27 de novembro de 2014

Navegando nas Lembranças e nas Ondas do Radio

Alguns dias de retrospectivas especiais do blog a partir de hoje.
Este texto foi postado no início de 2011.

Neste verão li uma matéria sobre emissoras de rádio e andei pensando sobre o fato.

As novas gerações não estão muito ligadas em ouvir rádio e diversos fatores contribuíram para isso.

A reportagem mostrava uma reversão desse quadro e apontava os motivos.

Na minha época de infância (lá vou eu de novo), subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, ouvir rádio era hábito obrigatório para quem gostava de música. Poucos tinham condições de adquirir equipamento de som nos anos 60. Quer dizer, pelo menos a minha família (e a vizinhança) não tinha.

Não havia (ainda) emissoras FM que começaram a surgir em meados dos anos 70. Daqui a pouco falo delas.

As rádios AM dominavam a programação, que era de alto nível. Tinha que ser mesmo, pois o Pop/Rock/MPB da época eram Beatles, Rolling Stones, Roberto Carlos, Chico Buarque, etc.

Eu ouvia muito a Radio Tamoio e a Radio Mundial (AM 860), que tinham uma disputa entre elas.

Na Tamoio existia o programa “Musical dos Colégios”. O DJ dizia: “música do Colégio Pedro II”: Beatles, “Hey Jude”(!). Aí o pessoal ligava para lá para votar nas preferidas. As mais pedidas retornavam nas campeãs.

Na mesma linha a Mundial tinha o “Show dos Bairros”: “Música da Tijuca”: Tim Maia, “Azul da Cor do Mar”(!).

E lançavam-se LPs das emissoras: a ótima série “Sua Paz Mundial” teve diversas edições. Aliás foi também Mundial e Tamoio que cunharam o termo “Good Times” nos programas que recordavam músicas de anos anteriores: “Saudade Não Tem Idade”.

Nessa linha formaram-se ouvintes conscientes. Parte desse público tornou-se mais exigente e as emissoras atendiam: na MEC, Música Clássica; na JB, “60 Minutos de Música Contemporânea”. E aí vieram as FMs com destaque para a Eldo Pop que mirava no Hard-Rock, Jazz-Rock e Rock Progressivo. Em outro post falo desta.


No final dos anos 70 a coisa desandou e as emissoras tornaram-se “pasteurizadas”: os Djs falavam da mesma forma, tocavam as mesmas músicas, iniciou-se o chamado “jabá” das gravadoras (pagavam para tocar só o que era interessante economicamente para elas).

Pouca coisa se salvou nos anos 80 e uma delas foi a Fluminense FM (a “Maldita”) que transmitia de Niterói uma programação fora dos padrões, sem jabá e com excelentes programadores. Não durou muito tempo.

Os anos 1990 e 2000 foram uma lástima. A ponto de surgirem as emissoras piratas regionais para tentar colocar vida inteligente no ar. Eu participei disso, mais como ouvinte mesmo, sem risco para os jatos.

Foram 20 anos perdidos e aí voltamos ao ponto inicial: novas gerações não sabem o que é uma emissora de radio de qualidade e nem se ligam muito nisso (até porque o radio agora disputa a atenção com outras formas de comunicação, sobretudo Internet).

No entanto, segundo a matéria citada, nos últimos anos o quadro começou a se reverter. Os programadores voltaram a ter importância nas definições do que tocar e na ênfase da informação ao ouvinte.

Talvez isso possa parecer algo sem importância mas, afinal, no que se refere à diversão e arte, o que é importante hoje em dia? BBB?

No livro “O Triunfo da Música” (Cia. das Letras) do historiador inglês Tim Blanning, a importância da música e a sua elevação de status nos últimos séculos é devidamente analisada em cinco pontos chave: prestígio, propósito, espaços, tecnologia e libertação.

Como exemplo da melhoria da situação das emissoras, são citados (no artigo, não no livro) programas da Oi FM, MPB FM, Roquete Pinto AM, Transamérica Pop, Beat 98, Nativa FM, MEC FM em programas como “Novo Som”, “Faro MPB”, “Sangue Novo” (MPB), “Nômade”, “Afrotudo” (World Music), “Segunda-Feira Sem Lei” (raridades e alternativos), “Radio Caos” (música e literatura), “Quem Toca” (música instrumental), “Viva Música!” (música clássica), etc.

São emissoras que transmitem a partir do Rio de Janeiro, mas a programação pode ser acessada também via Internet de qualquer parte.

Fica a dica do Blog.

A citada Radio Mundial tinha um comercial na TV que se utilizava da música abaixo. Era um vôo de asa delta ao som dessa música e com os dizeres “8-6-0: Sua Paz Mundial”. Por causa disso essa bonita canção ficou conhecida como “melô da asa” (melô era uma gíria que se referia à palavra melodia).



Falando em programador radiofônico (o cara que escolhia as músicas que iam tocar), DJs, anos 60 e 70, etc., não poderíamos deixar de citar aquele que foi o grande nome que revolucionou a linguagem radiofônica, trazendo não só uma nova forma de locução, mais jovem, como também renovando musicalmente o radio no Brasil: o saudoso Big Boy!

Achei esse pequeno documentário sobre ele. Na verdade esse vídeo resume bem a história que contei acima.


Como eu citei “rádios piratas” no texto, me lembrei dessa música do RPM.


3 comentários:

A.W. disse...

Nooossa!!
Que show!
A Mundial faz parte das minhas recordações de infância. Nem imaginava encontrar algo sobre ela desta forma.
Viajei no tempo.
Lindo!
Obrigada por sua sensibilidade.
Beijos.

Marcos Oliveira disse...

Legal que gostou.
Tem certas coisas que ficam marcadas em nossa memória afetiva para sempre, não é mesmo?!

luis reis disse...

cara me lembrei guando ia de campos para o rio passar as ferias na casa de minha tia, era o dia todo ouvido a mundial e a tamoio, me lembro do show dos bairros, ligou pediu tocou,e muitos outros. foi bom relembrar, esse epoca de ferias no rio, foi de 71 a 1976; muitas saudades.