E se encerrou mais um capítulo da história dessa milenar instituição - a única que sobrevive ao passar dos séculos e séculos.
Não existe nada no mundo que se assemelhe nem de longe à eleição de um Papa, daí esse interesse e curiosidade tão grande.
Venceu um argentino. É claro que as piadas logo apareceram, do tipo "Maradona I", "Messi II", "Peron IV"... ainda bem que não vi ninguém criar um "Evita X".
Brincadeiras à parte, gostei de ter sido escolhido um Latino Americano que gosta de ter proximidade com as pessoas e que ele tenha adotado o nome Francisco, lembrando de um dos mais interessantes personagens da história da Igreja (São Francisco de Assis) e apontando uma direção anti-materialista e a favor dos menos favorecidos e da natureza.
Só não vale começar a chamar ele - no Brasil - de Papa Chico!
Se ele tem restrições por parte de alguns, paciência. Dificilmente se encontraria alguém que não as tivesse.
É bem verdade que gostaria que fosse o eleito o brasileiro Odilo Scherer mas ficou mesmo Jorge Mario Bergoglio, o argentino filho de italianos. Scherer é descendente de alemães. Mas isso é o de menos.
Pensando bem, se levarmos por esse lado, acho que a disputa ficou entre Itália e Alemanha e não entre Brasil e Argentina!
3 comentários:
Uma Opinião:
Julio Gambina: Francisco I vem impor disciplina transnacional e neoliberal à América Latina
"A Igreja é parte do poder mundial e não só do poder econômico. A Igreja disputa historicamente o consenso da sociedade. É uma realidade a considerar em tempos de crise capitalista, considerada também uma crise de civilização, já que esta civilização contemporânea está organizada pelo regime do capital, ou seja, pela exploração do homem pelo homem, pela depredação da Natureza.
Quando o sistema mundial estava desafiado pelo avanço dos povos e pelo socialismo (como forma que tentava ser alternativa da ordem mundial), se abriu caminho à Teologia da Libertação, em aberta confrontação com o poder institucional de uma Igreja retrógrada. Assim, a Igreja dos pobres se mostrava desde o Sul do mundo, mais precisamente de Nossa América. A Igreja oficial não podia negar esse rumo que se sustentava entre os padres de base e que causou um grande debate mundial no seio da Igreja.
Os rumos da ofensiva popular tocavam à porta da Instituição. A resposta contemporânea da Instituição Igreja foi acompanhada pela ofensiva capitalista para recuperar o poder do regime do capital. Esta ofensiva se materializou nos anos 80, contra o socialismo e os povos, abrindo o caminho ao poder reacionário dos Ratzinger e Bergoglio.
Faz 40 anos que o neoliberalismo foi ensaiado em nossos territórios, com as ditaduras e o terrorismo de Estado, para em seguida se estender para todo o mundo. A Igreja na Argentina, salvo honrosas e escassas exceções, acompanhou a ditadura genocida desde o parto neoliberal, ainda que agora fale contra a pobreza e pela ética.
O rumo unipolar está sendo desafiado pelas mudanças políticas em Nossa América e o ressurgir do socialismo, seja pelas mãos da revolução cubana ou por processos específicos que emergem em alguns países (Venezuela ou Bolívia), inclusive em variados movimentos políticos, sociais, intelectuais e culturais em nossa região.
Com a morte de Chávez e milhões mobilizados para constituir-se em sujeitos pelo cumprimento do legado revolucionário e socialista de Hugo Chávez, a Igreja lança em cena o símbolo de um chefe nascido no Sul, mas comprometido com o projeto do Norte.
O papa argentino, Francisco I, vem cumprir o projeto mundial para disputar o consenso da sociedade, especialmente dos povos. Não se trata apenas de sustentar posições contrárias ao matrimônio igualitário ou contra o aborto, amplamente difundidas pelo bispo Bergoglio, mas de gestar uma consciência de disciplina em defesa da ordem contemporânea, reacionária, de dominação transnacional.
Nossa América é hoje um laboratório de mudanças políticas. A instituição Igreja quer intervir nestes processos e não para apoiar as mudanças, mas para freá-las. A disputa é pelas consciências. É uma batalha de ideias, pela mudança ou pelo retrocesso. Preocupa a eles o efeito Chávez na região. Preocupa a eles a sucessão política na Venezuela e a capacidade de estender o rumo socialista. Precisam disputar o consenso.
Mas, por maiores que sejam os objetivos institucionais de acompanhar a ofensiva do capital contra o trabalho, os trabalhadores e os setores populares — inclusive a igreja dos pobres, o movimento religioso popular — persistem na busca de organizar a sociedade do bem viver (Bolívia), o bom viver (Equador), o socialismo cubano ou a luta pela emancipação social de grande parte das classes baixas da Nossa América.
