Venezuela: a próxima vítima dos EUA
"O politólogo Moniz Bandeira, autor do livro A Segunda Guerra Fria advertiu que o que ocorre na Venezuela é produto da mesma estratégia aplicada nos países da Eurásia, na chamada “primavera árabe” e outra vez na Ucrânia. Segundo Moniz, autor de mais de 20 livros sobre as relações dos Estados Unidos com a América Latina e agora com a Europa e a Ásia, há um esquema de Washington para subverter os regimes, que foi aperfeiçoado, desde o governo de George W. Bush, e começa com o treinamento de agentes provocadores.
- Tais agentes infiltrados organizam manifestações pacíficas, com base nas instruções do professor Gene Sharp, no livro From Dictatorship to Democracy, traduzido para 24 idiomas e distribuído pela CIA e pelas fundações e ONGs. O objetivo é levar os governos a reagirem, violentamente, e assim poderem ser acusados de excessos na repressão das manifestações e de violar os direitos humanos etc., o que passa a justificar a rebelião armada, financiada e equipada do exterior e, eventualmente, a intervenção humanitária – explica o politólogo.
A estratégia, ainda segundo Moniz Bandeira, hoje residindo na Alemanha, consiste em fomentar o Political defiance, i.e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attaché School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e a mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente.
- Ela visa a solapar a estabilidade e a força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da força por meio da insurreição, mas provocando violentas medidas, a serem denunciadas como “overreaction by the authorities and thus discrediting the government”. A propaganda é “a key element of subversion” e inclui a publicação de informações nocivas às forças de segurança, bem como a divulgação de rumores falsos ou verdadeiros destinados a solapar a credibilidade e a confiança no governo, diz o politólogo brasileiro.
Trata-se do que o coronel David Galula definiu como “cold war revolutionary”, i.e., atividades de insurgência que permanecem, na maior parte do tempo, dentro da legalidade, sem recorrer à violência.
- Assim aconteceu na Sérvia, na Ucrânia, Geórgia e em outros países, pela Freedom House e outras ONGs americanas, que instigaram e ajudaram, com o emprego de ativistas, a impulsar as demonstrações na Síria, como expus, documentadamente, em a A Segunda Guerra Fria. Agora está sendo aplicada na Venezuela e, seguramente, tentam aplicar no Brasil com os black block.
As conclusões de Moniz Bandeira estão fartamente no livro A Segunda Guerra Fria, editado recentemente pela Editora civilização Brasileira, inclusive com edição em e-book nas diversas ofertas do mercado, como a Amazon.com
Sobre o livro
Os Estados Unidos por trás das revoltas da chamada Primavera Árabe e como mentor dos atos de terrorismo de Estado no Oriente Médio, são algumas das conclusões do novo livro do cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, há 17 anos residindo na Alemanha, e que chega ao Brasil sob o título “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos – Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e Oriente Médio”. É lançado pela Editora Civilização Brasileira, com prefácio do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Aprofundando e atualizando as questões apresentadas em “Formação do Império Americano”, seu último livro sobre a região, de 2005, traduzido até para o chinês, o autor de mais de 20 obras e considerado a maior autoridade na análise da influência da política norte-americana no Brasil e no continente, faz algumas revelações, nesta obra, que deixariam pasmado qualquer observador menos atento da cena internacional:
Luiz Alberto Moniz Bandeira |
Outros dados da operação afegã: ”A CIA forneceu em torno de 3,3 bilhões de dólares, dos quais pelo menos a metade proveio da Arábia Saudita. Mais de US$ 250 milhões fluíam mensalmente, para os mujahidin da Arábia Saudita e de outros países árabes… Entrementes, agentes do ISI e da CIA recrutavam e treinavam entre 16.000 e 18 mil mujahihin, aos quais Usamah (Osama) bin Ladin uniu um contingente de 35.000 árabes-afegãos. O MI6 (Secret Intelligenece Service), da Grã Bretanha, também colaborou na operação, apoiando, com equipamentos de rádio e instrutores, os mujahidin de Ahmad Shah Massoud (1953-2001), um sunita-afegão-tadjique que posteriormente comandaria a Aliança Norte contra os Talibãs”.
O livro, de 714 páginas, é muito minucioso e didático, mostrando, com abundantes mapas, gráficos e documentos confidenciais, cada uma das situações da região, abalada mais recentemente com as revoltas iniciadas na Tunísia, Líbia, Egito, Yemen e Síria. Cada episódio vem encadeado em capítulos sempre precedidos de resumo e de ementas. São exemplos as razões profundas da derrubada e do linchamento físico do ex-homem forte da Líbia, Muammar Gadaffi, , a resistência do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, e a impopularidade dos rebeldes sírios, por devastarem as cidades e o embuste dos direitos humanos, usado pelas grandes potências para justificar sua intervenção.
