Já disse aqui que não sou um grande simpatizante do Putin.
Mas no caso da Crimeia ele mostrou claramente que não é um imbecil: defendeu o cidadão russo (96%) e não se dobrou às ordens interesseiras da União Européia e dos Estados Unidos. O discurso que fez hoje é imperdível e joga na cara do mundo o que todos sabemos sobre o império americano.
Nota dez para o Putin, zero para as potências e mídia ocidentais (que não conseguiram esconder a alegria dos cidadãos da Crimeia no momento da anexação) e zero para os neonazistas por trás dos atuais comandantes de Kiev.
E nós do lado de cá que tomemos cuidado. Já tivemos exemplo de golpe com cheiro americano na Venezuela e no Paraguai (neste caso bem ao estilo atual, disfarçado...).
Atitude dos EUA sobre a Crimeia é cinismo aberto, afirma Putin
"O presidente Vladímir Putin qualificou hoje como "cinismo aberto" a dupla moral dos Estados Unidos em sua recusa a reconhecer a independência da Crimeia, enquanto justifica a separação unilateral de Kossovo com relação à Sérvia.
Não são duas regulações, é cinismo aberto, enfatizou ao pronunciar-se diante da Assembleia Federal da Rússia e de líderes crimeianos e da cidade especial de Sebastópol, independentes da Ucrânia com o respaldo de 96,77% dos votantes em referendo que ocorreu no último domingo.
Putin destacou que a Crimeia recorreu ao mesmo direito que a Ucrânia quando se separou da União Soviética.
O mandatário evocou o caso de Kossovo que foi reconhecido como legítimo, no dia 22 de julho de 2010, pela Corte Internacional de Justiça da ONU, a qual admitiu que a declaração unilateral de independência de uma parte do estado não viola nenhuma norma internacional.
Não há nenhuma proibição ao direito de autodeterminação do povo, reiterou.
Ao referir-se aos Estados Unidos, destacou um memorando encaminhado em 2009 ao Tribunal Internacional, no qual Washington reitera que as declarações independentistas podem ferir a legislação interna dos países, sem que isto signifique violar o direito internacional.
Por que lhes indigna o que eles mesmos escreveram e pregaram por todo o mundo?, perguntou o estadista.
Segundo os Estados Unidos e seus aliados do Ocidente, o que os grupos armados podem fazer em Kossovo não valem para os ucranianos, tártaros e russos da Crimeia, insistiu o chefe do Kremlin durante seu discurso.
Putin deixou claro que os Estados Unidos não se guiam pelo direito internacional, mas sim pelo do mais poderoso.
Empregam o princípio de "quem não está conosco está contra nós", insistiu o chefe do Estado mais extenso do mundo.
Denunciou que quando Washington não consegue seus objetivos viola os acordos do Conselho de Segurança da ONU como ocorreu na Iugoslávia, Afeganistão e Iraque.
"A Crimeia continuará sendo uma casa para todos os povos que convivem nela, mas nunca dos seguidores de Stepan Bandera", enfatizou Putin em alusão aos grupos neonazistas vinculados às autoridades impostas em Kiev depois da derrubada do presidente Víktor Ianukovitch.
Destacou a importância desta península, sede da Frota russa do Mar Negro, para a estabilidade da região.
Tanto russos como ucranianos podemos perder a Crimeia, alertou o chefe do Kremlin em alusão às ambições da Otan de continuar sua expansão no espaço pós-soviético."
Fonte: Portal Vermelho
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EUA e democracia: discurso esfarrapado
Por Nicolas J.S. Davies, no sítio Outras Palavras:
Um velho clichê político repetiu-se, nas últimas semanas, na Ucrânia e na Venezuela – ainda que com roupagem nova. Em Kiev, um presidente corrupto, porém legítimo, foi deposto após meses de manifestações, comandadas por grupos neonazistas. Em Caracas, Leopoldo López, político de extrema-direita e um dos líderes do golpe de Estado de 2002, apoia-se em dificuldades do governo para pedir sua derrubada antidemocrática. Nos dois casos, os Estados Unidos têm interesse geopolítico claro na queda dos governantes e agiram (agem, na Venezuela) para provocá-la.
O pretexto de Washington é uma concepção particular de “democracia”. Na Ucrânia, o chefe de governo, Viktor Yanukovitch, teria sido afastado por se aproximar da Rússia – adversária dos EUA e, portanto, “antidemocrática” por definição. Na Venezuela, tanto o ex-presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor, Nicolas Maduro, promovem políticas de unidade latinoamericana que incomodam Washington. Por isso, seriam, naturalmente, “autoritários”. A mídia aliada ideologicamente à Casa Branca repete tais argumentos de maneira tão maciça (e acrítica) quanto assegurava haver, no Iraque, “armas de destruição em massa”.
Mas qual a autoridade do governo norte-americano para falar em nome da “democracia”? Nos próprios Estados Unidos, parece haver enormes dúvidas. Colaborador de publicações como “Huffington Post”, “Salon”, “ZNet” e “Alternet”, o escritor e jornalista Nicolas J.S. Davies acaba de produzir, para esta publicação, um texto de grande importância e atualidade. Após vasta pesquisa histórica, Davies relacionou uma lista (certamente incompleta) de países em que Washington interveio derrubando governos legítimos por meio de golpes de Estado, apoiando ditaduras ou participando de massacres e genocídios.
São 35 países, contando apenas as intervenções entre pós-II Guerra Mundial e hoje. Os verbetes são densos, porém breves – ou o texto seria interminável. Mas Davies teve o cuidado de pesquisar e indicar por meio de links, em cada caso, textos que permitem compreender, em detalhes, o contexto e os fatos concretos. O autor adverte: “em nome de sua incansável busca pelo domínio global, Washington criou um longo e contínuo histórico de trabalhar lado a lado com fascistas, ditadores, chefões das drogas e países que patrocinam terrorismo. (…) Os crimes cometidos vão de assassinato a tortura, de golpes a genocídios. A trilha de sangue desse caos e carnificina vai até os degraus da Casa Branca e do Congresso norte-americano”. A seguir o resultado, ordenado alfabeticamente, da pesquisa de Davies. (A.M)
Vejam as intervenções dos EUA em 35 países detalhadas em:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/eua-e-democracia-discurso-esfarrapado.html
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