Da série "Retrospectiva do Blog". Este texto é de 2010.
Devo estar ficando velho. Não que pareça, já
adianto. A genética e alguma atividade física têm me ajudado ao longo
deste meio século mais um (mais um ano e não mais um século).
Essa
percepção é despertada quando algum fato me dá uma espécie de nostalgia
de tempos que não voltam (como diria o compositor).
Ou
quando me pergunto: “cadê aquelas coisas legais que não existem mais?”
ou “por onde andam aquelas pessoas que já estiveram tão presentes em
minha vida?”.
Já me entenderão melhor.
Tive
uma infância meio urbana meio rural (o que sempre me faz lembrar de um
disco do saudoso músico Paulo Moura: “Confusão Urbana, Suburbana e
Rural”, de 1976; não que eu tenha sido um jovem confuso, nem tenha
participado de atos de ‘confusão’, embora eram tempos de ditadura, mas
eu era uma criança).
Nasci
e morei até os 12 anos na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, área
que começa no final da Barra da Tijuca e avança até Santa Cruz, passando
pelo Recreio, Jacarepaguá e Campo Grande. Longe, portanto, do ‘glamour’
da Zona Sul.
Em frente à minha casa havia uma
imensa área livre, um sítio aberto a todos, com riacho, mangueiras,
goiabeiras, coqueiros, pé de laranja lima (lembram do belo livro
autobiográfico do José Mauro de Vasconcelos que depois foi transformado
em filme e novela?), jamelão, tamarindo, campo de futebol e até bois
criados soltos.
Pois
recentemente estive em um desses estabelecimentos “hortifruti” e fiquei
olhando a profusão de frutas ali disponibilizadas. Me aproximei das
estantes que continham aqueles espécimes considerados mais “raros”,
menos consumidos, para dar uma olhada no que havia por ali.
De repente percebi que eu não estava olhando por olhar e sim estava procurando algo. E eram três tipos de frutinhas.
Voltando ao túnel do tempo, em flashback: além do citado sítio, o quintal de minha casa era grande e havia ali também alguns pés de fruta. Tanto árvores, como arbustos.
Pois
naquele momento, em frente às estantes, eu me vi outra vez em meu
quintal, criança pequena, tirando direto do pé, amoras vermelhas e
roxas, jabuticabas e araçás.
Não sei quantos que leem este texto aqui no blog conhecem essas frutas. Não cabe aqui descrevê-las, a não ser seus sabores agridoces, suas cores marcantes, seus perfumes inesquecíveis.
Pois
há muito tempo não vejo nem saboreio essas delicadezas. Saíram de moda
ou nunca frequentaram esses estabelecimentos? De qualquer maneira, pela
fragilidade, não resistiriam muito tempo ao ritmo frenético e às
distâncias da cidade grande.
Acho que elas
estão lá, escondidas na roça, esperando quem sabe pela criança que já
fui e que erroneamente teimo em nunca mais voltar a ser.
Na
verdade, ao olhar aquelas estantes do hortifruti procurando amoras,
araçás e jabuticabas eu estava procurando, além das frutas, a minha
infância perdida.
Não encontrei nenhuma coisa nem outra. Estão muito distantes agora.
Quem sabe eu ainda encontre as frutas por aí. Pelo menos isso.
3 comentários:
Bela nostalgia. Saudosas recordações.
Lindo post, Marquinho! Muito bom recordar os momentos que marcaram a nossa vida!! Parabéns!!!
Obrigado Fátima! Bjs.
Postar um comentário