Sim, Marquinhos, andei revirando fachadas e porões aqui no blog, mas confesso que ainda estou atrás do melhor formato. Não será assim tão fácil encontrá-lo e nem permanecerei escravo disto...vez por outra ela surgirá do nada...
Até porque fomos nós mesmos que trouxemos o tema mudança em alguns breves textos que postamos, né mesmo? Na verdade ou nos acostumamos com as mudanças ou nos acostumamos com as mudanças.
A velocidade imposta neste nosso brevíssimo tempo na biosfera e naquilo que chamo mundo dos homens, ou simplesmente: homosfera, está cada vez mais exigindo de nós as habilidades evolutivas dos mutantes em eras! Daí porque também penso ser interessante mudar sempre a fachada do blog, uma provocação a mais em nós que vivemos tanto tempo neste espaço virtual...da homosfera!
A mutação é algo muito mais profundo e pleno do que uma simples mudança de hábito, e olha que somos todos muito resistentes a quaisquer mudanças de hábitos.
Foi pensando um pouco nisso, nas palavras mágicas de Nilton Bonder, que me veio novamente à mente e aos sentidos os ensinamentos de Fritjof Capra no fantástico livro: "Ponto de Mutação":
"A dinâmica subjacente aos principais problemas de nosso tempo - o câncer, o crime, a poluição, o poder nuclear, a inflação, a carência de energia - é sempre a mesma. Chegamos a uma época de mudanças dramática e potencialmente perigosa, um ponto de mutação para o planeta como um todo. Estamos precisando de uma nova visão da realidade, que permita que as forças que estão transformando o nosso mundo possam fluir como um movimento positivo de mudança social. Agora Fritjof Capra nos apresenta essa visão, um paradigma holístico de ciência e de espírito."Até porque fomos nós mesmos que trouxemos o tema mudança em alguns breves textos que postamos, né mesmo? Na verdade ou nos acostumamos com as mudanças ou nos acostumamos com as mudanças.
A velocidade imposta neste nosso brevíssimo tempo na biosfera e naquilo que chamo mundo dos homens, ou simplesmente: homosfera, está cada vez mais exigindo de nós as habilidades evolutivas dos mutantes em eras! Daí porque também penso ser interessante mudar sempre a fachada do blog, uma provocação a mais em nós que vivemos tanto tempo neste espaço virtual...da homosfera!
A mutação é algo muito mais profundo e pleno do que uma simples mudança de hábito, e olha que somos todos muito resistentes a quaisquer mudanças de hábitos.
Foi pensando um pouco nisso, nas palavras mágicas de Nilton Bonder, que me veio novamente à mente e aos sentidos os ensinamentos de Fritjof Capra no fantástico livro: "Ponto de Mutação":
Lembrei-me ainda das reflexões abissais propostas por Capra para a compreensão daquilo que ele classificava como uma rede complexa de fenômenos interligados sistemicamente e inacabados permanentemente em seus propósitos, foi grande loucura que vi em: "Conexões Ocultas":
"As últimas descobertas científicas mostram que todas as formas de vida - desde as células mais primitivas até as sociedades humanas, suas empresas e Estados nacionais, até mesmo sua economia global - organizam-se segundo o mesmo padrão e os mesmos princípios básicos - o padrão em rede. Neste livro, Fritjof Capra desenvolveu uma compreensão sistêmica e unificada que integra as dimensões biológica, cognitiva e social da vida e demonstra que a vida, em todos os seus níveis, é interligada por redes complexas."
As recordações ainda me trouxeram um pouco de um tempo lendo tantas teorias da biologia e das ciências sociais com visões sistêmicas dos processos...aí deparei-me com Morin, Edgar Morin, um antropólogo e filósofo francês, que me atirou contra a parede e desconstruiu as bases mais elementares de minhas convicções naquela ocasião...consolidando de vez a idéia de mutação permanente, dramaticamente imprevisível e apaixonadamente real em nossas vidas mundanas. Aí dei-me conta, lembrei-me novamente do Pensamento Ecologizado proposto por este magnífico pensador, tão contemporâneo quanto são as inundações no Paquistão, os furacões na Indonésia, ou os terremotos em boa parte da Terra hoje...
