Um desafio que enfrentamos é achar a fronteira entre bom e mau gosto.
O que é uma bela foto erótica, o que é uma foto vulgar?
Sabemos que nem todos os leitores do blog gostam dessa série. Para falar a verdade desconfio que quase a totalidade das leitoras não acham nenhuma graça.
Pedimos a compreensão uma vez que, por outro lado, é sempre o post mais popular para grande parte do eleitorado masculino.
E vamos nos equilibrando.
Como disse no início, não somos os únicos. Navegando pelo blog do Milton Ribeiro vi que ele levantou a mesma questão em seu post semanal "Porque Hoje é Sábado", também dedicado às musas.
Na oportunidade ele se lembrou de um poema curioso do Carlos Drummond de Andrade, provavelmente publicado no livro "Brejo das Almas" de 1934. Chama-se "Em face dos últimos acontecimentos".
O Drummond tem umas ótimas poesias bem eróticas, quase pornôs (com todo respeito), que não são muito divulgadas. Uma pena.
O que não resolve a questão levantada no início mas dá moral pra gente no caso de certos exageros que sempre acontecem. Conscientes ou não. Afinal, Drummond 'falou tá falado'! Virou poema e pronto.
Bem, reproduzimos a poesia avisando que as musas da semana fazem parte de uma edição especial comemorativa da Revista Sexy que chega às bancas este mês.
Sintam a poesia e vejam as musas. Ou seria melhor se fosse o contrário?
Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?
Aline Bernardes |
Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
Carine Felizardo |
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
7 comentários:
Sugar e ser sugado pelo amor
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.
Carlos Drummond de Andrade
Sempre com novidades, hein Marquinhos?
Essa de misturar poesia com mulheres lindas foi nota dez.
Só faltou indicar um bom vinho.
Vinho bom eu tenho só falta uma dessas de verdade para passar o fim de semana no paraíso. E lendo Drummond de vez em quando.
Mais um poema erótico de Drummond, eu sempre gostei!
Mimosa boca errante
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
Marquinho, uma Campistinha na proxima
Marquinho, a maior surpresa deste post não são as mulheres, sempre gatas, mas essas poesias que você trouxe e que o pessoal está postando do Carlos Drmmond de Andrade. Eu nem sonhava que com o jeito dele ele tinha escrito esse tipo de poema. Devem ter outros e mais pesados. Manda mais! Gostei.
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
A castidade com que abria as coxas
Carlos Drummond de Andrade
A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas
e tão estreita, como se alargava.
Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.
Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.
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