O corpo não tinha sido encontrado ainda e comenta-se que o Datafolha já tinha registrado no TSE uma pesquisa'emergencial' que seria feita.
O corpo não tinha sido identificado oficialmente e os pesquisadores já estavam nas ruas.
O velório (quase 'showmício' da mídia pró segundo-turno em alguns momentos) ainda estava em andamento e números estavam sendo tabulados para serem divulgados no decorrer desta semana (talvez já amanhã), quando o PSB nem divulgou oficialmente o nome de Marina Silva.
Porque este desespero todo em divulgar uma pesquisa antes do início da propaganda eleitoral na TV?
Seria para aproveitar o momento de comoção com a morte de Campos, conseguindo um 'número mágico' de Marina embolada com Aécio e Dilma e desta forma influenciando naqueles indefinidos e forçando para que as próximas pesquisas efetivamente joguem a eleição para um segundo turno?
Os "analistas" estão em polvorosa deste o trágico acontecimento. Teve gente que nem deu os pêsames à família, já entrou dizendo que o "quadro mudou totalmente". Lastimável.
Essa história de Marina "disparar" no primeiro e possível segundo turno contra Dilma neste momento (segundo as "pesquisas emergenciais") soa como estratégia bem sucedida dos meios de comunicação que pautam a Direita deste país.
Resta ao eleitor analisar com isenção o que efetivamente vai ser mostrado a partir dos programas eleitorais (independente de pesquisas encomendadas) na TV, deixar passar a comoção e não se deixar contaminar pelo clima que a grande mídia sempre quis e fez: manipular corações e mentes e o dedo que na urna eletrônica vai digitar o número do próximo presidente.
Dilma Rousseff e Lula no velório de Eduardo Campos consolando os parentes |
Marina Silva no mesmo velório |
Imagens que transcendem 'análises' |
8 comentários:
Uma contradição bem concreta para Marina Silva resolver
por Luiz Carlos Azenha, no Recife
Marina Silva fez carreira como defensora do meio-ambiente. No Recife, projetos apoiados por Eduardo Campos e aliados, como a Via Mangue, ganharam de manifestantes o acréscimo de HAVIA Mangue. É o espaço urbano entregue aos automóveis e aos condomínios, cada vez menos ao interesse público.
A demolição do cais Estelita, um antigo armazém de açúcar, para a construção de arranha-céus em benefício da especulação imobiliária, é ideia que fica bem ali, no cruzamento dos interesses políticos de Campos com os financiadores de campanha do herdeiro de Miguel Arraes.
Perguntas objetivas para Marina Silva: a candidata defende a demolição do Cais Estelita? O que pensa sobre a ocupação do espaço urbano beneficiar automóveis e condomínios no Recife?
A máquina abandonou Aécio?
Há um surdo desespero na campanha do PSDB.
Assistem, sem outra reação que não a do sinceríssimo Reinaldo Azevedo, o movimento da imensa máquina de propaganda da mídia em favor de Marina Silva, tranformada em mater dolorosa de Eduardo Campos, com quem — todos sabem — mantinha uma relação de convivência eleitoral, ao ponto de, mês e meio atrás, ter mandando divulgar nota dizendo que a aliança PSB-Rede tinha data para acabar.
Agora, porém, tudo mudou.
Eduardo, morto, transformou-se em líder de Marina e ela, muito viva, em “continuadora” de sua trajetória, à qual há apenas 10 meses se juntou.
A família — por ironia o “ponto fraco” que William Bonner e Patrícia Poeta apontavam no candidato, no Jornal Nacional, na véspera de sua morte — agora é erguida como símbolo da virtude de Campos e elevada à condição de foro político onde se decidem os rumos da campanha.
O PSDB, acostumado a “surfar” os tsunamis de mídia, está perplexo diante de tudo.
Despareceu dos jornais, com os quais podia, antes, dar-se ao luxo de se relacionar com “notas oficiais”.
É obrigado, constrangido, a ler até mesmo Merval Pereira dizer que, agora, ”Marina seria a candidata das ruas, e tentarão fixar em Aécio Neves do PSDB a imagem de que é o candidato dos políticos.”
Quem construiu a “não-política” como ideal de pureza — esquecendo que a política foi a evolução com que a democracia grega superou a transmissão hereditária do poder — agora se vê atropelado por ela.
