23 de outubro de 2013

América Latina: "De vítima privilegiada do neoliberalismo, à única região do mundo com governos e políticas posneoliberais"


Ser de esquerda na era neoliberal
Por Emir Sader, no Blog do Emir do site Carta Maior

"Um instituto que fez a pesquisa e os editorialistas da velha mídia se enroscaram nos seus resultados, sem entender o seu significado. Afinal, se a maioria dos brasileiros é de direita – parte que vota na Dilma e parte que vota na oposição - porque a direita tem perdido sempre e continuará a perder as eleições? Por que os políticos mais populares do pais são Lula e Dilma e os mais impopulares FHC e Serra?

Uma primeira interpretação, apressada, é que se trataria de um governo de direita, daí receber o voto de setores que se dizem de direita. O país viveria um êxtase direitista, em que governo e oposição não se diferenciariam, ambos de direita. Tese tão a gosto da ultraesquerda e de setores da direita, ambos adeptos da tese de que o PT apenas repete o que os tucanos fizeram.

Tese absurda, porque já ninguém pode negar que o Brasil mudou, mudou muito e mudou para melhor depois dos governos tucanos e nos governos petistas. Como ninguém nega o destino contraposto que o povo reservou para o Lula e para o FHC, como consequência das mudanças entre um governo e outro.

Para complementar, a direita tradicional – midiática, partidária, empresarial – sempre esteve fortemente alinhada com o governo tucano e contra os governos petistas. Enquanto este sempre teve o apoio dos setores populares, de esquerda, de dentro e de fora do país – neste espectro, de Cuba a Uruguai, da Venezuela ao Equador, da Argentina à Bolívia. E, como corolário, a oposição dos EUA e das forças neoliberais no continente e no mundo. Estes buscando, inocuamente, projetar o México – o grande modelo neoliberal remanescente – como referencia alternativa à liderança brasileira no continente.

Afora o bizarro argumento de que todos estão equivocados e que o Brasil de hoje é igual ao dos anos 1990, de que os lideres esquerdistas não conhecem o país ou outro desse calibre, uma das características da polarização contemporânea se dá em torno do traje que veste o capitalismo na época histórica atual.

O anti-capitalismo, que sempre caracterizou a esquerda, ao longo o tempo, foi assumindo formas distintas, conforme o próprio capitalismo foi se transformando, de um modelo a outro. A esquerda foi antifascista nos anos 1920 e 1930, foi adepta do Estado de bem-estar social e do nacionalismo nas décadas do segundo pos-guerra, foi democrática nos países de ditadura militar. Assim como a direita foi mudando sua roupagem, na mesma medida: foi fascista, foi liberal, foi adepta da Doutrina de Segurança Nacional, conforme as configurações históricas que teve que enfrentar.

Na era neoliberal, os eixos centrais dos debates e das polarizações se alteraram significativamente. A direita impôs seu modelo liberal renascido, marcado pela centralidade do mercado, do livre comercio, da precarização das relações de trabalho, do capital financeiro como hegemônico, do consumidor. Ao mesmo tempo da desqualificação das funções reguladores do Estado, das politicas redistributivas, da politica, dos partidos, dos direitos da cidadania.

É nesse marco que a América Latina passou, de vítima privilegiada do neoliberalismo, à única região do mundo com governos e políticas posneoliberais, com governos que se propõem concretamente a superação do neoliberalismo. A prioridade das políticas sociais ao invés da ênfase central nos ajustes fiscais. O resgate do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais no lugar do Estado mínimo e da centralidade do mercado. O privilégio dos projetos de integração regional e do intercâmbio Sul-Sul e não dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos. Essas contraposição define os campos da esquerda e da direita realmente existentes na era neoliberal.

Os brasileiros tem se pronunciado, reiteradamente, a favor das prioridades de distribuição de renda, do papel ativo do Estado, das políticas de integração regional e intercâmbio Sul-Sul. Constituiu-se uma nova maioria no país, progressista, que preferiu Lula ao Serra ao Alckmin, Dilma ao Serra, e se encaminha para preferir de novo Dilma ao candidato que se apresente pelas forças conservadoras.

Toda resposta de pesquisa depende da forma como foi formulada a pergunta. E os institutos de pesquisa tem sido useiros e vezeiros na arte de manipulação da opinião pública. Basta recordar que o diretor do mais conhecido deles, jurou que o Lula não elegeria seu sucessor, que o campo estava livre para o retorno tucano com o Serra, e demorou para se autocriticar, diante da realidade que o desmentia.

Na era neoliberal – modelo imposto sobre um brutal retrocesso na correlação de forças mundial e nacional – a linha divisória vem desse modelo, dividindo as forças fundamentais entre neoliberais e antineoliberais – conforme resistam a governos neoliberais – e posneoliberais, quando se empenham na sua superação.

