12 de outubro de 2014

Vídeo: Fala Marina (in)Sustentável: "O PSDB tem uma agenda completamente inadequada para a questão da sustentabilidade"

Ou: A Insustentável Leveza do Ser. Com pesar.



"(,...) Já o presidente interino do PSB Roberto Amaral, decidiu ir na contramão da legenda e declarou apoio a Dilma Rousseff, afirmando em nota que o PSB “traiu a luta” do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto passado, ao se aliar com o PSDB. Amaral criticou a decisão tomada por seu partido classificando-a de “suicídio político-ideológico”, assim como uma opção pelo “polo mais atrasado”: “O apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda socialista e democrática”, escreveu." (Revista Forum)

Assunto correlato: o estranho comportamento da justiça no caso dos depoimentos da delação premiada. Entenda as nuances clicando aqui.

6 comentários:

Marcos Oliveira disse...

Marina apoia Aécio e trai os sonháticos

Por Altamiro Borges

Como já era previsto, a ex-verde Marina Silva declarou neste domingo (12) o seu apoio ao cambaleante presidenciável do PSDB. Em comunicado à imprensa, ela listou uma série de propostas – que evidentemente não serão cumpridas – e concluiu: “Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido”. O anúncio foi festejado pelo senador mineiro, que no sábado já havia obtido o apoio formal da família de Eduardo Campos. Os sites da mídia tradicional também soltaram rojões. Já muitos “sonháticos”, principalmente jovens, devem ter ficado decepcionados com mais esta traição da “nova política”.

O comunicado da candidata-carona do PSB – que deve também anunciar em breve o seu desligamento da sigla – é de um cinismo patético. Entre outras coisas, Marina Silva afirma que decidiu apoiar o tucano porque aposta, “mais uma vez, na alternância de poder”. Logo ela que posou em materiais de campanha ao lado de Geraldo Alckmin, o governador do PSDB que controla com mão-de-ferro o Estado de São Paulo há 20 anos. A ex-verde também afirma que é contra “as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas” – e assume a união com o PSDB, o DEM e os seus novos aliados – como o “pastor” Silas Malafaia, o fascista Jair Bolsonaro e os “milicos de pijama” do Clube Militar.

Os falsos "compromissos"

Ao final, ela cita os “compromissos” assumidos com Aécio Neves. “O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado” – como se a oposição demotucana, conhecida por sua visão autoritária e contrária a qualquer mecanismo de participação popular, pudesse ampliar a democracia no país; “A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação” – como se os tucanos não estivessem aliados à pior escória neofascista do país; “A reforma política, a começar pelo fim da reeleição” – o que revela a ambição oportunista de Marina Silva de disputar novamente a presidência da República.

Há outros “compromissos” na lista. No maior cinismo, o texto fala até em reforma agrária – escondendo que Aécio Neves conta com o apoio dos ruralistas e recusou-se a assinar, inclusive, o documento pelo fim do trabalho escravo. Para continuar ludibriando os ingênuos ambientalistas, o documento também menciona o “desmatamento zero” e outras bandeiras contra a devastação da natureza. Puro engodo para quem conhece os interesses econômicos presentes da campanha presidencial da direita nativa! “Entendo que estes compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro”, conclui, na maior caradura, a direitista Marina Silva.

O racha na Rede

O documento divulgado neste domingo pela ex-verde deve ser preservado. Ele é a prova material do seu oportunismo, da sua guinada à direita e da sua postura de instrumento das forças conservadoras. Nem o seu quase-partido manifestou apoio tão empolgado ao tucano e apostou tanto na manipulação da sociedade. Na semana passada, a Rede Sustentabilidade – hoje hegemonizada por velhos tucanos – até decidiu recomendar o voto em Aécio Neves. Mas a resolução gerou racha interno. Alguns velhos “marineiros” classificaram a decisão como “um grave erro político”, que anula o discurso da “nova política”. Os “sonháticos” preferiam que a Rede pregasse a neutralidade no segundo turno.

