14 de agosto de 2014

A barbárie nas redes sociais e as dipensáveis 'análises' político-econômicas da mídia neste momento

Por Maria Frô
"Havia me espantado com a barbárie nas redes sociais. Sempre me espanto diante de pessoas que conseguem ver graça em tragédia, como nas mortes provocadas pela queda da aeronave que matou Eduardo Campos e mais seis pessoas: Carlos Augusto Percol, assessor de imprensa; Marcelo Lira, diretor de fotografia; Alexandre Severo, fotógrafo; Pedro Valadares Neto, assessor; e os pilotos, Geraldo da Cunha e Marcos Martins.
Lembrava que gente que se diverte fazendo piadas de mau gosto com a morte são do mesmo tipo dos seres que vibraram com o câncer de Lula. Essas pessoas devem achar que são imortais, que seus entes queridos são imortais. Enfim devem achar que sua estupidez os deixam imunes à dor. Tristeza diante de tanta boçalidade.

Comentei ainda que as redes sociais são capazes de nos tirar qualquer fé na raça humana: a tag #foiaDilma culpando a atual presidenta e candidata à reeleição pelo Partido dos Trabalhadores pela morte do candidato Campos não é só de mau gosto, mostra muito do quanto a barbárie impera, de como há descerebrados usando a rede na tentativa de ser um futuro descerebrado do CQC, gente sem qualquer respeito à vida humana. Mas mostra igualmente o mal que é viver em um país onde tvs monopolizadas, grupos midiáticos monopolizados que na cobertura desta tragédia agem como moleques na rede. Não fico só chocada, com o fato de órgãos de imprensa agirem rasteiramente, tenho repulsa, nojo, desânimo.
Daí vejo esta postagem do Rodrigo Ferrari sobre duas ‘matérias’ da Revista Veja. Isso nos explica  porque há tantos descerebrados nas redes, eles são crias de uma mídia monopolizada sem qualquer escrúpulo, que não poupa mortes, tragédias para fazer sua política suja partidarizada buscando de qualquer forma decidir os rumos eleitorais do país.
Pode haver uma revista mais abjeta que esta?
Pode qualquer coisa que se pareça com jornalismo ser pior que esta revista marginal?

Daí quando você acha que a mídia partidarizada não pode piorar, vejam bem, hoje é 13/08/2004, estou escrevendo este post às 19 horas. A Folha não esperou nem o enterro de Eduardo Campos para lançar Marina à disputa eleitoral. Observem a questão 7:
Veja a imagem:

Fonte do print "
Fonte: Maria Frô 

2 comentários:

Paulo Moreira Leita disse...

É fácil entender porque conservadores preferem Marina

A falta de cerimonia exibida por tantos colunistas conservadores para emplacar Marina Silva de qualquer maneira como candidata presidencial do PSB, menos de 24 horas depois da morte de Eduardo Campos, é um sintoma de vários elementos da campanha de 2014.

O maior é o receio de que Aécio Neves já tenha chegado a seu limite eleitoral — muito longe daquilo que seria necessário para dar a seus aliados esperanças reais de vencer o pleito — e é preciso encontrar um atalho para tentar derrotar Dilma. Desse ponto de vista, a oportunidade-Marina veio a calhar.

Ao contrário de Aécio Neves, herdeiro identificado com o mais tradicional conservadorismo brasileiro, onde até a denúncia de caráter moral se compromete com a descoberta da pista de aeroporto de R$ 14 milhões na fazenda do tio-avô, Marina consegue apresentar-se como candidata do “novo.”

Uma década de esforço permanente para criminalizar a política a pretexto de combater a corrução não poderia deixar de produzir resultados. O mais visível deles, na campanha de 2014, é Marina.

Foi adotada por eleitores, especialmente jovens, sem partido político, para quem todo político é ladrão e só pensa em se arrumar. Basta reparar quais foram partidos que Marina frequentou e quais aliados cultivou ao longo de sua já longa existência política para ponderar o que há de verdade e de mentira nessa visão — mas este é assunto para um longo debate politico, destinado a proteger e recuperar nossos valores democráticos.

Basta registrar que sua assessoria é formada por economistas que transformaram a austeridade e o baixo crescimento num horizonte de busca permanente, usando o argumento ecológico como instrumento para impedir o crescimento econômico. Veja só. Ao contrário de conservadores tradicionais, partidários de políticas de austeridade por um período determinado, para derrubar a inflação, por exemplo, eles defendem o baixo crescimento como um valor em si. Sei que é meio difícil de acreditar, num país que tem tanto emprego para criar, tanta infraestrutura para desenvolver, tanta carência para sanar. Mas é verdade.