Em vários períodos históricos houve uma esquerda moderada e uma esquerda radical. A social democracia passou a representar a primeira, os comunistas e forças da extrema esquerda, a segunda. No período histórico atual há, na América Latina, governos posneoliberais moderados – como os do Brasil, da Argentina, do Uruguai – e radicais – como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, sem mencionar o de Cuba. Os primeiros romperam com eixos fundamentais do neoliberalismo – com os enunciados: centralidade do mercado, Estado mínimo, privilégio do ajuste fiscal e dos TLCs com os EUA – avançam na sua superação – centralidade das políticas sociais, do papel do Estado, dos processos de integração regional. Os segundos, além de antineoliberais, se propõem a ser anticapitalistas, e deram passos nessa direção.

Ser de esquerda hoje é lutar contra a modalidade assumida pelo capitalismo no período histórico contemporâneo, é ser antineoliberal, em qualquer das suas modalidades. A moderação ou a radicalidade estão nas formas de articulação, ou não, entre o antineoliberalismo e o anticapitalismo. Seria demasiado pedir que pesquisas e editoriais imersos no universo neoliberal como seu habitat natural, sem a perspectiva histórica que permite entender o neoliberalismo e o capitalismo como fenômenos históricos precisos e a história como produto de correlações de forças cambiantes , pudessem captar o sentido de ser de esquerda e de direita hoje. São vítimas de clichês que eles mesmos criaram e que os aprisionam.

Enquanto isso, a América Latina, sua direita e suas esquerdas, se enfrentam nas condições concretas e especificas do mundo contemporâneo."

Um comentário:

Anônimo disse...

“Rola-bosta” na Folha. Fedeu!
Por Altamiro Borges

A Folha tucana anunciou nesta quinta-feira (24) o seu novo time de colunistas. A aquisição mais bombástica é a de Reinaldo Azevedo – o pitbull da Veja que também já foi apelidado de “rola-bosta” pelo teólogo Leonardo Boff. Expressão caricata do direitismo nativo, o novo “calunista” comemora: “Firmei com a Folha o compromisso firmado com meus leitores e que vigora na minha relação com a Veja: escrever o que penso, segundo os fundamentos da democracia representativa, a única que reconheço, e do Estado de Direito”. Hilário!



Além de Reinaldo Azevedo – que nunca teve como marca a defesa da democracia, mas sim seu ódio aos partidos de esquerda, aos movimentos sociais e aos governos progressistas da América Latina –, a Folha ainda anunciou outra contratação reveladora. A do jornalista Demétrio Magnoli, um assíduo frequentador do Instituto Millenium, o antro dos barões da mídia nativa. Com estas duas aquisições, o jornal da famiglia Frias dá mais uma radical guinada à direita e abandona de vez a sua aura de veículo eclético e plural, que já enganou tantos inocentes.

A informação sobre as andanças de Reinaldo Azevedo foi revelada na véspera pelo site Brasil-247. Num primeiro momento, especulou-se até que ele deixaria a revista Veja. A reação dos leitores do site foi imediata e ácida. Vale conferir alguns comentários:

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Chucky 23.10.2013 às 12:45

Agora, cá entre nós, a Folha já é uma merda de jornal; com o Reinaldo lá, a única diferença é que vai feder um pouco mais.

Luiz Diamantino 23.10.2013 às 12:33

A Folha acabou de acabar. Para mim e certamente para milhares de leitores. Vou cancelar minha assinatura. Pagar para ler Reinaldo Azevedo?! Nem a pau!

Roberto Locatelli 23.10.2013 às 12:43

Saiu de uma empresa sem futuro e foi para outra empresa sem futuro. A dúvida é: saiu ou "foi saído"?

Chucky 23.10.2013 às 12:42

Saiu do esgoto (Veja) e vai pro lixo (Folha).

Escrevam ai: 23.10.2013 às 12:31

A Folha e a Veja ainda serão distribuídas gratuitamente à população. Nada mais natural; afinal, panfleto eleitoral nunca deveria ser vendido.

Roberto Ribeiro 23.10.2013 às 12:28

Vixe! Saiu do esgoto e foi para a latrina. Vixe!!!

Fernando 23.10.2013 às 12:27

Pro buraco e avante!!!!!!!!! É isso que vai acontecer com a foia

Mário Silveira Neto 23.10.2013 às 12:25

Eu, eu, eu, a Folha se deu mal...

Todos nós sabemos que os jornais impressos estão com seus dias contados... Portanto, adeus rola-bosta, passa a régua e zéfini

Luciano Prado 23.10.2013 às 12:37

Só mudou o fluxo do esgoto, o cocô é o mesmo.

Manoel 23.10.2013 às 12:33

Na Veja ele era uma "estrela", enquanto na FSP ele vai ser "só mais um". Dançou.
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Agora, com a confirmação de que Reinaldo Azevedo será colunista da Folha e manterá seu blog na Veja, o site Brasil-247 garante que a nova aquisição “caiu como uma bomba no jornal e foi muito mal recebida por diversos profissionais de peso que atuam na Barão de Limeira. Para muitos jornalistas da casa, o leitor da Folha é predominantemente conservador, mas não é um radical de direita, disposto a seguir a linha do colunista de Veja.com”.