“Constitui-se um grave erro político a declaração de voto e a adesão à campanha de Aécio Neves. Nenhuma modificação formal no programa eleitoral de Aécio transformará a natureza de sua candidatura, que não se constitui de palavras, mas de atos de história concreta que indicam sua integração orgânica à desconstituição de direitos, aos ruralistas e ao capital financeiro”, afirma um texto divulgado pelos dissidentes. Eles, pelo menos, são mais honestos do que Marina Silva.

Marcos Oliveira disse...

“Mensagem aos militantes do PSB e ao povo brasileiro

por Roberto Amaral, presidente nacional do PSB

A luta interna no PSB, latente há algum tempo e agora aberta, tem como cerne a definição do país que queremos e, por consequência, do Partido que queremos. A querela em torno da nova Executiva e o método patriarcal de escolha de seu próximo presidente são pretextos para sombrear as questões essenciais. Tampouco estão em jogo nossas críticas, seja ao governo Dilma, seja ao PT, seja à atrasada dicotomia PT-PSDB – denunciada, na campanha, por Eduardo e Marina como do puro e exclusivo interesse das forças que de fato dominam o país e decidem o poder.

Ao aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco que hoje controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda, socialista e democrática.

Esse caminhar tortuoso contradiz a oposição que o Partido sustentou ao longo do período de políticas neoliberais e desconhece sua própria contribuição nos últimos anos, quando, sob os governos Lula dirigiu de forma renovadora a política de ciência e tecnologia do Brasil e, na administração Dilma Rousseff, ocupou o Ministério da Integração Nacional.

Ao aliar-se à candidatura Aécio Neves, o PSB traiu a luta de Eduardo Campos, encampada após sua morte por Marina Silva, no sentido de enriquecer o debate programático pondo em xeque a nociva e artificial polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira, ampla e multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo e, coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice da Mata, Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson Cardoso, Kátia Born e Bruno da Mata, a favor da liberação dos militantes.

Como honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado? Em momento crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se à disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do Estado. Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano. A tragédia do PT e de outros partidos a caminho da descaracterização ideológica não serviu de lição: nenhuma agremiação política pode prescindir da primazia do debate programático sério e aprofundado. Quem não aprende com a História condena-se a errar seguidamente.

Estamos em face de uma das fontes da crise brasileira: a visão pobre, míope, curta, dos processos históricos, visão na qual o acessório toma a vez do principal, o episódico substitui o estrutural, as miragens tomam o lugar da realidade. Diante da floresta, o medíocre contempla uma ou outra árvore. Perde a noção do rumo histórico.

Ao menosprezar seu próprio trajeto, ao ignorar as lições de seus fundadores – entre eles João Mangabeira, Antônio Houaiss, Jamil Haddad e Miguel Arraes –, o PSB renunciou à posição que lhe cabia na construção do socialismo do século XXI, o socialismo democrático, optando pela covarde rendição ao statu quo. Renunciou à luta pelas reformas que podem conduzir a sociedade a um patamar condizente com suas legítimas aspirações.

Marcos Oliveira disse...

Qual o papel de um partido socialista no Brasil de hoje? Não será o de promover a conciliação com o capital em detrimento do trabalho; não será o de aceitar a pobreza e a exploração do homem pelo homem como fenômeno natural e irrecorrível; não será o de desaparelhar o Estado em favor do grande capital, nem renunciar à soberania e subordinar-se ao capital financeiro que construiu a crise de 2008 e construirá tantas outras quantas sejam necessárias à expansão do seu domínio, movendo mesmo guerras odientas para atender aos insaciáveis interesses monopolísticos.

