Artur Xexéo |
A partir de uma pesquisa que mostrava um alto índice de felicidade por ser carioca e morar no Rio, Xexéo parte em uma busca para achar essa tal de felicidade na cidade maravilhosa.
Além de mostrar a cidade real em seu dia a dia, ele aproveita e faz viagens no tempo lembrando que a felicidade do Carlos Zara, em uma antiga novela, era ter duas mulheres: as ótimas atrizes Odete Lara e Lolita Rodrigues. Mas não pára por aí: tenta descobrir o que significa o Índice de Felicidade do Butão e vai até o cinema francês.
Me lembro de uma música dos tempos da Jovem Guarda (lá vou eu outra vez com velharias, pareço até o Xexéo; mas talvez essa nem seja da Jovem Guarda, acho que é mais anos 70, talvez do Odair José - o que não ajuda muito...) que dizia que "felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes". No Rio, na França ou no Butão.
Um dia de trânsito normal em Copacabana, Rio |
Em busca da felicidade
"Nos últimos dias, tenho vivido uma experiência diferente. Ao acordar, antes até de sair da cama, digo pra mim mesmo: “Sou feliz!”. Totalmente influenciado pela pesquisa que O GLOBO vem publicando que associa morar no Rio à felicidade, encho o peito e repito: “Sou carioca! Sou feliz!”
Minha determinação não dura muito tempo. Ao sair de casa, o porteiro me entrega a correspondência. Como acontece uma vez por mês, recebo mais uma carta de um cartão de crédito que já tenho. Ele me oferece as vantagens de me tornar associado. Como não preciso de dois cartões de crédito da mesma bandeira, rasgo a correspondência e procuro uma lixeira para livrar-me dela. Perto da minha casa existem três. E todos os dias me pergunto como, às 8 da manhã, já estãotod as abarrotadas de lixo. Nelas não cabe nem minha carta rasgada. Pior: na calçada, no espaço em torno das lixeiras, o carioca joga fora caixas de papelão, sacos de plásticos, garrafas vazias... O Rio é sujo. Dá pra ser feliz em meio à sujeira?
Procuro não pensar nisso, pego um táxi e... fico preso dez minutos num engarrafamento dentro do Túnel Velho. Alguém pode me dizer que, no Rio, até engarrafamentos são felizes. Imagine estar engarrafado na Lagoa. Não dá para reclamar da paisagem em volta. Não tenho muito tempo para raciocinar sobre isso. Após me livrar do engarrafamento no túnel, fico engarrafado em frente ao Cemitério São João Batista e, admirando jazigos perpétuos, tenho vontade de perguntar ao motorista do carro ao lado: “Tá rindo de quê?”
Desisto da felicidade inerente a minha condição de morador do Rio e procuro alguém que seja pessimista como eu. Dizem que no Morro da Mangueira mora um carioca infeliz. Desempregado, descrente da UPP e arrasado porque, após a última chuva, as águas invadiram seu barraco e levaram toda a cozinha, ele contraria as pesquisas. Um vizinho, felicíssimo, lembra ao morador desiludido que no Rio tem carnaval. Foi o bastante para nosso infeliz personagem cair no choro, lembrando-se que a Mangueira ficou em oitavo lugar no último desfile de escolas de samba.
Não sei quando começou essa moda de associar felicidade a regiões geográficas. Talvez seja uma invenção do rei do Butão que, nos anos 70 do século passado, criou o índice de Felicidade Interna Bruta para compensar o péssimo PIB de seu país. No Butão, o budismo leva à felicidade. O Brasil também anda com o PIB lá embaixo. Só nos resta a felicidade.
A novela citada pelo Xexéo |
Na novela, quando uma esposa descobre que existe a outra, a felicidade de Carlos Zara vai pro brejo. No filme, o triângulo amoroso é desfeito pelo suicídio de um dos vértices. Resumindo: nos anos 60, felicidade era ser bígamo. Resumindo de novo: a felicidade dura pouco.
A poesia já nos ensinou isso há muito tempo. Vinícius de Moraes disse que “a felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor”. E concluiu: “Tristeza não tem fim, felicidade, sim.”
A minha felicidade, aquela felicidade estimulada por ser carioca, dura pouquíssimo. Dura o tempo de ler o jornal. Esta semana mesmo, enquanto saboreava a pesquisa do GLOBO, ao mesmo, ficava perplexo com a tragédia do incêndio do Leblon. Trancado por uma porta blindada com quatro fechaduras (ué, o carioca não vive uma maior sensação de segurança?), um casal encontra a morte jogando-se do quarto andar para fugir do fogo. O incêndio se apaga sozinho, após consumir todo o apartamento. Os bombeiros chegaram meia hora depois, não tinham escada Magirus, não havia água no hidrante da rua. É esse o Rio feliz?
A pesquisa diz que a felicidade do carioca está também associada ao otimismo. Temos lixo, engarrafamentos, enchentes, incêndios, mas tudo vai melhorar porque estamos nos preparando para os grandes eventos. Em outras palavras: se a gente já é feliz agora, imagina na Copa!"
Fonte: Blog do Xexéo
Um dia tranquilo no Butão |
2 comentários:
Eu li essa repostagem. Só mostra pessoas e fotos da Zona Sul e Barra. O Rio bonito do turismo e classe média alta. Aí até eu fico feliz. Quero ver mostrar Paciência, Bangu, Senador Camará, etc. É sempre assim.
Tem uma cidade no norte fluminense em que acreditam na felicidade no Butão, pode isso?! Hehehe...
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