, com mais igualdade e liberdade.
Como diria Eduardo Campos, não vamos desistir do Brasil. Até porque, depois de tantas mentiras e ataques, o Brasil ficou barato. É hora de comprar Brasil!"
* Leonardo Attuch é fundador e editor-responsável pelo 247
2 comentários:
Vitória por pequena margem impõe governo que busque apoio nas ruas
por Luiz Carlos Azenha no Viomundo
Foi uma vitória épica, à altura das biografias de Lula e Dilma.
Nunca antes na História deste país, diria o ex-presidente, tantas forças se juntaram, dentro e fora do Brasil, para derrotar eleitoralmente um projeto político.
Um projeto cheio de defeitos, insuficiente e sustentado por uma coalizão instável; porém, o projeto possível.
Em nossa modesta opinião, foi o sociólogo Jessé de Souza, no Estadão, quem melhor definiu a distinção dos modelos que estavam diante da sociedade brasileira:
O primeiro, que ainda é o dominante, foi gestado em outro momento decisivo de nossa história, um desses momentos raros em que a escolha entre caminhos alternativos possíveis se realiza e se congela depois em uma espécie de “destino” para as gerações futuras. Esse momento foi o golpe de 1964 e das forças que o apoiaram, que optou por construir um modelo de moderna sociedade de consumo para 20% da população. Essa opção histórica foi consolidada nos anos 1990 com o governo FHC. O segundo modelo representa o anseio das forças derrotadas em 1964 por uma sociedade mais inclusiva. Modelo esse que vingou na esfera política nos últimos 12 anos, ainda que longe de deter a hegemonia na esfera pública que constrói a “opinião pública” e, portanto, não detém o efetivo controle da prática econômica e social. Afinal, existem limites claros para um Estado reformador em meio a uma sociedade conservadora.
Felizmente, a esquerda brasileira percebeu com nitidez e clareza tal distinção e nas últimas semanas da campanha mesmo os críticos mais ferozes de Dilma fizeram questão de declarar publicamente sua opção por reelegê-la.
Eles perceberam, por exemplo, que estava em jogo nada mais, nada menos que o pré-sal e uma política externa com certo grau de autonomia, sem falar na prioridade em mitigar a histórica desigualdade econômica entre os brasileiros.
A pequena margem de vitória, no entanto, impõe a Dilma e à coalizão governista uma boa dose de cautela. A presidenta colocou como prioridade de seu segundo mandato a reforma política.
É certo que, de cara, terá margem para trabalhar com as ideias apresentadas na campanha que são praticamente consensuais na sociedade: a aprovação das leis de combate à corrupção, o reforço no sistema de defesa das mulheres contra a violência doméstica e a reforma do futebol, por exemplo.
Porém, Dilma cometerá um erro gravíssimo se insistir na ênfase ao “gerenciamento administrativo”. A crise econômica internacional e o fantasma das manifestações de junho impõem escolhas em que haverá perdedores. Por isso, o segundo mandato exige política com P maiúsculo.
Uma combinação de atuação eficiente no Parlamento com mobilização popular nas ruas.
Felizmente, para ela, a campanha de segundo turno revelou uma notável presença de jovens apoiadores dentre aqueles que levaram Dilma à vitória.
Basta olhar não apenas nos eventos da campanha, mas também nas estatísticas eleitorais, para descobrir que uma razoável parcela do eleitorado jovem, com sua energia transformadora, apostou em Dilma. Frustrá-los seria o maior pecado da presidenta reeleita.
Vitória por pequena margem impõe governo que busque apoio nas ruas (2)
por Luiz Carlos Azenha no Viomundo
No domingo da apuração, na GloboNews, antes mesmo do anúncio oficial dos resultados os comentaristas já “escolhiam” o futuro ministro da Fazenda: o ex-secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa.
Merval Pereira, a voz da Globo, duvidava que Aloizio Mercadante deixará a Casa Civil para comandar a economia. É óbvio que, não podendo escolher o presidente, a Globo quer ocupar o segundo cargo mais importante na hierarquia do Executivo.
É deste tipo de pressão da mídia que Dilma deverá se libertar de cara no segundo mandato.
Jamais saberemos quantos votos a tentativa de golpe eleitoral articulada pela revista Veja, com apoio de emissoras de rádio e TV, custaram à presidenta nas horas finais da campanha. Um dia a mais de campanha e talvez Dilma nem tivesse sido reeleita.
Se o foi, deve isso especialmente ao papel-chave do que um colega jornalista definiu como “a Ohio brasileira”, o estado de Minas Gerais, onde confirmou-se o que a própria campanha de Dilma vaticinara: quem conhece Aécio, não vota em Aécio.
Embora o papel do ex-presidente Lula tenha sido fundamental, a campanha do segundo turno serviu para revelar abertamente o espírito combativo de Dilma.
Tanto nos debates quando nos palanques, podemos dizer que ela “saiu da sombra” de seu antecessor. Reagiu com firmeza à tentativa de golpe de última hora.
Se faltava algo para que Dilma percebesse a necessidade de uma mídia eletrônica mais plural e menos monopolizada, esperamos que ela tenha se dado conta de que a regulação econômica do setor, agora, é tão fundamental quanto a reforma política.
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