Vale alguma coisa o debate de hoje? Nesta altura do campeonato, com a bala de lata da Veja ridicularizada e o crescimento da diferença numérica, o debate seria definidor de alguma mudança no quadro que se desenha? E o JN tem ainda alguma importância?
O importante da Globo é manter a calma e o clima
Por Fernando Brito
"Ao contrário do que dizem os “colunistas” de jornal, vale muito pouco o debate de hoje, na Globo, entre Aécio Neves e Dilma Rousseff.
A menos, claro, que algum deles cometa um deslize imperdoável, quase todos os que vão assisti-lo, salvo exceções sem peso estatístico, têm seu voto formado e consolidado.
O que vai valer, mesmo, mais que os argumentos e eventuais denúncias, é o clima que os candidatos transmitirão aos seus apoiadores e eleitores.
Tudo o que, ainda que de longe, denote nervosismo e desespero, será ruim.
Pode açular meia-dúzia de fanáticos, mas meia-dúzia de fanáticos não ganha eleição, embora possa fazer com que as se perca.
Não esperem, portanto, uma Dilma ousada e agressiva, pois o que lhe cabe é a serenidade de quem está vencendo.
Aécio está naquela situação de um time que levou uma virada, depois de fazer 1 a 0, sofreu três ou quatro gols e tem de decidir se vai lançar-se desesperadamente ao ataque, correndo o risco de levar mais um ou dois do adversário mesmo que mais acomodado, agora, ou administrar a derrota antes que ela se torne vergonhosa.
A menos que Aécio Neves seja um suicida, manda o bom senso que ele não “entre de sola” sobre Dilma Rousseff, hoje, porque não é possível que ele não tenha percebido que foi a agressividade que roeu – ao lado da memória de Fernando Henrique Cardoso – o favoritismo com que contava há duas semanas ou pouco mais.
Não sei se, premido pelas pressões políticas ou por desequilíbrio pessoal ou por alterações incomuns de ânimo, ele vai resistir a isso.
Acho provável que não resista.
O que sairá do debate desta noite será, essencialmente, o clima com que os apoiadores de Dilma Rousseff e de Aécio Neves forem contagiados, pelo próprio debate e por sua repercussão na imprensa.
Dilma tem um pouco menos a ganhar e bem menos a perder, vê-se pela consolidação dos seus votos radiografada pelo Datafolha.
Aécio, a esta altura, já tem pouco a ganhar e será uma vitória que apenas consiga estancar as perdas que vem sofrendo nos últimos dias. Candidato ladeira abaixo às vésperas de eleição – Aécio acabou de ver isso com a previsibilíssima decadência de Marina, na hora do voto – pode virar caminhão na ribanceira.
Apostar tudo numa improvável virada – a pesquisa Sensus que o aponta na frente, é apenas uma piada criminosa – pode levar a uma derrota absolutamente impensável dias atrás.
O povo brasileiro tomou o seu rumo e sua decisão.
O resto é choro de quem se achou dono dele."
Fonte: Tijolaço
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