4 de abril de 2013

"A contra-ofensiva neoliberal está em andamento, acreditem: pelo urânio do Mali, pelo petróleo da Líbia, pelas reservas do Orinoco na Venezuela, pelo gás boliviano, pelo pré-sal brasileiro"

Viemos acompanhando o espisódio que iria desaguar no fim do blog Viomundo.
Faltou postar aqui um texto final que mostrasse a desistência do Azenha de encerrar a sua particação da blogosfera.
Trata-se de um dos melhores artigos sobre a situação atual que li nos últimos tempos.
É longo, mas vale a pena.

O leitor que me fez mudar de ideia

"No Brasil, a mídia corporativa, concentrada em níveis inéditos, é uma espécie de aríete, capaz de arrombar a porta e implantar ministros-lobistas num governo do Partido dos Trabalhadores! Por Luiz Carlos Azenha
A ideia de puxar o plug e simplesmente deslogar o Viomundo, depois de mais de 10 anos de existência, foi pessoal, familiar e amadurecida ao longo do tempo. Confesso: me emocionei com a tremenda onda de solidariedade de todos vocês nas redes sociais, que surpreendeu mesmo os meus melhores amigos. Minha mãe, de 88 anos de idade, recém-recuperada de uma operação de cataratas e, portanto, testando a nova capacidade visual no computador, riu muito de uma foto inventada pelo Gerson Carneiro, ainda que não tenha entendido muito bem o motivo de todo aquele fuzuê: estava muito mais interessada no programa da Fátima.

Em minha participação no I Encontro Nacional de Blogueiros, fiz duas observações em meu discurso: revelei minha antipatia à ideia de depender de governos, que mudam de opinião e de prioridades ao longo do tempo e que, frequentemente, acreditam que o dinheiro do Estado, que deveria ser investido em políticas públicas de longo prazo — por exemplo, na promoção da diversidade cultural e pluralidade de ideias — lhe pertence, quando este dinheiro é, evidentemente, público. Propus, na ocasião, uma cooperativa de blogueiros que vendesse clics coletivamente no mercado.
Meu segundo ponto: a crítica da mídia estava desgastada, como se fosse um pensamento único de esquerda, e era preciso gerar pauta e conteúdo próprios.
Explico: o grande poder da mídia corporativa no Brasil é o de definir a agenda do debate político. O tal consórcio midiático é formador de consensos: haverá um apagão que provará a incompetência geral do governo trabalhista, as filas de navios significam que é preciso privatizar os portos, a Petrobras é um fracasso e precisa ser “reestatizada” (isso do povo da Petrobrax, dos que faliram a indústria naval e que defendem a terceirização) e o mensalão foi o maior escândalo da História da República que merece um replay de 18 minutos no Jornal Nacional às vésperas da eleição municipal de São Paulo.
Embora não sejam mais completamente reféns da pauta da direita, os meios progressistas ainda subsistem dentro de um espaço de debate cujos marcadores são definidos pela grande mídia. Se o telejornal de maior audiência do Brasil tivesse dedicado uma boa parte de seus recursos e competência editorial aos incêndios nas favelas paulistanas, por exemplo, durante o governo do ex-prefeito Gilberto Kassab, é provável que um grupo muito maior de brasileiros se interessasse pelo assunto, cobrasse explicações e, lá no fim, seria levado pelo menos a especular se alguns episódios foram intencionais, obedecendo à politica de expulsar os pobres que tão bem serve à especulação imobiliária.
Nada disso aconteceu, obviamente e nenhum meio de esquerda que conheço detém os meios financeiros para bancar uma investigação de longo prazo sobre o assunto.

Portanto, voltamos à questão financeira e, apesar das generosas ofertas de ajuda que recebemos nas últimas horas, é óbvio que elas não resolvem os problemas de fundo, que são os que nos interessam. A ação que Ali Kamel venceu, apenas na primeira instância, nunca foi a questão central, mas sim a incapacidade de enfrentar a ofensiva da direita sem as mais simples ferramentas para fazê-lo.
Como tocar um blog que não aceita patrocínios de governos, empresas públicas ou estatais — uma decisão tomada porque esperamos que Globo, Veja, Folha e Estadão nos sigam — e ainda assim tenha capacidade de debater políticas públicas de forma relevante, sem apenas reproduzir opinionismo político? Acreditamos que o Estado deva adotar políticas que incentivem a diversidade e a pluralidade, conforme previsto na Constituição. Que combata a propriedade cruzada. Acreditamos que o Parlamento deve cuidar do Direito de Resposta, uma forma de evitar a judicialização que leva desiguais para se enfrentarem num campo em que prevalece o poder econômico — dos advogados e lobistas.