O pensamento ecologizado - Edgar Morin
Examinemos agora o aspecto paradigmático do pensamento ecologizado. Dou à palavra «paradigma» o seguinte sentido: a relação lógica entre os conceitos mestres que comandam todas as teorias e discursos que deles dependem. Assim, o grande paradigma da cultura ocidental desde o século XVII ao século XX separa o sujeito e o objecto, sendo o primeiro remetido para a filosofia e o segundo para a ciência, e, no âmbito deste paradigma, tudo o que é espírito e liberdade dimana da filosofia, tudo o que é material e determinista dimana da ciência. É neste mesmo âmbito que há a separação entre a noção de autonomia e a de dependência. A autonomia não tem a mínima validade no âmbito do determinismo científico, e, no âmbito filosófico, ela repele a ideia de dependência. Ora, o pensamento ecologizado deve necessariamente romper este paradigma e referir-se a um paradigma complexo onde a autonomia do vivo, concebido como ser auto-eco-organizador, é inseparável da sua dependência.
O organismo de um ser vivo (auto-eco-organizador) trabalha sem descanso, de modo que degrada a sua energia para se automanter; ele precisa de renovar esta alimentando-se de energia fresca no seu meio ambiente, e, por isso mesmo, depende do seu meio ambiente. Assim, nós necessitamos da dependência ecológica para podermos assegurar a nossa independência. A relação ecológica leva-nos muito rapidamente a uma ideia aparentemente paradoxal: é a de que, para ser independente, é preciso ser dependente; quanto mais se quer ganhar a sua independência, mais se tem de pagá-la com dependência. Logo, a nossa autonomia material e espiritual de seres humanos depende não só de alimentos materiais, mas também de alimentos culturais, de uma linguagem, de um saber, de mil coisas técnicas e sociais. Quanto mais a nossa cultura for capaz de nos permitir o conhecimento de culturas alheias e de culturas passadas, mais o nosso espírito terá hipóteses de desenvolver a sua autonomia. (…)
É neste ponto que devemos abandonar totalmente a concepção insular do homem. Não somos extravivos, extra-animais, extramamíferos, extraprimatas. Não estamos desligados dos primatas, tornámo-nos superprimatas ao desenvolver qualidades que eram esporádicas ou ainda incipientes nos símios, como o bipedismo, a caça e o emprego dos utensílios. Não estamos desligados dos mamíferos, somos supermamíferos marcados para todo o sempre pela nossa relação íntima, quente, intensa de ser inacabado, não só à nascença, mas até à morte, com a nossa mãe, bem como pela relação entre os irmãos e irmãs numa ninhada, fontes do amor, da afeição, da ternura, da fraternidade humanas. Somos supermamíferos, supervertebrados, superanimais, supervivos. Esta ideia fundamental significa do mesmo passo que a organização biológica, animal, mamífera, etc., se encontra não só na natureza fora de nós, mas também na nossa natureza, dentro de nós.
Como todos os seres vivos, somos igualmente seres físicos. Somos constituídos por macromoléculas complexas que se formaram numa época pré-biótica da terra: os átomos de carbono destas moléculas, necessários à vida, formaram-se graças ao encontro de núcleos de hélio no cadinho de sóis anteriores ao nosso. Enfim, todas as partículas que se agregaram em hélio datam dos primeiros segundos do universo. Assim, não estamos apenas num mundo físico: este mundo físico, na sua organização físico-química, está constitutivamente em nós. Eis portanto um princípio fundamental do pensamento ecologizado: não só não se pode separar um ser autónomo (Autos) do seu habitat cosmo-físico e biológico (Oikos), como ainda se deve pensar que Oikos está em Autos sem que no entanto Autos deixe de ser autónomo, e, no que toca ao homem, este é relativamente estranho num mundo que é não obstante o seu. De facto, somos integralmente filhos do cosmos. Mas, pela evolução, pelo desenvolvimento particular do nosso cérebro, pela linguagem, pela cultura, pela sociedade, tornámo-nos estranhos ao cosmos, distanciámo-nos deste cosmos e marginalizámo-nos dele. (…)
Chegámos ao momento histórico em que o problema ecológico nos pede que tomemos consciência quer da nossa relação fundamental com o cosmos, quer da nossa estranheza. Toda a história da humanidade é uma história de interacção entre a biosfera e o homem. O processo intensificou-se com o desenvolvimento da agricultura, que modificou profundamente o meio natural. Criou-se cada vez mais uma espécie de dialógica (relação a um tempo complementar e antagónica) entre a esfera antropo-social e a biosfera. O homem deve deixar de agir como um Gengiscão dos arrabaldes solares. Deve considerar-se não como o pastor da vida, mas como o co-piloto da natureza. A consciência ecológica requer daqui em diante dupla pilotagem: uma, profunda, que vem de todas as fontes inconscientes da vida e do homem, e outra que é a da nossa inteligência consciente.
Primeira publicação deste texto em Le Monde Diplomatique de Outubro de 1989
(*) Publicado em setembro de 2010 pro Luiz Felipe Muniz. Da retrospectiva comemorativa dos cinco anos do blog.
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