É sobre viagem.
E companhia.
E solidão.
Dei uma olhada agora nas belas fotos de Veneza que postamos ontem (se não viram é só correr o cursor para baixo).
As casas todas coladas, juntinhas.
E o oceano aberto. Amplo e solitário.
Recebi hoje mensagem de um velho amigo (atenção, não falei amigo velho!) que mora atualmente no circuito Rio-Niterói (é possível).
Tirou férias e viajou. Chegou no fim de semana.
Me encantou o roteiro que é um dos que sempre pesquisei: Berlim, Budapeste, Praga, Viena, Paris e algumas outras.
Assim que organizar vai disponibilizar o link com as fotos. Talvez eu coloque algumas aqui.
Não sei se ele foi sozinho, com a família ou com amigos.
Como já viajou muito deve ter experimentado as três possibilidades.
Bem, estou tentando juntar três temas: a beleza de Veneza, a viagem do amigo e o excelente texto abaixo da Martha Medeiros: "Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo."
Acreditem, o tema é viajar.
Ou não.
O ênfase pode ser mesmo na análise da possibilidade de estar apenas consigo mesmo. Sem estar só.
Nós
Martha Medeiros (setembro/2012)
"Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo?
Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias.
Vivi recentemente essa experiência. Tirei 10 dias de férias, e não diga que não reparou, ou morrerei de desgosto. Estive em lugares que já conhecia para não me sentir obrigada a conferir as atrações turísticas _ o “aproveitar” não precisa necessariamente ser dinâmico, podemos aproveitar o sossego também.
Minha intenção era apenas flanar, ler, rever amigos que moram longe e observar a vida acontecendo ao redor, sem pressa, sem mapas, sem guias. Dormir até mais tarde e almoçar na hora em que batesse a fome, se batesse. Estar disponível para conversar com estranhos, perceber o entorno de forma mais aguçada, circular de bicicleta por cidades estrangeiras. Ave, bicicleta! Diante do incremento de turistas no mundo, não raro impossibilitando a contemplação de certos pontos, alugar uma bike às 7h30min foi a solução para curtir ruas vazias e silenciosas.
Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?
Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?” Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.
Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais.
Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só."
Fonte: Zero Hora
3 comentários:
Já viajei sozinha e achei muito legal. Mas como disse a Martha, tem que estar disposta a isso. Bem consigo mesma.
Olá!
O tema solidão que a Martha utilizou através de seu texto sobre viagens é um dos mais complexos e que mais pode trazer paz ou angústia. É muito importante que isso seja sempre discutido, analisado.
Valeu!
Marquinhos
Já que você falou de solidão , vai o silêncio...
que recebi da Denise Gobbo
Bastos
Muito lindo, compartilho...
Abraços, ótimo dia!
O Silêncio
"Nós os índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.
"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam.
Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam.
Observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás.
Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. Dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos,
e todos falam cinco, dez, cem vezes. E chamam isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir.
Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem.
Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive.
Se começar a falar, eu não vou te interromper.
Te escutarei.
Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que está dizendo.
Mas não vou interromper-te.
Quando terminar, tomarei minha decisão sobre o que disse, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terá dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.
Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas.
Muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio."
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