Isso se agrava pela nossa leitura da conjuntura internacional, que continua muito negativa: depois dos baques de Wall Street e do euro, o neoliberalismo se reorganiza num poderoso tripé: na indústria financeira, que pendurou e continua pendurando a conta nas costas dos direitos sociais, na crescente influência do dinheiro no processo político — basta ver a decisão da Suprema Corte Americana que permite às corporações doarem a campanhas como se fossem ‘indivíduos’, de forma ilimitada — e, acima de tudo, em uma mídia oligopolizada, de discurso quase unificado, que acima de tudo defende seus interesses econômicos associados ao neoliberalismo. Quando foi o último trabalho de fôlego da imprensa paulistana sobre o adensamento da cidade, se saem todos aqueles anúncios da Abyara nas edições de domingo?

Com as grandes corporações de mídia, vivemos uma espécie de Gulag ao contrário: nosso corpo está livre, mas nosso pensamento frequentemente é prisioneiro de uma pauta que não nos interessa e, mais que isso, desconhece o interesse público, precariza as relações de trabalho e concentra ainda mais o capital na mão de poucos.

A contra-ofensiva neoliberal está em andamento, acreditem: pelo urânio do Mali, pelo petróleo da Líbia, pelas reservas do Orinoco na Venezuela, pelo gás boliviano, pelo pré-sal brasileiro. O neo-imperialismo não obedece apenas às regras clássicas, de conquista militar.  Associado a interesses nacionais, ele faz lobby no Congresso, compra bancadas e trabalha silenciosamente nos bastidores. No Brasil, a mídia corporativa, concentrada em níveis inéditos, é uma espécie de aríete, capaz de arrombar a porta e implantar ministros-lobistas num governo do Partido dos Trabalhadores!

Sempre perspicaz, o senador Roberto Requião revelou o que está por trás da “falência” da Petrobras, por exemplo.

Estamos entregues às grandes corporações, que implantam vastas extensões de eucalipto, criam empregos de alta qualidade em seus países de origem, agregam valor à terra e ao sol brasileiros, exportam água embutida em seus produtos e nos deixam com os danos ambientais. Vale o mesmo para o agronegócio.

Estamos entregues em Carajás, com o fenomenal trem que arranca o minério num ritmo que não obedece a prioridades brasileiras, mas às necessidades de lucro da associação entre o grande capital internacional e o trabalho escravo chinês, que produz as bugigangas posteriormente exportadas para os Estados Unidos, via Wal Mart, para entre outros motivos manter baixa a inflação e dar à classe média local a sensação de que ela consome, logo existe!

Como se diz no Amapá, foi o manganês da Serra do Navio que financiou o Plano Marshall!

Estamos entregues na transformação dos rios amazônicos em fontes de energia para as grandes mineradoras; Tucuruí nasceu do interesse do Japão de se livrar de suas indústrias eletrointensivas e poluentes. O Brasil fica com o trabalho sujo, enquanto eles desenvolvem alta tecnologia e os empregos do futuro em solo japonês.

Nada disso é discutido com profundidade em nossa grande mídia.
Nosso único recurso — o daqueles que pretendem discutir questões essenciais ao futuro do Brasil sem o cabresto da mídia — é a solidariedade humana, que foi o que vocês demonstraram com profundidade nas últimas horas. Recentemente, li na revista Economist — de todos os lugares! — uma pesquisa sobre a necessidade que as pessoas têm de de sentirem úteis ao mundo, de deixarem sua contribuição, de acreditarem que fazem a diferença. Obviamente o viés da revista servia às grandes empresas, já que as estimulava a incentivar os empregados a se engajarem em ações filantrópicas. O altruísmo de funcionários utilizado para valorizar a marca!

Mas a solidariedade genuína, idealista e altruísta de todos vocês finalmente me convenceu. A mensagem decisiva veio do João Carlos Cassiano Ribeiro, que não conheço pessoalmente, via Facebook. Diz:

Boa noite!!!!

