O assunto não é novo.
Acho até que já comentamos há tempos isso aqui no blog.
A novidade é a divulgação do aumento espantoso desse tipo de cirurgia plástica em diversas partes do mundo, embora não existam estatísticas oficiais.
E o Brasil ocupa 'posição dianteira'(!) nessas intervenções.
Bem, com tanta coisa para se preocupar (de questões reais de saúde coletiva e individuais até o aumento dos extremos climáticos por conta do aquecimento global) é de se perguntar se esse assunto mereceria destaque.
Com certeza merece para as mulheres que se sentem incomodadas.
Mas elas não deveriam.
Da anatomia feminina fazemos nossas as palavras muito bem humoradas do jornalista Xico Sá, que também - da mesma forma que nós aqui do blog - ficou abismado com o fato.
Acrescentamos as palavras dele no final da matéria reproduzida do site Equilíbrio e Saúde da Folha de São Paulo.
E tem também outros links, como o que mostra a reportagem com a modelo gaúcha Andressa Urach que fez a dita cirurgia plática de "embelezamento genital".
Aí resolvemos reproduzir uma foto dela aqui ao lado e perguntamos: Precisava? Ok, não vamos colocar nenhuma foto frontal com antes e depois para uma análise plástica mas convenhamos que isso não importa. Para nenhuma.
Além disso ficam os alertas da antropóloga e do médico que colocamos em negrito e em cor diferente para dar o devido destaque.
Talvez até se justifique uma intervenção em casos muito específicos que causem sérios probemas psicológicos para a mulher.
No mais, se vermos com certa dose de humor (e aí voltamos ao Xico, lá embaixo - no post!) vamos ter mais força para encarar os assuntos mais sérios do dia a dia.
28/08/2012
Cirurgia plástica íntima é mania mundial que preocupa ginecologistasIara Biderman
São Paulo
"Lábios vaginais recauchutados e outros retoques na genitália feminina não podem ser facilmente exibidos como peitões de silicone ou barriguinhas lipoaspiradas. Mesmo assim, são o último fenômeno no cardápio moderno das intervenções plásticas.
Nos EUA, são feitas mais de 1,5 milhão de cirurgias íntimas. No Reino Unido, 1,2 milhão. No Brasil, médicos apontam um crescimento de 50% nos últimos dois anos.
O ginecologista Paulo Guimarães é expert em "design vaginal". Dá cursos de formação em cosmetoginecologia para médicos. Nos treinamentos, diz, 900 mulheres são operadas por ano, a preços menores. No consultório, "com atendimento personalizado e sigilo", afirma fazer 15 cirurgias íntimas por mês.
O cirurgião plástico Marcelo Wulkan, que atende em São Paulo e tem trabalhos sobre redução de lábios vaginais em publicações internacionais, diz fazer cem desses procedimentos por ano.
Mesmo médicos mais conhecidos por outros tipos de cirurgia, como implantes mamários e plástica de nariz, estão vendo a procura crescer.
"Nos últimos dois anos, passei de uma cirurgia íntima para três por mês", conta Eduardo Lintz, chefe de cirurgia plástica do hospital HCor, de São Paulo, e professor do Instituto Ivo Pitangui, no Rio. No total, Lintz faz cerca de 40 cirurgias plásticas mensais.
Tamanho-Padrão
Como não há evidências de que os lábios vaginais cresceram nos últimos anos, especula-se que o aumento de cirurgias redutoras esteja ligado à uma nova busca de medidas genitais "padrão".
E o que é uma vagina normal? Assim como as estatísticas brasileiras sobre cirurgia íntima, as medidas são imprecisas. "Isso é um pouco subjetivo. Quando o lábio menor não ultrapassa 2 cm de largura pode ser considerado normal", diz Wulkan.
Está longe de ser consenso. Segundo estudo no "British Journal of Obstetrics and Gynaecology", a diversidade de tamanhos observada nos lábios vaginais da população é imensa, o que amplia o espectro de normalidade.
O mesmo estudo aponta que trabalhos anteriores definiram como acima do normal lábios com mais de 4 cm de largura, mas essa medida deve ser revista e ampliada.
Quando os lábios menores ultrapassam os maiores, a tendência é serem considerados candidatos à cirurgia. Mas não se trata de uma imperfeição física.
"É constitucional, a mulher nasce com essa característica, como nasce com um nariz grande", diz Lintz.
No entanto, o que é natural já não é o normal.
Imagens de nus femininos, reportagens e material didático criam o modelo de normalidade, diz a antropóloga Thais Machado-Borges, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Estocolmo, Suécia.
No estudo "Um olhar antropológico sobre a mídia, cirurgia íntima e normalidade", ela diz que as mulheres consideram atrativas as formas que correspondam a esse modelo, criadas por técnicas cirúrgicas. "Será que essas cirurgias podem transformar zonas erógenas em 'paisagens' onde reina o prazer?", questiona.
Como em relação a narizes, peitos e bundas, o padrão estético muda conforme a época e o país. "Nos EUA, as mulheres querem vagina pequena, cor-de-rosa. As brasileiras querem no mesmo tom de pele do das mãos, com lábios de 1 cm a 1,5 cm", diz o ginecologista Paulo Guimarães.
"É o modelo imaginário do órgão de menininha, o formato 'sou virgem'", interpreta a psicóloga Rachel Moreno.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia alerta seus membros sobre riscos dessa onda.
"
É preciso muito cuidado para mexer em locais com tantas terminações nervosas. As cirurgias íntimas são vendidas como soluções para dificuldades sexuais, mas, se você mexer onde não era para mexer, você piora o que era para melhorar", diz Gerson Lopes, presidente da comissão de sexologia da entidade."
Essa matéria pode ser conferida no link Equilíbrio & Saúde, onde tem também a matéria da Andressa Urach.
Se estiverem curiosos confiram também o trabalho do artista plástico inglês Jamie McCartney, The Great Wall of Vagina.
A seguir o texto do Xico Sá.
Breve manifesto contra as cirurgias íntimas"Parem as máquinas. A vontade dos Maias pode ser cumprida agora. Para que esperar o Reveillon? É o fim do mundo.
Sobre cirurgia plástica íntima já havia tomado conhecimento. O que me assombrou foi uma frase da moça, uma modelo, estampada no caderno “Equilíbrio”, hoje, nesta Folha:
“A vagina não é bonita, dá para ficar melhor”’.
Nem no julgamento do Mensalão ouvi tamanha ignomínia dos homens da toga preta.
Repito: “A vagina não é bonita…”
Como assim, minha filha? Como ousa falar da melhor obra de Deus! Tudo bem, você pode redesenhá-la à vontade, tem gente mal-agradecida no mundo. Mas daí dizer que não bela, alto lá, é a maior das infâmias.
Seja como for, é bonita, é sagrada, é divina e merece orações diárias. Rezas orais falando segredos baixinho só para ela.
Vocês estão indo longe demais, moças, com essas obsessões plásticas. Parem com isso.
Li outrora, no “El País”, que muitas espanholas buscavam a intervenção cirúrgica para resgatar a virgindade. Muitas garotas de programa passavam a faturar alto ao simples anúncio de que eram virgens Camencitas.
Bobagem, meus amores.
E tem mais: alguns médicos alertam para o perigo da mulher perder alguma sensibilidade nos mais íntimos lábios. Depois não digam que não alertei.
Se a vagina –prefiro chamar por outro nome mais sonoro e nada científico- não é bonita, o que seria obra-prima neste mundo? Não troco a da minha amada pela coleção completa dos quadros impressionistas.
A mulher é o meu d’Orsay."