É que, talvez, na sua imensa vaidade, os tucanos não enxerguem que a direita brasileira quer que ocupe a Presidência qualquer um que se disponha a ser um “não-presidente” .
Dócil por fraqueza, leniente por conveniência, fraco por definição e caráter.
Ou tudo isso por transtorno próprio aos que se lambuzam no poder inesperado.
O processo político, não obstante, prossegue, como a negativa de Galileu do movimento da Terra se completa com aquele “entretanto, se move”.
Até segunda ordem das pesquisas, a mídia sepultou Aécio Neves.
E sem velório ou lágrimas.
Fernando Brito
No Tijolaço
Onde foram parar os bons modos?
Vaias num funeral?
É, pelo menos, o que destacam os sites da grande mídia, com evidente regozijo.
Dilma e Lula, você lê, foram vaiados nas cerimônias fúnebres de Eduardo Campos, no Recife.
Vozes alternativas contestam. O jornalista Lino Bochinni, da Carta Capital, está no Recife, e afirma não ter ouvido as vaias.
Outros falam em vaias e aplausos. (Vaias sublinhadas e aplausos diminuídos nos sites.)
Mas, seja como for, o que impressiona é a banalidade da vaia.
Num velório, o maior insulto vai não para o apupado, mas para o morto e as pessoas que o amam.
Velório é um momento de trégua em disputas políticas. Por algumas horas, as desavenças ficam de lado em sinal de respeito e pudor.
Há, nas noticiadas vaias no Recife, uma barreira a mais quebrada na questão da civilidade.
A próxima etapa é vaiar o morto.
Não há um único artigo que condene as vaias e defenda um comportamento civilizado numa hora tão dramática.
Há, na verdade, uma maldisfarçada exploração da barbárie. A mídia parece não apenas gostar das vaias a Dilmas mas incentivá-las ao colocá-las nas manchetes ou mesmo dar-lhes uma dimensão muito acima da realidade.
A classe política contribui também, muitas vezes.
Jarbas Vasconcellos, político do PMDB pernambucano que sempre se opôs a Eduardo Campos, está sendo citado em todos os portais.
Você pode imaginar o motivo.
Vasconcellos apoiou as vaias a Dilma. Acusou-a de falsidade ao comparecer ao velório.
Mas a internet pode ser cruel com cínicos e oportunistas.
Viralizou na internet um vídeo – num outro funeral, alguns anos atrás – em que Vasconcellos critica brutalmente Campos.
É uma cena que impressiona. Num ambiente de tristeza silenciosa que é a marca dos velórios, Vasconcellos sussurra insultos contra Campos e seu governo por mais de três minutos.
A marca da administração Campos, segundo Vasconcellos, era o “mau caratismo”.
Mau caráter? Quem? Falsidade? De quem?
É urgente devolver a civilidade e os bons modos à política.
Respeitar os mortos é um primeiro passo.
Velório não é lugar para vaias. Repito: elas ofendem o morto muito mais que o destinatário delas.
Marina não é Eduardo Campos
A decisão de transformar Marina na candidata do PSB está tomada. Veio mais rápido do que a própria Marina imaginava.
Dois fatores foram decisivos para que isso ocorresse. O primeiro foi o apoio antecipado da família Campos, em pleno luto.
O outro foi que os setores do PSB mais à direita e mais próximos do PSDB mudaram de ideia quanto a impor resistência.
O próprio PSDB mudou de ideia.
No dia do acidente, Aécio recebeu indicações dos especialistas de pesquisa de que a possível candidatura Marina trazia uma boa e uma péssima notícias.
A boa era a de que as chances de haver segundo turno subiriam se ela fosse a candidata. Ainda mais com a blindagem que agora recebe pela comoção com a morte de seu companheiro de chapa.
A péssima notícia foi a de que Aécio teria uma ameaça muito maior à sua posição do que havia com Campos.
Marina é bem mais conhecida do eleitorado por já ter sido candidata em 2010 - é o chamado "recall".
Aécio acabou sendo convencido a reduzir seus temores. FHC e a ala do PSDB mais próxima a Serra - como seu vice, Aloysio Nunes - se esforçaram em mostrar que o objetivo mais importante dessa campanha é derrotar o PT.
Mas, nas conversas com o candidato, os argumentos mais convincentes do alto-comando paulista suplantaram o cálculo dos analistas que só olharam para a fotografia parcial das pesquisas de opinião.
