22 de agosto de 2014

Falta inventar alguma coisa na política brasileira? Ou: começando a conhecer os bastidores da candidatura Marina Silva


Antes de votar em Marina, você precisa conhecer Neca – e fazer a pergunta de R$ 18 bilhões
Por André Forasteri
"Você precisa conhecer Neca. Ela é a coordenadora do programa de governo de Marina Silva, pela Rede Sustentabilidade, ao lado de Mauricio Rands, do PSB. O documento será divulgado na semana que vem, 250 páginas consensadas por Marina e Eduardo Campos. Educadora, com longo histórico de obras sociais, Neca conheceu Marina em 2007. É uma das idealizadoras e principais captadoras de recursos da Rede Sustentabilidade.

Sua importância na campanha e no partido de Marina Silva já seria boa razão para o eleitor conhecê-la melhor. Ainda mais após a morte de Eduardo Campos. Mas há uma razão bem maior. Neca é o apelido que Maria Alice Setúbal carrega da infância. Ela é acionista da holding Itausa. Você pode conferir a participação dela neste documento do Bovespa. Ela tem 1,29% do capital total. Parece pouco, mas o valor de mercado da Itausa no dia de ontem era R$ 61,4 bilhões. A participação de Maria Alice vale algo perto de R$ 792 milhões.

A Itausa controla o banco Itaú Unibanco, o banco de investimentos Itaú BBA, e as empresas Duratex (de painéis de madeira e também metais sanitários, da marca Deca), a Itautec (hardware e software) e a Elekeiroz (gás). Neca herdou sua participação do pai, Olavo Setúbal, empresário e político. Foi prefeito de São Paulo, indicado por Paulo Maluf, e ministro das relações exteriores do governo Sarney. Olavo morreu em 2008. O Itaú doou um milhão de reais para a campanha de Marina Silva em 2010 (leia mais aqui).

Em agosto de 2013 - portanto, no governo Dilma Rousseff - a Receita Federal autuou o Itaú Unibanco. Segundo a Receita, o Itaú deve uma fortuna em impostos. Seriam R$ 18,7 bilhões, relativos à fusão do Itaú com o Unibanco, em 2008. O Itaú deveria ter recolhido R$ 11,8 bilhões em Imposto de Renda e R$ 6,8 bilhões em Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. A Receita somou multa e juros.

R$ 18 bilhões é muito dinheiro. É difícil imaginar que a Receita tirou um valor desse tamanho do nada. É difícil imaginar uma empresa pagando uma multa que seja um terço disso. Mas embora o economista-chefe do Itaú esteja hoje no jornal dizendo que o Brasil viveu um primeiro semestre de "estagnação", o Itaú Unibanco lucrou R$ 4,9 bilhões no segundo trimestre de 2014, uma alta de 36,7%. No primeiro semestre, o lucro líquido atingiu R$ 9,318 bilhões, um aumento de 32,1% em relação ao primeiro semestre de 2013. O Unibanco vai muitíssimo bem. E gera, sim, lucro para pagar os impostos e multa devidos - ainda que em prestações.

A autuação da Receita foi confirmada em 30 de janeiro de 2014 pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. O Itaú informou que iria recorrer desta decisão junto ao Conselho Administrativo de Recursos fiscais. Na época da autuação, e novamente em janeiro, o Itaú informou que considerava  "remota" a hipótese de ter de pagar os impostos devidos e a multa. Mandei um email hoje para a área de comunicação do Itaú Unibanco perguntando se o banco está questionando legalmente a autuação, e pedindo detalhes da situação. A resposta foi: "Não vamos comentar."

O programa de governo de Marina Silva, que leva a assinatura de Maria Alice Setúbal, merece uma leitura muito atenta, à luz de sua participação acionária no Itaú. Um ano atrás, em entrevista ao Valor, Neca Setúbal foi perguntada se participaria de um eventual governo de Marina. Sua resposta: "Supondo que Marina ganhe, eu estarei junto, mas não sei como. Talvez eu preferisse não estar em um cargo formal, mas em algo que eu tivesse um pouco mais de flexibilidade."

Formal ou informal, é muito forte a relação entre Neca e Marina. Uma presidenta não tem poder para simplesmente anular uma autuação da Receita. Mas tem influência. E quem tem influência sobre a presidenta, tem muito poder também. Neca Setúbal já nasceu com muito poder econômico, que continua exercendo. Agora, pode ter muito poder político. É um caso de conflito de interesses? Essa é a pergunta que vale R$ 18,7 bilhões de reais."