Não sei se o Azenha vai ler isto, mas gostaria que servisse de incentivo.
A um bom tempo me acostumei a ler blogs e abandonar jornais escritos.
Quando aconteceu o primeiro blog que conheci foi o Viomundo, desde então aprendi a conhecer o mundo pelo seu site.

Gosto dos colaboradores e fotos das reportagens históricas feitas pelo jornalista.

Hoje acordei incomodado com o papel que a tv e o CQC exercem na nossa vida.

Passei o dia incomodado com o baixo nível intelectual da tv e o comportamento fascista que noto nela.

Até imaginei que se fosse eu no lugar do Genoino ou do Clodovil durante a agressão a que Pânico e CQC os submeteram, acho que não suportaria.

Ser humilhado em frente a tv toda semana, não sei se aguentaria.

Fiquei feliz ao ver seu post sobre seu pai, imaginei que os fascistas passarão mas os bons permanecem sempre. Foi um sopro de alegria na minha tristeza.


Como já havia aconte cido em outras oportunidades com o Viomundo, resgatei um pouco da dignidade e do respeito ao ser humano, voltei a acreditar na capacidade criativa e na solidariedade humana.

Respeito sua decisão e compreendo sua necessidade, mas me sinto um pouco órfão com o fim do Viomundo e triste em ver o jornalista abandonando uma das frentes de trabalho por força da opressão.


Choro ao escrever essas palavras pois sei que perdemos um espaço vital para nossa luta. Não sou colaborador e nem costumo interagir com o blog, sou um leitor anônimo e aprendi a observar o seu blog como um filho observa o pai e aprende e se orgulha de estar por perto.
 
Nossa luta não é partidária ou governamental é pelos mais fracos e pela dignidade humana.
 
Sempre o terei como amigo sem nem o conhecer, pois me orgulho dos meus amigos e me orgulho muito de você! Obrigado por ter tido no Viomundo os melhores exemplos de humanidade e um espaço em que sempre me senti à vontade.

Achei muito bacana ver que um trabalho coletivo como o nosso, organizado por poucos mas que afeta muitos, ainda que precário e improvisado, seja capaz de tocar desta forma uma pessoa.
Assim sendo, depois de longas horas de conversa com a Conceição Lemes e o Leandro Guedes, pensamos num jeito de refundar o site (com o nome provisório de, rsrsrs, Democratas).
 Uma consulta ao Comitê Central, sempre munidos dos tomos leninistas, nos levou a decidir:

1. Conceição Lemes ( conceicaolemes@uol.com.br) se torna a editora-chefe do site, encarregada também da relação com nossos 40 mil seguidores no twitter/facebook;

2. Leandro Guedes ( leandro@cafeazul.com.br) adotará um mix de todas as sugestões que nos foram feitas por vocês sobre crowdfunding, além de perseguir eventuais patrocinadores que vocês nos sugerirem; o dinheiro arrecadado com o crowdfunding será todo reinvestido no site e não será utilizado para bancar advogados, dos quais já contamos com os competentíssimos Cesar Kloury, Idibal Pivetta, Airton Soares e um importante escritório de Brasília que ofereceu ajuda solidária.

3. Eu me afasto do compromisso diário de passar de 5 a 10 horas diante de um computador aprovando comentários, traduzindo e publicando textos. Torno-me um repórter voluntário e não remunerado, além de escrever os tradicionais comentários sobre mídia e política.

4. Passo a aceitar, sempre que compatível com minha agenda profissional, todos aqueles pedidos de entrevistas de estudantes, palestras em universidades e conferências, se possível associadas a oficinas sobre as redes sociais oferecidas pela Conceição Oliveira ( blogmariafro@gmail.com), que entende tudo do ramo.

5. Acima de tudo, passo a me dedicar à área de minha especialidade, que é a produção de vídeos, mini-docs e docs.

Aqui, uma explicação se faz necessária. No modelo acertado com o Leandro Guedes, da Café Azul, que há meses já vinha estudando o assunto, os leitores poderão tanto indicar as pautas quanto aprovar nossas propostas.

Exemplo: o Gilberto Nascimento quer escrever uma investigação sobre o poder da Opus Dei no Brasil. Calcula o tempo que vai levar e a remuneração adequada, por valores de mercado, à tarefa. Colocamos uma espécie de contador para acompanhar o avanço da meta. As pautas financeiramente aprovadas serão feitas.