Os tucanos confiam que, assim como Eduardo Campos não era Marina - e tinha dificuldades para colar sua imagem na de sua vice -, Marina não é Campos. Ela terá sérios obstáculos para manter as alianças costuradas por Campos em vários estados.
No Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os partidos antes fechados com Campos já disseram que Marina não faz parte de seus planos, e que o acordo com o PSB será desfeito, migrando para o PSDB.
Afinal, quem será "cristianizado"?
No vocabulário político brasileiro, "cristianizar" uma candidatura é uma das piores coisas que podem acontecer.
O vocábulo não tem nada a ver com o cristianismo, e sim com a figura de Cristiano Machado.
Em 1950, durante a presidência Gaspar Dutra, o PSD lançou o mineiro Cristiano Machado como candidato à sucessão. Machado foi insuflado pela ala governista que se opunha a Getúlio Vargas.
Vargas acabou saindo candidato pelo PTB, mas conseguiu atrair o apoio de seções estaduais do PSD em vários estados. Machado ficou a ver navios.
Desde então, "cristianizar" uma candidatura significa esvaziá-la politicamente e trocá-la pela de um outro partido. Os correligionários fazem corpo mole e demonstram pouco entusiasmo em apoiar a candidatura do próprio partido.
É um problema para Marina, principalmente se ela não demonstrar uma boa arrancada, já nas próximas pesquisas que irão trazê-la na lista de candidatos.
Por outro lado, pode haver uma grande surpresa. Se Marina aparecer "bombada" nas intenções de voto, quem sabe à frente de Aécio Neves, tudo muda.
Essa possibilidade traria uma segunda reviravolta na campanha depois da morte de Campos. O risco de cristianização passaria a pender para o lado de Aécio Neves.
O desespero pode tomar conta da candidatura tucana e sua única saída seria partir para as conhecidas práticas "heterodoxas" usadas para se garantir apoio eleitoral a qualquer custo.
O cartel de mídia também pode desempenhar um papel importante nessa operação de salvamento de Aécio, se conseguir fustigar e expor desavenças internas ao PSB em relação a Marina - que, aliás, sempre foram muitas.
A morte e a passionalidade na campanha
A morte, quando é também um fato político, pode se revelar um acontecimento histórico de consequências imprevisíveis.
A morte de João Pessoa levou à Revolução de 1930. A morte de Vargas provocou uma reviravolta política espetacular e uma grande projeção do trabalhismo.
As mortes de Jango, JK e Lacerda puseram uma lápide no PTB e no PSD - que nunca mais seriam os mesmos - e na UDN - que desapareceria para sempre.
A morte de Tancredo levou Sarney à presidência, transformou-o em símbolo da transição e deu início a uma profunda reorientação do PMDB, transformando-o no que é hoje.
A morte pode alterar a lógica política de um partido ou mesmo de um país, principalmente quando traz uma passionalidade exagerada que contamina o raciocínio dos políticos, dos partidos e dos eleitores.
Os mortos passam a ser lembrados não só pelas virtudes que tinham, mas também pelas que pareciam que tinham e até pelas que não tinham, mas que nós gostaríamos muito que eles tivessem.
Os adjetivos pejorativos e as acusações são sepultadas. Apenas flores são plantadas sobre o obituário.
Os mortos, quando saem deste mundo, deixam de ser o que qualquer pessoa de fato é: um emaranhado de virtudes e defeitos.
O desastre selou o destino de Eduardo Campos e trouxe Marina para onde ela sempre pretendeu estar - isto é, no centro da disputa presidencial.
A morte de Campos, sentida por todos com pesar, é também o prato que será servido pelos marqueteiros que farão a campanha de Marina.
O ofício de qualquer publicitário, mesmo nas piores horas, é o de mexer com o sentimento das pessoas para seduzí-las a fazer escolhas que, em sã consciência, não fariam.
Todavia, um partido precisa mais do que de um luto para sustentar uma candidatura.
Aliás, a depender da dose, explorar a morte de Campos pode se tornar um veneno.
Principalmente se Marina, com pouquíssimo tempo de propaganda no rádio e na TV, for transformada em mera carpideira da imagem de Campos.
PSB em transe
O PSB é agora uma nau sem timoneiro.
Seus grupos são muito distintos, de estado para estado, e a figura que os unia, Eduardo Campos, não existe mais.
