1 de abril de 2013

O Mês de Abril, O Golpe Militar, Mário Quintana e Vinícius de Moraes



Em 2010 publiquei aqui no blog parte do texto que se segue. 
Como abril chegou de novo resolvi repetir fazendo algumas adaptações. Sabe como é, o tempo passa, nós mudamos. No mínimo ficamos mais velhos. O que por si só já é uma grande mudança, queiramos ou não. E acho que não queremos não.
Hoje é primeiro de abril. 
Que é o dia do Golpe Militar de 1964, que chamam de "Revolução de 31 de março".
Mas foi é golpe e foi em primeiro da abril e jogou o Brasil na obscuridade cultural por mais de 20 anos. Mas deixa prá lá. Vejam o domecumentário "O Dia Que Durou 21 Anos".
Comenta-se, naquela brincadeira, que 1º de abril é o "dia da mentira". Deve ser tradição do Brasil interiorano, cada vez mais distante de nós, com as cidades crescendo sempre.
Embora o outono já tenha começado em março, sempre penso nessa estação a partir deste mês de abril.
Nele os dias costumam ser mais claros, sem o ofuscamento do verão, as temperaturas mais amenas (bem, pelo menos era assim desde a minha infância mas agora as coisas estão se modificando muito rapidamente) e o céu adquire um visual mais interessante, com as nuvens de chuva esparsas dividindo sua presença com o azul do céu que sempre se mostra em diversos pontos, ao longo do horizonte.
Vinícius e Toquinho cantaram este mês na música "As Cores de Abril", que reproduzimos abaixo.
Mas eu sou suspeito para falar bem do mês de abril porque, sob o signo de Áries, faço aniversário neste mês. E desta vez vai ser 54. Não é pouca coisa não.

E também sou suspeito em elogiar Vinícius de Moraes. Foi em homenagem a ele que escolhemos o nome do nosso filho mais velho.
Aliás em 2013 comemoramos o centenário de nascimento do poeta, diplomata, cantor, compositor e escritor. Ele nasceu em 19 de outubro de 1913.
De um  poeta a outro, talvez pelo aniversário ou pelo mês de abril, me lembrei dessa poesia atribuída ao sábio Mário Quintana. Atribuída porque na Internet vale tudo e eu não tive tempo de pesquisar melhor se a autoria é mesmo do gentil poeta. Mas o importante é que o texto é legal.

Nem eu nem o Luiz Felipe costumamos postar poesia aqui no Blog (mas como é abril...). 
Confesso que me liguei um pouco em poesia apenas na minha juventude, quando li os básicos brasileiros: Drumond, Vinícius, Bandeira e, eventualmente, o português Fernando Pessoa. Acabei me interessando mais pela prosa mas acho que perdi muito coisa boa nesse tempo todo.
Poesia é mais ou menos como Jazz. Para gostar, a mente tem de ter um tipo de conexão especial com esse tipo de arte. Em outras palavras, não é para qualquer um. O que em si não desmerece quem gosta ou quem não gosta de poesia (ou de Jazz). São apenas características pessoais e a questão de ter tido oportunidade de um contato maior ao longo da vida.
Mas já estou me alongando demais neste post. Assim, segue a poesia do Quintana sobre a vida e o tempo. Espero que gostem e que sirva como uma "dica do Blog".
E não deixem de ouvir a música do Vinícius e Toquinho!


O Tempo (Mário Quintana?)
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
(...)
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.




As Cores De Abril
Vinicius de Moraes e Toquinho

As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor

O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador
Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor

Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção

Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sobre sua citação sobre o filme O dia que durou 21 anos, segue um ótimo comentário.
E feliz mês de abril!


O Dia que Durou 21 Anos, documentário de Camilo Tavares
Enviado por luisnassif, seg, 01/04/2013 - 10:38

Do blog do Mário Marcos

Um documentário aplaudido com entusiasmo. Ninguém resistiu

Foi gratificante ver o público que lotava a sala de cinema irromper em aplausos, de entusiasmo e gratidão, tão logo surgiram na tela os créditos finais do excepcional documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares. Todos tinham acabado de assistir a uma preciosa aula de História sobre o golpe militar e a ditadura que castigou o Brasil durante mais de duas décadas, com os fatos na ordem em que ocorreram, na cronologia correta, baseados em documentos secretos só liberados há pouco. Nada daquelas fantasias que você ouve até hoje, como se fossem verdade. Não, no filme os episódios estão encadeados no tempo em que ocorreram.

Deu vontade de aplaudir de pé também uma declaração do então deputado Bocayuva Cunha, em entrevista a uma emissora de TV dos Estados Unidos, um ano antes do golpe que derrubou o governo, com apoio de grandes empresários preocupados em não ter seus negócios perturbados pelas reformas sociais de Jango. Em meio à conversa, o jornalista perguntou se o Brasil não tomava o rumo do comunismo. Bocayuva respondeu:

- Revolução comunista só existe na cabeça e na estupidez de certa elite brasileira.

