Sempre tive uma relação de amor e ódio com as Redes Sociais.
É fato que, da mesma forma que a Martha (não no mesmo nível, óbvio), tenho esse pequeno nicho que é o blog para me expressar, o que de certa forma dispensa Facebook, Instagram, Twitter e similares.
Mas meu Facebook está lá. Minha linha do tempo. Com fotos. Pequenos posts e mais de 200 amigos, eu que nunca achei que tivesse mais de meia dúzia, que é o que a gente precisa ter segundo o escritor Ignácio de Loyola Brandão (de "Não Verás País Nenhum"), já que "seis são as alças do caixão".
A escritora Martha Medeiros - que não tem Facebook, os perfis que existem são falsos - anda as voltas com a incerteza de, afinal, criar ou não o seu perfil.
Como quase tudo, existem os lados positivos e negativos. E isso depende de cada um.
Ter uma boa ferramenta à mão ou tornar-se prisioneiro desta "facilidade".
Excluída
Por Martha Medeiros
Jornal Zero Hora - 23/10
"A Ana me ligou no final da tarde de sexta: “E aí, você vem?”.
Eu não fazia ideia sobre o que ela estava falando. Foi então que a Ana se deu conta de que eu não estava no Facebook, portanto, não sabia da festa que a turma havia armado. Como eu não havia me pronunciado, ela resolveu ligar para saber se eu estava viva.
O cerco está apertando. Antes, eu trocava e-mails com os amigos com uma certa frequência, agora todos debandaram, só um ou outro lembra que eu não estou nas redes sociais e faz a caridade de me manter informada sobre o que acontece no universo.
Não tenho vontade de ter perfil em lugar algum (e mesmo assim tenho, criados e postados por pessoas que não sei quem são). Instagram, Twitter, WhatsApp, nada disso me seduz, não conseguiria tempo para esse contato eletrizante. Ainda me custa compreender pessoas que deixam o iPhone sobre a mesa do restaurante, que precisam fotografar cada minuto vivido, que desmaiam quando esquecem o celular em casa. Eu deveria ter me alistado na expedição de colonização de Marte, onde certamente eu me sentiria menos deslocada do que aqui na Terra.
Mas não me alistei, então terei que me ajustar à nova ordem social do meu planeta.
Óbvio que a tecnologia não é a vilã da história, e sim o uso obsessivo que se faz dela. Para quem tem autocontrole, esses gadgets são fascinantes por seu dinamismo, modernidade, capacidade de agregação, de agilização de tarefas, e ainda resolvem a questão do anonimato, com o qual ninguém mais quer lidar. As redes transformaram palco e plateia numa coisa só: todos são espectadores dos outros e ao mesmo tempo possuem um holofote sobre si. Já que existir virou sinônimo de “quantos me curtem”, a população mundial conseguiu um jeito de ficar quite com o próprio ego.
É muito provável que eu estivesse nas redes caso não escrevesse colunas em jornais. Como tenho esse canal de expressão semanalmente, não me fazem falta outros. Ou não faziam. Estou nesse impasse agora: devo mergulhar com mais profundidade no mundo virtual? Reconheço três vantagens: acompanhar o que meus amigos andam tramando às minhas costas, me atualizar com mais rapidez e oferecer aos meus leitores um perfil oficial. Além de me sentir menos mumificada.
Será isso que chamam de “se reinventar”?
Ando cada vez mais próxima da filosofia budista, exalto a desaceleração, prezo uma boa conversa, adoro ter tempo para meus livros, meu silêncio, minhas caminhadas. Não sinto falta de saber mais, de ter mais acesso à informação, de conhecer mais gente. Por outro lado, não quero me isolar dos amigos nem ficar sem assunto com eles – e com o mundo.
Que dúvida. Pela primeira vez, reflito sobre algo de que, numa era em que se debate tudo, pouco se fala: o nosso direito de ser indiferente."
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