Por ironia, a maior liderança do PSB, hoje, é Marina Silva, que tem data marcada para abandonar o partido e formar sua Rede.
O PSB estava em pleno processo de realinhamento partidário.
Em Ciência Política, realinhamento partidário é uma mudança do perfil e da identidade de um partido como estratégia para se alcançar uma maior fatia do eleitorado.
Muda o tipo de gente que apoia esse partido e mudam também os atributos, as etiquetas que a sigla carregava nas costas.
O PSB, sob a liderança de Campos, estava em pleno processo de realinhamento. Descolou-se de seu aliado histórico, o PT, abandonou a base governista, depois de 12 anos, deixou de lado sua etiqueta de "socialista" para a de "amigo do mercado".
Para diferenciar-se, Campos imaginou que estava na hora de sair da sombra do PT.
Para crescer, precisava desalojar o PSDB do lugar de principal rival oposicionista viável em uma eleição.
Ali nasceu a estratégia de "terceira via" e de quebrar a polarização. Algo que significaria, se tudo desse certo, que tanto PT quanto PSDB estariam aptos a um convite de Campos para comporem um futuro governo
É a mesma coisa que fala Marina quanto diz que governaria com "os bons" de qualquer partido (Robespierre perdeu a cabeça na guilhotina justamente porque ninguém estava certo se fazia parte de sua lista de amigos ou da de inimigos).
Campos adotou o neoliberalismo como visão e o gerencialismo empresarial como método de gestão.
Sua principal crítica ao governo Dilma era exatamente o discurso que agradava os grandes financistas e empresários: cortar de gastos; elevar as taxas de juros; manter metas de inflação dissociadas de metas de crescimento; e poucas linhas sobre política social - de preferência, só falar em política social com visão empresarial.
Era realinhamento para ninguém botar defeito.
Agora, com a morte de Eduardo Campos e com as incertezas quanto à personalidade de Marina, o rumo programático e político da candidatura do PSB tornou-se um ponto de interrogação.
Tudo indica (leia as análises de Emir Sader e de Saul Leblon) que Marina será levada, de bom grado, a ser uma candidata previsível para o mercado e imprevisível para a política e para os partidos.
Com a morte de Campos, o realinhamento de seu partido está agora nas mãos de sua vice e deve completar-se em ritmo acelerado.
A missão de Marina de afirmar-se como uma candidatura de mercado, vendida publicitariamente como inovadora e contestadora, não é difícil.
Ela já está acostumada a ver a ação destemida de ongs que atacam baleeiros em alto mar, ou conduzem ações humanitárias na África, mas que jamais tiveram a ousadia de levantar um único dedo para falar mal de bancos na Suíça.
(*) por Antonio Lassance, na Carta Maior.
Poucas vezes na história política brasileira o velório de um homem público causou tamanha comoção popular e teve uma cobertura midiática tão intensa quanto o de Eduardo Campos. Há várias explicações para isso, entre elas o fato de a morte ter se dado de forma trágica e ter interrompido subitamente uma carreira política em ascensão. Eduardo tinha menos de 10% nas pesquisas para presidente da República, mas em 2010 foi reeleito com 82% dos votos em Pernambuco. Ou seja, em seu estado era uma liderança popular inconteste e todas as homenagens que recebeu hoje são, além de merecidas, compreensíveis.
Ao mesmo tempo não se pode deixar de perceber uma narrativa midiática claramente politizada do episódio. Vários veículos de comunicação estão aproveitando o sentimento sincero de milhares de pessoas para capitalizar politicamente. O UOL, por exemplo, tem como um dos seus principais destaques desde cedo uma nota informando que Lula e Dilma teriam sido vaiados no velório. O próprio texto informa que depois os aplausos abafaram as vaias. Mas no título só há destaque para os apupos negativos.
Marina terá uma campanha onde vai ter de ser questionada sobre muitas coisas. Ela precisará deixar mais claro suas posições a respeito da economia, de programas sociais, de obras na área energética, de com quem pretende governar se eleita, até porque se elegerá por um partido com o qual tem pouca identidade etc e tal. Mas tomara que não tenha que ficar dando explicações sobre uma foto em que sorria ao lado de um caixão. Tomara, também, que não busque fazer uso político da trágica morte de Eduardo Campos. Nem uma coisa nem outra farão bem ao processo democrático.
R.Rovai
Postar um comentário