Mas foi exatamente desta estupidez (ela ainda está por aí) que nasceu o golpe e a ditadura, como mostra de forma didática o filme de Camilo, filho do jornalista Flávio Tavares, um dos tantos brasileiros presos e torturados pela ditadura. O diretor fez uma pesquisa impressionante, descobriu a correspondência secreta trocada entre a embaixada norte-americana e Washington, conseguiu gravações inéditas e impressionantes de conversas entre John Kennedy e, mais tarde, Lyndon Johnson, com seus agentes no Brasil, mostrando claramente a rede de intrigas e mentiras que levou ao golpe e ao retrocesso.

A ação norte-americana foi tão direta que dia 31 de março de 1964, na véspera do golpe, Johnson autorizou o deslocamento de uma força naval poderosa para o litoral de Santos (foto menor, abaixo). A ordem foi clara (e isso está comprovado nos documentos e nos áudios dos arquivos do Departamento de Estado): se houvesse resistência dos brasileiros, que pouco antes tinham votado pelo presidencialismo e dado 80% de preferência a João Goulart, haveria intervenção direta dos soldados dos Estados Unidos. Só não agiram porque o deslocamento do General Mourão de Belo Horizonte ao Rio não encontrou resistência – que só surgiria em 1968, quatro anos depois, com a edição do AI-5 (é, aquela mentira de que o golpe foi uma reação a um movimento organizado também é desmascarada pelos documentos).

- Ele chegou e entregou o controle ao Costa e Silva, que estava dormindo só de cuecas – conta a filha de Mourão. – É foi no dia 1º de abril, o dia dos bobos – brinca.

Fica demonstrado no filme que até Castello Branco foi escolhido pelo próprio governo norte-americano para ser o primeiro chefão da ditadura. Aos poucos, a reação dos militares brasileiros, a tentativa de dar ares de legalidade ao movimento com o funcionamento do Congresso (‘mas com toda a oposição cassada’, como diz com ironia um dos pesquisadores entrevistados no documentário) e o apego dos líderes com estrelas nos ombros às regalias do poder, como lembra Robert Benthey, assistente do embaixador Lincoln Gordon (na foto, com Lyndon Johnson), atordoaram o próprio governo americano. Há cenas e declarações patéticas dos envolvidos na ditadura – que chegam a provocar risos no cinema.

Anônimo disse...

Camilo Tavares, com apoio de Flávio, entrevistou personagens (inclusive conhecidos participantes do golpe), reproduziu documentos secretos, recuperou diálogos e mostrou dois depoimentos valiosos: o de Peter Korn Bluh, coordenador dos Arquivos de Segurança Nacional, dos Estados Unidos, e de James Green, historiador da Brown University. Eles fazem a costura dos diversos episódios, esclarecendo documentos que poderiam ser incompreensíveis e recuperando fatos históricos. É um deles que lembra um fato marcante, quase irônico, de uma correspondência da embaixada no Rio com o departamento de Estado: no momento em que a ditadura tomou rumos imprevistos, com cassações, prisões, torturas e assassinatos, os diplomatas americanos recomendaram ao presidente “um silêncio dourado”. Estava ficando perigoso – até porque neste momento, entre 1968 e 1969, surgiram os grupos de resistência.

Anônimo disse...

O golpe surgiu de uma campanha formada mentiras cuidadosamente elaboradas, divulgadas por uma rede montada com a força de milhões de dólares canalizados pelos norte-americanos para institutos criados com o objetivo de espalhar o medo. Lá estavam, unidos, empresários, grupos poderosos da imprensa e centenas de políticos claramente comprados, como fica demonstrado pelos documentos. Todos com o objetivo de dar ares de verdade à paranoia de que haveria uma revolução comunista. No fundo, como também fica evidente nos arquivos, o que preocupava os Estados Unidos era o medo de ter seus interesses econômicos contrariados.

Ao ver aquela plateia aplaudindo o filme, pensei no seguinte: qualquer pessoa medianamente informada sabe que há pelo menos 60 anos, desde os primeiros tempos da Guerra Fria, os Estados Unidos e suas agências se especializaram em espalhar mentiras e contra-informações, ou para preservar sua própria imagem (como aquela enfermeira ajudada por iraquianos, mas que, segundo a história oficial, lutou e heroicamente matou vários inimigos) ou para comprometer adversários. Tudo para controlar a mente, com auxílio de suas próprias agências, veículos da grande imprensa e, claro, Hollywood. Isso está na origem das ditaduras que atormentaram a América do Sul. Mesmo assim, até estas pessoas aparentemente bem informadas, repetem estes equívocos, consagrando aquela teoria de Goebbels de que ‘uma mentira repetida várias vezes se transforma em verdade’. É como se a mentira fosse uma tatuagem permanente. Sabem que é mentira, mas a repetem como se fosse verdade. Vira reflexo.

É um documentário imperdível e uma revisão valiosa para todos, não importa o que cada um pense sobre a questão. Vá ao cinema, assista a esta aula de História e não se surpreenda se, no fim, você aplaudir com entusiasmo. É quase irresistível.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-dia-que-durou-21-anos-documentario-de-camilo-tavares