Este deve ser o terceiro post que fazemos sobre a guinada à direita de alguns antigos 'astros' do chamado BRock dos anos 1980.
É claro que não dá para levar a sério as figuras que tentam sobreviver na mídia. Mas as análises de alguns jornalistas são muito boas.
Como esta do Paulo Nogueira sobre a participação do Lobão no Programa Roda Viva.
Sugiro lerem também o artigo do Kiko Nogueira ("Perdão, doutor Roberto!”: a mitomania de Lobão no Roda Viva), citado no texto (é só clicar no link). Lá inclusive tem dois vídeos: o do programa e um antigo de 1989 no Faustão onde, na música, ele declara o voto em Lula.
Mesmo sendo um analfabeto político Lobão deu um baile nos jornalistas no Roda Viva
"Não contribuí para o traço do Roda Viva com Lobão, mas como Kiko Nogueira postou o vídeo em seu artigo sobre o programa acabei vendo.
O que mais me incomodou no programa foram os jornalistas, para ser franco. Eles acabaram sendo dominados facilmente por Lobão, que é o chamado fanfarrão: fala, fala, fala.
Ele tem traquejo com o microfone, ao contrário dos jornalistas convidados.
Mas a falta de familiaridade com tevê não foi o maior defeito deles: foi a falta absoluta de combatividade. Num certo momento, todos estavam rindo das histórias de Lobão, como se estivessem num bar do Leblon.
Isso não é jornalismo.
Numa entrevista, aprendi logo em minha carreira, você não pode ficar aquiescendo com o rosto a cada resposta do entrevistado. Você o eleva e se rebaixa.
Ninguém, na mídia, fez entrevistas como a Playboy, e estou me referindo, naturalmente, à edição original, a americana de Hugh Heffner.
Uma entrevista com o então jovem Robert de Niro teve que ser interrompida porque, conforme depois explicaria no texto o entrevistador, de Niro diante de uma questão aguda pegou o gravador e atirou na parede.
Isso é jornalismo.
Houve tímidas tentativas de jornalismo de dois entrevistadores de Lobão: Julia Dualib, do Estadão, e Alex Solnik, da Retratos do Brasil.
Mas não houve continuidade.
A melhor pergunta foi de Julia. Agora que se tornou um repetidor tagarela do arquidireitista Olavo de Carvalho, que Lobão tem a dizer de coisas como o aborto?
Ele enrolou, não respondeu – e não foi cobrado por Julia ou qualquer outro dos entrevistadores.
Defender o aborto poderia fazer Lobão, hoje uma olavete, cair no desagrado de seu mentor. Criticar seria mostrar que ele vive num planeta paralelo.
Algumas oportunidades boas de enriquecer a conversa foram deixadas de lado. Se é verdade que Lobão foi banido da Globo por ordens do próprio Roberto Marinho por ter defendido Lula em 1989, como ele disse, isso tinha que ser debatido calmamente.
Lobão fez ali uma denúncia involuntária, mas ninguém percebeu, entre os risos cúmplices pela graça com que a história foi contada.
O despreparo ficou claro em outras passagens: Lobão fez a apologia do livre mercado.
Ele faz ideia de que não vigora o livre mercado na mídia que o louva tanto depois que ele virou de direita?
Vigora na mídia – e isso é indecente – uma reserva de mercado que veda aos entrangeiros entrar no Brasil. Eles podem ter apenas 30% das ações.
Seria bom ver o que Lobão pensa disso, mas para tanto os jornalistas teriam que perguntar (e saber também).
Augusto Nunes fez sua parte, também. Perguntou, do nada, o que Lobão pensa de Dilma.
Todos sabemos o que ele pensa de Dilma. Ou o que ele pensa hoje, porque é um sujeito que muda de opinião com frequência.
Também sabemos o que Lobão pensa de Chico, e ele mais uma vez repetiu extensamente suas opiniões contra Chico.
Lobão criticar Chico equivale a Olavo de Carvalho criticar Platão, tamanha a diferença da obra, da estatura e da importância histórica.
Gosto de algumas músicas de Lobão, mas toda a sua obra é menor que uma só canção de Chico, e isto é simplesmente indiscutível. "Roda Viva", para citar uma música apropriada ao tema de que tratamos aqui.
Lobão é o chamado analfabeto político: fala coisas sem sentido que ouviu de terceiros. Disse que Jango fugiu: que ele queria, que Jango promovesse uma guerra civil na qual milhares de brasileiros morreriam?
Justifica a ditadura militar sob a “ameaça” do golpe comunista. Ora, os Estados Unidos cansaram que derrubar governos populares apenas para preservar seus interesses, e sempre usando aquela falácia.
O primeiro da lista foi Jacobo Arbens, da Guatemala, em 1954. Arbens cometeu o pecado de desapropriar parte das plantações de banana de uma empresa americana para promover uma reforma agrária. A partir dali, o mundo conheceria a Guatemala, e a todos nós latino-americanos, como Repúblicas das Bananas.
Lobão repete, com graça, o bestialógico de Olavo de Carvalho, até na parte em que vê um Obama socialista, aspas e pausa para rir.
Mas duro mesmo foi ver o comportamento dos jornalistas. Não falo do moderador, que deixou de ser jornalista há décadas, mas da bancada dominada por Lobão como se fosse um rebanho de fãs."
Por Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo
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