Veja tenta esconder aecioporto
Por Miguel do Rosário, postado em agosto 3rd, 2014
"Que a Veja se tornou um fenômeno antes psiquiátrico do que propriamente midiático, disso já sabíamos.
No entanto, ela se supera a cada dia.
Do psiquiátrico ela tem migrado para o escatológico.
O novo “escândalo” fabricado por ela revela o desespero de varrer o aecioporto para debaixo do tapete.
Do que se trata o escândalo?
Um vídeo com parlamentares aliados passando instruções ou apenas conversando com figuras aliadas, num preparativo para uma CPI.
CPI é um evento político. Tem situação e oposição.
A situação defende os aliados do governo.
A oposição ataca os aliados do governo.
Escândalo seria se flagrássemos Alvaro Dias tentando ajudar Graça Foster. Aí sim, todos ficariam espantados!
Tentar criar uma CPI da CPI corresponde ao apogeu do ridículo. É como ver um tucano devorando a própria cauda.
Ora, se a oposição tem espaço garantido na CPI, mesmo minoritário, então ela que faça as perguntas que quiser fazer.
Como fizeram, aliás.
A oposição fez perguntas incômodas a Graça Foster, a Sergio Gabrielli, a Nestor Cerveró.
Eles já foram diversas vezes ao Congresso. Porque há uma redundância. Há duas CPIs, sobre o mesmo tema, acontecendo ao mesmo tempo.
Cada vez que Graça Foster vai a CPI, para repetir a mesma coisa, ela deixa de trabalhar, e isso atrapalha a Petrobrás.
Petrobrás cuja produção tem batido recorde e cujas ações se valorizaram mais de 70% nos últimos meses.
Foster, Gabrielli, Cerveró, estiveram várias vezes no Congresso, em CPIs.
Os tucanos é que nunca dão as caras em CPIs que os investigam.
Como eles são blindados e protegidos pela mídia, quase não há CPI investigando tucano.
E quando há, a mídia faz de tudo para abafá-la, até porque, sempre que se investiga tucano, a mídia entra na história. Como réu.
Foi o caso da CPI do Cachoeira. Mais um pouco, e se tornaria uma CPI da mídia, porque o Brasil estava descobrindo as relações íntimas entre a bandidagem e o jornalismo.
É hora de chamar Aécio Neves numa CPI para explicar porque construiu aeroporto na terra de seu tio, e porque este foi o aeroporto mais caro do Brasil.
É hora de chamar os chefões da Globo para explicar a sonegação de R$ 615 milhões, feita através de uma “intrincada engenharia financeira para ludibriar a Receita”, segundo as palavras do auditor fiscal responsável pelo processo.
A Petrobrás é importante demais para ser alvo de abutres que sempre quiseram destruí-la.
A Petrobrás é uma empresa mista regulada, supervisionada, monitorada, por diversos órgãos, nacionais e internacionais.
Se existe uma coisa a ser investigada na CPI da Petrobrás é o afundamento da plataforma P-36.
Era a maior plataforma do mundo. O prejuízo foi incalculável.
Morreu gente.
Enquanto Gabrielli e Graça Foster compraram refinarias, construíram outras, e apostaram no crescimento da produção de petróleo bruto de um lado e refinado de outro, os tucanos venderam metade da Petrobrás para fundos abutres da Bolsa de Nova York.
Não descobriram petróleo. Não fizeram nem compraram refinarias.
Apenas privatizaram, sucatearam e afundaram a maior plataforma do mundo.
Hoje uma boa parte do lucro da Petrobrás vai para bilionários estrangeiros.
Esses mesmos bilionários fazem pressão, através da mídia, para que a Petrobrás dê lucro rápido e fácil, para eles gastarem em festinhas, iates e… jatinhos.
Jatinhos que pousam em aeroportos particulares construídos, no caso de Minas Gerais, com dinheiro público."
Fonte: O Cafezinho
4 comentários:
OPRESSÃO
'Substituíram ditadura militar por ditadura midiática', diz Kucinsky na Flip
Para escritor, que teve irmã e cunhado de Kucinsky presos e mortos pela ditadura, novas gerações têm poucos pontos de contato com as outras. 'Nível de desconhecimento é impressionante'
Parati – "Substituíram a ditadura militar pela ditadura midiática, a dominação pelo consenso", disse hoje o jornalista e escritor Bernardo Kucinsky, sob aplausos da plateia que participou da segunda mesa da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) neste sábado (2).
A irmã e o cunhado de Kucinsky foram presos e mortos pela ditadura e seus corpos continuam desaparecidos. Segundo ele, a Comissão Nacional da Verdade não terá resultados concretos, pois os poderosos que apoiaram o golpe de 64 continuam no poder.
"E as Forças Armadas não se reciclaram, não condenaram as atrocidades cometidas no passado. A tentativa de desinformar e a guerra psicológica continua em alguns setores militares, continua, ainda que diminuto," declarou.