Outros exemplos hipotéticos: a Conceição Lemes quer ir a Minas Gerais investigar o choque de gestão dos governos Aécio/Anastasia.

Há mais de um interessado em fazer um mini-doc sobre o impacto da Globo nas eleições de 2006 e 2010.

Serão trabalhos jornalísticos, não de militância, sobre assuntos que a mídia corporativa brasileira simplesmente desconhece, por não se adequarem àquela pauta única a que me referi acima.

Eu, por exemplo, gostaria de investigar pessoalmente o massacre de Felisburgo, em Minas Gerais, até hoje impune.
O Lino Bocchini poderia ser convidado para fazer a Coleção Folha: Como Rose Nogueira ‘abandonou’ o emprego durante a ditadura.
A Beatriz Kusnir, se aceitasse, poderia fazer uma versão em vídeo do livro Cães de Guarda, aquele que narra o colaboracionismo da mídia brasileira com a ditadura militar.
O Amaury Ribeiro Jr. poderia ficar encarregado, à lá Andrew Jennings, de perseguir e exigir explicações dos privatas que andam por aí. Nosso Michael Moore.

Minha ênfase nos vídeos se deve ao fato de que, eventualmente, eles vão dominar a internet, à medida em que as conexões se acelerarem.

Finalmente, queremos aproveitar o imenso potencial de jornalistas — e quantos!!! — recentemente demitidos, que deixaram suas empresas com boas histórias para contar e projetos nunca realizados.
Quem sabe vocês nos ajudam a financiar o sonho destes colegas.
Portanto, depois de muito matutar, acreditamos ter chegado a uma proposta que permitirá ao Viomundo não morrer, mas renascer das cinzas.

Aguardem, que as mudanças serão implantadas lentamente, inclusive em todo o visual do site."

Publicado no site Vi o Mundo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Blogueiros criam fundo para batalhas judiciais e sugerem Lúcio Flávio Pinto como primeiro beneficiário
Por Luiz Carlos Azenha, do Viomundo

Reunidos ontem à noite na sede do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, em São Paulo, blogueiros, ativistas, militantes de partidos políticos, movimentos sociais e advogados decidiram, por consenso, criar um fundo para socorrer financeiramente colegas que sejam alvo de processos judiciais, ameaças ou violência em todo o Brasil.

O fundo de emergência será inicialmente organizado pelo Conselho Nacional da blogosfera, formado por 26 ativistas de todo o Brasil no mais recente encontro da entidade, em Salvador, na Bahia. Uma conta bancária receberá as contribuições de internautas, por enquanto em nome do Barão de Itararé. Decidiu-se também que a entidade terá um corpo jurídico exclusivamente devotado à defesa de blogueiros.

Segundo Altamiro Borges, presidente do Centro, a judicialização do debate político e a ameaça a poderes nunca antes questionados multiplicou o número de ações, que incluem ameaças, agressões e assassinatos.

“Os coronéis acostumados a mandar sem contestação ou crítica, seja em nível nacional, estadual ou local, encontram na Justiça frequentemente o caminho para calar ou intimidar a blogosfera”, afirmou Altamiro. “Com isso, escapam do debate das questões políticas de fundo, como a da democratização da mídia, para um terreno no qual dispõem de maiores recursos”, aduziu.

Presentes, os blogueiros Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna e Lino Bocchini — além deste que vos escreve –, que enfrentam na Justiça ações movidas por grandes corporações da mídia, declararam que não pretendem recorrer ao fundo, nem agora nem no futuro. Conceição Lemes, editora-chefe do Viomundo, explicou: “Há gente que nem dispõe de advogado e que, por falta de recursos, se cala diante de autoridades em várias partes do Brasil. Não é o nosso caso”.

Eduardo Guimarães deixou claro: “É importante que o fundo de apoio a blogueiros tenha critérios claros e pré-estabelecidos para aqueles que serão beneficiados em caso de necessidade. Sugiro que os que se interessarem por tal apoio façam uma contribuição mensal — pequena, talvez simbólica –, de forma que integre o esforço que está sendo empreendido e, assim, faça jus ao eventual apoio do qual poderá vir a precisar. Dessa maneira, não haverá questionamento sobre quem vier ou não a ser apoiado”.