O papel de um partido socialista no Brasil de hoje é o de impulsionar a redistribuição da riqueza, alargando as políticas sociais e promovendo a reforma agrária em larga escala; é o de proteger o patrimônio natural e cultural; é o de combater todas as formas de atentado à dignidade humana; é o de extinguir as desigualdades espaciais do desenvolvimento; é o de alargar as chances para uma juventude prenhe de aspirações; é o de garantir a segurança do cidadão, em particular aquele em situação de risco; é o de assegurar, através de tecnologias avançadas, a defesa militar contra a ganância estrangeira; é o de promover a aproximação com nossos vizinhos latino-americanos e africanos; é o de prover as possibilidades de escolher soberanamente suas parcerias internacionais. É o de aprofundar a democracia.

Como presidente do PSB, procurei manter-me equidistante das disputas, embora minha opção fosse publicamente conhecida. Assumi a Presidência do Partido no grave momento que se sucedeu à tragédia que nos levou Eduardo Campos; conduzi o Partido durante a honrada campanha de Marina Silva. Anunciados os números do primeiro turno, ouvi, como magistrado, todas as correntes e dirigi até o final a reunião da Comissão Executiva que escolheu o suicídio político-ideológico.

Recebi com bons modos a visita do candidato escolhido pela nova maioria. Cumprido o papel a que as circunstâncias me constrangeram, sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda socialista e democrática. Sem declinar das nossas diferenças, que nos colocaram em campanhas distintas no primeiro turno, o apoio a Dilma representa mais avanços e menos retrocessos, ou seja, é, nas atuais circunstâncias, a que mais contribui na direção do resgate de dívidas históricas com seu próprio povo, como também de sua inserção tão autônoma quanto possível no cenário global.

Denunciamos a estreiteza do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa alternativa e fomos derrotados: prevaleceu a dicotomia, e diante dela cumpre optar. E a opção é clara para quem se mantém fiel aos princípios e à trajetória do PSB.
O Brasil não pode retroagir.

Convido todos, dentro e fora do PSB, a atuar comigo em defesa da sociedade brasileira, para integrar esse histórico movimento em defesa de um país desenvolvido, democrático e soberano.

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2014.

Roberto Amaral”

Dilma Rousseff disse...

"Eu não sou a favor de várias questões que o candidato adversário é, então, nós não falhamos na interlocução com Marina Silva. Eles tinham outro alinhamento. Eles são a favor da independência do Banco Central, nós não somos. Eles são a favor de reduzir o papel dos bancos públicos, nós não somos. Porque reduzir o papel dos bancos públicos, é claro, significa acabar com o Minha Casa Minha Vida, concretamente. Ou reduzir toda política de conteúdo local, porque eles são contra a política de conteúdo local.

Tem coisa que eu não incorporo nem que a vaca tussa. Não incorporo reduzir papel de banco público, não incorporo dar flexibilidade aos direitos trabalhistas. Cada um dos dois projetos tem um compromisso. O meu é com o povo deste País."

Rodrigo Vianna disse...

OBITUÁRIO

Marina Silva, descansa em paz

por Laura Capriglione, no Yahoo Noticias

Acabou Marina Silva (1958-2014). Fundadora da Central Única dos Trabalhadores e organizadora do PT, além de amiga e fraternal companheira do líder seringueiro Chico Mendes, Marina Silva foi durante anos, dentro do campo da esquerda brasileira, a representante de uma utopia que tentou conciliar três vetores quase sempre desalinhados: o desenvolvimento econômico, a inclusão social e o respeito ao meio ambiente e às populações tradicionais.

Sua saída do PT, em 2009, empobreceu o partido e o debate interno sobre qual caminho seguir na busca por um mundo mais justo e solidário.

A figura frágil – sobrevivente da miséria dos migrantes recrutados para trabalhar na extração da borracha; nascida em uma família de onze irmãos (da qual oito se criaram); órfã aos 15 anos; sonhática (conforme a auto-definição); vítima da malária, da intoxicação pelo mercúrio dos garimpos e da leishmaniose (doenças da extrema pobreza) – pereceu no domingo, 12 de outubro, depois de lenta agonia.

Foi nesse dia que ela formalizou seu apoio ao tucano Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais, contra a candidatura da petista Dilma Rousseff.