O papa Francisco I veio por esse motivo. Os povos devemos continuar nossa busca e experimentação por uma nova sociedade, por outro mundo possível, este que se constrói na luta contínua contra a exploração, pela emancipação social, contra o capitalismo e o imperialismo, pelo socialismo."
Julio Gambina
*Doutor em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires
Outra Opinião:
Teólogo progressista vê identificação do novo papa com os pobres
"Novo papa é aberto para as questões sociais e retrógrado na moral sexual. O historiador Beozzo observa que ninguém usou o nome Francisco até hoje “por causa da radicalidade”
por Gilberto Nascimento
A adoção do nome de Francisco pelo novo papa, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, evidencia uma posição em favor dos pobres na América Latina. Essa é a avaliação do teólogo e historiador José Oscar Beozzo, coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep). Beozzo, um dos maiores especialistas em Igreja na América Latina, é alinhado à Teologia da Libertação e próximo de religiosos “progressistas”, como o arcebispo emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns.
O religioso progressista vai na linha contrária daqueles que apontam Bergoglio como conservador. “Eu gostei. É uma pessoa que vive de maneira muito simples. É muito pobre, anda de ônibus e metrô. E Francisco é o santo mais venerado, é o santo radical da pobreza. Nunca ninguém usou esse nome por causa da radicalidade. Não se pode usar o nome de Francisco e ter uma prática cotidiana contrária a esses princípios”, observou Beozzo.
Bergoglio – o segundo nome mais votado no conclave que elegeu Bento XVI, em 2005 – é tido como um moderado, aberto e sensível aos temas sociais, mas “fechado” e retrógrado nas questões morais. Travou polêmicas inclusive com a presidente de seu país, Cristina Kirchner, ao condenar a adoção de crianças por gays. Tem posições mais à direita sobre temas como eutanásia, camisinha e casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Membro da ordem dos jesuítas, Bergoglio tem ligações com a Comunhão e Libertação, movimento que propõe uma nova forma de leitura da realidade para se contrapor à visão marxista. Defende que seja feita a partir da cultura e não das contradições socioeconômicas.
O novo papa é uma figura controvertida. Em 2005, pouco antes do conclave que elegeu Bento XVI -, um advogado da área de direitos humanos, Marcelo Perrilli, o apontou como cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas. O fato teria ocorrido em 1976, durante o regime militar na Argentina. Bergoglio era o provincial da ordem dos jesuítas na Argentina. Os livros “Igreja e Ditadura’, de Emilio Mignone, e “El Silencio”, de Horacio Verbitsky, fazem acusações na mesma linha.
Beozzo – ainda ao final da tarde, momentos após o anúncio da nomeação do novo papa -, disse não haver comprovações dessas denúncias. “Ele nem era bispo nessa época. Alguns de seus superiores realmente colaboraram com a ditadura argentina”, argumentou.
Para o padre Manoel Godoy, ex-assessor da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e diretor do Instituto São Tomás de Aquino, de Belo Horizonte, a escolha de Bergoglio é positiva por sua dedicação aos menos favorecidos. “Ele escolheu o nome Francisco pela identificação com os pobres”, ressalta.
Godoy elogia ainda o fato de o novo papa andar de transporte coletivo e se recusar a morar em um palácio. “Mas muitos jesuítas tiveram de se exilar por não sentirem apoio, quando ele era providencial da ordem”, afirmou."
http://www.viomundo.com.br/politica/gilberto-nascimento-teologo-progressista-ve-identificacao-do-novo-papa-com-os-pobres.html
Nobel da Paz nega que Bergoglio tenha colaborado com ditadura argentina
O ativista argentino de direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1980, negou nesta quinta-feira que o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o novo papa Francisco, tenha vínculos com a última ditadura militar do país sul-americano (1976-1983).
Em entrevista ao portal BBC Mundo, o ativista disse que alguns bispos foram cúmplices da ditadura, mas não foi o caso do novo pontífice.
"Questionam Bergoglio porque dizem que ele não fez o necessário para tirar dois sacerdotes da prisão, sendo ele o superior da congregação de jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a liberação dos presos e sacerdotes e não eram atendidos".
A rede britânica relaciona as acusações de participação da ditadura com reportagens do jornal "Página/12" que o acusavam de colaborar com os ditadores da época.
As notícias, de um dos donos da publicação, Horacio Verbitsky, acusavam Bergoglio de ter tirado a proteção de dois padres jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, que faziam trabalhos sociais em bairros pobres.
No mesmo ano, ele negou as acusações, em sua autobiografia "O Jesuíta". "Fiz o que pude com a idade que tinha e as poucas relações com as que contava, para advogar pelas pessoas sequestradas".
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