Infelizmente o genial Eric Hobsbawm, já com sua idade tão avançada (95 anos) antes de morrer na segunda-feira, não teve tempo de analisar a época atual.
A pergunta é: como ele chamaria a nossa era? Segundo Mauro Santayana, provavelmente "Era Vazia".
Melancólica conclusão. Mas cheia de razão. Ele explica porque no artigo abaixo."No mundo só há passado, e o passado cresce a cada dia, como resumiu o escritor argentino Macedônio Fernandez: hoy hay más pasado que ayer. O passado cresce, e o futuro, na vida dos homens e das nações, é uma vaga hipótese. A morte do historiador Eric Hobsbawm, ocorrida ontem, suscita uma curiosidade: se ele vivesse mais meio século – e não sabemos como o mundo será então, se ainda houver o mundo – como ele definiria essa segunda década do milênio novo? Ele não chegou a tratar do tema, mas a sua formação marxista naturalmente o levaria a constatar, como outros pensadores do fim do século passado, que a inteligência política está se tornando escassa nestes anos.
O neoliberalismo - essa mancebia entre o poderio militar dos Estados Unidos, os grandes bancos e a insensatez dos governantes dos maiores países do mundo - continua indestrutível e indiferente à crise que sua ganância provocou. Em Getafe, uma cidade ao sul de Madri, ontem, 15 mil pessoas fizeram fila diante de uma empresa que necessita de 150 empregados: cem candidatos por vaga.
O recrutamento está sendo feito por uma empresa terceirizada, que não explica de que trabalho se trata (em uma fábrica de implementos agrícolas), não informa se o trabalho será permanente ou temporário, nem qual será a remuneração.
O desemprego na Europa, mais grave nos países meridionais, ameaça atingir as economias sólidas do continente. Há dias, o New York Times noticiava que famintos buscam comida nas latas de lixo da Espanha – e, em algumas cidades, as autoridades, com preocupação sanitária, colocaram cadeados nas tampas. Mas as elites espanholas passeiam nas nuvens. Ainda agora, houve quem dissesse, em Madri, que a Cúpula Iberoamericana de Cádiz, no mês que vem, demonstrará a “presença civilizatória da Espanha na América Latina”.
O problema mais grave é o do desemprego. As medidas de austeridade só beneficiam os grandes credores dos Estados, que são os banqueiros. Ora, todos os dias novas revelações demonstram que as maiores instituições mundiais de crédito se tornaram quadrilhas de bandidos. Os governos nacionais anunciam – como o da Inglaterra – legislações reguladoras severas, mas não vão adiante. Enquanto isso, o Goldman Sachs continua a governar diretamente a Itália, com Mário Monti, e a administrar as finanças da União Européia, com Mario Draghi no BCE.
Nos Estados Unidos, as eleições de novembro estão sendo disputadas polegada a polegada por Obama e Romney: desde Eisenhower, a grande nação do Norte vem sendo governada por homens menores – e Kennedy não escapa dessa definição. Para nós, da América Latina, Obama parece melhor, mas, tratando-se da Casa Branca, nunca se sabe. Em seu segundo mandato, ele poderá ser outro – e pior.
De qualquer forma, o grande país terá que encontrar, e já, um líder como foram Andrew Jackson, Lincoln ou Roosevelt, a fim de retornar aos princípios sob os quais conduziram o sistema. Do contrário será difícil impedir o declínio, apesar de seu imenso poderio militar.
Esse poderio, no entanto, está sendo posto à prova no Oriente Médio. Os Estados Unidos estão encontrando dificuldades em salvar a face na retirada do Iraque e do Afeganistão, por uma simples razão: eles já a perderam, desde que Bush decidiu invadir os dois países. Como confessou Richard Clarke, especialista em “contra-terrorismo” - desde o governo Reagan e encarregado do planejamento das operações de combate aos muçulmanos desde o governo Clinton -, tudo começou com uma deslavada mentira. Todos sabiam que o Iraque nada tinha a ver com a Al Qaeda e menos ainda com a explosão das Torres Gêmeas. Mas era preciso mostrar o poderio americano contra o Iraque (já debilitado pelos bombardeios cotidianos, durante dez anos), o menos despótico dos países do Oriente Médio.