Fonte: Portal R7

P.S. do blog Viomundo (Luiz Carlos Azenha): "Êta Brasil velho de guerra. A candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB) se junta com a banqueira que, em entrevista à Folha, prega autonomia do Banco Central, ou seja, que o Banco Central responda a banqueiros como ela e não à soberania popular, que é a base da ideia socialista. Falta inventar alguma coisa na política brasileira?"

3 comentários:

Paulo Nogueira do DCM disse...

O ambíguo estilo de liderança de Marina

Qual o estilo de Marina?

Neca Setúbal, amiga e conselheira de Marina, falou disso numa entrevista em vídeo ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.

Neca usou Dilma e Eduardo Campos para definir o jeito de liderar de Marina.

Nem a viva e nem o defunto foram poupados no esforço de Neca em elevar Marina.

Dilma, segundo ela, tem um “estilo masculino”. Campos era “centralizador”.

Marina, disse Neca, trabalha em “equipe”. Está num patamar diferente e superior.

Mesmo?

A biografia de Marina mostra outra coisa. Ela é o que você poderia chamar de criadora de encrencas.

Parece ter, ao contrário do que Neca disse, extrema dificuldade de trabalhar em equipe.

No mesmo dia em que Neca louvava o espírito de time de Marina, o dirigente do PSB Carlos Siqueira, que coordenava a campanha de Campos, dizia o exato oposto.

“Ela nomeou o presidente do comitê financeiro da campanha e não perguntou ao PSB”, disse ele.

“Ela que vá mandar na Rede dela”, acrescentou ele. “Como está numa instituição como hospedeira, tem que respeitar a instituição. No PSB mandamos nós.”

Siqueira está fora da campanha. E a candidatura de Marina só não está em chamas porque as expectativas de voto são efetivamente promissoras.

O cenário mais provável, hoje, é um segundo turno entre Dilma e Marina. Aécio tende a ficar pelo caminho.

O estilo de Marina parece combinar duas coisas contrastantes. O exterior sugere humildade — os traços, as vestes, a voz.

O interior, ao contrário, insinua um caráter com grande dificuldade de trabalhar em equipe — algo que obriga a pessoa a ouvir, com frequência, não.

Pessoas com este perfil costumam, na vida corporativa, sair de empresa para empresa com frequência.

Para elas, para usar a grande expressão de Sartre, “o inferno são os outros”.

No caso de Marina, que optou pela vida pública e não executiva, a consequência tem sido pular de partido para partido.

Do PT para o PV, e deste para a Rede, com a passagem de ocasião pelo PSB, foi um pulo.

Era óbvio, vistas as coisas em retrospectiva, que para Marina se aquietar num partido ele tinha que ser seu.

É mais ou menos, para continuar na comparação corporativa, como o executivo que não gosta de ouvir ordens: ele só vai sossegar quando e se montar sua própria empresa.

Este o sentido histórico da Rede.

Marina jamais vai dizer isso, até para preservar a imagem de extrema humildade, mas está claro que ela poderia repetir o que Luís 14 afirmou em relação ao Estado: “A Rede sou eu”.

Pelas palavras de Siqueira, morto Campos e ungida ela, Marina agiu exatamente assim: como se o PSB fosse ela. Ou dela.

No passado não tão distante assim, os brasileiros tiveram um campeão de votos com características parecidas com Marina, pelo voluntarismo e pela dificuldade em se integrar a um time, ou a um partido.

Era Jânio Quadros.

Jânio foi adotado pela direita da época, alojada na UDN, para chegar ao poder.

Venceu as eleições de 1961, conforme esperado. Antes, já candidato, anunciou que renunciava à candidatura. Depois renunciou à renúncia.

Na presidência, renunciou depois de sete meses.

Cultivava, como Marina, a aura de simplicidade. Comia sanduíches de mortadela e deixava a caspa se mostrar em seus paletós baratos.

Mas, também como ela, não sabia viver em grupo.

Paulo Nogueira
No DCM

Josi disse...

NÃO É MOLE NÃO MARQUINHOS. O QUE É PIOR MARINA OU AÉCIO? VAMOS CONTINUAR TORCENDO POR DILMA, SE NÃO FOR REELEITA O BRASIL VOLTA PRA MÃO DOS ABUTRES.

JOSI disse...

AINDA BEM QUE TEM BLOGS COMO ESTE PARA ESCLARECER. UMA PENA QUE PARTE DOS ELEITORES NÃO LIGA PARA ESSAS INFORMAÇÕES OU NÃO QUER LIGAR MESMO.