Embora as decisões futuras ainda dependam do Conselho Nacional, vários oradores lembraram como absolutamente prioritário o caso do jornalista/blogueiro Lúcio Flávio Pinto, do Pará. Editor do Jornal Pessoal, Lúcio Flávio foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça a indenizar Cecílio do Rego Almeida, a quem acusou de ser grileiro de terras.

A versão mais recente do Jornal Pessoal critica o PT pela homenagem póstuma a Cecílio, proposta pelo deputado federal André Vargas, do Paraná, com apoio de José Mentor (PT-SP), conforme noticiou aqui o Viomundo.

Na edição, porém, Lúcio Flávio comemora:

“Pará recupera terras

Graças à justiça federal, o Pará vai ter de volta ao seu patrimônio quase cinco milhões de hectares de terras de que o grileiro Cecílio do Rego Almeida tentou se apossar. Os sucessores do empresário perderam o prazo do recurso e a sentença condenatória transitou em julgado.”

Anônimo disse...

Através de coleta realizada via internet, Lúcio Flávio arrecadou os R$ 25.116,75 que depositou em juízo para indenizar Cecílio, depois que desistiu de recorrer no STJ. Antes, havia se perguntado: “O grileiro vencerá?”.

Apoiadores de Lúcio Flávio mantém o blog Todos com Lúcio Flávio Pinto, aqui.

Segundo o site, Lúcio Flávio também foi alvo de 15 processos judiciais, penais e cíveis movidos por uma das familias mais ricas do Pará, que controla as Organizações Maiorana, detentora entre outros negócios da concessão local da Rede Globo de Televisão.

Ao lamentar que seus recursos não tenham sido acolhidos pela Justiça, Lúcio Flávio afirmou então: “Os tribunais se transformaram em instâncias finais. Não examinam nada, não existe mais o devido processo legal. E isso não acontece só comigo. São milhares de pessoas em todo o Brasil, todos os dias, que não têm direito ao devido processo legal. Em 95% dos casos julgados no país rejeitam-se os recursos. Não tem jeito”.

Reconhecido com o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2012, Lúcio Flávio edita o Jornal Pessoal há 25 anos, é uma das vozes mais respeitadas em questões relativas à Amazônia e se tornou símbolo da resistência da palavra contra o poder.

“A persistência de Lúcio Flávio nos anima a todos”, declarou ontem a blogueira Conceição Oliveira.

Os presentes também decidiram dar apoio aos atos previstos contra as Organizações Globo no dia 26 de abril, quando a emissora comemora 48 anos de idade. Os atos serão organizados pela Frentex — Frente Paulista pelo Direito à Comunicação e Liberdade de Expressão — e o FNDC — o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

As duas entidades acreditam que a Globo simboliza a concentração midiática e a falta de diversidade que se dedicam a combater. Manifestações similares aconteceram em anos anteriores. Em 2007, por exemplo, o ativista Bráulio Ribeiro, do Intervozes, declarou:

‘Todos sabem que, nesses 42 anos, a Globo tem atuado quase como um partido político, defendendo teses, candidatos e projetos que lhe interessam no Congresso. E faz tudo isso usando um bem público, que é o espectro radioelétrico. Mas, assim como qualquer emissora de rádio ou televisão, a Globo é uma concessionária de um bem público. Portanto, o interesse público é que deveria reger o uso desse bem’, explica Ribeiro.

Desde então, pouco mudou, como ficou claro em episódios como o da bolinha de papel nas eleições presidenciais de 2010 e nos 18 minutos dedicados pelo Jornal Nacional a uma “retrospectiva” do mensalão, na semana que antecedeu o segundo turno das eleições municipais de São Paulo, em 2012. Nos dois casos, coincidentemente, o candidato tucano José Serra enfrentou adversários do PT.

Durante o encontro, Altamiro Borges anunciou que está praticamente pronto um levantamento nacional sobre os processos, ameaças, perseguições e assassinatos cometidos contra blogueiros, que será encaminhado junto com uma carta-denúncia à Organização dos Estados Americanos e às Nações Unidas.

O mapa dará origem a um blog dos ameaçados, que será linkado nos principais endereços da blogosfera de esquerda do Brasil.

Os blogueiros presentes também prometerem apoio ao Projeto de Iniciativa Popular de um novo marco regulatório das comunicações organizado pela campanha Para Expressar a Liberdade, que será apresentado ao Congresso nos moldes do projeto que acabou dando origem à Lei da Ficha Limpa. O objetivo é recolher pelo menos um milhão de assinaturas. A coleta começa no dia do aniversário da Globo mas deverá ganhar força ainda maior no Primeiro de Maio, quando a Central Única dos Trabalhadores (CUT) dedicará as comemorações do Dia do Trabalho a defender “o direito de todos à palavra”.