Filho de Rubens Paiva, que foi preso, torturado e morto pelos militares em 1971, o escritor Marcelo Rubens Paiva chorou ao ler um texto sobre o sofrimento da mãe e da família pela incerteza do paradeiro do deputado, cujo corpo continua desaparecido. O pai morreu na noite em que a esposa foi presa. Apenas em 1996, foi feito o registro de óbito de Ruben Paiva.
Marcelo foi aplaudido de pé ao lembrar da coragem e determinação da mãe, Eunice Paiva, na luta contra a ditadura. "Mamãe era uma dondoca. De repente, foi presa e saiu de lá muito magra e sozinha. E então começou a peitar a ditadura", disse. "Passou a fazer parte de vários movimentos, a ser uma voz quase solitária contra a ditadura". Posteriormente, Eunice estudou direito e passou a se dedicar às causas indígenas.
A mediadora da mesa e historiadora Lilia M. Schwarcz argumentou que os relatos dos participantes falavam de uma memória de um tempo que não passou e de uma história que ainda incomoda os brasileiros.
Revisitar os fatos e desnudar as verdades são fundamentais nos dias de hoje para os debatedores. "A história é complexa e por isso mesmo requer reflexão, uma boa pesquisa, leitura", disse o economista Pérsio Arida, preso e torturado quando tinha 18 anos. "Se até pessoas que participaram do período têm essa confusão, imagina os garotos que moram na periferia de grandes cidades, que não têm acesso a essa história nas escolas", disse Paiva.
"As novas gerações têm muitos poucos pontos de contato com as outras gerações, não tem continuidade. Para eles a ditadura é uma capítulo remoto da história do Brasil. O nível de desconhecimento é impressionante", disse Kucinsky.
http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2014/08/substituiram-ditadura-militar-por-ditadura-midiatica-diz-kucinsky-na-flip-7737.html
JN repercute "denúncia da Veja"
Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:
O “novo escândalo” da Veja, sobre suposto vazamento de perguntas - que de qualquer forma seriam públicas - aos que foram ouvidos na CPI da Petrobras me parece uma manobra diversionista para mudar de assunto. Tirar o noticiário de Cláudio e Montezuma e trazer Dilma Rousseff mais uma vez para o domínio absoluto das manchetes.
Quando eu era repórter da TV Globo, em 2005, antecedendo minha primeira cobertura de eleições presidenciais no Brasil - havia morado quase duas décadas nos Estados Unidos -, uma investigação que fizemos sobre caixa 2 em Goiás acabou em uma das CPIs que trabalhavam simultaneamente em Brasília.
Vi com meus próprios olhos uma importante jornalista da Globo, de alta patente, que me ciceroneava em um ambiente desconhecido, visitando gabinetes de deputados e senadores para troca de informações. No do então deputado ACM Neto, que participaria do depoimento do homem investigado por nós, houve até entrega de documentos e sugestão de perguntas. Eu vi isso acontecer e, francamente, não me espantei.
Se o objetivo de uma CPI é esclarecer os fatos, não há perguntas, nem assuntos secretos. Os depoentes devem trazer todos os esclarecimentos que forem necessários à opinião pública. A existência de parlamentares de diferentes correntes políticas é garantia de que teremos todo tipo de pergunta, das “levantadas de bola” às “pegadinhas”, das críticas às bajuladoras. Não há motivo para guardar nenhuma informação em sigilo, se se pretende de fato esclarecer o assunto.
Qual é o problema de perguntas serem organizadas para facilitar os esclarecimentos do depoente? Isso não significa que ele vá responder apenas àquelas perguntas, já que a oposição estará presente. O problema está nas mentiras do depoente, não nas perguntas feitas a ele. Não há nada de errado quando um governo tenta vender à opinião pública sua versão dos fatos, desde que a oposição possa, igualmente, fazê-lo. Vamos combinar que não falta espaço na mídia à oposição brasileira, certo?
Portanto, trata-se de uma denúncia tola, transformada em manchete por uma gravação subterrânea, vendida como “comprometedora”.
O que me chamou a atenção naquela CPI de 2005, na verdade, foi que o homem por nós investigado, dono de uma seguradora, quando abriu os arquivos em seu depoimento deixou claro que havia feito doações por fora a todos os partidos políticos, não só ao PT mas também ao PSDB, PMDB, PFL e outros. Assim que isso ficou explícito e demonstrado, acabou nossa investigação. Fui mandado de volta a São Paulo…
Naquele período eleitoral, também constatei por dentro a mecânica da mídia: denúncia na capa da Veja entre sexta e sábado, repercussão acrítica no Jornal Nacional de sábado, bola rolando a partir de domingo na Folha, Estadão e O Globo.
Não foi o que se chama de “nota pelada” do Jornal Nacional, algo passageiro, sem imagens, na edição de ontem. Foram 4 minutos e 42 segundos falando sobre a denúncia de Veja, uma enormidade! Se fosse em comerciais, teria um custo próximo dos R$ 4 milhões. Frequentemente, quando eu era correspondente em Nova York, precisava explicar assuntos complexos, como a crise que precedeu a invasão do Iraque, em 60 segundos.