Talvez o historiador que vier a suceder Hobsbawm no futuro defina este nosso tempo como “A Era Vazia”. Mas há sinais de que a resistência da razão humanística pode vir a prevalecer. Os cidadãos começam a refletir e a ocupar as ruas das grandes cidades do mundo. O neoliberalismo globalizador tem sido contestado, desde seu início, pela lucidez de grandes pensadores, muitos deles europeus e norte-americanos. Entre eles, o próprio Hobsbawm, que nunca renegou o marxismo, mas soube repensá-lo, na análise da história e da sociedade dos homens."
Fonte: Mauro Santayana
Um comentário:
por Rodrigo Vianna
Tão logo foi divulgada a nova pesquisa do IBOPE em São Paulo, alguns internautas manifestaram incredulidade via twitter: “como pode, o Rusomano caiu sete pontos, e o Haddad não ganhou nenhum?”.
Os números resumidamente são os seguintes:
Russomano – 27% (tinha 34% na pesquisa anterior do IBOPE)
Serra – 19% (tinha 17%)
Haddad – 18% (tinha 18%)
Chalita – 10% (tinha 7%).
A explicação para esse quadro (queda de Russomano e estabilidade de Haddad, que permanece em empate técnico com Serra) não é tão complicada e fica mais fácil de entender analisando os gráficos publicados pelo (bom) jornalista José Roberto de Toledo, do Estadão.
Vejamos. Nas áreas de periferia, onde o PT costuma ter forte votação, Russomano sofreu um tombo ainda maior, de 9 pontos: caiu de 39% para 30% em uma semana. Haddad ficou com parte desses votos – mas apenas uma parte, subindo de 17% para 21%. Ainda é pouco, em regiões onde o PT costuma ter mais de 30% dos votos. Mas seria o suficiente para Haddad passar Serra na soma geral da cidade…
Seria. Se não fosse um detalhe. Nos bairros mais ricos, onde o PT costuma sofrer rejeição, Haddad tinha 19% há uma semana. E agora tem 15%.
Ou seja: os 4 pontos que conquistou na periferia – graças à queda de Russomano – Haddad acabou perdendo nos bairros mais ricos. Qual minha hipótese? O “Mensalão” está travando Haddad. E isso fica claro pela queda justamente nos bairros onde a influência da velha mídia é maior.
Não é um tsunami contra o PT, como dizem certos colunistas da imprensa tucana. Mas é uma onda suficiente pra dificultar as coisas para os petistas. Nos próximos dias, essa onda deve ficar ainda mais forte, com o julgamento de Ze Dirceu no STF.
De outro lado, a entrada de Lula na campanha – com vários comícios na periferia (zonas sul e leste) de São Paulo - ainda não surtiu efeito nas pesquisas. É preciso destacar que nas periferias há um número maior de eleitores indecisos. Se Lula conseguiur levar para Haddad uma parte pelo menos desses votos, há chance real do petista ultrapassar Serra até domingo.
O que atrapalha as chances de Haddad, além do “Mensalão”? Chalita. Nas periferias, Chalita subiu de de 5% para 9%. Ou seja, parte dos votos que abandonaram Russomano nas áreas mais pobres está migrando para o peemedebista, e não para o petista. Fora isso, ele avança também nos redutos “tucanos”; foi de 9% para 12%, em uma semana.
Lula de um lado, “Mensalão” do outro. E no meio do caminho, Chalita. Assim irá a eleição de São Paulo até o fim.
O DataFolha trará mais números nessa quarta. Devem confirmar a queda de Russomano – tendência apontada também nos levantamentos diários de tucanos e petistas.
Conversei ontem com um nome importante da campanha serrista. Ele diz que não descarta a possibilidade de Serra e Haddad irem para o segundo turno, drenando votos de Russomano.
Acho que, hoje, é a hipótese menos provável. Mas não impossível.
Da mesma forma – num eleitorado tão volúvel, e aparentemente cansado da polarização PT x PSDB – eu não descartaria a possibilidade de Chalita seguir subindo até o dia da eleição, a ponto de transformar-se numa “quarta via” com chances reais de chegar ao segundo turno.
Por fim, outra dúvida: Russomano seguirá caindo? Talvez 25% seja o piso pra ele. Com isso, pode ir ao segundo turno. Mais fraco do que se imaginava. Ainda assim, com uma performance surpreendente pra quem tem menos tempo e muito menos estrutura do que tucanos e petistas.
03 outubro, 2012 10:11
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