15 de outubro de 2012

A 'geração perdida' dos países ricos

Nos últimos tempos uma das coisas que mais me sensibilizam são as notícias da crise econômica na Europa.
Despejo de pessoas de suas casas na Espanha, desemprego crescente em Portugal, aposentados com redução de pensões na Grécia, etc.
Poucos provocaram essa falha estrutural mas muitos estão tendo de pagar na base da política de recessão.
Mais impostos, menos direitos.
Entre os que pagam a conta estão jovens superpreparados que não conseguem se colocar naquilo em que se formaram.
Vi uma jovem com mestrado na Espanha comentando que não consegue nem trabalhar como garçonete.
Muito triste.
Já estão chamando esses jovens de 'geração perdida de países ricos'.
O Brasil tem resistido bem às intempéries, torçamos que as coisas continuem assim.
A matéria da BBC que reproduzimos abaixo (parcialmente) aborda o tema, contando alguns casos.
Leiam também "Jovens com nível universitário trabalham com faxina e entrega de pizza".


Crise cria 'geração perdida' em países ricos
Ruth Costas
Da BBC Brasil em Londres
Atualizado em  15 de outubro, 2012

"O grande problema deles foi ter nascido no ano errado. Ou na geração errada. São jovens na faixa dos 20 aos 30 anos. Estudaram muito mais do que os seus pais. Viajaram e aprenderam diferentes idiomas. Estão habituados às novas tecnologias de comunicação e cresceram em períodos de relativa bonança, sem ter a criatividade e a liberdade tolhidas por regimes autoritários, guerras ou outras contingências.

Ainda assim, não conseguem uma oportunidade para entrar no mercado de trabalho.
Impulsionados pela crise e por medidas de austeridade, crescentes níveis de desemprego entre os jovens em alguns países desenvolvidos - e principalmente na Europa e EUA - estão criando o que a imprensa e economistas desses países vêm chamando de "geração perdida" ou "geração desperdiçada".

Nos países que estão sofrendo duramente com a crise, os índices de desemprego entre os jovens da faixa dos 20 aos 30 anos são bem maiores do que os da população em geral. A situação é particularmente grave para os que têm até 24 anos e procuram o primeiro emprego, mas jovens com alguma experiência que saíram do mercado por um ou outro motivo também estão com dificuldade para voltar.

Na Espanha e na Grécia, onde a situação é mais grave, o desemprego entre jovens até 24 anos ronda os 50%. Em 2006, os índices nesses países eram de 18% e 25% respectivamente, segundo a OCDE.

Em Portugal, Irlanda e Itália, o índice de desemprego juvenil ronda os 30% e Na França e Grã-Bretanha já ultrapassa os 20%, mais que o dobro da média geral.

Nos Estados Unidos, desde 2006, a porcentagem de jovens desempregados subiu de 10% para 17% segundo a OCDE.

É claro que a crise atinge a todos, mas os jovens estão sofrendo mais porque, ao detectar um desaquecimento econômico, o primeiro que as empresas fazem é interromper as contratações, como explicaram à BBC Brasil Stefano Scarpetta, vice-diretor de Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OECD e Richard Jackman, especialista em mercado de trabalho da London School of Economics and Political Science (LSE).

Uma segunda medida comum é despedir os trabalhadores que estão em contratos temporários - em geral, também profissionais na faixa dos 20 a 30 anos.

Por trás das estatísticas, há histórias de talentos desperdiçados e expectativas que não se cumpriram - milhares de jovens que foram levados a acreditar que, se estudassem mais e se preparassem melhor para o mercado de trabalho, teriam um futuro profissional garantido e uma posição social confortável.

Agora, com uma coleção de diplomas na parede, não conseguem sair da casa dos pais.

Exemplos
A espanhola Sonia Andolz-Rodríguez, por exemplo, fala seis idiomas - espanhol, catalão, inglês, alemão, italiano e árabe -, tem duas graduações (uma em Direito, outra em Ciências Políticas e Relações Internacionais) e dois mestrados da renomada Universidade de Oxford (Antropologia Social e Estudos sobre Refugiados e Migração Forçada). Também tem alguns anos de experiência profissional - ela só parou de trabalhar para estudar na Inglaterra.

De volta à Espanha, ela está procurando trabalho há 13 meses, desde que terminou o mestrado. "Simplesmente, não são abertos novos postos em ONGs e instituições da minha área de atuação", disse à BBC Brasil.

"Já morei oito anos fora do meu país e não queria ir embora de novo porque sei que é nesse momento de crise que ele mais precisaria de profissionais bem preparados. Mas a verdade é que, do jeito que a situação está, não há como ficar aqui."

Para Ava Givian, que vive em Londres e, desde que se formou em Criminologia, há sete meses, já enviou de 800 a 900 currículos, há um descaso com o problema por parte das autoridades políticas do país. "É frustrante. Estou bastante deprimida por ter estudado tanto para nada", diz, após contar que a irmã, socióloga, chegou a trabalhar em uma rede de supermercados."

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