"Tenho cá com os meus botões que a Operação Lava-Jato, hoje, começou a morrer.
Morte talvez lenta, mas decretada pelos seus próprios agentes.
Pois quando o juiz Sérgio Moro lançou uma tropa de policias federais contra dúzia e meia dos pesos mais pesados de um dos pesos mais pesados da economia brasileira – os mega-empresários da construção civil – praticou um lance de ousadia que dificilmente poderá sustentar, mesmo com a disposição do governo de investigar a tudo e a todos.
Prisão, ao menos para gente poderosa economicamente, segue ritos processuais que é pouco provável que tenham sido religiosamente seguidos, até porque, ao que consta, não houve busca e apreensão de documentação que a sustente juridicamente.
Não é o “teje preso” usado para nós, simples mortais, que nem advogados temos, quanto mais as melhores bancas.
Mas, as ações generalizadas de hoje abandonaram, ostensivamente, a gradatividade, a fundamentação e a prudência que se deve ter com “peixes grandes”.
Se o objetivo jurídico for o de conduzir “meio processo” com aqueles – empresários, dirigentes e ex-dirigentes da Petrobras – que não dispõem de foro privilegiado no STF, o que deixaria o caso, em tese, fora do alcance jurisdicional do Supremo, vai produzir um nada encadernado em vários calhamaços, porque é impossível tratar de corrupção política sem políticos.
Se chegar lá, porque não entra a semana que vem sem que um caminhão de recursos, habeas-corpus e pedidos de desconstituição de provas caia sobre os tribunais.
E com boas chances de êxito nas mãos de juízes que se pautem apenas pelos requisitos formais da lei.
Certamente, por alguns dias, o núcleo formado por delegados e promotores do Paraná terá o que vazar escandalosamente nas páginas dos jornais e da Veja que se prepara para amanhã.
Mas uso político de um processo judicial esbarra, mais cedo ou mais tarde, no próprio processo judicial.
O poder econômico, no Brasil, pode fazer negócios – e os faz – à direita e à esquerda.
Mas ele está no mesmo campo da mídia e da Justiça: o do conservadorismo político.
A questão não é se os chefes das empreiteiras irrigam a política, porque eles fazem isso há décadas e décadas e em seus favores há meia (meia?) república,
Nem mesmo é se, por esta ou outras falcatruas, bem mereçam detenções ou processos.
Ou, ainda, em que finalmente vai acabar esta tal Operação Lava Jato, porque seus próprios investigadores parecem jogar contra sua sobrevivência jurídica no médio prazo e muito mais nos seus efeitos políticos imediatos.
A questão é se o Governo Dilma consegue se iniciar, se estabilizar e sobreviver à onda que se levantou contra ela."
Fonte: Tijolaço
Leiam também: "Delegados da PF deixaram digitais: acreditavam que o golpe ia dar certo" (Por Conceição Lemes no Viomundo de Luiz Carlos Azenha)
Um comentário:
Petrolão é xeque-mate de Dilma em seus adversários
Por Miguel do Rosário, postado em novembro 15th, 2014
Aconteceu uma coisa interessante, que fará os coxinhas surtarem.
O chamado “petrolão”, ao atingir as principais empreiteiras do país e chamuscar todos os partidos, em especial os núcleos representados no Congresso, resultará no fortalecimento de Dilma Rousseff.
A tentativa da “Republica do Paraná”, de orientar politicamente as investigações, fornecendo vazamentos seletivos à imprensa de oposição, acabou surtindo efeito contrário.
O escândalo é vasto demais mesmo para a nossa grande imprensa.
Junto à opinião pública, apesar dos esforços da mídia (que só tem um objetivo: golpe), prevalecerá a impressão de que Dilma está cumprindo o que prometeu.
Não sobrar pedra sobre pedra.
Até porque é isso mesmo o que está acontecendo.
Ao dar liberdade e autonomia aos delegados e agentes da PF, sem exercer qualquer pressão sobre o Ministério Público, Dilma fez a sua grande aposta.
Ela também fez seu movimento no Grande Jogo.
Deu corda para os golpistas se enforcarem.
Pense bem.
É interessante para Dilma que os delegados da PF, os procuradores e o próprio juiz não tenham identificação política ou ideológica com ela, nem com seu partido.
Se tivessem, todos estariam acusando-na de “bolivariana”.
Seus próprios aliados, no Congresso, vários deles prejudicados pelas investigações, a estariam acusando de “traição”.
O fato evidenciará o republicanismo da presidenta e de seu governo, dando autonomia – inclusive a delegados ligados ao PSDB - para que todos exerçam seu trabalho com independência.
É uma jogada arriscada, naturalmente.
Mas que, se conduzida com firmeza, poderá dar resultados concretos contra a corrupção política.
Dilma sancionou recentemente a lei que, pela primeira vez em nossa história, permitirá a condenação também dos corruptores.
Quando a Lava Jato chegar nos políticos, estará em mãos de Teori Zavascki, um juiz severo, garantista, reservado, sem amor aos holofotes.
Zavascki é garantia de que o processo não se transformará em circo golpista, e, ao mesmo tempo, de que ninguém será poupado.
Ou seja, o juiz perfeito para levar adiante um processo doloroso de depuração.
Isso se a República do Paraná não melar tudo antes com delações forjadas e vazamentos ilegais.
O único perigo seria paralisar as obras em andamento, visto que os executivos presos pertencem às principais empreiteiras do país.
Sergio Moro ao menos teve essa preocupação, e não pediu nenhuma medida que pudesse paralisar as atividades de empresas que empregam centenas de milhares de trabalhadores, e respondem por obras estratégicas no Brasil: obras para governadores e prefeitos de todos os partidos, que fique bem claro.
O golpe vai se virar contra os golpistas.
O jogo de xadrez está mais complexo e surpreendente do que nunca.
Ao que parece, Dilma permitiu que seus adversários fizessem alguns movimentos apressados, até mesmo comessem algumas peças.
Mas preparou um xeque-mate.
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