O que a Globo fez ontem se chama no meio jornalístico de “dar pernas” a uma denúncia.
Eu mesmo, num plantão, fui convocado para fazer uma destas “reportagens”, que envolvia um irmão do então presidente Lula. Argumentei com meu chefe direto que seria impossível fazer uma apuração independente do conteúdo da revista. Estávamos dando tudo aquilo como límpido e verdadeiro. O certo seria fazer nossa própria apuração a partir dos dados trazidos pela Veja. E se as informações não se confirmassem? Resposta dele: é isso mesmo, é apenas para reproduzir trechos da revista.
Foi nesse quadro que, mais tarde, houve um revolta interna na redação da Globo de São Paulo, que envolveu um grande número de profissionais, resultou na demissão de Rodrigo Vianna e, mais tarde, influenciou minha decisão de pedir rescisão antecipada de meu contrato, que venceria quase dois anos depois, para estudar internet nos Estados Unidos. Não me arrependo e, a julgar pelo que aconteceu neste fim-de-semana, vejo que o método da mídia corporativa não mudou. Saiu na capa de Veja, teve grande repercussão no Jornal Nacional e…
A suspeita que eu tinha então agora está desfeita. Não duvido mais que seja tudo combinado. Se não fosse, por que a denúncia da Folha sobre o aeroporto de Cláudio não detonou imediatamente o mesmo rolo compressor investigativo?
Talvez a existência dos blogs e das redes sociais tenha acabado com as mentiras mais deslavadas. A manipulação da mídia corporativa agora é exercida na escolha da pauta e nos recursos direcionados para apurar este ou aquele assunto, de acordo com as conveniências políticas, econômicas ou ideológicas. De volta a 2006!
Falta sentido à mais recente denúncia sobre a Petrobras.
Não exatamente sobre a Petrobras, aliás. Sobre a CPI que investiga a compra da refinaria em Pasadena.
Segundo a Veja, um vídeo mostraria que os convocados tiveram acesso às perguntas. E teriam se preparado para elas.
A história contada pela Veja tem tons rocambolescos, e adjetivos furiosos. O vídeo, diz a revista, foi gravado por alguém com uma microcâmara escondida numa caneta.
Coisa de Bond. James Bond. Tanto mais que a motivação do autor, sempre segundo a Veja, permanece um mistério.
Bem, ajudar a campanha de Dilma certamente não foi a intenção do dono da caneta espiã.
A fragilidade do alegado escândalo se revela quando você sai da superfície e tenta entender a história.
Você pode perguntar: os convocados a depor tiveram acesso a perguntas de arquiinimigos do PSDB e do DEM?
Não.
Não tiveram.
Numa decisão bizarra para quem defendera a CPI com tanto ardor, tanto o PSDB quanto o DEM decidiram não indicar integrantes para a CPI da Petrobras.
Se tivessem feito, PSDB e DEM teriam absoluto controle sobre as perguntas consideradas cruciais para a compreensão do caso.
Mas abdicaram de participar da CPI, por algum estranho cálculo.
Examinemos agora as questões supostamente antecipadas.
Em qualquer sabatina, você se prepara exaustivamente para responder toda sorte de perguntas.
Isso se chama media training.
Muitas vezes, neste treinamento, há uma figura chamada de “advogado do diabo”. Ele faz a você as perguntas que seu pior inimigo faria.
É uma prática também comum para candidatos quando se preparam para um debate.
Que perguntas sobre o caso Pasadena não teriam sido previstas pelos convocados a depor em sua preparação para o depoimento?
É virtualmente impossível imaginar uma “pergunta surpresa” em situações como aquela.
Não é uma prova de vestibular, em que pode cair uma questão sobre a Revolução Russa ou outra sobre a Revolução Francesa.
Na CPI é um assunto só. E um treinamento competente deixa você preparado para a sabatina.
Um esforço genuíno de investigação jornalística se centraria não nas perguntas, mas nas respostas.
Elas foram inconvincentes? Trouxeram informações erradas? Se sim, quais são as falácias e onde está a verdade?
É um trabalho duro para jornalistas, muito mais árduo que bater bumbo em torno de um vídeo tirado de uma caneta.
Você só entende a opção pelo caminho fácil jornalístico à luz de, simplesmente, tentar gerar um escândalo à beira das eleições.
O objetivo, nestes casos, não é esclarecer o público e sim confundi-lo.
Não tem sido fácil transformar Pasadena num novo Mensalão, ou coisa do gênero.
Empresários e executivos acima de qualquer suspeita como Fabio Barbosa, Jorge Gerdau e Claudio Haddad faziam parte do Conselho de Administração da Petrobras na época da compra e a chancelaram.
Por que ninguém os entrevista sobre o assunto?
Porque não interessa. Porque não ajudaria naquilo que se deseja: inventar um mar de lama.
Paulo Nogueir no DCM
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