Quanto à Líbia, o livro relata a política de boa vizinhança tentada por Gaddafi, que incluiu a renúncia à energia nuclear, o restabelecimento de relações com Washington, Londres e Paris. Mas o que se viu em seguida foi “a revolução fabricada pelo DSGE da França, a matança de entre 90.000 e 120.000 pessoas, Gaddafi linchado, brutalizado, abusado, assassinado”. O resultado do que ele chama de disputa pelo “sramble” petrolífero foi que a Líbia virou “um país sem governo e sem Estado, o vacuum político e as disputas tribais”."
Fonte: Revista Diálogos do Sul
P.S. do Blog de Luiz Felipe Muniz: É isso tudo que vem acontecendo cada vez mais claramente com a Ucrânia e a Venezuela. Pode-se até não gostar do Putin (e eu não gosto) ou do Maduro, mas eles tentam se livrar deste controle mundial americano, de olho em seus países (gás, petróleo e influência anti-americana regional).
Os Ucranianos que optaram pela Europa podem vir a ser apenas mais uma o base da OTAN (leia-se base americana) ou acabar como a Grécia. A não ser que os americanos injetem recursos altíssimos naquela economia, o que acho difícil.
Já na Venezuela, há muitos anos os americanos tentam retomar o controle petrolífero que tiveram durante décadas, responsável pela brutal desigualdade social que gerou o Hugo Chávez (é bom lembrar que ele não foi causa e sim efeito, resposta).
Quanto ao Brasil, não precisa pensar muito no que anda acontecendo por aqui. E não faltam motivos: pré-sal, potência regional não alinhada, mercado internacional disputado, grande produtor de alimentos, etc. Tudo contribuindo para os olhos grandes da águia que indiretamente está agindo. O pior é que tem muito brasileiro consciente ou inconscientemente contribuindo para um 1964 volume II (desta vez de forma diferente, é claro).
Isso nada mais é do que Geopolítica Internacional, que afeta a todos nós.
E mais não digo porque é domingo de carnaval, amanheceu nublado(!) e vou começar a separar a carne para o churrasco com a família e amigos, acompanhado de uma(s) Terezópolis bem geladas e Ices sabores Kiwi e Maracujá. Só não comprei carne Friboi. É que me lembrei do comercial alienígena do Roberto Carlos!
7 comentários:
Exemplos dos interesses europeus e americanos na Ucrania:
Enquanto a Rússia tenta se livrar do trânsito de gás pela Ucrânia, Kiev está tentando diversificar seus fornecedores. O ex-primeiro ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, disse que no final de 2013 o país tinha reduzido suas importações de gás russo em 40% desde 2010. Eventualmente, acrescentou, seu país poderia viver sem suprimento russo. O governo da Ucrânia fez um “enorme” trabalho para extrair gás em casa, diz Azarov.
Muitos contratos foram assinados, notavelmente com a Shell e a Exxon Mobil, que agora podem extrair gás da bacia do mar Negro. O governo ucraniano também deu à companhia norte-americana Chevron o direito de pesquisar e explorar gás de xisto.
Talvez seja melhor apoiar os americanos desde já, uma vez que vão invadir o Brasil...
É td verdade!
Anônimo das 07:31:
Histórico de invasões diretas e indiretas dos EUA estamos cansados de ver. Mas não podemos perder a noção de indignação e nem entregar os pontos covardemente antes da partida.
good bless America
Excelente entrevista de Moniz Bandeira (que já foi indicado para receber o Premio Nobel de Literatura) pode ser conferida na Carta Capital em
http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-segunda-guerra-fria-4728.html
Inclusive aborda a crise na Ucrânia.
Trecho:
"CC: Que interesses norte-americanos o governo deposto da Ucrânia ameaçaria? Que evidências disso o sr. apontaria?
MB: Não se trata de "ameaça". Nenhum país, evidentemente, ameaça os EUA. O problema é que o governo da Ucrânia não atende e não se submete aos interesses econômicos, geopolíticos e estratégicos de Washington. O presidente Viktor Yanukovych recusou-se a aderir à União Europeia e tendia a incorporar-se à União Econômica Eurasiana, cujo tratado o presidente Putin, como um grande estadista, está a negociar com as antigas repúblicas soviéticas. Esse tratado permitirá à Rússia conquistar dimensão estratégica e geopolítica de igual dimensão à da extinta União Soviética e voltar a constituir outro polo de poder internacional. O problema é a rivalidade dos EUA com a Rússia. A questão não é ideológica. É geoestratégica."
Muito, muito oportuno o tema e a beleza de detalhes deste post...
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