Como membro do Partido dos Trabalhadores, onde militou durante 23 anos, Marina ajudou a eleger e a implantar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em que exerceu o cargo de ministra do Meio Ambiente durante cinco anos e quatro meses. Foi um período importante, que consolidou as condições para o Ceará, terra dos pais de Marina, crescer mais velozmente do que a média nacional –3,4% ao ano, contra 2,3% da média nacional.

Anos também importantes para o Nordeste como um todo, que deixou de ser exportador maciço de mão-de-obra, já que criou oportunidade de emprego e renda “como nunca antes”. Só para efeito de comparação, ainda hoje a atividade econômica nordestina cresce acima de 4% (nos cinco primeiros meses de 2014), resultado superior à média nacional (0,6%), segundo o Banco Central.

Rodrigo Vianna disse...

OBITUÁRIO (2)

Exemplo de superação das dificuldades, Marina Silva conta em sua biografia com uma passagem como empregada doméstica. Dureza. Mas a contribuição de Marina no fortalecimento do governo do primeiro operário na Presidência ajudou a mudar a situação das empregadas domésticas.

Primeiro com a valorização do salário mínimo, que passou de R$ 200, no último ano do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, para os R$ 724 atuais.

Depois, com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição das Empregadas Domésticas, de 2013, que ela, com seu exemplo e luta a favor dos oprimidos, ajudou (ainda que indiretamente) a garantir.

Mais de um século depois da Abolição da Escravatura, 7,2 milhões de empregados domésticos brasileiros foram incluídos na categoria de cidadãos dotados de mínimos direitos trabalhistas, entre os quais o controle da jornada de trabalho, definida em oito horas diárias.

Além disso, a categoria começou a receber horas extras, remuneradas com valor pelo menos 50% superior ao normal.

Marina estudou muito, de modo a formar-se como historiadora, professora e psicopedagoga, em uma época em que o país só oferecia aos membros da elite branca a possibilidade de conquistar um diploma de nível superior.

Como membro do Partido dos Trabalhadores e afrodescendente, Marina ajudou a fazer a revolução educacional que aumentou o acesso dos mais pobres e morenos aos bancos universitários. Pela via da ampliação no número de vagas nas universidades federais, do ProUni e do Fies, o número de vagas no ensino superior mais do que duplicou de 3,5 milhões (em 2002) para 7,1 milhões (em 2013).

Uma vida de vitórias, exemplos e superações.

Mas Marina Silva acabou no domingo 12 de outubro, quando virou as costas para sua própria trajetória ao declarar voto no candidato Aécio Neves, o representante de uma política econômica ostensivamente contrária à valorização do salário mínimo e à ampliação das políticas sociais e de inclusão.

Com o capital eleitoral que conseguiu reunir no primeiro turno (21,32 % do total de votos, ou 22.176.619 eleitores), Marina poderia ajudar sua Rede Sustentabilidade a se consolidar como a tal terceira via de que tanto falou antes.

Ela preferiu juntar-se a forças bem conhecidas dos brasileiros: Que criminalizam os movimentos sociais; que atentam contra a liberdade de imprensa; que são apoiadas pela chamada “Bancada da Bala”, por Silas Malafaia e por Marcos Feliciano.

Sem contar que os votos de Levi Fidelix (PRTB, o idiota que fez do aparelho excretor um programa de governo) devem ir para Aécio também.

Marília de Camargo César, autora da biografia “Marina: a vida por uma causa” (editora Mundo Cristão, 2010), conta que, diante de um problema de difícil resolução, a ex-ministra costuma praticar a “roleta bíblica”, que consiste em abrir a Bíblia aleatoriamente, para saber o que Deus recomendaria na situação.

Não é difícil imaginá-la nesse mister quando ela se saiu com a idéia de pedir que o PSDB reconsiderasse a campanha pela redução da maioridade penal, como condição sine qua non a seu apoio. Aécio respondeu sem pestanejar: não! E assim acabou-se mais uma convicção “firmíssima” de Marina.

Descansa em paz, Marina!