10 de outubro de 2013

Marina e Campos: uma estranha coalizão

Campos e Marina lançam campanha “com quem será?”
Por: Fernando Brito

Em quase 40 anos acompanhando a cena política brasileira, confesso aos amigos que nunca vi nada tão deprimente quanto o comportamento da dupla Eduardo Campos e Marina Silva.

A entrevista “coletiva” (literalmente) concedida pelos dois hoje, em São Paulo – onde o Governador tucano Geraldo Alckmin os recebeu de gravata “marineira” verde – é uma peça que qualquer imprensa séria se encarregaria de chamar pelo nome: ridículo.

Os dois anunciaram (?) que não sabem se serão um com outra, outra com um ou um ou outra com outro alguém os candidatos à Presidência.

Isso, os novos gênios da política descobriram, seria cometer “os mesmos erros das práticas políticas” que a dupla condena.

Ou seja, pedir votos ao eleitor dizendo para quem são estes votos agora é uma “prática política” condenável, antiga.

Dizem que pedirão votos para um programa.

Qual programa?

Ah, eles decidiram hoje que , no dia 29, vão promover um encontro “para estabelecer diretrizes para o programa da candidatura da chapa em 2014″. Diretrizes, vejam bem…

Quer dizer, temos uma candidatura sem candidato e sem programa, visto que ainda vão, daqui a 19 dias, sentar para definir as “diretrizes” para fazê-lo.

Portanto, caro leitor e cara leitora, você não vai saber até lá  se querem seu voto para privatizar ou reforçar o Estado, ou se é para manter o Mais Médicos ou não, se vamos fortalecer a Petrobras para explorar o pré-sal ou se vamos deixar lá nas profundezas esse líquido nojento, viscoso e poluidor, se o Brasil vai caminhar para trás ou para frente, para a direita ou para a esquerda.

E só em meados de 2014 se será Eduardo ou Marina o fiador deste programa que não se sabe qual é.

A única coisa sincera na entrevista foi a declaração de Marina, citada na CBN, de que o encontro entre ambos se deu porque ela tinha uma funda (atiradeira) para derrubar um gigante e Campos tinha cinco pedras na mão para jogar contra ele. Juntos, portanto, são mais fortes para destruí-lo.

Destruí-lo para construir o que? Depois se vê, não é importante.

Porque, para ambos, o poder é apenas uma ambição pessoal, para qual se alimentaram por anos no situacionismo, antes de partirem, famintos, para esse “ninguém é de ninguém, desde que tudo seja nosso”.

Mas a elite brasileira, e seu porta-voz, a mídia, não se importa com isso, porque o Governo não lhes é importante, como é importante ao povo.

O único problema que os move, nas eleições, é que não se venha mais com essa história de colocar gente no Governo que se preocupe mais com o Brasil do que com as pompas e poderes minúsculos que lhes concedem, escravos do “mercado” e do sistema, que absolvem e aplaudem o seu vazio.

O que é ôco, em política, não se engane, está cheio de conservadorismo, que muda apenas para que não lhe reconheçam e o derrotem.

Fonte: Tijolaço

Um comentário:

Renato Rovai disse...

A oposição com jeito manso de Eduardo Campos

O programa partidário do PSB acaba de apresentar ao país em rede nacional de rádio e TV, Eduardo Campos. Ele que foi ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro governo de Lula, que se elegeu governador de Pernambuco em 2006 com o apoio de Lula e cujo partido apoiou o governo Dilma até o mês passado simplesmente fez de conta que isso não existiu na sua trajetória.

Porque na estratégia de campanha de Eduardo Campos, que será candidato a presidente da República com um discurso de oposição moderada, isso não interessa.

Nas sociedades democráticas pode até se dizer que isso é natural. Mas também deveria ser natural que antes de fazer a inflexão, o político honesto fizesse uma reflexão pública sobre a mudança de rota.

O fato é que os que têm se vendido como novo tem demonstrado grande habilidade na arte da velhacaria política.

A publicidade de Campos usou como principal peça do seu espaço na TV, um jogral em que uma pessoa fala de algo bom no Brasil e outra de algo ruim. Sendo que o assunto é o mesmo. Uma diz, por exemplo, que no Brasil todo mundo que quiser pode ir a escola. Outra que muita gente não vai a escola. Uma diz que no Brasil o governo criou o mais médicos. Outra que faltam medicamentos nos postos de saúde.

Ou seja, tem coisa boa no país. Mas tem muita coisa ruim também. Como se isso não acontecesse em todos os cantos do mundo. E na vida de cada um de nós.


Parece coisa boba, mas eficiente.

Porque Eduardo ao fazer essa abordagem malandra, consegue fazer ignorar que seu partido esteve durante 10 anos no governo até há menos de um mês e não fosse também co-responsável pelos erros que este governo cometeu. Sendo apenas credor dos acertos.

O discurso com características esquizofrênicas, porém, tem seus atrativos. É bom para quem quer votar num opositor com jeitinho mais manso. E provavelmente vai lhe trazer dividendos nas próximas pesquisas.

Ou seja, Eduardo Campos e Marina lançaram sua chapa hoje. E o fizeram de forma despolitizada, mas bem conduzida do ponto de vista do marketing. Ponto para o marqueteiro.

Mas o que o Brasil ganha com isso? Mais uma opção eleitoral e não um outro jeito de fazer política, como a dupla tem vendido. Aliás, muito pelo contrário, o programa foi repleto de velhas matreiragens. E a principal delas é a de fazer de conta que não se é isso nem aquilo, para não se comprometer com nada. O que é o pior dos caminhos para se construir um debate político sério.

Nasceu a oposição que Sarney havia previsto há algum tempo. Segundo ele, a oposição que ameaçaria a hegemonia petista sairia do próprio governo. Naquele momento, Marina e Eduardo Campos ainda estavam na base. Se vai dar certo é outra história. Mas agora setores que não querem mais o PT tem algo mais do que o PSDB.

Esse algo mais pode ter até um discurso errático e pouco construtivo do ponto de vista político, mas veio com uma boa embalagem de marketing.