Referindo-se a preservação ambiental, o mais conhecido deles, Eduardo Gianetti da Fonseca, já foi capaz de dizer que é preciso combater o consumo excessivo… de carne e leite. Juro. Para ele, como ninguém respeita os padrões ambientais, é preciso encarecer o preço dessas proteínas para que o consumo seja reduzido. Está lá, no livro “O que os economistas pensam sobre sustentabilidade,” página 72 e seguintes:

“Comer um bife é uma extravagância do ponto de vista ambiental. O preço da carne vai ter de ser muito caro, o leite terá de ficar mais caro. Tudo o que tem impacto ambiental vai ter de embutir o custo real e não apenas monetário. Essa é a mudança decisiva.”

Aderindo a palavra de ordem do candidato vizinho de palanque, que falou em medidas impopulares, Gianetti admite na mesma entrevista: “O caminho que estou propondo é sofrido.”

Seu parceiro ideológico, André Lara Rezende, advoga ideias curiosas, próprias de quem admite uma postura de subordinação entre nações. Para ele “a questão Estado-Nação ficou ultrapassada.”

Paulo Moreira Leite disse...

Depois de apontar para um futuro onde uma catástrofe ecológica capaz de reduzir a humanidade para 500 milhões de pessoas (hoje somos sete bilhões) já se tornou “irreversível” e “tangível”, Lara Rezende advoga o baixo crescimento, também, mas adverte: “crescimento material com Ecologia é difícil.”


É certo que uma candidata com essas ideias teria uma vida difícil no PSB, partido nascido à sombra de Miguel Arraes, o líder popular que resistiu a ditadura de forma exemplar, chegando a ser preso em Fernando de Noronha para não entregar o cargo que os generais de 64 pretendiam lhe tomar. Imagine esses cidadãos no comando da política econômica um partido que pede votos em sindicatos de trabalhadores e que, em 2014, conseguiu apoio de lideranças operárias de tradição, como Ubiraci Dantas de Oliveira, o veterano Bira, metalúrgico de São Paulo, que já era possível encontrar em comícios do 1º de maio no final dos anos 1970, e que hoje é dirigente da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil).


Ninguém deve ignorar que Marina e Eduardo Campos fizeram um casamento de conveniências quando a presidente da ex-Rede ficou sem partido. Campos lhe abriu uma legenda, na esperança de receber uma necessária transferência de votos. Marina conquistou um palanque, indispensável para quem corria o risco de ficar calada em 2014. Mostrando uma grande capacidade política para agregar apoios e somar contrários, Eduardo Campos transformou-se no grande ponto de equilíbrio político dentro do PSB. Era o protetor de Marina, o que pedia tolerância para suas opiniões e divergências. Querer usar a tragédia do Guarujá para alterar a natureza desse acordo é cometer uma violência. Numa comparação abusada, mas que faz sentido do ponto de vista das diferenças entre PSB e a Rede, o verdadeiro partido de Marina, seria igual a chamar Michel Temer para ser titular na chapa do PT — caso Dilma Rousseff fosse impedida de disputar a presidência por uma razão qualquer.


Um elemento a favor da escolha de Marina não chega a ser especialmente “novo,” como gostam de enxergar seus aliados. Espera-se que, com sua popularidade, ela ajude o partido a engordar a bancada de parlamentares, estaduais e federais. Isso costuma acontecer, mas nem sempre. Em 2010, num caso clínico de sucesso individual, Marina chegou perto de 20% dos votos como candidata presidencial mas não conseguiu acrescentar um único novo parlamentar à bancada do Partido Verde — desempenho que está na origem de boa parte de suas dificuldades para permanecer no PV.


Ainda assim, a popularidade de Marina provoca justo temor no PSDB, pois pode transformar-se numa candidatura capaz de atropelar Aécio e jogá-lo para terceiro lugar e fora da campanha no segundo turno, o que seria, para os tucanos, uma derrota pior que todas as outras desde 2002.


Para o PT, a recíproca, no caso, também é verdadeira. Para o QG da campanha petista, o cenário ideal — fora a hipotética vitória em primeiro turno, cada vez menos realista — é enfrentar Aécio Neves numa segunda votação.


Os petistas sempre estiveram convencidos de que, num segundo turno, a maioria dos parlamentares, dirigentes e eleitores do PSB não serão capazes de abandonar a própria história para votar no PSDB, que sempre denunciaram como partido conservador, e farão o caminho de volta para uma aliança com o PT. Era com essa possibilidade que Dilma e Lula sempre trabalharam nos últimos meses. Evitaram atitudes hostis e indelicadas, reservado a artilharia mais pesada para Aécio. Qualquer mudança, neste horizonte, irá atrapalhar os planos de Dilma.


E é por isso que nossos conservadores já apostam em Marina.