23 de dezembro de 2013

Sobre Handebol Feminino, TV por Assinatura e Mídia


Vou dividir este post em duas partes.
Na primeira uma reclamação e uma homenagem.
Na segunda, um texto político do Paulo Nogueira do DCM a partir de uma entrevista do técnico dinamarquês da seleção brasileira de Handebol Feminino.
A reclamação: desconectei há algum tempo a minha antena parabólica (e me livrei de um dos aparelhos da bancada do home-theatre) porque verifiquei que a minha assinatura Sky - a mais completa - me atendia plenamente.
Me arrependi.
Ontem fui procurar um canal que estivesse transmitindo a partida final entre Brasil e Sérvia e não achei. Rodei mais de meia dúzia de canais de esportes entre normais e HD e não achei nada. Só futebol europeu.
Posso ter me perdido em minhas buscas mas acho que nenhum transmitiu mesmo.
Depois descobri que um canal aberto transmitido via Parabólica tinha passado o jogo ao vivo.
Daí o arrependimento. E a reclamação: porque não criar um canal de esportes exclusivo para modalidades fora do "padrão futebol"? Tem um bom (Off) especializado em esportes radicais, além do Canal Combate. Boas iniciativas. Mas precisamos de um que transmita e tenha programas de atletismo, remo, handebol, polo aquático, etc. etc.
Fique sem ver a partida mas não menos emocionado com a histórica e heróica conquista das meninas brasileiras.
Segue a homenagem (para as meninas e para quem, igual a mim, não viu o jogo) com o título mundial inédito na casa das poderosas adversárias sérvias.
A segunda parte do post vem logo a seguir.





Como a mídia desinforma o técnico dinamarquês que levou o Brasil ao título no handebol
Por Paulo Nogueira do Diário do Centro do Mundo
"“Venho de um país que é do tamanho do estado do Rio. Tem um pouco menos de seis milhões de habitantes e a educação é totalmente diferente. Todos têm educação de graça, está tudo pago, não tem buraco nas ruas. Aqui não deixam crianças nas ruas porque não confiam. Na Dinamarca vemos crianças com sete anos indo à escola de bicicleta. O sistema de educação é totalmente diferente, lá é tudo de graça para estudar e aqui é o contrário.”

A comparação entre o Brasil e a Dinamarca feita pelo técnico dinamarquês da seleção brasileira de handebol feminino, Morten Soubak, é inspiradora. Ela está registrada no site da Federação Paulista de Handebol.

O DCM se bate, intensamente, pela escandinavização do Brasi. A dificuldade para chegar lá está ligada muito mais a uma questão de mentalidade do que de tamanho: a cultura da elite dinamarquesa não é predadora, ao contrário do que acontece no Brasil.

Mas é outra parte do depoimento que me chamou particularmente a atenção.

Nele, Moubak fala de um sentimento que o toma quando abre um jornal no Brasil.

“Aqui, todos os dias, ao abrir o jornal, vejo que alguma coisa está errada.” Ele estava falando, especificamente, de corrupção.

Moubak tocou involuntariamente num ponto essencial para compreender o Brasil: a ênfase cínica e calculada que a mídia dá à “corrupção”.

É uma arma antiga empregada para desestabilizar governos populares: Getúlio Vargas em 1954 estava submerso num “mar de lama”. João Goulart também, uma década depois. Mais recentemente, as administrações petistas, segundo a mídia, parecem ter levado ao estado da arte a corrupção no Brasil.

Leitores como Soubak ficam com a impressão, completamente errada, de que o Brasil é um caso único de corrupção no mundo.

De Londres, acompanho o noticiário mundial: corrupção existe em toda parte. A maior diferença, no Brasil, é o destaque que a mídia dá ao assunto  – quando lhe convém.

O Brasil pareceria bem menos corrupto para Soubak, e tanta gente, se ele vivesse aqui na época da ditadura militar, por exemplo.

Corrupção não era assunto, não porque não houvesse – havia e em extraordinária quantidade – mas por não ser noticiada.

Mesmo na era FHC a corrupção parecia não existir para a mídia brasileira. A possibilidade de reeleição de FHC foi comprada no Congresso, mas isto não comoveu a mídia brasileira. Ninguém investigou a sério o assunto e deu o tratamento que o caso merecia.

“Corrupção” entra verdadeiramente na pauta quando o alvo são administrações populares: isto é fato, e é absolutamente lastimável.

Ingênuos como o dinamarquês Soubak – ele deve imaginar que a mídia brasileira é tão honesta quanto a de seu país – são levados a crer em “mares de lama” dramaticamente ampliados para fins de manipulação.

Mas não nos enganemos.

O problema real do Brasil é um grupo que, ao longo dos tempos, tomou tudo para si e promoveu uma das maiores desigualdades do mundo.

A “corrupção” é o instrumento predileto deste grupo para engabelar os chamados 99%.

Duas vezes funcionou, em 1954 e 1964. Agora, parece que os brasileiros acordaram para seu drama real – e isto é muito bom.

Talvez um dia Soubak entenda isso também."

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