Anônimo disse...


PS do Viomundo: Durante o evento, Paulo Henrique Amorim lembrou o mote do mais recente encontro de blogueiros, o “Nada além da Constituição”, ou seja, tudo o que se pretende é que a Constituição de 1988 seja cumprida ao pé da letra.

PS do Viomundo2: Nossos agradecimentos ao senador Roberto Requião e aos deputados Paulo Pimenta e José Genoino, que manifestaram publicamente sua defesa deste blog e da blogosfera no caso das ações judiciais.

Leia outros textos de Outras Palavras

Carlos Machado disse...

O DISCURSO DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO EM DEFESA DE LUIZ CARLOS AZENHA E DA IMPRENSA INDEPENDENTE

O jornalista Luís Carlos Azenha, que assina um dos melhores sítios de informações na internet, tem um grave –e pelo jeito insuperável—defeito. Azenha não é petista, não é tucano, não é peemedebista, não é governista. Azenha é um repórter, visceralmente, obcecadamente um repórter, fiel ao mandamento máximo dos repórteres, que é buscar a verdade nos fatos. Antes de tudo, acima de tudo, a verdade factual, como diz Mino Carta, outro grande repórter.

Inflexível em relação a esse princípio, Azenha é frequentemente vergastado tanto pela direita, grande mídia e serviçais, como por ministros, assessores e burocratas do governo federal. Censurado e processado. Agora mesmo, Azenha foi condenado a pagar 30 mil reais ao diretor da Central Globo e Jornalismo, Ali Kamel, por suposta “campanha difamatória” contra o dito cujo.

Que “campanha difamatória” é essa?

Azenha explica. Em 2006, recém-chegado de Nova York, onde era correspondente da Globo, ele foi escalado por Ali Kamel para cobrir as eleições presidenciais de 2006, acompanhando a campanha da candidato tucano Geraldo Alckmin. Com o correr da campanha, Azenha e outros repórteres da Globo como Rodrigo Viana, Mariana Kotscho, Cecília Negrão, Carlos Dornelles e o editor de economia da emissora Marco Aurélio Mello ficaram incomodados, desconfortáveis coma parcialidade da cobertura imposta por Ali Kamel.

A tensão chegou ao ponto de ebulição no caso das imagens do dinheiro com o que os tais aloprados tencionavam comprar um dossiê contra o candidato tucano ao Governo de São Paulo, o Serra. Azenha teve acesso à gravação da conversa do delegado da Polícia Federal responsável pelo caso e um grupo de jornalistas, combinando como vazar fotos do dinheiro, para prejudicar o PT.

E ele reproduziu a gravação da trama em seu blog. A Globo, é claro, não gostou. Segundo relata Azenha, enojado com o tipo de jornalismo praticado pela emissora e com a perseguição a colegas que não se dobravam a Ali Kamel, ele pediu demissão. Mas, como volta e meia o “Viomundo” fazia críticas à Globo e revelações sobre os métodos de trabalho da Kamel, o diretor de jornalismo da emissora entrou com processos contra Azenha, considerando as matérias do blog como “campanha difamatória”.

Como o seu blog é sustentado por ele mesmo, por seu salário, sem qualquer patrocínio de quem quer que seja, Azenha vê-se na iminência de fechar o “Viomundo”. E anuncia essa disposição.

Diz ele:” “Sou arrimo de família, sustento mãe, irmão, ajudo irmã e filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores. Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é caso das Organizações que concentra pelo menos 50 por cento de todas as verbas publicitárias do Brasil (…)”.

Mas não é só Azenha que está sendo processado pela Globo ou por outro veículo da grande mídia empresarial. Vários bloguistas são ameaçados pela mordaça da meia dúzia de famílias que domina, que monopoliza a informação no país.

Toda solidariedade ao Azenha, ao Rodrigo Viana, ao Paulo Henrique, ao Mino Carta, à revista Caros Amigos, ao Paulo de Tarso Violin, enfim a todos os que fazem um jornalismo independente, em defesa dos interesses públicos, dos trabalhadores e da pátria brasileira.