Por Paulo Nogueira do Diário do Centro do Mundo
Aécio e os Perrelas |
Quer dizer, sorte sob o ângulo do tratamento que recebe da mídia.
Ele soube cultivá-la, é certo. Roberto Civita, por exemplo, não raro ia passar finais de semana na fazenda de Aécio, em Minas.
Pulitzer, o maior editor, disse que jornalista não tem amigo.
Isso porque amizades influenciam a maneira de um jornalista tratar alguém ou algum assunto.
Mas Aécio tem amigos entre os jornalistas. Ou melhor: entre os patrões dos jornalistas.
Como Churchill, ou como Serra, se quisermos ficar no Brasil, é daqueles que falam diretamente com os donos das empresas jornalísticas.
Pode evitar intermediários, os jornalistas propriamente ditos.
Poderosos desta natureza enfeitiçam os jornalistas das grandes companhias. Se telefonam, eventualmente, para um jornalista, em vez de ir direto ao patrão, o jornalista se sente desvanecido, homenageado, premiado.
Sou importante.
O jornalista premiado vai contar detalhes do telefonema a seu círculo de amizades, provavelmente com algum enfeite que o coloque numa posição mais elevada que a realidade.
Bem, tudo isso para explicar, a quem não conseguiu entender, por que Aécio vem sendo tão poupado no caso do helicóptero dos Perrellas.
Foi uma apreensão extraordinária de cocaína. Não é todo dia que a polícia apreende quase 500 quilos.
E isso se deu na ‘jurisdição’ de Aécio. Os Perrellas são amigos e aliados políticos de Aécio.
Há fotos que mostram a imensa camaradagem entre Aécio e os Perrelas, pai e filho. São unidos pela paixão ao Cruzeiro, do qual Perrella pai foi presidente, fora as conveniências políticas.
A pergunta vem sendo feita por muita gente na única e real tribuna livre jornalística nacional, a internet: e se o helicóptero fosse de um amigo de Dirceu? E se houvesse fotos de Dirceu com os Perrellas como as que existem de Aécio?
Como estaria se comportando o Jornal Nacional? E qual seria a próxima capa da Veja?
Causou indignação, na internet, a ausência da apreensão espetacular – pelo volume, pelos proprietários do helicóptero etc – no Jornal Nacional no dia em que o assunto surgiu.
O JN certamente terá outros jornalistas capazes de distinguir uma notícia que pede, suplica por 30 segundos de atenção ou mais.
Mas um telefonema ao dono pode evitar que qualquer reportagem vá ao ar. Ou, ao menos, pode retardá-la na esperança de que o assunto morra.
Quem acredita que a não inclusão do helicóptero foi uma decisão meramente jornalística do JN acredita em tudo, para parafrasear Wellington.
Não se trata de incriminar, levianamente, ninguém.
Mas a amizade entre Aécio e os Perrellas é notícia, e omitir isso ao tratar do assunto é um pecado jornalístico em que o leitor é a vítima.
Indiretamente, e por força da internet, brasileiros fora de Minas puderam conhecer um pouco mais da política mineira.
Perrella, o pai, é acusado de não declarar uma fazenda avaliada em 60 milhões de reais. A fazenda, apenas para efeito de comparação, representa cerca de 80% do total do Mensalão, tal como os juízes do STF e a mídia afirmaram.
Isto tem um nome: corrupção.
Aécio combateu a corrupção em Minas? Investigou uma história esquisita como a de seu amigo Perrella? Há denúncias dele que envolvem até a negociação de jogadores.
Mesmo o silêncio inexpugnável da mídia, mesmo a proteção dada a Aécio, mesmo com tudo que se faz e fez para impedir que os brasileiros tenham informações relevantes sobre seus líderes – mesmo com tudo isso, a sociedade aprendeu muita coisa no episódio do helicóptero.
Graças a algo que rompeu o monopólio da voz dos poderosos da mídia etc: a internet."
Um comentário:
‘Farinhaço’ na ALMG cobra apuração de droga em helicóptero de deputado
Grupo usou farinha em alusão à cocaína apreendida no ES. Gustavo Perrella (SDD) é dono da empresa que possui a aeronave.
Raquel Freitas
Do G1 MG
Um grupo de manifestantes se reuniu, na tarde desta quinta-feira (28), em frente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte, em um protesto contra a apreensão de um helicóptero da família do deputado Gustavo Perrella que carregava 445 quilos de cocaína. Na manifestação, que eles chamaram de “farinhaço”, eles pediram que seja plenamente investigada a apreensão da aeronave, feita pela polícia em uma fazenda no interior do Espírito Santo, no último domingo.
O comunicador Daniel Quintela se apresentou como “dono do helicóptero” que representava a aeronave de Perrella. Ele diz que o desejo dos manifestantes é que o Ministério Público e a polícia investiguem com imparcialidade o crime e que os reais responsáveis sejam punidos. “Estamos aqui para manifestar, para expor a poeira que estão tentando esconder debaixo do tapete”, disse.
No fim da tarde, o 1º secretário da ALMG, Dilzon Melo, recebeu uma comissão de manifestantes, representando a presidência da Casa. Os integrantes do ato cobraram a abertura de uma CPI para investigar “os danos que a família Perrella vem causando ao estado”.
Eles citaram outros episódios envolvendo a família, que foram objeto de investigação da polícia, como a fraude em licitações para compra de merenda. Em resposta, Melo citou as providências já tomadas pelo Legislativo e afirmou que, assim como os manifestantes, quer uma resposta sobre o caso, mas ressaltou que a ALMG não pode cometer injustiças.
A aeronave foi flagrada no domingo (24) em Afonso Cláudio, na Região Serrana do Espírito Santo, com 445 quilos de cocaína. Quatro pessoas foram presas, entre elas o piloto, que era, então, funcionário da empresa de Perrella e também servidor da Assembleia. Ele foi demitido e exonerado.
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reembolsa, por meio da verba indenizatória, ocombustível do helicóptero da empresa Limeira Agropecuária, de propriedade do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD). A informação está no Portal de Transparência da ALMG e foi confirmada pelo advogado da família, Antônio Castro, nesta quinta-feira (28).
Castro afirmou que o deputado usava a aeronave, em 90% das vezes, para o trabalho político. Os outros 10%, conforme o advogado explicou, eram para uso familiar e de lazer, e pagos particularmente. O advogado não falou sobre os destinos usados.
Entre janeiro e outubro deste ano, o parlamentar gastou R$ 14.078,31 com querosene para avião. Apenas nos meses de fevereiro e abril é que não foram feitos abastecimentos com a verba pública. Nos meses de junho e setembro, o deputado gastou cerca de R$ 3,5 mil, em cada mês, em combustível para o helicóptero.
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